Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 14
Ívar


Notas iniciais do capítulo

SORRY PELO MEU DESAPARECIMENTO MAS NÃO DESISTAM DE MIM NÃO PELO AMOR DE DEUS ;-;



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Flashback

 

Brooklyn, Nova Iorque, E.U.A, 1981.

Como sempre, o “The Red Riding Hood” estava a abarrotar, num sábado á noite.

A luz baixa de tom avermelhado dava um ar de luxúria e sensualização ao antigo bar de strip fundado nos anos 50.

Várias jovens entre os 18 e os 25 anos andavam de um lado para o outro, carregando bandejas com shots de álcool e roupas curtas.

Os homens sentavam-se nos sofás de estofos vermelhos e pretos, em forma de “U”, a apreciarem cada um o seu charuto e as beldades que de vez em quando se sentavam nos seus colos de graça.

Quem não se sentava no colo de ninguém por nenhuma quantia era Iris. Os longos cabelos vermelhos e o vestido cor-de-rosa claro não deixavam homem nenhum indiferente. Ela era única, como o colar de pérolas que usava ao pescoço.

Ela não era stripper, mas sim apenas uma empregada de mesa que, de vez em quando, roubava os mais ricos e distraídos. Os homens podiam ser tão tolos às vezes…

Iris aproxima-se de um grupo de rapazes mais novos, com a bandeja na mão. Entre eles, está Luka Ulrich.

—Há quanto tempo Iris… - diz o jovem loiro de olhos castanhos.

—Luka… - ela resmunga, enquanto serve os 7 rapazes com shots de tequila.

Ela debruça-se para servi-lo e ele não resiste em apreciar o decote acentuado, as coxas firmes e os braços descobertos do vestido. Se o olhar dele pudesse beijar…

— Mais alguma coisa? – pergunta ela.

—Tu? – Luka devolve. Os amigos começam-se a rir maliciosamente.

—Nos teus sonhos… - Iris revira os olhos e assim se despede.

O bar fecha umas horas depois. No caminho para casa, Iris aperta o casaco contra ela para escapar ao frio. Está uma noite chuvosa e escura em Brooklyn. São 2h da manhã e a única coisa que se ouve é o caminhar dela em saltos altos e o ladrar dos cães numa rua ali perto.

Algo atrás dela se move no meio das sombras. Iris não se apercebe de que está a ser seguida, até que para e vira-se para trás com um pressentimento.

Um par de olhos amarelos encara-a no meio da escuridão. Iris arfa de forma pesada quando algo rosna e começa-se a aproximar. É um lobo.

Ela deixa cair a bolsa e desce dos saltos altos para começar a correr. De repente, já não é apenas um, mas sim sete canídeos que a perseguem como uma presa.

Iris escolhe o caminho errado e acaba de frente para uma parede. É um beco sem saída.

Um rosnar de fazer arrepiar a espinha ecoa atrás dela. Iris olha para trás, com lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto de pavor. Eles estão parados á frente dela.

—”Nunca devias de me ter dito não” – um deles diz quando se aproxima. Iris reconhece a voz.

— L-Luka?!

Ele contorce-se e segundos depois, uma nuvem de fumo preto aparece, dando lugar ao jovem loiro de 20 anos.

Iris não quer acreditar no que vê á frente. As histórias de fantasia saltaram dos livros para o mundo real de um momento para o outro.

A ruiva encosta-se á parede, pressionada por Luka que lhe lambe o pescoço. Ela tenta dar-lhe um chuto, mas ele é forte e enrolou-a bem nos braços dele. Iris mal se consegue mexer.

— Tu és minha agora.

 

Flashback Off

Pode um Alfa ser mole e ter sentimentos? Pode ele chorar? Sentir dor emocional? Daquela que nos dá um nó na garganta e o estômago virado do avesso de desgosto e tristeza. Pode um Alfa ser fraco? Não fisicamente, mas sim do coração? Oh Fenrir…haverá maneira de conceder a esse homem desolado, uma maneira de não tremer das pernas nem da mente, sempre que vir aqueles olhos verdes, como duas esmeraldas debaixo do sol?

 

—A pensar nela?

 

Luckyan desvia o olhar da rua. A leve e clara cortina foge da ponta dos seus dedos, fechando-se.

—Não – responde com um tom muito pouco convincente. Saaya cruza os braços.

—A pensar numa maneira de não pensar nela…? – A morena volta a perguntar.

—Onde está o Aslam? – Luckyan muda de assunto.

—Lá em cima. Está a descansar – ela responde_ Miroslav disse que ele deve de demorar uns dias até conseguir levantar-se.

Luckyan desespera. O Alfa não tem dias, ele precisa de voltar para o Canadá o mais rápido possível.

—Eu não tenho dias Saaya, eu preciso de voltar para casa…

Luckyan passa por ela. Saaya fica incrédula.

—Voltar para casa!? – ela grita_ Luckyan nós estamos em casa! Seatle é a nossa casa!

Ele para e vira-se para trás. De maxilar cerrados e de testa franzida, a expressão dele não parece das mais simpáticas.

—Como é que consegues ser assim? Ela salvou-te a vida, salvou a vida do Aslam. Vocês os dois estariam mortos se não fosse ela! Como é que consegues ser tão cruel e insensível com alguém que nunca te fez mal nenhum?

Saaya engole em seco. As palavras de Luckyan enrolam-na como uma corda ao pescoço.

—Ela já deve de estar morta a esta hora… - ela sussurra.

Luckyan olha para ela possesso.

—Não… tu é que estás morta – devolve ríspido. Saaya detesta o tom_ estás tão entranhada na tua própria pena, que não consegues ver nada para além de ti e do que te convém. Como podes dizer sequer que me amas…? Tu já não tens amor a nada Saaya.

Saaya está em lágrimas. Lágrimas de frustração.

—Mas eu amo-te… - ela chora.

—Não Saaya… – Luckyan suspira_ tu amavas o Raseek. Eu sempre fui apenas uma distração, um consolo… e eu peço desculpa, por todos estes anos de ilusão, por aquela noite á beira da fogueira que nunca devia de ter acontecido… parte da culpa do teu interesse em mim é, e sempre será minha.

Luckyan abre a porta e quase que atropela Bear, que vinha do mercado. O mudo olha para o Alfa e de seguida para Saaya, pois não entendo o que acabara de acontecer.

—”O que aconteceu? Está tudo bem?” – gesticula Bear com as mãos.

Saaya apenas dá um sorriso e assente.

 

 

(…)

 

Ignis bate na porta do quarto de Nour, pedindo assim licença para entrar. A ruiva de olhos castanhos espera pacientemente, com algumas roupas lavadas destinadas a serem entregues á loba preta depois do banho.

Ninguém do outro lado responde. Ignis resolve bater novamente, mas desta vez com mais força. Nada. Ela roda a maçaneta, mas está trancada.

 

—Porque não entras?

 

Ignis assusta-se. Gabriel tem o dom de aparecer de repente.

—Se vais aparecer sempre assim como um fantasma, ao menos usa correntes, sempre dá para te ouvir – responde_ está trancada.

Gabriel afasta-a e arromba a porta com um pontapé. Ambos entram no quarto de Nour e olham em volta. Não há sinal dela, nem do soldado que devia de estar de guarda.

Ignis aproxima-se da banheira perto do vitral, bastante receosa. Ela sabe o que está lá, mas não consegue deixar de gritar assim que vê o soldado morto por afogamento.

Gabriel chama imediatamente reforços e pega violentamente no braço de Ignis.

—Para onde é que ela foi??

—Eu não sei, larga-me! – rebate ela.

—Se eu sei que tens algo a ver com isto, eu… -ameaça.

—Tu o quê? Diz lá – provoca Ignis.

—Parem os dois! – Raphael aparece com os soldados, mas Ignis e Gabriel não descolam os olhos um do outro_ Gabriel, solta-a.

Gabriel não o faz. Pelo contrário, aperta ainda mais o antebraço de Ignis.

—Gabriel!

Ele obedece. Ignis massaja as marcas de dedos que ficaram desenhadas na pele dela e apressa-se a sair dali.

Um dos soldados examina o vitral. Algo não está bem. Com um toque, uma peça tomba juntamente com outra. A fenda que deixam tem um tamanho suficiente para alguém passar. Raphael fica furioso.

O corpo do alemão é retirado da banheira e revistado. Está a faltar uma navalha e uma arma com um calibre 45.

—Ela tem uma arma – afirma Gabriel no WalkieTalkie_ repito: Ela tem uma arma!

E o que poderia ser mais perigoso, do que uma mulher zangada com uma arma?

Nour estava nos telhados. Com a navalha escondida numa das botas e a arma por baixo da camisola na parte de trás das calças, ela estava pronta para enfrentar seja quem fosse que se colocasse no seu caminho.

Das alturas, ela pode ver quase a vila toda. Os soldados andam de um lado para o outro, em grupos de 6 ou mais, sempre a postos ao menor barulho. É obvio que já deram pela fuga dela.

O carregar uma arma assusta-a por uma fração de segundos, acabando assim com o seu momento de paz e liberdade. Nour olha para trás. O lobo de á pouco está com uma AK-47 mirada nela.

—Tens que escolher melhor os teus esconderijos – ele começa_ és demasiado previsível. Demorei 10 minutos para te encontrar.

Ela sorri.

—Se não soubesse a tua verdadeira natureza, perguntar-me-ia como tinhas chegado aqui a cima.

— Não foi difícil – ele responde.

Nour levanta-se da beira do edifício e caminha em direção a ele.

—Adorava ficar aqui a conversar, mas tenho que ir.

Com as mãos nos bolsos das calças, Nour passa por ele de forma descontraída, mas o soldado está decidido a não a deixar ir embora assim.

Num movimento rápido e firme, ele saca de um chicote e enrola a ponta do mesmo ao pulso de Nour. Ela é obrigada a virar-se para ele e, já que isso acontece, ela aproveita para pegar com a outra mão na arma que roubou ao soldado alemão.

—Solta-me – ordena Nour com uma expressão bastante séria.

— Pousa isso, antes que magoes alguém a sério – o soldado afro-americano rebate.

—É essa a intenção.

Nour finalmente presta alguma atenção nele. Pele escura, barba de dois dias e os olhos castanhos escuros. Os bíceps e tríceps estão decorados com tatuagens. A faixa identificativa por cima da zona do coração diz “Ivan”. 

—Eu sei o que estás a pensar – ele começa_ eu tive que mudar o meu nome para passar despercebido junto deles. O meu nome de nascença e verdadeiro é, e será sempre Ívar. Significa “guerreiro”.

—O que fazes com eles? Ívar …- ironiza ela.

—Provavelmente a mesma coisa do que tu – ele ri_ vingança.

—Eu não quero vingança, eu quero que me deixem a mim e á minha espécie em sossego. Eu quero paz!

— E a solução passa por ires embora? E a tua família? Vais deixá-los para trás? – ele pergunta. Nour começa a tremer.

—Não fales da minha família! – ela destranca a alavanca de segurança da arma.

—Baixa isso, estás a tremer. Garanto-te que não vais acertar onde estás a mirar – Ívar aconselha_ ouve… eu não te posso deixar ir embora, mas posso levar-te até á tua mãe e a tua irmã.

A postura firme e séria de Nour começa a descair. Ela luta para não sucumbir á raiva e á tristeza. Ela treme como varas verdes. Lágrimas escorrem sem parar até ao queixo e pingam para o chão.

—Estás a mentir… - ela chora. Ívar abana a cabeça.

—Não estou. Elas estão vivas. – afirma. Nour ainda não acredita totalmente.

Ele aproxima-se com cuidado, baixa-lhe a arma e solta-lhe o pulso do chicote.

—Segue-me…

Nour assim faz.

 

 

 

P.O.V. Ignis

Nanuk está a recuperar mais rapidamente do que se pensava. Algumas das feridas não são tão más quanto parecem. A única que me põe nervosa ainda continua a ser a grande dentada na zona do pomo-de- Adão. Parece não querer sarar.

— Para de tocar aí! – resmungo, enquanto preparo novos pensos médicos e ligaduras.

—Está a verter sangue – ele resmunga de volta.

Sacudo-lhe a mão da ferida e limpo tudo cuidadosamente antes de colar o penso sobre a dentada. Nanuk está a olhar densamente para mim, colocando assim uma enorme pressão inconscientemente.

As pontas dos dedos dele acariciam a minha bochecha. Esta ação dura segundos de tão lento que Nanuk foi.

Sinto a minha cara molhada e o cheiro a sangue invade-me as narinas instantaneamente. Percebo que tenho os seus dedos marcados a vermelho no meu rosto.

A mão esquerda dele desce e para nos meus seios apertados e encolhidos pelo decote justo. Nanuk não gosta.

Com a faca utilizada para cortar as ligaduras, Nanuk apenas disfere um golpe de baixo para cima, abrindo de seguida o decote em dois. Ele lança um sorriso quando vê os meus peitos mais soltos e visíveis.

—Acabaste de arruinar o meu único vestido decente – sussurro, olhando-o nos olhos.

—Está muito melhor assim.

Eu dou uma pequena gargalhada e Nanuk segura o meu rosto para depositar um beijo.

 

Os dois amantes partilhavam caricias e trocas de amor no quarto. Nanuk tinha o rosto escondido no pescoço da Ignis e as mãos a segurarem as nádegas. Pequenos risos e beijos faziam-se ouvir, onde cá fora, a inveja roía-se toda.

Gabriel estava a ouvir tudo do lado de fora da porta. O punho dele estava de tal forma cerrado que quase fazia ferida na palma da mão. Depois de fechar os olhos e inspirar fundo, um sorriso transtornador forma-se nos seus lábios.

 

P.O.V. Nour

 

Ívar faz sinal para que eu pare. Desvio-me para o lado e espreito, pois, ele é muito maior que eu. Os antigos campos de cultivo estão a metros de nós e neles vários habitantes da Vila trabalham arduamente e sob vigilância. Há soldados em cada fila de cultivo.

— Fica atrás de mim – ordena ele. Eu assento e sigo-o até aos campos.

Alguns soldados olham para nós, confusos e bastante surpreendidos. É notório que eu não deveria de estar aqui.  

Cachos de uva e framboesas cercam-me por completo assim que entramos numa fila.

Um homem pequeno e franzinho colhe com cuidado os cachos de uvas mais baixos e olha para mim estranhamente quando me vê. Ele tenta esconder, mas um açaime na boca não dá para ocultar.

Passo por ele cabisbaixa. Ver o meu povo amordaçado é de quebrar não só o coração, mas também a alma.

— É para não comer o que colhe – explica Ívar. Eu tento controlar a raiva.

Ívar para, perto de Liv e Kaira que apanham framboesas. Liv olha para o soldado afro-americano com algum medo e Kaira esconde-se atrás da mãe.

— O que queres soldado…? – pergunta ela de forma calma. Tem um tom cansado e farto.

Ívar não responde e desvia-se da frente de Nour. Liv deixa cair o cesto de framboesas chocada.

—Tens 5 minutos – sussurra ele para a loba preta.

Nour deixa cair uma lágrima e olha para mãe e para a irmã que julgava mortas.

—N-Nour…? – gagueja Liv. Nour assente agora com o rosto inundado.

Kaira não se contém e corre em direção á irmã mais velha, chorando descontroladamente. Liv abraça-as ás duas. Nour passa as mãos pelas costas da mãe e sente os ossos com as pontas dos dedos. Estão famintas.

— Eu tive tantas saudades tuas – chora Kaira. Nour limpa as lágrimas da irmã.

—Eu também tive muitas saudades tuas, cara de sapo – ela ri.

De joelhos no chão, Nour não as larga por nada.

—Pensei que tivesses morrido… - sussurra Liv_ o coração não batia, desculpa! Se eu soubesse que estavas viva eu-

—Mãe! Está tudo bem! Eu safei-me – Nour sorri.

—Onde estás? Estás nas ruínas com os outros?? – pergunta aflita.

—Não mãe… - Nour hesita_ estou na fortaleza. Estou presa num quarto á espera sabe-se lá do quê…

—O teu irmão? Sabes do teu irmão?? Ele está vivo? Está bem?

Nour engole em seco.

—Estás a falar do Voughan?

Liv faz uma cara estranha.

—Claro que estou a falar do Voughan querida, quem mais poderia ser? – rebate Liv com um sorriso confuso.

—Pois… claro – ela sorri falsamente_ eu não tenho outro irmão, não é? – ironiza.

—Ele está contigo? Disseste-lhe que nós ainda temos que brincar juntos? – pergunta Kaira triste. O coração de Nour fica despedaçado.

—Não querida… eu não sei dele. Esperava que vocês me pudessem responder a esse aperto…

Liv e Kaira negam com a cabeça.

—O teu irmão revoltou-se contra eles, logo no primeiro dia deste inferno -conta Liv_ levaram-no para a fortaleza e nunca mais o vimos…

Ívar cutuca-a nas costas. Esta olha para ele por cima do ombro com cara de poucos amigos.

—Os 5 minutos acabaram… - sussurra_ eu tenho que te levar de volta…

—Sim, pois tens soldado.

Todos se viram. É Raphael.


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Notas finais do capítulo

Vai dar merda? Sim ou claro?

♥ ♥ ♥ ♥



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