Haru andava pela casa apressadamente vendo em sua lista se não havia esquecido nada, estava quase na hora do dia de pais e alunos na escolinha de Ichigo e ainda nem havia guardado os lanches na bolsa. Tokaku estava sentada no sofá dando algumas dicas a Ichigo sobre como ganhar as competições da escola, a garotinha de sete anos ouvia tudo atentamente. O dia de pais e alunos era uma tradição em escolas no Japão, principalmente nas escolas aonde haviam turmas do fundamenta. Neste dia as crianças participavam de competições esportivas enquanto eram assistidas pelos pais, na hora do almoço cada criança podia sentar com os familiares em um piquenique aonde comiam o que trouxeram de casa, depois do almoço havia a entrega dos prêmios e então todos retornavam para suas casas.

— Haru já pegou tudo! – A ruiva avisou fazendo com que as duas levantassem e fosse em sua direção.

Tokaku ajudou a esposa a carregar as bolsas até a mala do carro, Ichigo sentou-se em sua cadeirinha e pôs o cinto muito animada. Era a primeira vez da família em um evento como aquele, mesmo já tendo se passado dois anos desde os atentados a vida de Ichigo e Haru a criança só havia entrado na escola este ano, pois segundo Tokaku ainda não era seguro para ela ficar longe das mães visto que as irmãs Nanake haviam escapado de Bamba e poderiam querer vingança. Naquela noite além das irmãs assassinas terem fugido, a diretora e Nio haviam sido presas assim como Takeshita que havia tentado se matar ao receber a noticia de que o marido havia morrido no confronto contra Sumireko e Namatame, a causa da morte: um corte profundo no pescoço feito com uma espada.

Ao chegarem na escola a família atraiu olhares, pais e professores cochichavam a medida que elas iam passando, Tokaku com sua audição apurada de assassina captou muitos comentários maldosos cheios de preconceito e lançou olhares assassinos a todos, Haru vendo o estado da esposa segurou sua mão para acalma-la, infelizmente elas já estavam acostumadas com aquele tipo de recepção. Deixaram suas coisas em um canto enquanto a filha ia se aquecendo junto com os coleguinhas que começavam fazer perguntas sobre sua família, as mães sentiram orgulho quando Ichigo demonstrou que não se importava com a opinião negativa.

Os jogos começaram, Haru sempre gritando palavras de incentivo a filha atraindo olhares incômodos pelo o quão alto ela o fazia, Tokaku ao seu lado tentava ignorar os gritos da esposa enquanto observava atentamente Ichigo usar tudo o que ela havia ensinado para ganhar os jogos, comemorando internamente por cada vitória da filha. Na hora do almoço elas montaram seu piquenique embaixo de uma das várias árvores que havia no local e juntas comeram.

— Ichigo-san! – Um garotinho usando óculos vinha animado em direção do piquenique da família, ele tinha cabelos platinados e olhos azuis.

— Hiro-kun! – Sorriu ao ver o coleguinha parando ao seu lado.

— Você foi muito bem nos jogos!

— Você também! Ganhou todos da modalidade masculina!

Haru e Tokaku se entreolharam assistindo aquela cena.

— Ah! Essas são minhas mães! – Ichigo apresentou apontando para as mulheres.

— É um prazer conhece-las! – Hiro curvou-se tanto que sua cabeça quase chegou ao chão – Sabe, um dia vou me casar com a filha de vocês.

— Então você é o namoradinho dela? – Haru perguntou achando tudo aquilo divertido.

Tokaku travou, sentia seus músculos tensos, mas o que era aquele sentimento? Uma raiva repentina se apoderou de si fazendo ela fuzilar o garoto com o olhar. Ichigo corou com a pergunta de Haru e tremeu de medo ao notar a expressão de Tokaku.

— Sim senhora Azuma!

— Não fale besteiras! – Ichigo exclamou desesperada vendo a mãe azulada trincar os dentes e cerrar o punho.

— Mas é verdade... – Hiro respondeu inocente, não havia notado ainda a expressão de uma das “sogras” – Ah! Olha minha mãe – Começou a acenar para uma mulher de cabelos platinados que olhava ao redor lhe procurando, assim que lhe notou começou a se aproximar.

— Tokaku, Haru! 

— Mahiro Bamba?! – As duas falaram ao mesmo tempo surpresas, Tokaku esquecendo-se momentaneamente de seu ataque de ciúmes.

— Vocês se conhecem? – As crianças se surpreenderam.

— Já estudamos juntas no passado... – Respondeu a platinada corando levemente com sua personalidade tímida. O casal lembrou o quanto fora assustador enfrentar a personalidade psicopata de Bamba na classe negra, ambas quase morreram várias vezes naquela batalha noturna – E a Sumireko trabalha junto com a Haru-san.

— Mamãe trabalha com a senhora Azuma? – Hiro sorriu - Então já é bom que nossas famílias se conhecem!

Tokaku voltou a fuzilar o garotinho convencido, fazendo assim Haru rir, Ichigo se encolher com vergonha e medo, e Bamba ficar levemente confusa. Conversaram por mais alguns minutos, Bamba havia explicado que depois de conhecer Ichigo, Sumireko havia resolvido também adotar uma criança, faziam apenas sete meses que Hiro estava com o casal, porém desde o primeiro dia ele já as chamavam de mães, o garoto era bastante seguro de si e animado.

— Vai começar a entrega dos prêmios, nos vemos depois – Hiro abaixou-se em sinal de respeito novamente - Senhoras Azumas, foi um prazer conhece-las!

O garotinho segurou a mão da mãe e partiu de volta ao seu piquenique. Haru sorriu pedindo que a filha explicasse sobre o colega, achando divertido ver a garota corada enquanto Tokaku parecia extremamente incomodada, minutos depois Ichigo afastou-se para ir receber os prêmios.

— Vamos Tokaku – Haru sorriu tocando com o indicador a bochecha esquerda da esposa que matinha uma cara aborrecida – Não é pra tanto!

— Não é pra tanto? Ela ainda é uma criança – A Azuma disse o obvio.

— É só um namoro de criança... É fofo.

— Sem chances que esse pirralho vai ter algo com minha filha – Confessou fazendo a ruiva rir divertida, Haru plantou um beijo nos lábios da azulada fazendo ela finalmente relaxar o corpo e esquecer-se de todo ataque de ciúme.

Deixaram a pequena discursão de lado ao ouvir o nome da filha ser chamado, Ichigo subiu no palco sorridente e recebeu sua medalha, assim que desceu do palco correu até as mães para mostrar seu prêmio, as duas sorriram e orgulhosas lhe parabenizaram decidindo que para comemorarem tomariam um sorvete. Tokaku sorriu vendo a esposa e filha caminharem na frente comentando sobre quais tipos de sabor escolheriam. Naquele momento percebeu que todo o esforço para protege-las não havia sido em vão, ela faria tudo de novo por elas.

E só por elas.