Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 34
Operação Sukonbu - Parte IV




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Podia ouvir internamente seu coração pulsando furiosamente, bombeando com ímpeto o sangue por todo seu corpo. Sentia queimar cada veia e cada artéria por conta da passagem violenta de seu sangue por seu sistema circulatório. Todo esse caos ocorria dentro de Kagura, que, por fora, continuava paralisada, sem conseguir reagir para salvar seus amigos da Yorozuya do sufoco em que estavam ao enfrentar uma K1 possessa por seus instintos mais primitivos de brutalidade.

Internamente, a garota enfrentava seu próprio monstro interior. Um monstro que se materializava diante de seus olhos como se fosse ela, mas com aquele quimono curto vermelho, meias 7/8 listradas de vermelho e preto, botas pretas e cabelos ruivos presos em um coque alto. Sua franja, naquele momento, ocultava seus olhos, mas o riso baixo entregava quem realmente era aquela garota. Armada com o guarda-chuva roxo, a garota levantou a cabeça, revelando seu terrível rosto desfigurado pela insanidade.

Aquela garota encarava Kagura com seus olhos esbugalhados injetados de pura bestialidade e um sorriso tétrico e sádico. Já a Yato, por seu turno, encarava seu lado mais bestial com firmeza. Não teria medo de enfrentar seus próprios instintos representados por aquela figura de si mesma fora de controle, que correu para atacá-la.

A faz-tudo estava desarmada. Se quisesse superar seu próprio instinto, teria que se garantir no muque, e foi o que Kagura buscou fazer. Seu instinto nada dizia, apenas grunhia e rugia como uma fera selvagem desejosa por carnificina. Mesmo assim, sabia muito bem que aquela sua parte brutal queria que ela sucumbisse aos seus instintos sanguinários.

Mas ela, Kagura, não sucumbiria! Prometera a si mesma que lutaria contra seu monstro interior até o fim!

Com as duas mãos, ela bloqueou o guarda-chuva adversário. Não iria perder novamente essa luta consigo mesma, como foi em Yoshiwara. Desta vez, não iria perder a razão e não iria deixar seu lado assassino aflorar.

Os Yatos lutavam contra si mesmos. Matavam e morriam, era esse o destino.

Mas com ela seria diferente.

Puxou o guarda-chuva para si e desferiu uma poderosa cabeçada contra sua contraparte sanguinária, deixando-a totalmente atordoada. Sem perder tempo, jogou seu corpo contra ela e, em seguida, pegou o guarda-chuva e o apontou para sua parte bestial, que, caída devido ao impacto da investida, expressava temor por estar acuada.

― Eu sou a dona deste corpo. – ela disse assumindo uma postura ameaçadora enquanto calcava o pé sobre o peito de seu instinto selvagem. – Você vai trabalhar pra mim... Ou te estouro os miolos! Estamos entendidas?

 

*

 

Gintoki estava quase desmaiando sem ar quando sentiu que os dedos férreos que quase perfuravam sua garganta o soltaram. Ele caiu sentado enquanto recuperava o fôlego perdido e via Shinpachi caindo sobre K1 após se jogar contra ela. O clone não perdeu tempo e agarrou o garoto pelo pescoço enquanto se levantava. Mas, antes que ela tentasse sufocá-lo, alguém se jogou com o peso do corpo para evitar o pior.

― KAGURA-CHAN! – Shinpachi gritou assim que caiu no chão.

A garota agora via sua cópia caída aos seus pés e não conteve um sorriso confiante. Estava determinada a não deixar que ferissem novamente seus preciosos companheiros. Não demorou muito para que K1 novamente se levantasse, com suas feições ainda distorcidas... Como ela mesma estaria naquele momento, se não tivesse conseguido dominar a si mesma.

K1 deu um urro selvagem e correu para atacar Kagura, que cruzou os braços à frente de seu rosto para bloquear um poderoso chute. Em seguida, a Yato segurou com ambas as mãos a perna da adversária e a arremessou contra um dos poucos tanques ainda intactos. Cheia de ferimentos, a cópia da faz-tudo não demorou a se refazer e a se levantar e novamente atacá-la.

― Ei, você não desiste não? – Kagura agora assumia um ar debochado enquanto pegava seu fiel guarda-chuva. – A “Kagura 2.0” não iria superar a original, hã?

A ruiva contra-atacou com um combo de socos e chutes, para finalizar com uma pancada com o guarda-chuva. Em seguida, jogou o objeto para o alto, bateu fortemente contra o chão com as mãos espalmadas, provocando um leve tremor para desequilibrar K1, pegou-o e acertou-lhe como um taco de beisebol acertava uma bola.

― HOOOOOOOME RUUUUUUUNNNNN!! – ela gritou após a “tacada”.

K1 caiu por sobre o grande computador principal do laboratório, avariando-o ainda mais, de forma a provocar um grande curto-circuito generalizado. Por consequência, toda a aparelhagem explodiu, o que obrigou os três amigos a se jogarem no chão para ao menos tentarem se proteger da explosão em si e da fumaça resultante. Ainda assim, foi inevitável sentir a mistura de cheiros de fios, plásticos, metais, vidro, tecido e carne queimados.

O Projeto K1 acabava de ser encerrado definitivamente. A Operação Sukonbu fora um sucesso.

No lado de fora do laboratório, a confusão reinante também começava a diminuir, à medida que a Primeira Divisão do Shinsengumi abatia os inimigos. Espadas e bazucas ditavam o ritmo da luta frenética entre os soldados a serviço da Junta e os invasores de fardas pretas. Nocaute após nocaute, morte após morte, os amantos diminuíram de número e os poucos remanescentes acabaram por recuar, visto que não conseguiam dar conta de um grupo de homens destemidos e obstinados.

― VOLTA AQUI, SEU FEIOSO! – Taichirou gritou chamando a atenção do último alien que saía correndo. – VOCÊ ESQUECEU ISTO!

Mal terminara de falar, disparou mais um tiro de bazuca que poderia acertar Hijikata, que estava à sua frente. Graças ao seu rápido reflexo e a familiaridade que tinha com aquele tipo de situação, o Vice-Comandante vindo do passado se jogou no chão enquanto via o último alien sendo mandado para os ares com a explosão gerada pelo tiro. Após tossir por conta da fumaça resultante do impacto do projétil com o inimigo, ele se levantou e fuzilou o Miyojin com o olhar.

― Eita...! – Taichirou exclamou assim que se deu conta do que fez.

― TÁ QUERENDO MATAR TEU PAI, É?! – Toushirou berrou enquanto agarrava Taichirou pelo casaco. – ESQUECEU QUE, SE ME MATAR, ELE MORRE?!

― Malz aê, eu me empolguei! – o Capitão da Primeira Divisão se justificou. – Eu sempre acabo deixando meu lado sádico aflorar numa batalha.

Hijikata suspirou enquanto revirava os olhos. Claro que uma hora ou outra ele deixaria surgir o traço sádico do lado dos Okita. Deveria saber disso, de tão habituado que estava de escapar de todos os atentados de Sougo à sua vida. Só não esperava que isso ainda o tivesse como alvo, intencionalmente ou não.

De todo modo, iria contar à sua contraparte mais velha a respeito. Precaução nunca era demais, pensou enquanto acendia um cigarro, o qual deixou cair no instante em que ouviu outra explosão, vinda do laboratório. Em meio à fumaça que se dissipava aos poucos, ele avistou três figuras saindo daquele caos, correndo meio que tropegamente.

Outra explosão se seguiu enquanto Gintoki, carregando Kagura nas costas, corria desajeitadamente com Shinpachi para o mais longe possível. Sem perceber, os três trombaram com Hijikata e Taichirou e os cinco caíram no chão, como se fossem pinos de boliche após um strike. Em seguida, veio a fumaça, com cheiro forte de queimado e ainda mais densa. Não havia tempo para reclamar ou xingar, então os cinco se levantaram e, de forma desengonçada, correram o quanto suas pernas permitiram, junto com os outros homens do Shinsengumi, para o mais longe que pudessem e onde poderia ser seguro. Depararam-se com uma grande porta dupla, contra a qual colidiram graças a uma forte lufada de vento gerada por uma nova explosão, ainda mais forte que as anteriores.

A porta cedeu com o peso e o impacto da colisão, abrindo-se e revelando seu interior. Era um refeitório e, a julgar pelo cheiro que tomava conta do ambiente, estaria prestes a servir alguma refeição. Kagura imediatamente sentiu o cheirinho de comida e, ignorando as dores e a exaustão da luta de há pouco, saiu em disparada até uma das grandes panelas, alcançou uma colher grande por perto e, após abrir a tampa de uma panela, começou a comer vorazmente o arroz recém-cozido. Mas, antes que Hijikata esbravejasse, Shinpachi o fez:

― MAS O QUE É QUE VOCÊ TÁ FAZENDO, KAGURA-CHAN?!

Kagura retrucou de boca cheia:

― Sou uma garota em crescimento, preciso comer!

― Isso não é hora pra um almoço!

― Me passa o shoyu, Kagura! – Gintoki mandou enquanto também comia uma tigela cheia de arroz e despejava o molho de soja por cima.

― VOCÊ TAMBÉM?! – o Vice-Comandante do Shinsengumi berrou. – ISSO NÃO É HORA DE ALMOÇAR!

― Ei, ei, Hijikata-kun... – o albino o convidou de boca cheia. – Bora comer, a gente gasta muita energia em uma batalha.

― Bora lá! – Taichirou incentivou enquanto organizava os homens da Primeira Divisão em uma fila, todos com pratos nas mãos. – Precisamos ter muita energia para a nossa missão!

Shinpachi e Toushirou, incrédulos com a cena que se desenrolava diante de seus olhos, se encararam para depois suspirarem e fazer um facepalm em dupla. Aquilo era inacreditável... Bizarramente inacreditável, dadas as circunstâncias.

Ah, como era difícil ser um “cara certinho”...!


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