Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 23
Eis a questão




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— Duvido que você consiga explicar esse filme — Micalina provocou Kentin, assim que todos nos encontramos na saída dos banheiros do cinema.

— Se você tivesse prestado atenção, teria entendido — Kentin rebateu, colocando as mãos nos bolsos da calça de estampa militar que usava. Poderia parecer clichê um russo gostar desse tipo de coisa, porém, ele quebrava qualquer outro estereótipo, fofo do jeito que era. Mesmo que nunca fosse admitir.

— Eu prestei atenção — entrei na conversa dos três e Micalina enganchou o braço no meu, enquanto andávamos pelo shopping não tão cheio naquela terça-feira. — Mas não entendi nada também.

— Tá vendo só — Micalina pegou a deixa para continuar provocando. — Admite, Ken, esse filme é confuso e nem você entendeu.

— Claro que entendi! — ele exclamou ofendido. — Tinha o pai do...

Ri, enquanto encarava rapidamente algumas vitrines das lojas por quais passávamos. Eu precisava sair mais com aqueles dois, mas quem disse que as agendas batiam? Essa ida ao cinema foi um milagre, já que teríamos que esperar duas semanas para nossos respectivos trabalhos acontecerem e estávamos livres nesse meio tempo. 

Sim, eu finalmente vou fazer um comercial de TV, com a River Street, e Micalina e Kentin um trabalho para a HGloss, aquela marca que ela estivera tão empolgada quando descobriu sobre o casting, aquele dia na sorveteria.

Aliás, esse era o motivo por qual saímos juntos, para comemorar que nós três conseguimos os trabalhos que queríamos. Mica preferia uma festa em grande estilo pra isso, ao contrário de Kentin. No meio termo, todos concordamos que o cinema era uma boa escolha.

— Nem a Mari, que gosta de filmes de sci-fi, gostou desse Ad Astra — a mexicana continuou como desculpa, depois que Kentin explicou com perfeição o que aconteceu no filme. Ela claramente não queria dar o braço a torcer, já que disse que ainda não estava em cartaz o filme que queria ver.

— Sharknado não é o melhor exemplo de sci-fi. — Voltei para a conversa, fazendo minha amiga me encarar como se dissesse “até você?”.  — Você tem que ver esse negócio comigo, Ken, você vai amar! — Ela revirou os olhos, enquanto o russo me encarava empolgado. — A gente podia fazer uma noite de cinema na casa de um de nós...

— Lá vem vocês com essas nerdices... — Micalina reclamou e Kentin e eu rimos.

A mexicana tomou a frente quando entramos na pequena fila para fazer nossos pedidos na praça de alimentação. Assim como o restante do shopping, não havia quase ninguém àquela hora da tarde.

— Que filme você queria ver, Mica? — perguntei quando nós três nos sentamos em uma das mesas vagas, todos carregando as bandejas com seus respectivos lanches.

Vida de modelo é difícil, temos que nos manter na linha, pipipópó, mas ninguém é de ferro, não é mesmo? 

— Confidencial — ela disse o nome, desembalando seu hambúrguer. — A gente tem que vir assistir quando sair, Mari!

— Esse não é aquele filme que ia ser adaptado de um livro? Que as adolescentes estavam doidas — Kentin comentou, também abrindo seu hambúrguer. Preferi as batatas fritas.

— E como você sabe que é livro? — A mexicana provocou, com direito a subir e descer de sobrancelhas. 

O russo foi ficando vermelho, provando que era uma graça com as bochechas coradas.

— Eu vi no Facebook. — Se desviou da reta, dando uma bocada em sua comida para disfarçar o constrangimento momentâneo. — É meio difícil não ver nada, com o tanto de garotas surtando.

Micalina fez uma cara de “seeei” e eu fiquei completamente perdida, enquanto separava as batatas maiores para comer.

— Que livro é esse que vocês tão falando? — questionei.

— É um que era fanfic naquele site... — Micalina explicou. — Sobre um relacionamento de um CEO com a empregada da empresa dele.

Naquele exato momento, a batata frita pareceu seca demais e eu quase me engasguei. Era o que?!

— Não sabia que 50 Tons de Cinza tinha filhos — Kentin disse e meu engasgo só piorou, atraindo a atenção dos dois pra mim. — Você tá bem, Mari?

— Claro — respondi depois de tomar um gole do meu refrigerante e dar um sorriso amarelo. — Foi hilário, Ken. — Usei como desculpa, surpreendendo a mim mesma com a rapidez. 

— Você fala isso porque nunca deu uma chance — a mexicana reclamou. Ela e o russo estavam prontos para voltar a outro debate sobre filmes.

— Esses filmes inventam cada moda, né? — disse em voz alta, fazendo com que os dois olhassem para mim. Ótimo, Marimar, aprende a não falar seus pensamentos em voz alta. — Tipo, quem é que vai dar uns pegas no próprio chefe? — Soltei um riso, como se achasse aquilo hilário, ao mesmo tempo em que meu estômago gelava por dentro, como se aqueles dois fossem descobrir a verdade sobre...

— Seria meio antiético... — Kentin opinou, quase levando metade do hambúrguer dele após a sentença.

— Ah, eu não negaria. — O russo arregalou os olhos para Mica. — Que foi? Vai dizer que você não daria uns pegas se fosse uma mulher bonitona como chefe?

— Claro que não! — ele exclamou, como se o mero pensamento fosse algo absurdo. 

— Ah tá. — A mexicana fez um barulho com a boca, deixando claro que não acreditava.

— Não é só porque você ficaria, que todo mundo faria o mesmo... — o russo soltou, fazendo Micalina arregalar os olhos com a resposta.

— Eu não deixava... — Os dois viraram o rosto pra mim no exato momento em que disse isso. — Eu não disse nada. — Ergui as mãos em rendição, deixando que debatessem sozinhos. Micalina e Kentin não podiam ter personalidades mais diferentes uma da outra, que chegava até a impressionar como conseguiam ser amigos.

Quanto a mim... Digamos que eu evitava pensar em um certo chefe bonitão enquanto olhava para aquelas batatas amarelas. Amarelo...

...

Apesar das duas semanas livres nas agendas dos três, não era sempre que eu, Kentin e Micalina podíamos nos encontrar no mesmo horário. Tudo o que me restava era arranjar mil e uma coisas pra fazer, ou então subir pelas paredes. Talvez eu fizesse uma nova maratona dos filmes do Sharknado, vai que a Júlia gosta?

Naquela quinta-feira, pelo menos eu teria alguma coisa útil pra me ocupar, tendo que ir até a agência para tirar as medidas para os figurinos da marca que eu faria o comercial.

Antes que eu perca tempo descrevendo minha conversa com Alexy — que encontrei por lá — e a estilista, vamos pra parte que todo mundo quer saber, porque a maioria das pessoas ama um barraco. Não que tivesse acontecido um barraco de fato, é apenas o modo de falar.

Depois daquela conversa com Júlia e ouvir todo o debate de Mica e Kentin — sobre ser antiético e “faria sim” —, estava se tornando cada vez mais claro na minha cabeça a decisão que eu deveria tomar. Nathaniel era um fofo, gentil — e insira aqui mil e um adjetivos —, porém, ele era meu chefe. E eu simplesmente não me sentia bem em me envolver em algo mais profundo com ele, sabendo disso. Com que cara eu o olharia na agência depois da gente se beijar? E se alguém descobrisse? Minha amiga paranoia não iria me deixar em paz por um segundo.

— Que surpresa ver você por aqui, Mari — meu chefe bonitão comentou, quando eu estava prestes a sair da agência.

Seria coincidência Nathaniel estar passando pela recepção para algum outro lugar da agência no mesmo instante em que eu saía dela? Se o universo queria nos aproximar, eu infelizmente teria que frustrar seus planos. Desculpe, universo.

— Eu só vim pra ajustar umas medidas — respondi, sorrindo nervosa e apertando a alça da minha bolsa. — Mas já tô de saída, sabe como é a vida, né? A gente não tem um minuto pra respirar. — Quase ri de nervoso e vi Nathaniel tombar um pouco a cabeça para o lado, talvez intrigado. Como alguém conseguia concentrar tanta fofura?

— Parabéns por ter conseguido o trabalho com a River Street — me parabenizou com seu sorriso gentil e agradeci, abaixando a cabeça. — Gostaria de ir comer algo? Não vou poder ir ao Fulano hoje, tenho muito trabalho para fazer, mas há uma lanchonete por perto. — Levou uma das mãos aos cabelos, correndo-a por eles e tirando alguns fios do lugar. Parece que alguém seria um bom candidato à propaganda da GreenBeauty.

— Eu... — Inventa uma desculpa, inventa uma desculpa, cérebro! — Eu tenho que molhar minhas plantas! — Péssima desculpa, péssima desculpa... Nathaniel me encarou intrigado. — Minhas pobres filhas nem se alimentaram hoje. — Ri de nervoso, tentando consertar. O que não resolveu nada. — Mas eu também tenho algumas coisas pra fazer em casa. Sabe como é, o serviço doméstico nunca acaba... Não que você tenha que se preocupar com esse tipo de coisa, já que com certeza tem uma empregada pra fazer isso por você.

Nathaniel contraiu um pouco a mandíbula e meu pâncreas deu um pulo. Por que eu era assim? Idiota.

— Mas a gente pode se encontrar qualquer dia desses no Fulano. — Finalmente uma resposta decente, Marimar. Agora, caí fora daí.

— Você não vai ao Fulano desde a semana do truco. — É... Não deu tão certo assim. As sobrancelhas do loiro estavam quase unidas, sua mente claramente pensando em algo. — Está tudo bem com você? Cogitei perguntar a...

— Tá tudo bem! — interrompi-o de repente e talvez alto demais, já que Amália parou de digitar algo no computador da recepção e olhou para nós, parados na porta. Sorte que ninguém precisou entrar ou sair durante aqueles minutos. — Eu só... — Passei a mão no rosto, vendo que não tinha outra solução se não a verdade. Eu devia isso a ele. — Eu não consigo levar isso em frente, Na... Bonnet. — Consertei no último segundo. Alguém poderia ouvir eu o chamando pelo apelido, vai que... Se bem que, aquela conversa toda seria suspeita demais se alguém ouvisse.

— O que você quer dizer com...

— Isso não vai dar certo — interrompi-o mais uma vez. Sua cara era a pura confusão. — Eu trabalho pra B Agence, você é o dono... Eu não me sinto confortável com isso. — Da confusão, sua expressão pulou para espanto. — Sinto muito.

Empurrei a porta de vidro e saí para a rua, não querendo encará-lo. Não me lembrava que partir o coração de alguém pudesse doer tanto. Ou talvez fosse apenas eu.

— Marimar! — Ouvi meu nome ser chamado e virei o rosto, vendo Nathaniel quase correr para me alcançar. Já estava quase na esquina. Ele respirou fundo antes de continuar, talvez organizando os pensamentos. — É por causa da Júlia? — ele questionou e eu balancei a cabeça, negando.

— Não… A Júlia deu carta branca pra gente ficar junto, se quisesse. — E disse pra eu seguir meu coração também. — O problema sou eu. Não vou conseguir levar um relacionamento com essa coisa de chefe e funcionária. O que os outros vão pensar?

— Não importa o que os outros vão pensar, Marimar — ele disse, colocando uma mão no meu ombro e tentando me confortar. — Algumas pessoas vão olhar torto, falar mal de nós pelas costas, mas isso não acontece em qualquer empresa? — Mesmo com seus argumentos, ainda neguei com a cabeça.

— Eu não conseguiria lidar com isso, porque também ficaria com a sensação de que estou fazendo alguma coisa errada.

Vi-o arregalar os olhos assim que essas palavras deixaram minha boca. Eu havia estragado tudo.

— Nós não estamos fazendo nada de errado — retorquiu, soltando o ar, tornando a frase soprosa. — São apenas duas pessoas que se gostam, o que há de errado nisso? — exasperou-se levemente e eu continuei o encarando, tentando me manter calma. Por algum motivo, eu estava conseguindo. Pelo menos por fora.

Ele olhou com seus olhos dourados pra mim e quase me abalei. Eu devia sair correndo pra não vê-lo magoado daquele jeito.

— Se é assim que você quer que seja… — disse quase em um suspiro, tirando a mão do meu ombro e talvez pronto pra voltar à agência.

— Você não tá bravo comigo, né? — perguntei incerta, não sabendo o que ele sentia. Que eu não tivesse estragado tudo…

— Por que eu estaria bravo com você? — respondeu com um breve sorriso e respirei aliviada. — Eu respeito a sua decisão, Mari. Apesar de não concordar com os seus argumentos.

Continuamos nos encarando e Nathaniel deu um passo à frente.

— Apenas saiba que ainda estarei lá, caso um dia você queira voltar — prometeu e não pude evitar sorrir. 

Nathaniel beijou minha bochecha, em seguida afastando o rosto novamente, me encarando e medindo minha reação.

— Até um outro dia, Nath. — Envolvi meus dedos nos dele e apertei, como um gesto de despedida.

Com um último sorriso, dei as costas, caminhando para longe dali.


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Notas finais do capítulo

Ester:
E parece que mais um dos nossos ships chegou ao fim T.T Ou será que não? Será que Nath vai ficar sozinho? Será que volta pra Júlia? Será que dona Mari vai molhar as plantas? Sábado, na Click -q
Até mais, povo o/

Bia:
Tão bonitinhos esses amigos saindo juntos, né? Deve ser muito bom dar um rolê com eles xD
E Nathaniel compreensível como sempre, esse homem existe mesmo? Claro que não -q
Até mais o/



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