Pokémon - Unbroken Bonds escrita por Benihime


Capítulo 7
Jornada e derrota




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Calista grunhiu alto de pura frustração ao ouvir as batidas na porta de seu quarto, afundando-se ainda mais entre as cobertas.

— Cai fora! — Ela exclamou. — Suma daqui, Ash! Seu pirralho idiota!

— Sou eu, Caly. — Dehlia disse gentilmente. — Posso entrar, filha?

— Claro. — A morena respondeu. — Me desculpe. Pode entrar, mãe.

Sua mãe abriu a porta devagar, equilibrando nas mãos uma bandeja.

— Você devia parar de implicar com o seu irmão. — A matriarca dos Ketchum disse. — Ele só quer ajudar, sabia?

— Pode ser, mas continua sendo um tremendo chato.

— Pode ser. — Dehlia sorriu, sentando-se na beira da cama de sua filha mais velha. — Mas fico feliz que ele a tenha convencido a voltar para casa. Senti sua falta, sabia?

— Eu sei, mamãe. — A Rainha de Kalos sorriu afetuosamente. — Também senti saudades.

Calista tentou, mas não conseguiu não sorrir de volta para sua mãe enquanto sentava na cama e Dehlia colocava a bandeja em seu colo. Ovos mexidos com bacon, café e biscoitos de chocolate. Seus favoritos.

— Obrigada, mamãe.

— Tente comer tudo dessa vez. — A mulher mais velha disse simplesmente. — Você está magra demais, meu amor.

— Foi por isso que vim para casa. — A morena rebateu jocosamente. — Para que a senhora possa me engordar até eu explodir.

A mulher mais velha se pôs de pé e deu um beijo nos cabelos negros de sua filha antes de deixá-la a sós. Calista então se recostou contra os travesseiros e pegou a xícara de café, bebericando distraidamente enquanto apreciava o gosto amargo e forte de sua bebida favorita. Um rosnado baixo chamou sua atenção e a jovem olhou em volta para encontrar os olhos azuis de Inari, que até então estivera adormecida, enrodilhada aos pés da cama como um grande e felpudo cobertor branco.

— Eu sei, eu sei. — Calista disse com um profundo suspiro. — Mas não estou com tanta fome assim.

A Ninetales de Alola rosnou mais uma vez e o garfo ao lado dos ovos se moveu por conta própria, pegando uma generosa porção e permanecendo suspenso no ar graças aos poderes psíquicos da magnífica raposa branca.

— Ok, você venceu. — A treinadora kantoniana cedeu, estendendo a mão livre para pegar o garfo. — Prometo que vou comer tudo, está bem? Agora venha aqui, esses são para você.

Inari negou veementemente com a cabeça ao ver Calista lhe oferecer metade da generosa porção de biscoitos de chocolate.

— Ora, vamos, você sabe que adora esses biscoitos. Não vai conseguir resistir. — A morena provocou, sorrindo ao ver a expressão de sua pokemon, que estava claramente tentada pelos doces. — Além do mais, a mamãe não vai se importar. Ela vai ficar bem feliz se você gostar.

O sorriso da jovem se transformou em uma risada ao ver Inari ceder, fazendo um biscoito de chocolate flutuar até sua boca e dando-lhe uma delicada mordida.

— Seus poderes psíquicos estão cada vez mais fortes. — A jovem kantoniana comentou. — O que me diz de testá-los em uma batalha de verdade?

A Ninetales de Alola abriu um largo sorriso, assentindo com um entusiasmo que surpreendeu sua treinadora. Desde que evoluíra, se tornara muito mais confiante.

— Tudo bem, está combinado. — Calista assentiu, sua expressão tornando-se pensativa. — Primeiro Brock. Hum ... Talvez Lucy esteja com ele, então podemos acabar enfrentando ela também ... Depois Erika, quem sabe, eu adoraria vê-la de novo. Sabrina onee-sama, também. E por último, quando estivermos bem treinadas, Agatha! Ah, como eu quero uma revanche contra aquela velha maligna! Ela me deu uma surra da última vez!

— Ouvi você falar em revanche, mana?

A voz de seu irmão fez Calista pular de susto, erguendo os olhos para ver o jovem moreno e seu Pikachu parados juntos à porta. O rapaz estava recostado contra a moldura, com um sorriso malicioso nos lábios.

— Como você é intrometido, Ash! — A jovem kantoniana reclamou. — Mas, sim, eu falei em revanche. E daí? O que você tem a ver com isso?

— E daí que eu quero ir com você. — O moreno respondeu. — Podemos passar em Cerulean também, para você e Misty terminarem aquela batalha. Além do mais, nós dois até hoje não fizemos uma batalha completa e eu já não vejo a hora!

— Está bem. — Calista cedeu com um sorriso, para a surpresa de seu irmão. — Nós dois saindo juntos em uma jornada. É assim que deveria ter sido. Aposto que teria poupado você de vários problemas.

— E acrescentado um montão deles também. — Ash rebateu, rindo.

— Ah, cale essa boca, seu bobão!

Pikachu pulou do ombro de seu treinador, aproximando-se lentamente de Inari. Ash, cuja atenção até então estivera focada somente em sua irmã, também notou a pokemon tipo Gelo, que lhe dirigiu um sorriso enquanto abanava suas nove caudas.

— Uau! — Ele exclamou. — Que pokemon é esse, mana?

— Inari. Ela evoluiu, Ash, só isso.

— Maneiro! Eu tenho que checar isso.

O rapaz ergueu sua pokedex e apontou o dispositivo para Inari, recebendo simplesmente uma mensagem que dizia Pokemon não identificado.

— Seu bobão. — Calista suspirou. — Venha cá, me dê a sua pokedex.

Enquanto Pikachu e Inari brincavam, Calista mexeu rapidamente na Pokedex de seu irmão e entregou-a de volta com um floreio.

— Tente agora. — Ela disse simplesmente.

O rapaz obedeceu, mais uma vez apontando o dispositivo para a Ninetales de Alola.

— Ninetales, forma de Alola. — A Pokedex declarou com sua voz robótica. — O Pokemon Raposa. Cria cristais de gelo em seu pelo e os dispara contra os inimigos. Congela qualquer um que o enfureça.

— Valeu, Caly. — Ash sorriu. — O que você fez, exatamente?

— Uma atualização remota do software da sua Pokedex.

— Legal! Era nisso que você e Gary ... Desculpe, mana. — Ash se interrompeu ao notar a expressão tensa de sua irmã. — Eu não devia ter falado nele.

— Tudo bem, Ash. — Calista respondeu, forçando um sorriso. — As coisas estão estranhas agora, mas estamos tentando superar. Foi por isso que viemos para casa, afinal.

— Só espero que você não acabe se arrependendo.

— Relaxe, garoto. — A morena disse, estendendo o prato com biscoitos de chocolate para seu irmão. — Eu vou ficar bem. Não se preocupe.

 — Eu sei que vai. — Ash assentiu enquanto mordia um dos biscoitos. — E aí, quando quer partir?

— Logo depois do café da manhã. — Foi a reposta. — Conheço um restaurante em Cerulean que serve o melhor rámen de todos, podemos almoçar lá. Quem sabe até convidamos a Misty, se ela estiver em casa.

— Boa ideia, mana! — Ash concordou com entusiasmo, se pondo de pé num pulo. — Vou me aprontar. Anda, amigão, vamos nessa!

Calista sorriu consigo mesma ao ver Pikachu e Ash correrem para fora do quarto, pensando que era daquela forma que a jornada de ambos deveria ter começado. Juntos, como haviam prometido.

— Bom, Inari, eu tenho certeza de que o Ash vai escolher viajar só com o Pikachu, especialmente porque será uma viagem rápida. — A morena comentou após terminar de comer, enquanto se vestia. — O que quer dizer que somos eu e você, garota. Pronta para a jornada?

A Ninetales assentiu entusiasticamente. Bem quando Calista se inclinou para pegar a bandeja sobre seu criado mudo, esta flutuou suavemente na direção da porta.

— Hey. — A jovem protestou, rindo. — Eu posso me virar sozinha, sabia? Não sou de porcelana como Diantha, não vou quebrar se fizer algum esforço.

A Ninetales de Alola meramente revirou os olhos em resposta a isso, indo até a porta e se postando no umbral, suas caudas balançando como chicotes.

— Tudo bem, já entendi. — Calista riu mais uma vez. — Você quer ir logo. Certo, apressadinha, já estou indo.

Treinadora e pokemon desceram juntas para encontrar Ash e Pikachu já na cozinha, conversando com Dehlia.

— Vai ser uma viagem rápida, mãe. — O rapaz dizia. — Três dias no máximo, e então voltamos para casa. Prometo.

— Tudo bem. — Dehlia cedeu. — Mas nada de travessuras dessa vez, ouviu? Não quero saber de você lutando contra nenhum pokemon super poderoso, rapazinho.

— Mãe! Eu já disse, aquilo não foi minha culpa. — Ash protestou. — Foi a Molly quem nos envolveu no incidente com o Entei.

— E você não gostou nem um pouquinho. — Calista provocou ao se juntar aos dois. — Admita, irmãozinho, você teria se envolvido de qualquer forma.

— Caly! — O rapaz moreno repreendeu entredentes. — Você não está ajudando!

— Sua irmã não disse nada que eu já não saiba. — Dehlia declarou. — Me prometa que vai cuidar do seu irmão, Caly.

— É claro, mãe. — Calista respondeu, cheia de si. — Não vou deixar o pirralho se meter em nenhuma encrenca.

— Qual é! — O moreno protestou. — Eu não sou mais criança, sabiam? Podem parar com isso!

— Nós sabemos disso, querido. — A matriarca Ketchum riu, estendendo uma das mãos para dar uma palmadinha carinhosa na bochecha de seu filho mais novo. — E é por isso que quero que você me prometa que vai cuidar da sua irmã, também.

— Pode deixar, mãe. — Foi a resposta. — Minha irmã é uma idiota, mas ninguém mexe com ela na minha frente.

Calista, ocupada em lavar a louça, olhou para seu irmão por sobre o ombro e mostrou-lhe a língua, o que fez Ash rir alto.

— Vocês dois, nem comecem. — Dehlia repreendeu. — Nem parecem que já são adultos! É como ter duas crianças em casa.

Os dois irmãos gargalharam a mais não poder com esse comentário, e não muito depois estavam deixando Pallet juntos.

— Aposto que passo pela floresta de Viridian antes de você. — Calista disse.

— Nah. Os Beedril vão comer você viva.

— Não se eu der você de isca para eles.

— Vai sonhando, mana!

Foi com essa conversa e duas sonoras gargalhadas que os dois irmãos Ketchum começaram sua jornada tardia na região de Kanto. Passaram sem problemas pela infame cidade de Viridian e sua densa floresta, atingindo a cidade de Pewter pouco depois do meio dia.

— Vamos dar uma parada, que tal? — Calista sugeriu. — O centro pokemon daqui serve um espaguete maravilhoso.

— Boa ideia. — Ash concordou. — Eu estou com tanta fome que comeria um Tauros.

— Você sempre está com fome, Ash. — A jovem provocou. — É uma surpresa que não seja gordo como um Snorlax.

— Ah, cale essa boca! — O rapaz rebateu. — Ainda estou crescendo, preciso de bastante energia.

— Esse papo furado funcionava quando você tinha dez anos, pirralho. — A morena riu. — Isso já faz muito, muito tempo.

O garoto rebateu esse comentário com uma cotovelada nas costas de sua irmã, que revidou dando-lhe um tapa na nuca. Ambos sentiam-se um pouco como crianças, não podiam evitar.

— Eu preciso admitir, Ash. — Calista disse depois de algum tempo, quando já estavam almoçando no centro pokemon. — Voltar para casa foi uma boa ideia.

— Às vezes é preciso dar um tempo. — O rapaz respondeu simplesmente. — Você acabaria explodindo se continuasse mantendo o ritmo que estava exigindo de si mesma em Kalos.

— Talvez você tenha razão. — A morena admitiu. — De qualquer jeito, essa semana de folga é exatamente do que eu precisava. Eu nem tinha percebido o quanto.

— Disponha, mana.

— Isso não foi um agradecimento, seu pirralho.

— 'Tá. — Ash abriu um sorriso maroto. — Vou fingir que acredito em você.

Os dois terminaram de comer e decidiram ir até o ginásio. Calista não pôde evitar sentir borboletas no estômago ante a perspectiva de uma batalha oficial. Não tentava batalhar em um ginásio há muitos, muitos anos.

— Droga, está fechado! — Ash resmungou ao chegarem à frente do edifício. — Será que o Brock não está em casa?

— Calista? Ash? — Uma voz feminina chamou.

Os dois irmãos se viraram para ver uma mulher alta e esguia, com longos cabelos negros adornados por mechas vermelhas que vinha caminhando pela alameda na lateral do edifício, acompanhada por um Seviper.

— Lucy! — Calista exclamou ao reconhecer a Rainha do Pico. — Minha nossa, há quanto tempo!

— Tempo demais. — Lucy respondeu. — Você nos deixou esperando, Calista.

— Sinto muito pelo atraso. — Foi a resposta. — Pronta para mais uma derrota?

— Não conte com isso, mocinha. — A Rainha do Pico declarou. — Não perderemos tão facilmente dessa vez.

— É o que veremos.

— Venham comigo. — Lucy disse. — Vamos para o campo de batalha. Brock também está lá, treinando.

— Quem sabe possamos fazer uma batalha em duplas.

— Parece interessante. — A mulher da região de Hoenn concordou, abrindo um raro sorriso. — Se meu marido concordar, estou nessa.

— Ah, ele vai concordar. — Calista declarou com um sorriso selvagem. — Brock não vai deixar essa chance passar.

— Brock. — Lucy chamou ao entrarem no campo de batalha pedregoso do ginásio de Pewter. — Querido, visitas para você.

O líder de ginásio, ocupado treinando seu Steelix, virou-se ao ouvir a voz de sua esposa e abriu um largo sorriso ao ver os dois visitantes.

— Ash! Oi, cara. — Ele exclamou. — Caly, você veio também!

— Oi, Brock! — Ash se adiantou para apertar a mão de seu velho amigo. — É bom te ver, cara.

— Sempre. — Brock concordou. — E então, o que vocês dois fazem por aqui?

— Cumprindo uma promessa. — Foi Calista quem respondeu. — Se bem me lembro, devo uma revanche à sua esposa.

— Há, boa sorte com isso!

— Boa sorte para você, querido. — Lucy disse. — Nossos amigos sugeriram uma batalha em duplas. O que me diz?

O líder de ginásio trocou um rápido olhar com Ash, e então sorriu novamente.

— Estou dentro!

Lucy sorriu e assumiu posição ao lado de seu marido, enquanto Ash e Calista se dirigiam ao lado oposto do campo. Brock continuou com seu Steelix, enquanto a Rainha do Pico escolhia seu temido Seviper.

Pikachu saltou do ombro de Ash diretamente para o campo de batalha, suas bochechas faiscando de eletricidade. Steelix soltou um rugido gutural, cumprimentando seu pequeno adversário, que retribuiu o gesto com um aceno.

— Vamos começar logo com isso. — Calista disse, trocando um sorriso com seu irmão mais novo enquanto lançava uma pokebola no ar. — Inari, é com você!

Uma rajada glacial de vento acompanhou a aparição da Ninetales de Alola, logo se transformando em um granizo constante que caía sobre o campo de batalha.

— Droga, Caly. — Ash resmungou baixinho. — Alerta de Neve? Sério?

— O que foi, maninho? Frio demais para você?

O rapaz bufou ironicamente em resposta, ordenando que Pikachu fosse atrás de Seviper com Cauda de Ferro. O Pokemon Serpente de Presas, porém, deslizou para trás de Steelix, que lançou Pikachu pelos ares com seu próprio Cauda de Ferro. Inari usou seus poderes psíquicos para aliviar o impacto da queda de seu aliado.

— Parece que vamos ter que acabar com o Steelix primeiro. — Calista comentou. — Senão Lucy vai continuar com o jogo de esconde-esconde. Isso pode ser um problema.

— Tudo bem, então. — Ash assentiu. — Vamos nessa. Pikachu, Esfera Elétrica!

— Steelix, Sopro do Dragão.

— Bloqueie, Inari!

— Não tão rápido! — Lucy exclamou. — Seviper, Presa Venenosa!

Aproveitando-se da cobertura do corpo colossal de Steelix, Seviper se manteve fora de alcance até o último segundo, quando deu o bote com suas presas já pingando veneno.

Inari agiu rapidamente, envolvendo a serpente no campo psíquico de seu ataque Extrasensorial e erguendo-a no ar. Pikachu deu um tremendo salto, girando para acertar Seviper por cima com Cauda de Ferro. O golpe duplo lançou a serpente diretamente contra Steelix, com tanta força que o obrigou a recuar.

— Vai, Inari, acabe logo com isso! — Calista ordenou. — Respiração Congelante!

— Nem pensar! Steelix, cave.

— Vá atrás, Seviper.

Para um pokemon tão grande e pesado, Steelix era capaz de cavar com uma rapidez surpreendente. Em questão de segundos ele e Seviper estavam completamente ocultos sob o solo.

— Esse jogo é pra dois! — Ash exclamou. — Pikachu, Choque do Trovão no campo inteiro! Traga os dois para fora.

Inari saltou a tempo de evitar a poderosa rajada elétrica lançada por Pikachu. O golpe, embora nada efetivo em Steelix, serviu a seu propósito, forçando Seviper a sair do esconderijo. Como Ash havia suposto, Steelix seguiu sua parceira, saindo do túnel recém-escavado com um rodopio que deu início a uma poderosa Tempestade de Areia.

Aproveitando-se do momento em que seus dois oponentes perderam a visibilidade devido à areia, Seviper investiu e agarrou Inari pelo pescoço em um poderoso ataque Presa Venenosa.

— Vai, Steelix, Obelisco!

— Peque carona, Seviper.

A serpente pokemon obedeceu sua treinadora, saltando sobre os afiados obeliscos de pedra invocados pela batida da cauda de Steelix contra o chão. Os fragmentos afiados de rocha explodiram pelos ares, lançando Seviper acima do campo de batalha. Serpenteando graciosamente e formando um círculo com seu longo corpo, o pokemon venenoso acertou Pikachu com um poderoso golpe Cauda Envenenada.

— Qual é, Ash! — Brock provocou. — Você costumava batalhar melhor do que isso, cara!

— Você ainda não viu nada, Brock.

— Dê o devido crédito, Ash. — Calista repreendeu, embora estivesse sorrindo. — As combinações desses dois são ótimas.

— Ah, qual é, Caly! Dá um tempo!

A morena simplesmente riu, para surpresa de todos.

— Você está calma demais. — Lucy declarou. — Para alguém prestes a perder.

— É o que veremos, Majestade.

Ash também encarou sua irmã, atônito com aquela súbita tranquilidade. Ao perceber que ele a olhava, o sorriso da morena se alargou num gesto de pura malícia. Foi só então, quando sua irmã lhe lançou uma piscadela, que o rapaz compreendeu a situação.

— Vai, Pikachu, Ataque Rápido!

Brock e Lucy reagiram imediatamente, ordenando a seus pokemon que usassem Pancada e Cauda Venenosa. Seviper subiu em Steelix, de forma a aproveitar o impulso do ataque do pokemon maior. O Pokemon Rato Elétrico, porém, desviou no último segundo e saltou o mais alto que podia.

— Isso! Vai, Inari, Extrassensorial!

O Pokemon Rato Elétrico foi erguido ainda mais alto pelos poderes psíquicos de Inari, girando várias vezes sobre si mesmo para tomar mais impulso até disparar uma Esfera Elétrica que atingiu seus oponentes em cheio. A Ninetales completou o combo com um poderoso Respiração Congelante que transformou Steelix em uma sólida pedra de gelo. Aproveitando sua queda, Pikachu encerrou de vez a batalha com Cauda de Ferro.

— Boa! — Ash comemorou ao ver seus dois adversários derrotados. — Valeu, mana!

Calista passou um braço pelos ombros de seu irmão, num abraço de lado que momentos depois se tornou um mata leão. O rapaz deu socos sem força no braço da morena, que o soltou com uma sonora gargalhada.

— Você também não foi nada mal, irmãozinho.

— E você venceu de novo, Calista. — Lucy declarou. — Mas ainda não acabou.

— Com certeza. — A morena sorriu para a Rainha do Pico, aceitando o gesto quando esta estendeu uma das mãos para um cumprimento. — Nos veremos de novo.

— Conto com isso.

E, com essas palavras, a esposa de Brock girou nos calcanhares e deixou a arena.

— Ela não suporta perder. — O líder de ginásio comentou. — Típico.

— É, isso é a cara da Lucy. — Calista concordou com uma risada. — Ela não mudou nem um pouco.

— Pois é. — Ash comentou. — Eu ainda não acredito que ela aceitou casar com você, Brock.

— Ah, nem vem, Ash! — Brock exclamou, cedendo a uma risada. — E aí, para onde vocês vão agora?

— Cerulean. — Calista respondeu maliciosamente. — Vamos passar pelo ginásio e dar um oi para a Misty. Aposto que Staryu e Starmie estão com saudades.

O líder do ginásio de Pewter sorriu, estendendo uma das mãos no ar entre ele e a jovem morena. A irmã de Ash balançou a cabeça em uma repreensão jocosa, mas bateu as costas de sua mão na dele, cumprimentando-o.

Passaram por Cerulean, e finalmente a revanche entre Calista e Misty teve chance de acontecer. A jovem kantoniana venceu a líder de ginásio em uma batalha acirrada, na qual a velocidade de Inari foi o fator decisivo.

Erika, a líder do ginásio de Celadon, foi uma vitória fácil com seus Pokemon tipo Planta. Sabrina, a líder tipo Psíquico da cidade de Saffron, foi o verdadeiro desafio. Numa batalha particularmente acirrada, Calista enfim conseguiu um empate graças a habilidade Aviso de Neve de Inari.

— 'Tá, pode admitir: você não esperava que eu encerasse a batalha daquele jeito. — A morena provocou, rindo.

Haviam encerrado a batalha de ginásio há pouco tempo, e os dois irmãos almoçavam juntos em um pequeno restaurante.

— Deixe de ser convencida, mana. — Ash resmungou em resposta.

— Seu bobalhão. — A morena continuou a provocar, obviamente de bom humor. — Vamos, admita: Inari e eu fomos demais. Pegamos Sabrina de jeito!

— 'Tá, eu admito: aquilo foi maneiro. — O treinador kantoniano cedeu enfim. — Você até que sabe fazer outra coisa além de dançar, mana.

O sorriso de Calista se alargou enquanto ela pegava uma generosa colherada do sorvete que escolhera como sobremesa.

— Agatha é a próxima na minha lista. — A morena declarou, sua expressão tornando-se séria. — Vai torcer por mim?

— É óbvio. — Foi a resposta. — Mas mesmo assim acho que você não tem chance.

— Cale a boca, seu pirralho!

Naquela tarde, os dois irmãos finalmente atingiram o topo dos degraus de mármore branco que levavam ao prédio centenário da Liga Índigo. Pegando-a de surpresa, algo arrebatou Calista por trás em um abraço de urso. Após um gritinho de susto, a jovem caiu na risada.

— Dragonite! — A morena repreendeu sem se virar. — Me solte, seu dragão bobão!

Enquanto o Pokemon Dragão gentilmente a punha de volta no chão, a jovem ouviu a gargalhada estrondosa de Lance soar. Virando-se, viu seu antigo professor descendo as escadas ao seu encontro.

— Finalmente veio me desafiar e reclamar o título, chiisai? — O ruivo provocou. — Oi, Ash. Como vai, rapaz?

— Até parece que eu teria qualquer chance. — A irmã de Ash rebateu, enquanto seu irmão e o campeão Índigo trocavam um aperto de mãos amistoso. — Eu devia ter adivinhado que vocês estariam me esperando aqui.

— É claro que sim. Não perderíamos essa chance por nada. — Lance declarou. — Agatha não vai admitir, mas tem treinado sem parar desde que soube que você viria.

— Não vai adiantar. — A morena declarou. — Eu ainda vou vencer.

— Veremos. — Lance disse com um sorriso malicioso. — Anda, Ash, vamos nos acomodar para assistir.

— Boa sorte, mana. — O garoto disse, seguindo o campeão ruivo para dentro do prédio.

Calista ainda ficou mais alguns segundos olhando para o céu, respirando fundo para recobrar a compostura antes de finalmente entrar no antigo edifício de pedras avermelhadas.

A ante câmara, onde se localizavam o centro pokemon e uma Poke Loja, estava cheia de treinadores como sempre, pessoas de todas as idades que sonhavam com a glória de ser coroado Campeão Índigo. A morena os ignorou, dirigindo-se para o lado mais afastado do salão, na direção da porta de aço que dava acesso aos cinco campos de batalha da Liga Índigo.

— Olá, Markus. — Calista disse, sorrindo ao se aproximar e ver o senhor de meia idade, envergando um uniforme azul, que guardava a porta. — Já faz muito tempo.

— Com certeza. — Markus concordou calorosamente enquanto abria uma das folhas de metal, gentilmente segurando a porta aberta para Calista.

— Obrigada.

— Boa sorte, mocinha.

Calista sorriu em agradecimento para Markus antes de finalmente passar pela porta, penetrando na primeira sala. Seus passos ecoaram no piso de linóleo azul enquanto a morena atravessava o cômodo deserto. Se o calafrio que a percorreu foi devido ao frio glacial dos pilares de gelo de cada lado do campo de batalha ou a algum outro motivo, Calista não soube dizer. 

Foi com um suspiro de alívio que a morena penetrou na segunda sala, uma ampla câmara com piso amarelo, cujo campo de batalha era cercado por pilares de pedra bruta. Como a primeira, esta sala também estava vazia.

Na terceira sala, com piso de linóleo roxo e pilares de mármore da mesma cor, uma senhora esperava de braços cruzados. Era baixinha e de compleição enganosamente delicada, usando um vestido lilás de babados à moda antiga. Seu rosto trazia a marca da idade e uma expressão de poucos amigos.

— Finalmente, menina. — A velha disse acidamente. — Eu estava me perguntando se você teria coragem de voltar aqui.

— Você não me assusta, Agatha. — Calista rebateu. — Eu a desafio. Um contra um, sem limite de tempo.

As feições severas da velha senhora se suavizaram num raro sorriso enquanto ela assentia, uma expressão que quase demonstrava aprovação.

— Para alguém criada por aquele velhote idiota ... — Agatha declarou. — Você tem bastante coragem. Muito bem, desafio aceito. Vamos lá, Gengar!

A velha senhora bateu com a ponta de sua bengala no chão, fazendo com que uma densa sombra dançasse pelo piso. Sua famigerada Gengar se materializou momentos depois, rindo zombeteiramente ao ver Calista.

— Tudo bem, então. — A morena exclamou, lançando uma pokebola graciosamente no ar. — É com você, Inari!

Um sopro glacial de vento precedeu a aparição da belíssima Ninetales de Alola, transformando-se em uma tempestade de granizo. Gengar imediatamente desapareceu, fazendo Inari dar um gritinho agudo de medo.

— Fique calma. — Calista aconselhou. — Elas querem nos assustar, só isso. Ouça e tente ver onde Gengar vai surgir.

— Isso não vai adiantar. — Agatha declarou. — Gengar, Bola das Sombras!

O Pokemon Sombra se materializou novamente a centímetros de Inari, com uma esfera de escuridão firmemente segura na mão direita. Ao invés de atirar a Bola das Sombras para um ataque de longa distância, Gengar fechou a mão ao redor da esfera e desferiu um poderoso soco, envolvendo a Ninetales de Alola em filamentos sombrios enquanto a atirava do outro lado do campo de batalha.

Inari fez uma pirueta e caiu sobre as quatro patas, o que diminuiu o impacto do golpe, revidando imediatamente com Extrassensorial. Gengar, porém, mais uma vez desapareceu em pleno ar, o que fez Calista literalmente rosnar de ódio.

— Inari, Clarão Deslumbrante no campo! — A morena ordenou. — Force esse Gengar a aparecer!

A luz do ataque tipo Fada se refletiu no granizo criado pela habilidade de Inari, iluminando o campo de forma quase cegante. Gemendo de dor e cobrindo os olhos, Gengar finalmente reapareceu, e a Ninetales de Alola aproveitou a oportunidade para prender o oponente no chão com seus poderes psíquicos.

— É isso aí! — A irmã de Ash comemorou, abrindo um largo sorriso. — Pegamos elas agora!

— Não tão rápido, menina. — Agatha disse acidamente. — Gengar, Hipnose.

Num segundo a jovem viu sua pokemon cair em sono profundo, tornando-se apenas um tapete branco e felpudo no meio do campo de batalha.

— Droga! Inari, não! Que droga, droga, droga!

Gengar aproveitou a oportunidade para disparar uma série de Bola das Sombras. Isso, porém, não foi o bastante para derrotar Inari, que acordou e se pôs de pé com pernas trêmulas. A Ninetales ainda tentou conseguir a vitória, disparando uma poderosa Respiração Congelante, que o Pokemon Sombra evitou com o simples expediente de desaparecer mais uma vez.

Antes que a jovem e sua parceira sequer pudessem piscar, o pokemon tipo Fantasma reapareceu na frente de Inari e disparou uma poderosa Onda de Lama que encerrou a batalha.

— Você melhorou, tenho que admitir. — Agatha declarou friamente, colocando sua Gengar de volta na pokebola. — Mas ainda tem um longo caminho a percorrer, menina.

— Eu ... Eu entendo. — Calista se detestou por gaguejar daquela forma. A morena fez uma breve reverência, tanto como cortesia como quanto forma de esconder a expressão em seu rosto. — Obrigada pela batalha.

E, após dizer isso, Calista pôs Inari de volta na pokebola e saiu dali a passos largos, sem se atrever a olhar para trás.

— Ei, mana! — Ash chamou assim que a jovem kantoniana chegou ao centro pokemon localizado na ante câmara. — Bela batalha!

— Que nada. — Foi a resposta. — Nem pudemos atacar. Agatha e Gengar nos dominaram desde o começo.

— Impressão sua. — Lance, que viera ao encontro de sua antiga aluna junto com Ash, declarou. — Combinar o granizo e a luz do Clarão Deslumbrante daquele jeito foi uma jogada inteligente. Aposto que a velha Agatha levou um susto.

— Exatamente. — Uma voz feminina concordou, com apenas uma sugestão de riso em seu tom. — Aposto que foi por isso que ela encerrou a batalha tão rápido. Nossa Agatha não suportaria perder.

Aquela declaração fez Calista olhar por cima do ombro de Lance, finalmente reparando na mulher que o acompanhara. 

— Malva?! — A morena exclamou. — Mas que diabos! Está me seguindo agora?

— Quem sabe? — Malva rebateu com um sorriso malicioso. — Lance tem razão, fadinha. Você com certeza deu um susto em Agatha. Ela não vai parar de treinar tão cedo depois dessa batalha.

— Obrigada. — Calista disse calorosamente. — E a você também, Master Lance. Agora, se me derem licença ...

— Ei, mana, espere aí! — Ash chamou, estendendo uma das mãos para deter sua irmã segurando-a pelo pulso. — Pensei que iríamos almoçar em Viridian.

— Pode ir na frente. — Foi a resposta. — Eu ainda preciso fazer algumas coisas. Te encontro lá.

Relutantemente, o treinador kantoniano concordou, soltou-a e viu sua irmã deixar o prédio acompanhada por Inari.

— Será que ela vai ficar bem mesmo? — Ash perguntou, trocando olhares de preocupação com Lance.

— Deixem isso comigo. — Malva declarou, passando pelos dois treinadores sem sequer lhes dar chance de protestar. — Eu vou falar com ela.

Calista não havia ido longe, somente até as margens de um lago logo antes da entrada da famosa caverna conhecida como Estrada da Vitória. A morena estava empoleirada em uma das pedras da margem, encarando horizonte com uma expressão pensativa, com Inari enrodilhada em seu colo. Estava tão absorta em seus próprios pensamentos que pulou de susto ao sentir uma língua quente e áspera lamber sua bochecha.

— Oi, Lyse. — A Rainha de Kalos disse, estendendo uma das mãos para acariciar a leoa pokemon. — Como vai, garota?

— Pelo jeito, melhor do que você. — Malva declarou. — Vamos, eu sei que você é mais forte do que isso.

Calista encarou a mulher kalosiana, soltando um resmungo quase inaudível de contrariedade.

— O que diabos você está fazendo aqui afinal, Malva?

— Assuntos pessoais. — A repórter rebateu enquanto se acomodava ao lado de Calista na rocha, seu ombro casualmente tocando o da jovem. Lyse se aproveitou da proximidade e pulou para o colo das duas treinadoras, sua cabeça descansando no pescoço esguio de Inari. — Mas isso não importa. Eu vi sua batalha contra Agatha. Aquela derrota realmente chateou você tanto assim?

Calista quase sorriu. Por baixo da atitude dominadora, dos flertes constantes e da fachada de indiferença, ela sabia que a preocupação de Malva era sincera.

— Não quero falar sobre isso. — A morena disse simplesmente.

— Por mim tudo bem. — Malva respondeu. — Mas confesso que estou desapontada. Pensei mesmo que você fosse mais forte.

— Nem comece, Malva! — Calista rosnou em resposta. — Você não sabe de nada, não tem o direito de opinar!

— Só pela sua reação, posso dizer que você entendeu tudo errado. — A repórter declarou com gentileza surpreendente. — Não estou classificando sua derrota como fraqueza, e sim sua reação a ela.

O comentário esfriou a raiva de Calista imediatamente, pegando-a desprevenida o bastante para que a jovem não soubesse ao certo como responder. Ela e a repórter kalosiana ficaram sentadas juntas em silêncio por vários minutos, uma apoiada contra a outra.

— Você é impossível. — Calista declarou enfim afetuosamente. — Por mais distorcido que seja seu jeito de se expressar, acabou me dizendo exatamente o que eu precisava ouvir.

— De nada.

— Isso não foi um agradecimento. — A morena rebateu, batendo amigavelmente seu ombro contra o da repórter. — Sua bruxa.

— É claro. — Os lábios de Malva se curvaram no menor dos sorrisos. — E, se quer saber, Lance tem razão. Foi inteligente usar o Clarão Deslumbrante daquela maneira. Você é uma ótima oponente em qualquer dia, Caly.

— Mas ainda assim não fui boa o bastante para vencer.

— Nisso você tem razão. — A repórter concordou. — Não basta conhecer seus pontos fortes, você precisa saber ver e explorar os pontos fracos de seus oponentes.

— Obrigada pelo conselho.

— Não que você realmente precisasse, huh?

— Não sei o que me surpreende mais. — A morena disse jocosamente. — Ver você aqui em Kanto ou essa sua atitude. Você não costuma ser tão gentil.

— Vou tomar isso como um elogio. Quanto a eu estar aqui ... Digamos que é um compromisso anual. — A repórter lançou um meio sorriso para Calista. — Parece que este ano tive sorte e escolhi a época certa.

— Nem comece. Não preciso dos seus joguinhos justo agora. 

— Quem disse que é um jogo?

— Não é? — A morena desafiou. — Então devo assumir que você realmente está tentando me seduzir?

— Está funcionando?

— Jamais revelarei. — Foi a resposta, dada com uma risada. — Mas, se essas são suas reais intenções, você é uma mulher muito má.

— Ninguém nunca lhe disse, fadinha? — Malva ronronou em resposta, inclinando-se de modo a percorrer o traçado dos lábios da mulher ao seu lado com a ponta de uma de suas unhas pintadas de escarlate. — O verdadeiro mau é, acima de tudo, sedutor.


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