Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 35
Nós somos o Distrito Kabuki! - Parte I




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Haviam passado dias montando aquela estratégia e, agora, era hora de colocá-la em prática. Enquanto o Trio Yorozuya do passado e a Primeira Divisão do Shinsengumi se infiltravam em território inimigo e executavam a Operação Sukonbu, os demais começavam a se movimentar assim que os apitos soaram, anunciando a já esperada invasão inimiga. Gintoki, Ginmaru, Shinpachi e Sadaharu aceleraram ainda mais a corrida rumo à entrada principal e, ao chegar lá, o mais jovem deu uma última olhada para a direção na qual ficava sua casa.

Esperava sinceramente estar vivo para voltar para casa. E esperava que sua casa estivesse em pé quando voltasse.

Quando olhou para o lado, percebeu que não era o único a fazer tal gesto. Seu pai parecia fazer questão de guardar na retina tudo o que pudesse, pois certamente a partir de agora o Distrito Kabuki estaria mergulhado no caos e na destruição inevitáveis. Ainda assim, todos esperavam sobreviver e ter uma casa para onde voltar.

Ginmaru estava determinado a voltar ao segundo andar daquele prédio vermelho e ver que a grande placa escrita “Yorozuya Gin-chan” continuava fixada no mesmo lugar. Estava disposto a continuar dividindo o mesmo teto com seu pai e com aquele grande cão branco felpudo, e não mediria esforços para proteger sua casa e o distrito.

Uma grande confusão começou a ser notada quando os Sakatas e Shinpachi se aproximavam ainda mais da entrada principal. Os três homens desembainharam suas espadas e assumiram posição de combate para contra-atacar. Não demorou que vários soldados de uniformes amarelos e brancos começassem a adentrar ainda mais o distrito. Nobume e Kalad entraram com seus grupos, os quais os moradores de Kabuki buscavam repelir. Gintoki correu para enfrentar o alien, líder dos amantos fardados e, após uma rápida troca de golpes de espadas, ambos se afastaram.

O alien de pele cor laranja olhou ao seu redor, estranhando o fato de o Mimawarigumi não atacar os inimigos. Antes que abrisse a boca para exigir explicações da comandante da força policial de farda branca, ela ordenou que seus comandados se posicionassem diante dos outrora aliados e desembainhassem suas katanas.

― Nossas cordialidades se encerram por aqui, Kalad-san. – a voz da Imai era fria e inexpressiva enquanto lhe apontava sua katana. – Antes que diga qualquer coisa, nunca estive do lado de vocês em nenhum momento.

― Vocês não passam de um bando de traidores! – Kalad rosnou por entre os dentes.

― Huguinho, Zezinho e Luisinho não são nada diferentes de Kasler.

― COMO OUSA FALAR ASSIM DOS NOSSOS GOVERNANTES DA JUNTA?!

― Peraí! – Gintoki indagou com deboche. – Eles têm esses nomes?

― Pensei que eles tivessem aqueles outros nomes, sabe? – Ginmaru também debochou.

Não foi possível continuar com o deboche, pois o instinto do faz-tudo mais velho o alertou de um ataque prestes a ocorrer. Graças a seu reflexo rápido, bloqueou o golpe de katana do comandante dos aliens, se valendo de sua fiel bokutou.

― Ui, ficou brabinho, é? – ele mais uma vez recorreu à troça.

― Você não vai mais ter esse sorriso na cara quando eu acabar com a sua raça, humano nojento! Não pense que não te conheço, Shiroyasha!

― Vem quente que eu tô fervendo, cenoura com pernas!

Kalad não se fez de rogado e mais uma vez se lançou ao ataque com a katana pronta para cortar o antigo Shiroyasha ao meio. Entretanto, o experiente ex-combatente fez um bloqueio perfeito com sua bokutou. O comandante do grupamento de amantos de farda amarela percebeu, com aquele bloqueio, que aquele homem não seria um adversário fácil de ser superado.

― Eu não sou uma cenoura! – o alien esbravejou. – Meu nome é Kalad!

― Tanto faz se é “Calado” ou “Salada”... Eu não costumo gravar nomes de adversários, idiota!

O faz-tudo se desvencilhou de Kalad e logo em seguida os dois se envolveram em uma rápida, porém vigorosa, troca de golpes entre espadas. Era uma mostra dupla de habilidade, força e agilidade de ambos. Enquanto isso, Ginmaru, Shinpachi e Nobume, junto com os homens do Mimawarigumi, enfrentavam os demais soldados da Junta. Sadaharu encontrou Elizabeth, e os dois mascotes rivais, numa rara parceria, combinaram um ataque conjunto. O parceiro de Katsura montou sobre o cão gigante e empunhou o guarda-chuva roxo e, em seguida, Sadaharu correu em disparada por entre os invasores enquanto Elizabeth fazia uma saraivada de tiros com a metralhadora embutida no antigo objeto.

Aproveitando o caos gerado pela dupla de mascotes, os moradores de Kabuki atacaram massivamente os inimigos. Hosts, okamas (travestis), yakuzas, robôs de combate inventados por Gengai, alunos dos dojos Koudoukan e Yagyuu e grupos como Joui, Kiheitai e Kaientai, junto com o Shinsengumi, passaram a ganhar terreno ao abater os aliens de farda amarela. Para a surpresa de Gintoki e Ginmaru, o próprio Takasugi, junto com Mutsu e Tsukuyo apareciam junto com partes do Kiheitai, do Kaientai e da Hyakka, respectivamente, reforçando o grupo que defendia Kabuki.

Entre o clamor de espadas, tiros e explosões, Shinsengumi e Mimawarigumi se misturavam, deixando as rivalidades de lado para encarar adversários em comum. Os fardados de preto se juntavam aos fardados de branco para abater o máximo de inimigos que pudessem. Okita Sougo e Imai Nobume demonstravam sua letalidade no manuseio de suas katanas, que retalhavam sem piedade.

― Devo cumprimentá-lo por seu novo cargo, Vice-Comandante? – ela perguntou divertida, enquanto perfurava um adversário com sua espada.

― Agradeço pela sua consideração. – Sougo respondeu após abater outro inimigo. – Espero que me cumprimente quando eu me tornar o novo Comandante do Shinsengumi. Aí você vai ver quem é melhor no cargo em que está.

― É um desafio? – Nobume saltou por cima do homem de cabelos cor de areia, surpreendendo outro alien com um chute no rosto para, em seguida, cortar-lhe o pescoço.

― Sim. – Okita sorriu com sadismo para o inimigo que tentava atacar a Imai pelas costas e, em seguida, enfiou a katana no peito dele. – Que tal começarmos agora? Vamos ver quem mata mais desses amantos imundos?

― Desafio aceito. – Nobume correu por alguns metros e sua espada abateu vários amantos num único golpe. – Melhor começar a contar, já abati meia dúzia!

E assim, a dupla formada por dois habilidosos e letais espadachins sádicos começou a promover sua própria carnificina à moda Shinsengumi versus Mimawarigumi.

Shinpachi, enquanto lutava com alguns adversários junto com Hijikata, percebeu algo estranho ocorrer. Uma das lentes de seus óculos de grau trincou espontaneamente, o que o fez parar repentinamente e tirar o acessório de seu rosto. Desde que começara a usar óculos de grau, quando garoto, não se recordava de uma lente de acrílico trincando espontaneamente. Diante disso, pensou em sua contraparte adolescente, que havia ido até o território inimigo junto com Gintoki e Kagura para levar a cabo a Operação Sukonbu.

 

― Esses óculos são 95% de você, Shinpachi. – Gintoki disse certa vez, quando Shinpachi tinha dezesseis anos. – De fato, eles são mais Shinpachi do que você.

― Você está dizendo que eu sou apenas 5%? – ele protestou indignado.

― Bem, 3% é água e 2% é lixo.

― Você está me chamando de lixo?! – o garoto estava prestes a voar para cima do faz-tudo e estrangulá-lo. – Ou melhor, nem 2%?

 

Essa era apenas mais uma das piadinhas infames de seu chefe desde que se conheceram, implicando com seus óculos. Na verdade, apesar de as piadinhas serem irritantes, ele meio que estava acostumado a elas... Mas havia algo naquela lente trincada que o deixava em estado de alerta. Se o tal paradoxo temporal que o afetava fosse minimamente sacana, certamente ele diria o mesmo que Gin-san, que sua alma estava nos óculos.

Esperava que essa trinca na lente fosse apenas um alarme falso... Apenas uma piadinha infame de que os óculos tinham 95% dele.

 

*

 

― Que ótimo... – Shinpachi encarava seus óculos, mais precisamente uma das lentes. – Uma lente trincou.

― Isso é bem ruim, Pattsuan... – Gintoki encarou o garoto enquanto levava mais uma porção de arroz com shoyu à boca com os hashis. – Melhor se proteger como da última vez, ou seu outro eu vai ter problemas.

― Que problemas uma lente trincada vai causar ao meu outro eu?

― Não é óbvio? – Kagura interveio com a boca cheia enquanto devorava uma segunda grande panela de arroz. – 95% dele são os óculos, igual a você!

― Kagura tem razão, Quatro-Olhos. – o albino concordou antes que o Shimura protestasse. – Isso já te salvou duas vezes.

A vontade que o garoto tinha naquele momento era de distribuir cascudos aos seus companheiros de Yorozuya, mas sabia que não adiantaria nada. Eles eram dois cabeças-duras que pareciam não ter qualquer resquício de juízo. Basicamente, eram um caso perdido.

Levou a mão ao rosto, fazendo mais um facepalm e se recusando a aceitar que os óculos eram 95% de Shimura Shinpachi.

 

*

 

Enquanto a árdua luta começava entre os moradores do Distrito Kabuki e os invasores, estes começaram a mostrar que não estavam para brincadeira. Além de soldados, também participavam da incursão tanques, veículos blindados e artilharia pesada, fazendo com que a batalha tomasse proporções ainda maiores. Explosões ainda mais fortes, aliadas a rajadas de tiros, faziam com que todos tivessem certeza de uma coisa: ainda que vencesse os inimigos, o Distrito Kabuki não sairia ileso... Pelo menos não fisicamente.

Os focos de embates começaram a se espalhar pelas ruas de chão batido, num ensurdecedor barulho envolvendo gritos, tiros, explosões e sons de vidros sendo quebrados e construções sendo danificadas, somados ao clamor de espadas colidindo umas com as outras. Inevitavelmente, a luta encarniçada entre os habitantes do distrito e aliados contra os invasores chegou até a rua em que estava localizado aquele prédio de dois andares, com sua característica pintura vermelha, cujas placas identificavam o bar de Catherine e a Yorozuya Gin-chan.

Tama estava à frente do prédio, armada com sua vassoura equipada com lança-chamas, a qual usava não apenas para torrar os inimigos, mas também para aplicar-lhe golpes poderosos o bastante para mandá-los para bem longe. Alguns robôs auxiliavam a androide nessa tarefa, mas um dos tanques conseguiu chegar até lá e atirar contra o segundo andar, atingindo a placa branca no canto direito. Logo acima, outro tiro atingiu uma das janelas e, no andar de baixo, Tama se viu obrigada a se desviar do disparo que acertou a porta principal do bar e, mesmo revidando com o lança-chamas de sua vassoura, isso não afetou o veículo.

Entretanto, um reforço apareceu para retirar o tanque do local. Mutsu se valeu de sua força de Yato para poder empurrá-lo para longe, enquanto Ginmaru chegava correndo para proteger sua casa. Havia ouvido as explosões e viu a placa branca da balaustrada superior começar a se soltar e se pôs diante do prédio, junto com a androide de cabelos verdes. O tanque tentou avançar, mas a Yato – que era a segunda pessoa no comando do Kaientai, abaixo apenas de Sakamoto – tentava segurá-lo, até que o jovem de cabelos prateados correu até o blindado de aço e, num salto, fez um corte preciso no cano por onde estava saindo mais um projétil endereçado ao prédio.

Junto com o cano, o projétil também foi cortado ao meio, o que causou uma explosão que despedaçou o tanque, cujos estilhaços atingiram todas as vidraças num raio de vários metros de distância. O jovem Sakata, junto com Tama, Mutsu e os demais, se jogaram ao chão para se protegerem da melhor forma possível. Porém, ainda não era possível comemorar aquela pequena vitória... Não, quando vinha mais um grupo de inimigos, dentre os quais Ginmaru acabava por reconhecer um em especial.

― Olha só quem estou vendo... – o homem de cerca de vinte anos, com cerca de um metro e oitenta de altura, cabelos castanhos lisos e curtos e olhos da mesma cor e sorriso debochado encarava o jovem albino. – O protegidinho do Shinpachi-Sensei... Sakata-kun, o esquisito!

― Masaki Kojiro... – Ginmaru devolveu. – Masaki-kun, o Zé-Ruela... Você já é ridículo de qualquer jeito, mas farda amarela te deixa ainda pior.

― Eu estou apenas do lado certo da história, esquisito.

― Desde o tempo que era moleque, você sempre esteve do lado errado. Fez isso tudo só pra se vingar da surra que te dei dez anos atrás com a mão esquerda e uma bokutou?

― Não, mas... Já que você tá aqui, posso me vingar de você, seu filho de uma puta!

― Isso foi pra me ofender? Porque não funciona em mim.

― Por quê? Já foi muito xingado assim, esquisito?

― Não, burrão! – Ginmaru respondeu com displicência. – Minha mãe era uma cortesã. Você só tá me afirmando algo que já sei. E o único esquisito é você, um humano, no meio de um monte de aberração amanto.

― Você tá muito debochado, pirralho!

― Do que me chamou?

― De pirralho. E posso acrescentar que é tão lixo quanto essa gentinha do Distrito Kabuki.

― Repete!

― Você é um pirralho, tão lixo quanto essa gentinha deste distrito de merda, que será riscado do mapa!

A resposta de Ginmaru foi um poderoso soco cruzado de direita bem na cara de Masaki, que foi cair a alguns passos de distância devido ao impacto do golpe. Ele se levantou e voltou a ficar diante do albino, que dirigiu-lhe um sorriso debochado.

― Lave a sua boca quando for falar de mim! A surra que te dei anos atrás não foi o bastante?

― Eu jamais vou aceitar ser humilhado por um pirralho! E o que você vai fazer pra nos impedir?

― Sozinho, não posso fazer nada, mas todos do distrito vão impedir qualquer coisa.

Ginmaru fez uma pausa dramática e desembainhou sua katana mais uma vez, para depois apontá-la para Masaki e seus liderados. Prosseguiu com um tom desafiador:

― E sabe por que todos nós aqui estamos dispostos a impedir qualquer coisa? Porque... NÓS SOMOS O DISTRITO KABUKI!


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