Acordei me sentindo mais tranquila. Tudo não tinha passado de um pesadelo... Quando abri meus olhos notei que não estava em casa, nem na casa de Ben.
O quarto era simples: uma cama de casal, um guarda roupa, uma penteadeira com espelho. Tinha duas portas. Levantei e notei que estava só com a lingerie. No gaveteiro ao lado da cama tinha algumas roupas dobradas.
Olhei pela janela e vi o sol.
Peguei as roupas. Era uma blusa marrom claro com gola v, calça jeans e moletom canguru cinza escuro. Vesti as roupas e calcei meus tênis da Nike. Precisava comprar um tênis novo urgentemente para mim.
Quando terminei de enfiar o cadarço para dentro do tênis a porta a minha frente se abriu.
Meu coração teve uma parada e voltou a bater. Minhas pernas estavam paralisadas. Desejei isso em todos os meus sonhos, meu pai de volta. Que ele estivesse vivo. E realmente não estava preparada para que aquilo se tornasse realidade.
— Oi Nikki. - Falou.
Nunca fui de explodir, principalmente com meus pais. Mas essa situação era demais para mim.
— Oi? Você se fingiu de morto e agora vem e simplesmente diz "oi Nikki".
— Nico me avisou que talvez você não reagiria bem.
— É claro que ele avisou. Me conhece melhor que qualquer pessoa. - Resmunguei. - Pode me explicar como é que você está vivo?
— Eu achei que teria uma recepção mais calorosa.
— Me desculpe, minha noite e as noites passadas tinham sidos cheias. Na verdade esse ano foi cheio para mim.
Ele veio e sentou na cama de frente para mim.
Encarei meu pai. Não tinha nada dele, havia puxado a minha mãe. Já Nico, apesar de ser meu irmão gêmeo, havia puxado meu pai na aparência. Os cabelos castanhos puxado para um cobre e os olhos castanhos esverdeados. Só que meu pai nunca usou barba, coisa que meu irmão desde que nasceu a barba sempre a deixou baixa, com aquele aspecto por fazer que deixava as meninas loucas.
— Está preparada para tudo que eu tenho para contar?
— Não. - Respondi e ele sorriu.
— Mas é preciso. O tempo está correndo.
— O que está acontecendo?
— Nora está com o Mão Negra. Desde ontem.
— O que? Temos que fazer alguma coisa.
— Não da. Blyte ligou para você e Tyler teve que mentir que você estava dormindo na casa da fazenda. Viktor vai confirmar a história. Ela contou que Nora tinha sumido. Ligou para Vee, mas também não teve respostas. Meus homens começaram a investigar e sim, Nora está com o Mão Negra.
— Seus homens?
— A história é complicada, Nikki. Muito complicada, mas quero que preste atenção. Sou um Anjo Caído. Estamos prontos para entrar em guerra a qualquer momento. Preciso de você ao meu lado. Barnabas já sabe que você é minha filha.
— Claro, ele tem um caso com Blyte.
— Sim. Todos já sabem. Nora é filha dele. Você precisa entender tudo o que eu tenho para contar.
— Estou mais interessada na parte em que você me conta por que fingiu sua morte e levou Nico com você, mas me deixou para trás.
— Barnabas mandou nos matar. Ele sabia que eu estava pensando em morar aqui. Ele atacou o carro. Você morreu, mas aquele Anjo caído te salvou antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Ele era seu Anjo da guarda então não poderia me manter por perto. Tive que fingir a nossa morte, mas sempre estivemos por perto.
— Cadê a mamãe?
— Ela retornou ao inferno.
— Que coisa horrível de se dizer. - Resmunguei e ele riu.
— Ela não pode ficar por muito tempo aqui com nós. Já tinha passado tempo demais.
— O que? Do que você está falando?
— Da sua mãe.
Coloquei as mãos nos ouvidos.
— Não me diz que é verdade. Que ela é Lilith mesmo.
— Sim.
— Deus! - Resmunguei. - Isso é ridículo. Não pode ser.
— Eu sinto muito, mas é a verdade.
— Você está me contando que eu sou filha de um demônio que adora sair transando por ai e acha que eu vou ficar feliz.
— Você precisa entender que ela é uma boa pessoa. E sobre transar, você andou transando com um sádico que te amarrava e te batia...
— Bom, então eu puxei bem o DNA dela. - Devolvi e ele mordeu o lábio.
Ele estava furioso.
— E por último se envolveu com seu Anjo da guarda! - Resmungou.
— Ele sabia?
— Sobre mim? - Assenti. - Não. Eu tentei ao máximo manter em segredo que você era minha filha. E como ele tinha a ligação com os céus, ele não procurava os Anjos caídos. Patch sabia.
— Rixon?
— Não. Eu tento manter sempre em segredo. Patch sabe por que Dabria tinha contado a ele.
— O que ele está fazendo para ajudar Nora?
— Barnabas está com ele também. Ainda não tivemos notícias.
— Algum sinal de Ben?
— Nenhum. Acho que os céus não vão perdoar tal pecado, ainda mais cometido pela segunda vez.
— Terceira. - Murmurei.
— Lilith sempre falou da sua marca. Ela sabia que você era uma reencarnação. Com certeza devia saber de todas as suas vidas, mas nunca me contou. Ela só lamentou que você não teria tantas chances de reencarnar de novo.
— Por que não sou batizada.
— Não. Por que você não vai morrer. Pelo menos não tão fácil. Seu aniversário foi em abril. Daqui alguns dias vamos tira-la da cidade.
— Por quê?
— Por que você vai entrar em evolução. Isso vai chamar muita atenção.
— Ainda mais por que Nico também vai.
— Na verdade Nico não irá. Você puxou o DNA dela. Nico puxou meu DNA. Ele é mais Nephilim. Sua magia é fraca considerada a sua.
— Como o pessoal aceitou Nico aqui?
— Ele é meu filho. Eu dou as ordens aqui. E todos me respeitam. E ele não pode jurar nada a nenhum deles. Ele tem o sangue de Lilith nas veias. Isso mataria qualquer um deles se possuísse seu corpo. Mesmo Anjos Caídos nós ainda temos mais ligação com os céus do que com o inferno.
— Como você conseguiu se... Reproduzir com Lilith então?
— Por que ela me escolheu tanto que ela não me matou.
— Viktor também é um Anjo caído?
— Sim. Tyler é um Nephilim. E ele tem sangue Lilith em suas veias também.
— Ele é meu irmão?
— Um primo distante vamos dizer assim.
— Você acha isso normal?
— Nada na nossa vida é normal, Nicolle.
— Isso eu já descobri da pior maneira.
Ficamos em silêncio. E esse silêncio era bem-vindo. Precisava reorganizar meus pensamentos. Era tanta coisa para pensar. Tanta coisa.
— Eu sou uma híbrida filha de um demônio com um anjo caído e isso me faz parte Nephilim também. - Resmunguei.
— Mais bruxa e succubus que qualquer outra parte minha.
— As piores partes então.
— Achei que gostasse da sua magia.
— E eu gosto. Mas não estou pronta para lidar com a parte succubus.
— Você não vai fazer o que ela faz. - Ele explicou. - Mas você vai conseguir pegar a energia das pessoas depois de se elevar. O problema de tudo isso é que você vai se sentir bem fazendo isso.
— Quando eu vou me elevar?
— Quando você fizer 17 anos e 3 meses. Vamos leva-la embora amanhã.
— Tenho que ficar e ajudar a encontrar Nora.
— Não há nada que possamos fazer.
— Não vou ir embora e deixar ela.
— Você precisa. Vou fazer o que posso para encontrá-la.
— Va até a casa de Hank Millar.
— Uma coisa de cada vez. Primeiro você. Minha prioridade.
— Eu enfrento o que tiver que enfrentar...
— Não, Nikki. É diferente. Você não sabe o que é um ataque, você teve uma briga com Dabria. Foi bem. Mas ela não estava focada em machucar você. Todos são poderosos. Para enfrenta-los você precisa estar pronta. E para estar pronta você precisa primeiro se elevar. Depois treinar. E treinar duro.
— Ok. - Respondi. - Eu preciso arrumar uma desculpa para a tia Blyte.
— Nós podemos alterar a mente dela.
— Não sei. - Falei. - Não me sinto bem indo embora.
— Você não vai embora. Quero você de volta assim que se elevar. Você tem que ficar ao meu lado.
— Você está me chamando para a guerra?
— Agora essa é a sua vida.
Respirei fundo.
Aquela era a minha vida agora. Lancei um olhar ao meu pai. Sempre senti a falta dele. Deles. Mas saber que minha vida era uma mentira era horrível. Saber que minha mãe era um ser repugnante. Era demais para qualquer um.
Passei na minha mente todos nossos momentos juntas. Nenhum deles ela deixou transparecer. Ela era amável e carinhosa. Usava roupas modernas, mas nada vulgar. Não tinha nada que mostrasse que ela era Lilith.
Ainda não conseguia acreditar.
E Ben? Onde ele estava? O que tinham feito com ele?
Minha cabeça parecia que ia dar um nó. Mas não tinha tempo para isso. Na verdade, nunca tinha tempo para pensar. Tinha que erguer a cabeça e seguir em frente. Tinha que me reerguer para conseguir ajudar Nora e Ben.
Meu celular tocou e o nome de Vee estava piscando na tela. Eu não o peguei.
Não queria ter que mentir. Não queria ter que falar.
— Você precisa de um tempo sozinha? - Meu pai perguntou e o encarei de novo.
— Estou em um misto de sentimentos.
— Você está preocupada com Benjamin.
— Muito. Os Arcanjos iam leva-lo ao inferno. Tem algum jeito de falar com... A minha... Mãe? - Era tão estranho chama-la desse jeito.
— Infelizmente não tem. Ela se foi para sempre.
— Mas como ela saiu antes?
— Ela sai de tempos em tempos.
— Já sei, para procriar.
— Nikki... - Ele se calou por que bateram na porta. – Entra.
Nico passou por ela.
— Patch foi encontrado. - Ele avisou. - Está no Delphic. - Eu levantei na mesma hora. - Está sem as asas.