O Caminho Até Você escrita por SBFernanda


Capítulo 3
Parte III: Caminhos Entrelaçados




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Parte III: Caminhos entrelaçados

O celular de Hinata apitou mais uma vez. Já era a terceira vez desde que ela tinha deixado em cima da bancada da cozinha e ido tomar banho. Tenten revirou os olhos. Nem precisava olhar para saber o nome que estaria aparecendo na tela.

— Hina, você ainda vai demorar? Seu namorado virtual está impaciente aqui. — Como para provar aquilo, o celular apitou mais uma vez.

— Tenten, ele não é meu namorado, eu já disse um milhão de vezes! — Hinata saiu enrolada na toalha, caminhando direto em direção ao celular e desbloqueando a tela. Ela não via o olhar que recebia da amiga.

— Será que você, sua nudez e seu namorado virtual podem sair da cozinha enquanto faço o nosso jantar?

A Hyuuga não disse nada, estava ocupada digitando uma resposta no celular e caminhou na direção do quarto. Era por aquilo que Tenten tinha cada vez mais certeza que aquela amizade virtual já tinha se tornado um namoro.

Depois do dia do casamento de Sakura e Sasuke, Hinata começou a procurar emprego longe de casa. Ela tinha se afastado lentamente dos amigos. Depois de ter certeza que a amiga estava feliz, que Sasuke estava se empenhando em ser um bom marido, apesar do seu jeito fechado e que eles nunca mais precisariam passar por aquilo, ela se viu livre para seguir com sua vida e não precisar intervir. Ainda era algo que lhe assombrava vez ou outra, mas tinha se convencido que era o melhor. E estavam todos felizes.

Depois de alguns meses, conseguiu se mudar para Londres, onde tinha conseguido um trabalho na sua área, designer de interiores. Tenten, sua atual colega de apartamento, era uma das colegas de trabalho, apesar de trabalharem em áreas diferentes, a mesma empresa as tinha contratado. Tinham se tornado amigas bem rápido, apesar das diferenças, e agora moravam juntas.

Mas é claro que ainda havia algo que não estava tão bem. Naruto.

Desde o reencontro no trem, eles vinham se falando todos os dias. Era ele quem Tenten chamava de “namorado virtual”, era ele quem ela dizia que era apenas seu amigo. E era, realmente, mas não porque não sentisse nada. Ela sabia o que sentia. A proximidade através das conversas constantes fez com que tudo o que sempre sentira, voltasse ainda mais forte. Com o tempo, ela percebeu que isso acontecera porque nunca tinha deixado de sentir aquele carinho especial por Naruto.

O amor, quando profundo e sincero, não some, mas adormece. Ele pode voltar, caso seja cultivado, mas pode morrer. O caso dela, era óbvio, tinha voltado, talvez ainda mais forte. Só que não era mais uma adolescente e, sabendo que poderia perder a amizade de Naruto para sempre agora, vinha sufocando aquilo.

Mas Tenten insistia, dia após dia, que ninguém que fosse “só amigo” iria ficar tanto tempo todos os dias com a “amiga”, não importava o quanto essa amizade fosse forte e intensa. Ela tinha certeza disso, tanto que aconselhava Hinata a arriscar.

Mal terminou de fechar a porta, o telefone tocou. O rosto de Naruto apareceu na tela, mostrando que ele quem fazia a ligação. Ela rejeitou, por ser chamada de vídeo, e, em seguida, fez a de voz.

— Epa, o que houve? — Ele sabia que tinha alguma coisa para ela recusar o vídeo, como eles sempre faziam.

— Acabei de sair do banho. Tenten me expulsou da cozinha por estar falando com você e vim me vestir aqui no quarto. Podemos nos falar enquanto isso. — Tinha deixado o celular em cima da estante e procurava seus pijamas confortáveis.

— Ah, tudo bem. — Naruto fez uma pausa. Ele parecia desconfortável. — Por que Tenten lhe expulsou da cozinha?

Hinata corou e ficou feliz por não estar em chamada de vídeo.

— Sabe como ela é... — Buscava alguma desculpa para não ter que repetir as palavras da amiga. — Hoje é noite das meninas e você é menino. — Riu, achando boba a própria explicação.

— Ah! E o que as meninas vão fazer hoje? Sempre quis saber o que vocês tanto fazem às sextas-feiras.

— Vamos tomar alguma bebida forte que vai me deixar com dor de cabeça e fazer a Tenten rir, assistir filme de comédia romântica, porque eu tenho medo de terror, e depois Tenten vai me fazer dizer o que mudaria no mocinho para ser o “cara ideal”.

— Isso parece bem... — Naruto não sabia o que dizer, mas o final o deixou curioso, tanto que concluiu: — Interessante. Como é esse cara inexistente e ideal?

Hinata engoliu em seco, porque o cara ideal para ela era, justamente, ele. O que nunca dizia era “perfeito”, porque não acreditava mesmo naquilo, mas achava que existia o ideal para ela. Alguém que poderia lhe fazer feliz, apesar dos problemas que viriam.

— Hm... Eu só falo essas coisas quando estou com dor de cabeça e rindo atoa por conta do álcool, então não sei.

— Acho que vou conversar com a Tenten pra ela me contar esses seus momentos. Nunca a vi assim.

— E espero que nunca veja. É um acontecimento vergonhoso. — Já vestida, Hinata pegou o celular e deitou-se na cama. — Espera — avisou e então encerrou a chamada, para iniciar de vídeo. — Oi de novo!

— Agora sim! — O sorriso de Naruto tomou conta da tela de seu celular, fazendo seu coração acelerar e se aquecer. Tola! — Essas são noites do pijama? Ah, então está explicado!

— Não ria! Você não sai com seus amigos aí?

— Sim, vamos para um bar, enchemos a cara e fazemos apostas. Sempre perco, porque parece que Shikamaru sabe adivinhar as “probabilidades” — ele disse, colocando ênfase na última palavra e revirando os olhos. — Mas é divertido mesmo assim.

— Vocês vão hoje? — Ela sempre se perguntava se, em algum momento, ele iria aparecer com uma namorada. Sabia que não tinha, Naruto saía com os amigos nos fins de semana, mas não sempre. Ele falava com ela em todos.

— Não. Tenho um trabalho para entregar amanhã. — Ele reclinou na cadeira, finalmente mostrando que estava cansado e, como tinha mantido o braço estendido, ela percebeu que ele estava sentado na cadeira de frente pro computador. — Como disse que hoje vai ficar com a Tenten fazendo esse programa de meninas, decidi ligar mais cedo. Você vai se divertir e eu irei morrer tentando fazer esse projeto louco.

— Posso ajudar?

— Nem se preocupe com isso. Sua semana foi tão intensa quanto a minha, ou mais, vá se divertir um pouco. Apenas torça por mim amanhã.

— Sempre. Vai dar tudo certo, vai ver!

Antes que Naruto pudesse dizer alguma coisa, Tenten bateu na porta duas vezes. Hinata se ergueu de imediato, sacudindo o telefone no processo.

— Larga o namorado virtual um pouco e vamos nos divertir — a amiga falou e no mesmo instante a Hyuuga ficou corada.

— Quem? — A voz de Naruto surpreendeu a moça que estava à porta. No mesmo instante Tenten arregalou os olhos. Não sabia que Hinata estava em chamada.

— Ah, droga! — Tenten murmurou, saindo do quarto às pressas.

— Nada. Eu vou lá, Tenten está me chamando. Até amanhã e boa sorte, Naruto! — Antes que ele pudesse responder, ela encerrou a ligação, silenciou o telefone e o deixou em cima da cama.

Apressada, ela correu em direção à cozinha, onde a amiga estava. Vários pedidos de desculpas foram dados, mas não havia mais o que ser feito. Partiram então pro que as ajudaria, nem que fosse apenas naquele momento: as bebidas de Tenten. Hinata torcia para que Naruto não tivesse notado nada e no dia seguinte poderia fingir que nada tinha acontecido.

Mas ele tinha notado. Tinha notado o que Tenten dissera, da mesma forma que percebera o rosto assustado, preocupado e corado de Hinata. Ele sabia que ela não tinha namorado. Em momento algum ele fora comentado e Naruto se orgulhava de dizer que tinham se tornado grandes amigos nos últimos meses, mesmo que morando longe.

Namorado Virtual. Ele se encaixava na descrição.

Sem que notasse, enquanto olhava para a tela do celular já apagada, seu reflexo mostrava o sorriso que dava, confuso, mas contente.

 

Nos dias que se seguiram, Naruto ficou cada vez mais preso no trabalho. Hinata falava com ele todos os dias, mas era bem menos e ele parecia ainda perdido em pensamento. Quando ela perguntava o que estava acontecendo, ele dizia que o projeto tinha se estendido e precisava terminar logo, mas nunca dizia quando.

A típica insegurança que bate no coração de quem está apaixonado em segredo começou a surgir no de Hinata. Ela tinha quase certeza que era porque ele tinha entendido o que Tenten dissera e, pior, tinha percebido que ela sentia algo por ele. Naruto estava se afastando, usando isso como uma forma singela de mostrar que eles só podiam ser amigos.

Inevitavelmente, ela ficou triste e, ao perceber isso nas conversas que tinha, Naruto começou a se preocupar. Por mais que quisesse, não conseguia se ver livre do que tinha para fazer. Tudo parecia estar dando errado e ele começava a se desesperar.

Vencida pelo pensamento de que não havia o que fazer para que as coisas voltassem a ser como antes, pois não se sentia confiante o suficiente para confrontar Naruto, pelo menos não ainda, Hinata não fez o que sempre fazia: não avisou Naruto que teria um trabalho até mais tarde naquele dia. Quando ele ligou no horário de sempre, ela não pôde atender. Seu celular estava no silencioso, dentro da bolsa e ela ajudava sua cliente a decidir entre duas tapeçarias.

Shion deveria ter a mesma idade que ela, mas já estava casada e reformava a casa, redecorando, pela segunda vez. Assim como da primeira, era Hinata quem a auxiliava, mas a moça gostava de participar de cada detalhe, o que fazia com que o trabalho fosse mais demorado. Até elas chegarem naquelas duas, que Hinata poderia ter selecionado muito mais rapidamente para a mulher, tinham visto outras dez. A Hyuuga estava cansada e louca de vontade de deitar, mas sorria e ria de cada coisa que a outra falava, usando toda a paciência que tinha para ajudar a cliente.

Por fim, Shion levou as duas, decidindo que poderia revezar entre as duas. Hinata revirou os olhos apenas por pensamento, mas assim que se despediu da mulher e virou para pegar o trem que a levaria para casa, soltou o ar de uma vez, bufando. Sua cabeça doía tanto quanto seus pés!

Pegou o celular, quando já estava dentro do trem, para mandar uma mensagem para Tenten, pedindo para comprar alguma coisa para comerem, mas percebeu que o celular tinha descarregado. Jogou o aparelho dentro da bolsa e fechou os olhos, relaxando por alguns instantes dentro do transporte. Tinha ido parar tão longe de casa por conta daquele trabalho, por conta daquela cliente!

Enquanto estava sentada ali, pensava em quanto tempo não usava esse transporte para voltar para casa. Desde que se mudara para Londres, passara a usar mais o ônibus e até o carro com mais frequência. Sempre gostara do trem, mas esse era mais difícil de se adaptar a alguns pontos da cidade. O lado bom é que as doces lembranças permaneciam intocadas.

Quando sua estação chegou, se levantou, passando a mão pelo cabelo e o soltando. Tinha deixado o casaco na empresa mais cedo, mas estava tão quente, mesmo sendo noite, que ficou feliz de ter colocado uma blusa de mangas ¾ junto com a saia. Só ansiava por retirar tudo aquilo e ficar de pijamas. E descalça! Chegou a sorrir com o pensamento.

As portas se abriram e, quando ergueu os olhos para a estação, encontrou algo que não esperava. Naruto estava ali, um grande sorriso nos lábios, um buquê de flores na mão. Não andou de imediato, mas notando que as portas se fechariam em breve, deu alguns passos para fora do transporte e ficou ali, frente a frente com ele, sem saber o que dizer.

— Meu projeto era para me transferir para a empresa aqui de Londres. Eu queria fazer uma surpresa — ele começou a tagarelar, como era de seu feitio quando estava nervoso. — Nossos caminhos sempre se cruzaram no trem, né? Quando não me atendeu hoje, fui até o seu endereço, o que me deu há algum tempo e Tenten comentou onde estava e que deveria voltar de trem. Na hora eu lembrei da gente sempre se encontrando assim. Eu... Eu ouvi o que ela disse e quando falei com Shikamaru ele disse que todos nos viam assim, porque eu não via o que estava claro. Bem, eu nunca fui muito inteligente, né? Mas agora eu sei, Hinata. Desde aquele beijo roubado, acho que eu sempre soube que te amava. E não só como amigo...

Antes que ele pudesse continuar a tagarelar, e ela sabia que ele o faria, Hinata se aproximou e juntou seus lábios aos dele em um beijo doce e tímido. Mesmo contra os lábios macios da Hyuuga, ele sorriu.

Quando a encontrou na primeira vez, ele vacilou, porque era um adolescente, não sabia que o que sentira era uma paixão, que se tornou amor quando se tornou amigo dela. Da segunda vez, ele não percebeu que teve ciúmes dela, que sentira falta do que sentia por ela. Mas dessa, a terceira vez, ele finalmente compreendeu que ter Hinata na sua vida o faria completo.

O que sentia naquele momento mostrava que todo aquele caminho tinha valido a pena. O caminho dos dois sempre se entrelaçava, porque precisavam descobrir o certo para trilharem. Eles estavam confiantes que era aquele. E se não fosse, fariam passar a ser.


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