Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 8
A Cidade dos Lobos


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal! Eu sei que demorei muito a postar mas não ando com grande inspiração e tenho imensa coisa para fazer todas as semanas do curso, mas aqui está :)

Boa Leitura~



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Flashback

 

Um faisão selvagem debicava o chão á procura das primeiras sementes que o verão tinha para oferecer. Descontraído, mas sempre em alerta para potenciais perigos, o pássaro matava a fome por mais um dia.

Escondida no matagal seco e escaldante, Nour queria tirar partido da sua nova forma e capacidades. Desde cedo que ansiava pelos 15 anos para conhecer o seu outro lado.

Agachada tal como Voughan lhe ensinara, ela segue o faisão com o olhar e aproxima-se o mais cautelosa possível.

Por azar, um pau estala por baixo das suas patas e o faisão vê-a no meio do trigo selvagem e amarelo e sai a voar para longe.

Voughan sai do arvoredo a altas gargalhadas agarrando a barriga de tanto rir do falhanço total da irmã.

—Achavas mesmo que ele não te iria ver? – ele pergunta enquanto limpa uma lágrima do olho. Nour está amuada_ Oh vá-la, não fiques assim. Era quase impossível. O teu pelo é preto como carvão, tens que te esconder em sítio mais escuros para te camuflares.

—Se sabes assim tanto, porque é que não fazes tu? – pergunta ela.

—Oh eu até faria, mas tu sabes, dores nas costas… – ele ri.

—Ahm ahm – resmunga ela.

Voughan dá um sorriso e faz um gesto para a irmã não sair do lugar enquanto ele corre para os arbustos. De lá, vem carregado com um arco e flecha bastante arrojado e trabalho.

Nour abre a boca num “0”.

—Tu és doido?! Tu trouxeste isso para aqui?! Se o pai te vê com isso na mão manda-nos contar quantas migalhas tem um pão! -reclama Nour.

—Disseste para eu te mostrar como se faz não foi? Deixa-me mostrar-te á minha maneira…

Voughan endireita as costas e puxa a seta para trás mirando-a numa lebre que não deu pela presença dos dois irmãos. Depois de um suspiro, ele larga-a.

Nour nem teve tempo de dizer nada. Foi tão rápido que a lebre já estava estendida no chão com uma flecha a atravessar-lhe a barriga.

Voughan lança um sorriso convencido á irmã que revira os olhos de braços cruzados. Ela não é nada a favor do que Voughan acabara de fazer.

—Vais-nos meter em problemas -ela segue-o em direção á lebre_ Não podes simplesmente caçar como nós? Como lobos? -ela pergunta_ o que se passa? Perdeste o teu orgulho como Loup Garou?

Voughan não gosta do tom da conversa. Ele puxa a seta com brutalidade do interior do coelho antes de olhar para Nour.

—Como se eu alguma vez tivesse tido – retorque começando a caminhar. Nour continua a segui-lo.

—Estás a falar do quê irmão…?

Voughan para. A lebre morta balança nas suas robustas mãos sempre que ele faz um movimento.

—Eu gosto do meu lado humano, okay? Eu sempre quis conhecer o mundo, conhecer novas pessoas -ele trava. Nour olha com carinho para o irmão_ nunca quis ficar aqui! Olha á tua volta! Estamos no meio do nada! No verão morremos de calor, no inverno morremos de frio! Temos que passar fome para não acabar com o ecossistema daqui e ninguém desconfiar da nossa existência. Isto não é viver Nour, é sobreviver!

 

Flashback Off

 

Algo molhado e frio percorre a cara de Nour acordando-a. Ela resmunga e vira-se para o outro lado na esperança de poder voltar a dormir, mas não resulta.

O colchão vai a baixo e as velhas molas do mesmo chiam dando a entender que já tiveram melhores dias. Algo subiu para cima da cama.

Nour abre os olhos. Ela sente alguém a encará-la e depara-se com o focinho de Bear bem próximo dela. O seu único olho verde escuro pestaneja vezes sem conta de uma maneira extremamente adorável. Ela não resiste em fazer-lhe umas caricias atrás das orelhas.

—Bom dia Bear… -ela sussurra fechando os olhos. Bear começa a morde-la_ Não, para! Porque é que me queres fora da cama? Aposto que ainda é super cedo!

Bear volta ao seu lado humano e começa a gesticular com as mãos. Nour não consegue entender mais de metade.

—Espera, calma, não estou a conseguir entender…

Pela primeira vez, Nour vira Bear com uma cara triste. Ele acabou de ir-se a baixo por ela não o conseguir entender.

Durante anos, Luckyan, Aslam e Saaya sempre o compreenderam e o lobo castanho e branco já se esquecera como é não ser compreendido.

—Eu consegui entender de que vamos todos a algum lado okay? – ela tenta animá-lo_ mas vamos onde e porquê?

—Vamos á cidade.

Luckyan entra no quarto e interrompe a conversa. Bear levanta-se da cama e sai deixando o alfa e a loba preta sozinhos.

—Cidade…? – Nour está confusa_ qual cidade??

—Pois é…esqueci que nunca viste nada para além daquela Vila – ele resmunga_ vamos a Seatle. É uma cidade nos Estados Unidos. Fica perto da fronteira.

Nour pestaneja várias vezes ainda sem entender muito bem o que Luckyan acabara de dizer.

—O que foi? – ele pergunta_ não temos o dia todo, ainda são algumas horas de viajem. Despacha-te.

 

 

****

 

A uns bons 5 km da gruta, estava um esconderijo. Nour olhava de sobrancelha levantada para o monte de folhas e perguntava-se o que estaria a esconder por baixo.

Luckyan e Aslam fazem a honras e começam a tirar os ramos de árvores ainda com folhagem, embora seca. Por baixo daquilo tudo, estava um jipe.

Nour arregala os olhos.

—Bastante fixe, não é? – pergunta Aslam para a loba preta. Ela assenta.

—Vais atrás com o Aslam e o Bear, tentem não se matarem está bem? – o alfa pergunta. Nour dá um sorriso amarelo, mas obedece.

A estrada feita pelos humanos não demorou a ser o único solo que as rodas do jipe entravam em contacto. 2 horas de viajem depois, chegariam á fronteira do Canadá com os Estados Unidos sem qualquer problema.

Nos bancos de trás, Aslam e Bear tinha adormecido um em cima do outro e Nour passara a viajem toda a olhar pela janela.

Ela estava nervosa. A ideia de ver uma cidade repleta de humanos fazia-lhe suar das mãos. A única vez que vira humanos foi quando Raphael apareceu com o seu exército para massacrar o seu povo.

Ela sabia que a qualquer momento as coisas podiam descontrolar-se.

—Hey Luckyan, eu acho que devíamos de voltar. A tua amiga está com cara de quem vai molhar as calças a qualquer momento – ri Saaya ao olhar para ela pelo espelho.

 Nour fuzila-a com os olhos. Está na altura de começar a responder na mesma moeda.

—Sabes, começo a pensar que devia de te ter deixado levar um tiro na cabeça. Talvez uma bala de chumbo no meio da testa te acalmasse um bocadinho o temperamento.

Saaya está possessa. Ela olha para Nour como se ela tivesse assassinado toda a sua família mesmo á sua frente.

—Luckyan, para o jipe… - ela pede. Ambas estão a olhar uma para a outra sem desviar o olhar. Bear acaba de acordar.

—Saaya eu não-

—Luckyan para a merda do jipe agora!!

Saaya sobrepõem-se a Luckyan e desvia o veículo para a berma da estrada, parando-o de seguida. Ela sai disparada do carro e bate com a porta do mesmo. Luckyan olha para Nour.

—Viste o que fizeste? -ele pergunta_ estou a ficar sem paciência para os vossos conflitos existenciais. Resolvam-se de uma vez por todas ou então resolvo eu.

—Ela começou. Peço desculpa que a tua cadelinha não esteja treinada como deve de ser!

Nour sai do jipe. Luckyan olha para trás e depara-se com Bear a olhar para ele. Ele dá de ombros.

Cá fora, mal Nour saiu, Saaya agarrou-a pelo pescoço e prensou-a contra o carro. Uma amolgadela com o formato da cabeça de Nour aparece imediatamente. Luckyan sussurra com os seu butões: “A pintura do jipe não…”

—Eu só vou dizer isto uma vez, então presta bem atenção… -começa Saaya, enquanto aperta ainda mais o pescoço dela_ eu preferia ter morrido daquela maneira tão fácil e indigna de mim, do que me tivesses salvo a vida. Não é por me teres salvo o couro que eu vou passar a ser tua amiga. Muito pelo contrário…eu odeio-te ainda mais e mal posso esperar para te ver pelas costas!

Os olhos amarelos incandescentes de Saaya nunca estiveram tão vivos. Apesar de estar pendurada pelo pescoço, Nour não tem medo. Ela apenas mantém um olha sério e agressivo. Saaya colocou as cartas todas em cima da mesa.

Elas nunca serão amigas.

 

 

**** 

 

Luckyan trava de repente, acordando assim todo o banco de trás. Aslam bate com a cabeça no banco da frente e resmunga de dor, rogando pragas a Luckyan por ter parado de forma tão bruta.

—Se tivesses cinto, isso não acontecia – diz o alfa_ saiam do carro. O resto vamos ter que fazer a pé. Nour, veste o casaco preto que está por aí.

—Mas eu não tenho frio… - ela devolve. Luckyan faz um olhar autoritário e ela levanta os braços como sinal de rendição.

O jipe é deixado sozinho numa rua não muito perto do destino da alcateia para não chamar á atenção.

Nour procura a segurança de Luckyan e não descola da beira dele por nada. O alfa coloca-lhe o capuz, cobrindo assim a cabeça e camuflando o seu cheiro.

—Tenta não dar nas vistas. As pessoas daqui não apreciam forasteiros – avisa ele_ e os lobos também não…

Nour trava, perplexa, e Aslam acaba por atropela-la com o corpo sem querer.

—Nós estamos em todo o lado!

Ela sempre pensou que a espécie dela e os humanos, fossem como a água e o azeite: não se misturam. Um loup garou numa cidade, era um loup garou morto.

O grupo dirige-se ás traseiras de um edifício e Luckyan bate com força numa porta, enquanto os outros esperam. Segundos depois, ela abre e um homem na casa dos 60 anos cumprimenta-o com um grande abraço.

Ele olha para Nour por cima do ombro de Luckyan e as rugas na testa ficam ainda mais carregadas.

—Quem é aquela? – pergunta ele num tom agressivo_ o acordo era eu ajudar-vos, mais ninguém.

—Miroslav por favor… - Luckyan sussurra_ Raphael atacou outra vez. Eu fiz uma promessa. Ela é a promessa…

O velhote expira fundo e fecha os olhos.

—O meu nome é Miroslav Petrovich – ele dirige-se a Nour_ podes tratar-me por Miro…

Nour relaxa e inspira fundo enquanto o grupo dirige-se para dentro com alguma pressa. Ela segue-os e depressa depara-se com o que se parece as traseiras de uma loja de antiguidades.

Miro dá a loja como encerrada por hoje e fecha as cortinas da mesma para impedir curiosos de espreitarem.

Nour olha em volta. Tem todo o tipo de coisas antigas e colecionáveis. Desde quadros e esculturas gregas a serviços de chá vintage ou roupas da era vitoriana.

Uma escultura chama-lhe á atenção de entre todas as outras. 3 lobos a saltar por cima de um rio, em bronze fundido a frio.

—Eu tenho aqui tudo o que pediste no mês passado -afirma Miro para Luckyan. Nour ainda está de volta da escultura_ mas fica a saber de que algumas coisas foram difíceis de encontrar.

Miroslav pega numa mala e empurra-a para Luckyan. O alfa de olhos azuis claros rapidamente a abre e retira uma arma.

—Uau…fixe – comenta Aslam. Nour finalmente tem a atenção deles.

—O que é isso? – ela pergunta ao se aproximar_ porque é que pediste armas…?

Luckyan não responde e apenas dá um olhar sem emoção.

Aslam puxa a mala para ele e bisbilhota tudo o que ela contém. Uma besta não tarda em aparecer nas suas mãos.

—Aslam pousa isso – ordena Saaya_ ainda cegas alguém.

Bear não acha piada e resguarda-se atrás do balcão, perto de Miro.

—Vê, tem uma mira e tudo -ele aponta para Nour, que paralisa.

—Aslam larga isso antes que alguém se magoe! – exige Luckyan num grito.

—Vocês são demasiado stressados…não vai acontecer na-

Dito isto, Aslam prime o gatilho sem querer e uma seta sai disparada em direção a Nour.

Acertou de raspão. Um serviço de loiças impediu que a flecha viesse com mais forma e certeira ao rosto de Nour.

Um flashback do seu encontro com Raphael vem ao de cima. A mesma seta que matou Peach bem na sua frente também lhe tinha deixado uma ferida na bochecha direita. Pareceu um deja vu.

Luckyan e Aslam correm ao auxílio dela. O alfa pergunta freneticamente se ela está bem e ela responde com um grito:

—Eu já disse que estou bem!!

Nour corre lá para fora e bate com a porta com bastante força. Luckyan segue-a e dá por ela sentada no passeio a soluçar.

Gentilmente, ele pousa a palma da mão no ombro dela, mas Nour afasta-o.

—Deixa-me em paz! Eu não quero conversar com ninguém agora! – grita ela levantando-se.

—Tu vais voltar para dentro e é agora!

Luckyan quase que fica sem uma mão quando tenta agarrá-la pelo braço. De focinho arreganhado e com o dobro do tamanho, Nour ameaça-o.

—Não me deixas alternativa…

Luckyan coloca as mãos no chão e contorce-se, dando assim poder á sua forma verdadeira. Em segundos, o jogo fica justo.

Eles rosnam um para o outro, cada um tentando ser mais agressivo e imponente, mas um som a cair faze-os parar com a luta de egos rapidamente.

Os dois lobos viram a cabeça para o lado e deparam-se com um pequeno rapaz a olhar para eles petrificado de medo. Ele esta branco como uma parede e a bicicleta está caída no chão.

Luckyan aproxima-se da criança assustada e última coisa que ela vê, são os seus dentes.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥



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