Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 21
Rosque & Rou


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Olá olá, meu povo! Curiosos pra conhecer a banda de power metal castelo/espadinha do Castiel? -q
Teremos duas cenas musicais nesse capítulo, a primeira com Remedy do Seether e Rock You Like a Hurricane dos Scorpions na sequência. O link pra elas estão nas notas finais :D
Boa leitura ;)



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— Então? — Abri os braços no meio do quarto e rodei sem sair do lugar.

Júlia ergueu os olhos do celular, sentada na cama de baixo do beliche, entre um monte de roupas jogadas sobre o colchão. A pobre coitada ia ter trabalho pra tirar tudo aquilo de lá se quisesse dormir mais tarde.

— A outra com estampa já estava boa — respondeu, deixando o celular em cima da cama e vestindo a jaqueta preta com tachinhas sobre a blusa branca com babados que trajava.

— Mas essa aqui é mais fresquinha — argumentei, me encarando no espelho e vendo a blusinha preta de alcinhas. Aquilo parecia seda... — E você tá mais rosque and rou do que eu. — Fiz um bico e vi minha amiga franzir as sobrancelhas, claramente não entendendo nada.

— O Uber acabou de chegar lá embaixo — anunciou, guardando o celular no bolso e pronta pra me empurrar pra fora do quarto.

— Minha blusa! — Peguei meu casaco preto de malha e vesti por cima, a acompanhando quando ela fechou a porta. Descemos pela escada do prédio. — Você acha que ele vai gostar?

— Ele quem? — ela questionou confusa, fechando o portão da construção.

A rua estava cheia naquela noite de sábado, com um monte de gente andando pra cima e pra baixo e lotando o restaurante italiano uns metros à frente. Entramos no veículo preto do Uber, que começou a funcionar.

— O Castiel! — exclamei, tentando olhar minha imagem no vidro do banco de trás do carro. Esperava não ter batom nos dentes dessa vez. — Vai que a gente encontra ele por lá. Digo, pessoalmente, sabe? Sem ser em cima do palco, porque é claro que ele vai tá lá. A gente vai ver ele e vai que ele vê a gente? — Percebi que Júlia suspirou e apoiou o cotovelo na lateral do veículo. — Até ressuscitei meu delineado da época emo.

— Tá brincando que você já foi emo? — Minha amiga pareceu realmente surpresa com a revelação.

— É serio, com maquiagem e tudo. — Dei de ombros, passando as mãos pelas pontas do cabelo para modelá-las. — Só que depois eu parei, quando entrou a moda dos coloridos.

Júlia riu um pouco abafado, com a mão na frente do rosto.

— Esse é mais sua cara.

Assenti e comecei a passar as mãos pelos bolsos da minha calça rasgada, vendo que eu tinha esquecido o celular em casa. Como eu ia filmar e tirar foto daquele jeito? Continuei tateando até me dar conta de uma coisa...

— Para esse carro, moço! Volta! Dá a ré! — berrei em francês, assustando todo mundo no veículo e fazendo o motorista me olhar como se eu fosse louca. — Eu esqueci os ingressos em casa, a gente não vai poder entrar... — grunhi. — Tinha que ser eu pra fazer isso, não acredito...

— Mari — Júlia chamou minha atenção, erguendo dois pedaços de papel no ar. — Pode continuar — ela disse para o motorista com calma e voltou rindo para mim. — Sabia que você ia esquecer.

Respirei aliviada e quase me esqueci e passei a mão no rosto. Júlia salvando minha pele desde 2000 e picadinho.

— Vocês são da onde, moças? — o motorista perguntou de repente. — Esse idioma de vocês é gostoso de ouvir.

Eu e minha amiga nos encaramos, prontas pra falar tudo e mais um pouco sobre nosso país. O que, pelo lado bom, serviu para ocupar todo o tempo do trajeto. Sorte minha, porque assim tirei momentaneamente da minha mente qualquer outra paranoia.

Quando chegamos em nosso destino, pagamos o homem e ainda demos tchauzinho enquanto o carro ia embora. 

— Parece que vai lotar — Júlia comentou quando viu a fachada do Breeze.

O bar tinha algumas mesas do lado de fora, todas cheias e com pessoas conversando. Alguns outros estavam parados por lá, papeando, fumando e fazendo qualquer coisa para esperar pelas atrações da noite. O nome das duas bandas estava marcado numa placa, bem acima da tabela de preços das bebidas, tudo junto e misturado.

— Vem, Ju. — Dessa vez foi eu quem a puxei pelo braço para dentro do estabelecimento. Mostramos nossos ingressos na entrada. — A gente tá em cima da hora.

O interior do bar era escuro e meio fumacento. Ou talvez fosse só o calor que desse essa impressão. Mesmo que estivéssemos entrando no outono, lá dentro parecia tão quente quanto uma tarde do verão francês. As pessoas falavam ininterruptas e eu parei de puxar minha amiga quando conseguimos nos misturar no meio do povo, porém ainda na parte de trás, bem longe da primeira fila.

— Será que a gente consegue ir mais pra frente? — perguntei, tentando me pôr na ponta dos pés. — Mal dá pra ver o palco daqui.

— Daqui o que? — ela perguntou, provavelmente não conseguindo me ouvir no meio do falatório.

Todo mundo pareceu parar quando um ruído de guitarra saiu pelas caixas de som do Breeze. Em vez de falas, o público gritou quando uma sombra apareceu em frente ao pedestal do microfone, tocando a introdução. Me adicione à conta de gente que berrava feito louca.

Throw your dollar bills and leave your thrills all here with me — Castiel começou a cantar quando o restante da banda subiu ao palco e se juntou a canção. 

— Ele canta muito! — gritei para minha amiga, que parecia mais ocupada em não levar uma cotovelada do povo que se empurrava perto dela.

Castiel tinha uma voz rouca que era quase hipnotizante.

Frail, the skin is dry and pale, the pain will never fail. — A música entrou no que provavelmente era o refrão, ficando ainda mais pesada. — And so we go back to the remedy.

Todo mundo começou a pular e eu me juntei a eles, mesmo que aquele não fosse muito meu estilo de música. O importante era curtir, não é mesmo? Pena que com tanta gente enorme, eu praticamente não enxergava o palco.

I don’t need a friend, I need to mend so far away. — Aproveitei que o refrão tinha acabado e peguei na mão de Júlia.

— Vem, vamos tentar ir mais pra frente. — Ela com certeza agradeceria por sair de perto do povo acotovelando. Será que eles iam abrir uma daquelas rodinhas punk?! Esse era meu maior medo em show assim.

Passamos por baixo de cotovelos, nos desviamos de gente pulando e tivemos que parar a umas cinco fileiras do palco, quando todo mundo voltou a se mexer demais de novo.

— O som tá muito estourado aqui! — Júlia reclamou, praticamente gritando para ser ouvida, e passou a mão sobre a testa.

Hold your eyes closed, take me in! — Castiel deu um grito rouco, alongando a última palavra, e levando todo muito a loucura.

— Ele canta muito! — berrei para minha amiga, extasiada por tudo. Ela parecia meio perdida, olhando pros lados. — Pula! — incentivei quando entrou o refrão de novo.

Clip the wings that get you high, just leave them where they lie.

Júlia não parecia tão empolgada assim, mesmo quando a música acabou e todo mundo gritou junto. A próxima começou direto, com um holofote sobre Castiel e o outro guitarrista, que solavam na introdução.

— Tá muito calor aqui dentro!

— Com certeza tá — respondi para ela, mas olhando para Castiel, que era o centro das atenções lá em cima. Pelo menos dali eu conseguia vê-lo melhor, enxergando-o com suas roupas pretas e um colete jeans com as mangas cortadas. 

O vocalista fez um sinal com a mão para chamar o povo e se aproximou do microfone.

It’s early morning, the sun comes out. Last night was shaking and pretty loud. — Ele começou a puxar palmas da plateia enquanto cantava. — My cat is purring, it scratches my skin. So what is wrong with another sin?

— Tá mesmo muito quente aqui. — Soltei um suspiro e quase precisei me abanar enquanto via-o tentar tirar o cabelo suado da testa para voltar a tocar. Apenas a parte de cima estava presa, deixando o cabelo da nuca solto. Ele devia fazer aquele penteado mais vezes.

E tinha certeza que as tietes gritando na grade iam concordar comigo. Olhei para o lado e vi minha amiga retirando o casaco e amarrando-o na cintura.

— Boa ideia! — Fiz a mesma coisa que ela e Júlia olhou sorrindo na minha direção. Seu cabelo estava grudando de suor na nuca e ela parecia um pouco pálida. Ou talvez fosse a luz. — Você tá bem?

Ela apenas assentiu e tentou sorrir para disfarçar, se juntando ao coro da plateia no refrão e tentando aproveitar o show.

Here I am. — Me juntei a eles quando o verso repetiu, grudando no braço da Júlia e cantando junto dela. Pena que ela já tinha parado.

— Rock you like a hurricane — Castiel completou, para delírio das fãs. — My body is burning, it starts to shout. Desire is coming, it breaks out loud. — Suspirei e continuei tentando me abanar. Meio sexy essa letra, não? — Lust in cages ‘til storm breaks loose, just have to make it with someone I choose. — Com ele cantando aquilo, não dava pra negar que eu entendia o delírio das tietes na primeira fileira.

Here I am. — A plateia gritou outra vez e fiz a mesma coisa de novo.

Dessa vez, Júlia ficou calada e apenas vi quando ela se virou para mim, branca feito papel. E aquilo não era a luz.

— Mari, eu não tô me sentindo bem — admitiu o que era óbvio pela cara dela.

— O que que você... — Ela simplesmente desabou, apenas me dando tempo para tentar segurá-la para que não caísse no chão. — Júlia!

— Chama o bombeiro! — Um desconhecido do lado me ajudou a segurá-la, gritando na multidão. — A menina desmaiou aqui!

A música cessou repentinamente e todos foram parando de pular aos poucos.

— Abram caminho, por favor — Castiel pediu no microfone e as pessoas obedeceram, dando espaço para que eu e o desconhecido carregássemos Júlia. — Tem gente que precisa de ajuda médica aqui — disse, talvez para alguém da produção.

Quando chegamos à grade e estávamos passando Júlia por cima dela para o bombeiro do outro lado, ela começou a recobrar a consciência .

— Deixa eu ir! Ela é minha amiga! — Ignorei qualquer coisa e pulei a grade.

O bombeiro foi meio carregando minha amiga para a saída lateral e eu corri para alcançá-los.

— Júlia do céu! — exclamei, vendo que ela estava desperta, porém totalmente atordoada. — O que aconteceu com você? Por que você não disse antes que tava passando mal? Eu teria te tirado de lá antes.

— Foi só uma queda de pressão... — ela meio que murmurou.

O homem a auxiliou a se sentar em cima de uma caixa de som no corredor para a beira do palco. A única coisa que era possível ouvir de lá era um falatório sem parar, a música não tinha voltado ainda.

— Fiquem aqui, irei buscar um pouco de água para você — o bombeiro orientou e sumiu.

— Como que você tá? Tá bem? Tá sentindo enjoo? Tontura? — Me abaixei na frente dela e comecei a bombardeá-la com perguntas.

— Já passou, Mari — ela respondeu, colocando os braços sobre as pernas e apoiando a cabeça sobre eles.

— Você tá bem, moça? — O guitarrista da banda brotou do nosso lado, vindo com Castiel ao seu encalço. — Já foram buscar alguma coisa pra você? — Ele também se abaixou à frente dela.

— Deixa ela respirar, Pietro! — Castiel censurou-o, cruzando os braços perto da gente. — Ela acabou de desmaiar, não precisa de um monte de gente em cima.

— Eu só tô querendo ver se ela tá bem, cara! — Pietro reclamou. 

— Eu já estou melhor, gente — Júlia finalmente se manifestou, erguendo o rosto e nos encarando. — Foi só uma queda de pressão. — Tentou acalmar um sorriso.

— Quer uma bala? — o guitarrista de cavanhaque ofereceu, tirando algo do bolso e entregando na mão da minha amiga. — É sal ou açúcar que ajuda a melhorar a pressão? — perguntou para ninguém em específico.

O bombeiro finalmente voltou, trazendo junto uma garrafa d’água.

— Vem, cara, a gente tem que terminar o show — Castiel insistiu e o outro músico se ergueu. — Qualquer coisa que vocês precisarem, é só pedir pra produção — orientou para nós duas e apenas assentimos.

— Melhoras pra você — Pietro desejou junto de um sorriso e também sumiu, de volta para o palco.

O bombeiro se abaixou ao meu lado e deu uma breve examinada na minha amiga. Quando finalmente concluiu alguma coisa, se levantou.

— Estarei perto do palco, qualquer coisa que precisar, é só mandar a sua amiga me chamar. — Com isso, ele foi o último a sumir, nos deixando sozinhas.

Júlia abriu a garrafa e tomou um bom gole de água, em silêncio. Quando ela secou a boca com as costas da mão e me encarou, era minha hora de falar.

— Me desculpa, me desculpa, Ju! — Se eu já não tivesse abaixada na frente dela, com certeza eu estaria de joelhos àquela altura. — É tudo culpa minha isso ter acontecido, eu que insisti pra você vir, quando você não queria, eu que não te dei atenção…

Meu falatório foi interrompido quando ela colocou a mão no meu ombro.

— Tá tudo bem, Mari, de verdade — ela tentou me tranquilizar e foi mais pro lado na caixa de som, me dando espaço pra sentar lá um pouco espremida e assim o fiz. — Tava muito calor ali dentro, esse tipo de coisa acontece. 

Fiz bico, encarando minhas botas.

— Mas…

— Não foi culpa sua eu ter passado mal — tranquilizou com um sorriso, que eu acabei devolvendo. — Lembra dessa música?

A banda já tinha voltado a tocar e a única coisa audível dali era o som do palco e dos gritos da plateia. Fizemos a única coisa que podíamos naquele momento e ficamos cantarolando as músicas jutno de Castiel ao longe. 

 


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Notas finais do capítulo

Remedy, Seether: https://youtu.be/FZLILV18ut8
Rock You Like a Hurricane, Scorpions: https://youtu.be/6yP1tcy9a10

Ester:
Mari confessando que já foi emo e Júlia representando nossa reação na fic xD
Acharam que o desmaio de dona Júlia foi o ápice dessa noite? Nem pensar!
Até mais, povo o/

Bia:
Mais alguém focou no motorista do uber super fofo falando das meninas falando português? aaa :3
Com certeza o lado fangirl de vocês gritou com aquele Castiel cantor de rosque, né? Ouvi os gritos daqui -q
E tadinha da Ju, sei bem o que é ter queda de pressão num lugar assim D: Mas pelo menos ela melhorou!
Espero que tenham gostado!
Até mais o/



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