Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 21
Capítulo 21- Despedidas




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Após a sugestão de Sakkaku Uso o salão permaneceu em silêncio completo, ninguém ousou sequer desviar o olhar, a tensão passou a ser tátil. Yume nos olhou com desdém e desprezo, enquanto não deixava de mostrar sua indignação por termos a oportunidade de dos defender, jamais poderia imaginar que a Imperatriz dos Bons Sonhos não correspondesse ao seu poder de fato, e que aquelas que eu mais temia, na verdade, são as que estão lutando pelo mínimo de justiça que pode nos ser concedida. A ansiedade tomava meu corpo, pois sentia a grande responsabilidade de proteger e defender aqueles que fizeram o mesmo por mim até aqui.

—Te- Tenho permissão para falar? – minha voz falha e meus olhos se mantem fixos no chão, mas tento juntar minhas forças – Quero explicar.

—Você tem permissão. – a voz suave de Shi alivia meu peito por alguns segundos.

—Eu- Eu entendo a raiva que estão sentindo. – tento parecer firme, mesmo que minhas pernas vacilem comigo – Entendo porque eu passei por isso. Vocês perderam uma Imperatriz, mas eu... – meus olhos se enchem e meu rosto queima com a tentativa de suprimir as lágrimas – Nós perdemos tudo! Suna perdeu sua adolescência e sua família, lutou contra seu melhor amigo e teve como resultado inúmeras cicatrizes, não apenas físicas, mas emocionais. A mesma situação para Kasai e Kuroi. Enquanto Shizen, que é um homem bondoso e honesto, se incomodou em ver jovens adultas morrerem naquela arena de treinamento. Fui afastada de minha família, temendo constantemente pela vida deles e a minha também, e então, eu encontrei apoio dentro do treinamento, não apenas dos Lordes que foram gentis e justos, mas de minha preciosa amiga. Vocês sabem como ela morreu?! – a tristeza se transforma em raiva conforme me lembro do sorriso em coração de Rin e de seus doces olhos – Chikaku! Ela a matou da forma mais covarde possível! Não por uma atitude duvidosa de Rin, mas por puro luxo e orgulho da sua querida Imperatriz. Então, sim, nós a matamos, mas quantas ela matou?

—Não se justifica uma morte com a outra. – Yume dispara com urgência de concluir o julgamento – Sua defesa acabou...

—Não! – grito sem pensar – Vocês possuem o poder de impedir um sistema baseado em opressão e morte! Só porque algo foi criado há anos e desde então exercido não significa que isso seja o certo a se fazer. – era impossível controlar minha emoção e me permiti chorar enquanto desabafava – Não é certo retirar pessoas de suas famílias contra sua vontade, aprisioná-las em um local desconhecido e obrigá-las a lutar e sobreviver, para ter a sorte de nenhuma Imperatriz desejar sua morte. Vocês têm o poder de concertar essas páginas manchadas de sangue que construíram esse Reino e tudo que eu peço é para que façam isso... Que perdoem meus amigos por terem decidido por algo que machucou alguém, mas que essa foi a única forma de nos fazer ser ouvidos...

Minha visão embaçada não me permitia decifrar as expressões das Imperatrizes, e a desesperança lentamente tomava meu ser novamente, no entanto, uma mão aconchegante me segurou, apertou minha mão direita e me deu conforto. Suna finalmente havia voltado, seus olhos também tinham lágrimas presas, mas mais importante que isso, eles brilhavam novamente, aquele verde esmeralda que me encantava e acolhia.

Todos os presentes na sala começaram a debater sobre meu pedido de ajuda, as três grandes Imperatrizes conversavam entre sim, de costas para todo o público, olhando em nossa direção vez ou outra. Apesar da minha ansiedade e o medo de perder novamente os meus preciosos companheiros, também sentia orgulho por ter lutado ao lado deles, por ter enfrentando a todos por eles e não somente por mim. Não posso mentir e dizer que não queria viver, eu queria, mas ter começado algo grandioso como o que acabara de acontecer, isso já bastava...

Depois de longos minutos de debate, as três grandes se viram e com apenas um olhar de Shi, todos no salão se calam imediatamente, aumentando a tensão. Todos estavam ansiosos pela importante decisão que estaria por vir, meu coração batia em ritmo acelerado, meu sangue fervia, minhas mãos suavam e meus olhos tentavam se recuperar do último choro, quando finalmente Sakkaku Uso rompe num discurso.

—Obrigada a todos por esperarem pacientemente nossa decisão. – sua voz era estável e receptiva – Ouvimos todos os lados e fomos transparentes em relação aos detalhes contidos no caso, espero que entendam a complexidade do mesmo e respeitem nossa decisão. A Imperatriz da Morte, Shi, irá pronunciar a decisão final.

—Como dito anteriormente pela Imperatriz da Ilusão e Mentira, esperamos que nossa decisão seja respeitada acima de tudo, pois foi tomada conforme a melhor opção possível. – enquanto olhava para as imperatrizes e soldados, Shi parecia distante e assustadora, mas quando seu olhar recaia sobre nós, gentiliza era a palavra que a descrevia – Shizen Sasaki, Lorde Suna, Lorde Kuroi, Lorde Kasai e Amaya Tsuki os crimes cometidos contra uma Imperatriz são punidos com a morte... – foi impossível conter o desespero que senti ao ouvir tais palavras – No entanto, devido ao histórico de cada um aqui presente e até mesmo do próprio sistema, como apontado por um de vocês, essa pena não será aplicada hoje. – embora o desespero ainda tomasse conta de mim, procurei me acalmar e continuar prestando atenção – Ao invés disso, Amaya Tsuki deve pertencer ao corpo democrático desse Reino, tendo como principal ocupação a organização das imperatrizes em potencial, bem como ocupar uma parte da corte de julgamentos e auxiliar na criação de novas leis que beneficiem ao povo, já que essas questões fizeram parte de seu discurso de defesa. Aos lordes e ao soldado, deverão continuar a exercer seus papeis para com o Reino e ao Castelo Imperial até que ordens sejam dadas.

A inquietação preenche o salão, haviam pessoas que concordavam com a conclusão, outras não somente discordavam, como questionaram e vaiaram as Imperatrizes. Mas logo a situação se reverteu, Shi estava furiosa pelo alvoroço que estava sendo provocado. Seu rosto estava vermelho, seus olhos afiados fitavam cada um dos que se atreviam a confrontá-la, entretanto, o que mais se destacava era seus longos fios brancos que se agitavam conforme a mesma se exaltava.

—Se – ela faz uma pausa, esperando pelo silêncio que logo chega – estiverem insatisfeitos com minha decisão e julgarem ter propostas melhores, se apresentem a mim. – ela espera, mas ninguém ousa contradizê-la – Sendo assim, está decidido. – ela se vira e sai de vista de todos, entrando em uma pequena porta escondida atrás do seu trono.

—Todos podem se retirar. – Yume assume – O julgamento está encerrado.

—Soldados, soltem esses jovens. - Sakkaku Uso ordena e se retira juntamente as outras duas – Você ouviram o veredito.

Os soldados se apressaram para nos soltar, enquanto meus olhos permaneciam fixos no chão lágrimas molhavam meu rosto e caiam sobre o mesmo, eu não possuía forças na parte inferior para conseguir me sustentar e meu coração ainda não havia voltado ao ritmo normal, mas tudo isso passou, porque Shizen e Suna me abraçaram e então pude desabar em seus braços.

***

Um bom tempo se passou desde que assumimos nossos postos no Reino, dois anos, para ser exata. Desde então, os lordes vêm me ajudado incessantemente para construirmos um novo sistema econômico e de poderio para o Reino. Agora, as jovens mulheres não eram obrigadas a frequentar ao treinamento, ao invés disso, nosso monitoramento sobre cada jovem mulher do reino era comunicada a família e quando a jovem atingisse 16 anos (ou mais tarde, caso desejasse mudar de ideia) poderia decidir se gostaria de evoluir seus poderes. O treinamento permanecia rigoroso, com a participação dos lordes e soldados, mas agora havia um controle sobre a periculosidade de cada fase, não era permitido abuso de poder, e em caso de uma possível morte, ao menor sinal de que a jovem corresse perigo, a missão seria pausada e a mesma seria resgatada. Era possível desistir a qualquer momento, sua participação permanecia voluntária até que acabasse o treino, no entanto, uma vez concluído, a jovem deve se juntar ao grupo de Imperatrizes do reino.

Shizen esteve me ajudando todo esse tempo como guarda costas pessoal e informante quando necessário, no entanto, vez ou outra pedia licença para visitar sua família no interior, o que era, claro, concedido. Lorde Mizu melhorou seu comportamento, e apesar do medo de Kasai de que pudesse haver inimizades ou ressentimentos, ele se mostrou estar disposto a lidar com nossa presença e nossos ideais. Minha família estava bem, mas devido ao meu novo objetivo, ficar sozinha não era mais um problema, pelo contrário, apreciava esses momentos, assim a falta deles já não me afetava como antes, no entanto vez ou outra meu coração se apertava, pedindo por atenção, e meus irmãos vinham me ver, quase como se soubessem de quando e como preciso deles.

Quando Suna percebeu que nossos esforços estavam gerando resultados positivos e que agora conseguiríamos lidar com a situação sem depender dele, pediu afastamento. Foi feito uma votação entre as cinco novas grandes Imperatrizes e com os lordes: eu, Amaya Tsuki, Imperatriz da Água, Shi, Imperatriz da Morte, Sakkaku Uso, Imperatriz da Ilusão e Mentira, Yume, Imperatriz dos Bons Sonhos e Sensō, Imperatriz da Guerra, sendo essa última muito importante, já que sua lógica para estratégias era fora do normal, além de conseguir dominar um campo de combate facilmente, Kasai, Kuroi e Mizu também participaram da votação. Foi permitido que ele se retirasse, mas que deveria retornar caso fosse necessário para nosso reino, ele concordou sem discussões. Hoje seria a nossa despedida.

—Você vai para onde? – pergunto enquanto me encosto no batente da porta de seu quarto, observando o mesmo se preparando para a partida.

—Não sei ainda. – ele evita olhar em minha direção – Vou decidir depois de ter viajado para todos os reinos possíveis.

—Aventureiro... – forço um sorriso, tentando ser simpática – Você bem que poderia me avisar quando descobrir onde será seu novo lar.

—Eu não quero ninguém me vigiando. – suas palavras cortam meu coração como uma navalha afiada e ele percebe – Não que você faria isso, mas não confio nas outras...

—Eu entendo. – me viro e preparo para sair – Boa sorte... seja lá onde estiver.

—Espera! – ele segura meu braço, me fazendo o encarar – Você é uma boa amiga. – um abraço inesperado me envolve – Eu não gostei da situação toda, de como nos conhecemos e porquê isso aconteceu, mas conhecer você... Bem, foi algo bom, certo? Salvamos Kasai e Kuroi, Shizen também está bem melhor... – sua voz se torna embargada de emoção – Sinto muito por não ter salvo a Rin...

—Eu também. Para todas essas situações. – minha voz falha e meus olhos voltam a brilhar devido as lágrimas que se acumulam – Perder a Rin foi difícil, meus sentimentos e os dela sempre se misturavam, o poder dela realmente era muito forte... Eu não queria perder vocês, sabe? Shizen e você. – ele me olha triste devido meu repentino desabafo – Mas eu entendo. Você estará melhor longe de todas as lembranças que esse lugar te traz...

—Eu nunca entendi direito o que aconteceu entre mim e Chikaku... – seus olhos vagam pelo quarto – Acredito que ela me amava, de uma forma perturbada que só ela poderia entender. Vê-la morta foi algo...

—Não precisamos fazer isso. – ele me encara confuso – Não precisamos tornar nosso último momento juntos em um mar de tristeza. Sinceramente, do fundo de todo meu coração, desejo que você seja feliz, mesmo que isso aconteça longe daqui... Longe de mim...

—Obrigado.

Não era necessário mais palavras, sabíamos que sempre estaríamos ali um para o outro, não importava a distância, estriamos ali. Foi assim que vi Suna ir: um jovem loiro, alto, com olhos verde esmeralda que um dia pararam de brilhar, mas que agora possuíam uma nova chance. Eu me encontrei onde estou, finalmente tinha um propósito que poderia ajudar à outras garotas e evitar que perdessem tudo aquilo que perdi. Como membro das Cinco Grandes, eu possuía uma voz ativa que me permitia lutar por aqueles que não podiam e também por aqueles que me importavam em particular. Honestamente, nunca soube a real intenção por trás das ações das Imperatrizes que nos julgaram, passei anos buscando informações que me auxiliassem, mas elas são muito cuidadosas e fechadas. De toda forma, enquanto eu puder ser útil de forma a minimizar os sofrimentos das mulheres que passaram, passam ou vão passar por esse sistema, continuarei aqui, mesmo que não entenda o que aconteceu naquele dia no passado.

Irei tomar conta de tudo até que o Suna volte, afinal, tenho aliados agora ao meu lado. Não estou sozinha e espero nunca deixar alguém estar assim.

Eu perdi muitas coisas, mas esse é um novo começo.


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Notas finais do capítulo

Esse foi o último capítulo dessa pequena história, espero que tenham gostado e que, de alguma forma, ela possa ter trazido reflexões e sentimentos válidos para todos.
Foi, de longe, um novo começo para mim, ter a coragem de postar e não desistir de escrever mesmo com algumas duras criticas quando corrigida. Essa será a primeira de outras histórias que pretendo trazer aqui, mas ficarei um tempo escrevendo a próxima, então pode demorar um pouquinho. Novamente, obrigada por acompanharem até o fim.



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