Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 7
Luta Comigo!


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786731/chapter/7

Flashback

 

Tinha sido um dia de caça importantíssimo. A Vila inteira banqueteava-se com o imenso alce que os batedores tinham caçado na última volta para casa.

Voughan estava encarregue de cortar e limpar a carne como sempre. Mais ninguém na Vila tinha tanto jeito como ele para prepará-la. Nour e Peach cortavam pães frescos e Seth e Soren cozinhavam-na para depois servirem ao resto dos habitantes em forma de sandes.

A fogueira central estava no seu pico. O cheiro a madeira queimada misturado com carne cozinhada lentamente dava água na boca.

Seth ia cortando um pouco e comendo ás escondidas, mas não se livrava dos calduços de Soren que o apanhava quase todas as vezes.

Os mais novos e os mais velhos são servidos primeiro. Sempre foi regra. Depois, o resto é servido aleatoriamente.

Depois de várias histórias e piadas, a fogueira apaga-se. Nour e os outros são os últimos a comer.

Soren pousa a sua sandes para ajudar Seth a arrumar tudo. Um terrível erro, vai ele perceber depois.

Quando volta, a sandes já não está lá. O jovem lobo cinzento de peito esbranquiçado franze a testa e rosna assim que vê um rasto de migalhas espalhadas pelo chão.

Escondido nos arbustos, Nanuk comia á pressa, dando apenas algumas mastigadelas e engolia rapidamente.

Soren encontra-o e ataca-o imediatamente, ficando os dentes na garupa de Nanuk. O pobre “Husky” é obrigado a deixar cair o pedaço de pão que tinha na boca para se defender.

Os dois embrulham-se numa feroz luta pelo resto de sandes que ainda existe. Seth, Peach, Nour e Voughan ouvem-nos quase a matarem-se um ao outro e correm para os separar.

Surpreendentemente, é Peach quem os separa e rosna para Nanuk se afastar. Ele não tem medo, mas decide obedecer. Está claramente em desvantagem agora.

—Peach calma, ele só tem fome… -diz Nour, chegando-se á frente.

—Ele não tem direito a comer nada! – grita Voughan_ volta para o teu grupo, antes que eu te trate do pelo.

Nanuk, ensanguentado e com uma bochecha visivelmente em carne viva, esconde-se de novo dentro dos arbustos.

Peach e Voughan levam Soren para dentro. Ele precisa de ser tratado. Nour fica para trás, ainda a olhar para a floresta, á procura de Nanuk.

Seth repara na insistência da amiga em ficar. O lobo tricolor morde levemente a cauda da loba preta e dá um sorriso amigável quando ela olha para trás.

—Não devíamos de ser tão duros com ele…podia ser um de nós – sussurra ela já na sua forma humana.

—Mas é a nossa comida Nour – devolve Seth_ Soren participou na morte do alce, merecia aquela sandes! Nós não temos culpa que “Os Renegados” tenham escolhido viver assim. Anda, vem para dentro. O Soren precisa de ti agora…

Nessa noite, Peach coseu a sobrancelha de Soren, avisando imediatamente de que o golpe tinha sido fundo e que iria deixar uma cicatriz. Nour ficou responsável pela parte do amor e do carinho, mas quando todos adormeceram, a jovem loba regressou á floresta com algo embrulhado na mão.

 

—Eu sei que estás aí algures!

 

Ela espera por uma resposta, um som, um uivo…algo. Segundos de silêncio puro passam-se e quando ela está prestes a desistir, Nanuk salta dos arbustos, assustando-a.

—Chamaste-me? – ele pergunta, erguendo-se do chão como humano.

Nour repara nas feridas, tratadas devidamente com material e cuidado que ela não tem na Vila.

—Eu vim ajudar-te, mas parece que vives melhor do que nós então… - ela parte a sandes ao meio e lança a outra metade a Nanuk.

Ele fica a olhar para o resta na mão dela. Nour suspira.

—Está bem… - ela aproxima-se. Nanuk fica nervoso. Ele não esperava que ela se aproximasse tanto_ mas desde que partilhes com os teus. Quantos vocês são…?

— Somos 5 a contar comigo. 4 rapazes e 1 rapariga – ele responde. Nour entrega a outra metade.

—Bom proveito.

 

Flashback Off

Pela milésima vez, Nour cai ao chão, mas talvez Luckyan tenha feito com demasiada força desta vez. Ela geme. Caiu direitinha de costas.

—Estás bem? -pergunta o alfa.

Nour tenta pôr-se de lado para apoiar as mãos no solo para se levantar. Assim que o faz, ela assente, dizendo sem palavras de que quer continuar.

—Tens a certeza? – pergunta ele de novo.

Numa outra circunstância, Luckyan não teria hesitado em continuar a luta, mas Nour está um farrapo. A sobrancelha está aberta, os lábios cortados e os arranhões por toda a cara, braços e mãos já revelam fraqueza.

Ela disfere um soco, mas Luckyan desvia-se deste, assim como da cadeia deles que Nour começa a dar.

O alfa não perdoa, e acerta-lhe com o punho fechado mesmo por baixo do queixo, seguido de uma pisada na barriga da perna que a põe de joelhos.

A loba preta cospe sangue e afasta o cabelo preto para o lado contrário, ainda não se dando por vencida. Luckyan cerra o maxilar. Ele sabe que ela não se vai desistir facilmente.

Dentro da plateia, Bear recusasse a olhar, enquanto Saaya olha com dor e Aslam come amendoins animado como uma criança num circo.

Luckyan agacha-se preocupado e Nour aproveita para lhe dar uma cabeçada igualmente no queixo. Por esta ele não esperava e a tontura indica o quão forte a pancada foi.

Nour aproveita que Luckyan está zonzo e salta para cima dele, enrolando as pernas á volta da sua cintura. Ela esperava ainda ter forças para o fazer rodopiar e cair no chão, mas não.

O alfa beneficia do cansaço dela e disfere uma cabeçada, pega nela pelo pescoço e manda-a ao chão pela milésima e uma vez.

Nour mal se mexe.

—Acabou por hoje – ordena ele e vira costas.

—M-Mais u-ma vez… - balbucia ela entre dentes. Luckyan olha para trás especado.

—Ela é doida – sussurra Aslam para Saaya_ está a arranjar maneira de se matar.

Nour põe-se novamente de pé, cambaleia de um lado para o outro, mas não cai. Luckyan olha para ela e nega.

—Não vou lutar mais contigo.

Ele dá as costas definitivas e faz sinal para os outros para o seguirem de volta para casa.

Um rosnar selvagem e agressivo faz o alfa parar de caminhar. Nour implora para que ele lute mais uma vez, mas ele ignora-a segundos depois.

A loba preta não aceita e corre em direção a ele de dentes arreganhados.

Saaya lança-se a ela, pronta para proteger Luckyan. Ela não pensará duas vezes em terminar com ela e as duas quase que se envolvem, mas Bear intervém com uma dentada na nuca da loba castanha escura.

Saaya fica incrédula. Bear nunca se tinha virado contra ninguém da matilha, muito menos por alguém de fora.

Bear, com a ponta do focinho pingado de vermelho, coloca-se á frente de Nour e Saaya e tenta rosnar, mas a única coisa que sai é um ganido engasgado e fino.

Não foi preciso um grunho feroz e medonho, Saaya entendeu o recado: Não toques nela.

 

 

****

 

 

O quarto do alfa era escuro. Mal começasse a cair a noite, tinha que se acender as velas para não se andar aos encontrões. Nour estava sentada na cama, enfeitiçada pela chama vibrante que Luckyan colocara á frente dela na mesa de cabeceira.

As feridas estavam tratadas. Com equipamento e cuidado adequado que ela não tinha na Vila. O olhar dela fita num exemplar da “coleção” de pensos médicos de Luckyan e ela pensa: “Já vi isto antes”.

Ele está atrás dela, a arrumar o kit de primeiros socorros que utilizou para a curar e nem se apercebe de que ela olha para ele de maneira estranha.

—Quantos vocês são eram? – Nour pergunta ao virar-se para trás.

—Como assim “quantos éramos”? Sempre fomos quatro, agora cinco contigo…  - ele responde sem a encarar.

Nour acaricia o penso nas suas mãos e olha para o alfa de sobrancelha levantada.

—Eu tenho a impressão de já ter visto isto antes… - ela sussurra. Luckyan ri.

—Normal, vocês deviam te ter isso na vossa comunidade não? – ele pergunta divertido.

—Não, os curativos eram todos á base de ervas e pano. Nada assim tão…sofisticado.

Ele aproxima-se dela para pegar o penso e guardar e ela dá-lho sem hesitações, mas a mente dela ainda vagueia. Ela lembra-se daquele encontro durante a noite com o “Husky”.

 

—“Somos 5 a contar comigo. 4 rapazes e 1 rapariga”

 

Nour olha para Luckyan a preparar-se para passar mais uma noite no chão. Algo nela diz-lhe que ele não está a ser sincero com ela.

—Então…vocês nunca foram 5…? – ela insiste. Luckyan suspira.

—Está bem, apanhaste-me – ele começa_ nós já fomos 5. Mas á um bom tempo que não somos.

Nour senta-se na cama bastante interessada para ouvir. Ele olha para ela sem intenção de dar pormenores.

—Não há nada para saber, ele morreu – conclui.

—Morreu de quê…? – ela pergunta.

—De desgosto… - ele finaliza, olhando-se ao espelho.

Nour tenta ouvir o coração de Luckyan. Está calmo e normal, como se ele estivesse a dizer a verdade, mas na verdade, ele acabou de mentir descaradamente. Ou pelo menos em parte.

—Como é que ele era…?

—Acabou-se as perguntas por hoje. Hora de dormir – refila ele.

—Eu já não sou uma criança para me dizeres que é hora de dormir! – Nour refila de volta.

Luckyan deita-se sobre um monte de folhas e fecha os olhos, ignorando-a. O grande lobo bege e preto não está mais para conversas hoje.

Nour cruza os braços e deita-se amuada.

 

 

****

 

 

A meio da noite, Luckyan levanta-se. Pela primeira vez durante um bom tempo, o experiente e poderoso alfa sente que o controlo está a fugir-lhe por entre os dentes.

Está escuro como breu, então ele decide ligar um velho e enferrujado candeeiro a óleo que um dia encontrou nas suas visitas mensais á cidade e vai sentar-se á frente da gruta.

Do bolso, ele retira um cigarro e acende-o.

—Desde quando tens vícios humanos? -alguém pergunta.

Ele espreita por cima do ombro e depara-se com Saaya a contempla-lo numa camisa de noite bastante atraente. Por um segundo, ele estremece, mas rapidamente se recompõe.

—Dizem que funciona bem quando precisam de pensar, vamos ver se funciona – ele responde. Saaya senta-se ao lado dele.

—Estás a ficar nervoso… – ela afirma. Luckyan olha para ela de cima a baixo_ eu ouvi a vossa conversa á bocado. Ela sabe ou desconfia de que alguma coisa não bate certo. Ela sabe que nós éramos cinco.

—Pergunto-me qual de vocês os três andou-lhe a contar coisas – ele exalta-se um pouco. O maxilar cerra e os olhos azuis cobrem-se num vermelho luminescente.

—Guarda a cara de mau para quando for mesmo necessário Lu— Saaya devolve_ nenhum de nós contou nada. O Aslam não se mete nisso e o Bear…é o Bear. Talvez eles se tenham conhecido eventualmente. O Nanuk costumava ir á comunidade o tempo todo, não me espantaria que já se tivessem cruzado.

Luckyan nega.

—Não, ele não se aproximaria dela – conclui o alfa_ para o Nanuk eles são como água e azeite: não se misturam.

Saaya faz silêncio por uns momentos, antes de continuar:

—Lembras-te naquela noite em que ele apareceu com a bochecha rasgada? -pergunta ela_ eu lembro-me como se tivesse sido hoje…ele tentou parecer que não tinha sido nada de grave, mas notava-se de que tinha levado uma tareia das grandes. No fim, ele foi novamente para a comunidade em busca de alguma coisa e voltou com uma sandes partida ao meio.

—Eu lembro-me – sussurra Luckyan_ ele disse que uma rapariga de cabelo preto lhe tinha dado…

Saaya sorri para o seu alfa e aponta para dentro da gruta.

—Eles conhecem-se Luckyan – ela levanta-se e dá uma leve palmadinha no ombro dele_ e se o Nanuk lhe conta primeiro do que tu, adivinha em quem é que ela se vai virar…

—Ela vai-se virar contra mim de qualquer forma – rebate ele.

Saaya ri.

—Tu não estás preocupado com ela…estás preocupado contigo. Tens medo que ela descubra o que fizeste á 20 anos atrás e que a fera interior que ainda não se soltou te caia em cima… – ela conclui_ mas não te preocupes, tu sabes que eu sempre te protegerei as costas…

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até ao próximo capitulo ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quando os Lobos Cantam" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.