Ocean Motion escrita por Camí Sander


Capítulo 14
Capítulo 13 - Impostores


Notas iniciais do capítulo

Demoreeeiii mais do que pensei ser possível! Minha madrasta pegou covid enquanto eu estava cuidando do meu irmão na casa da minha mãe e não consegui voltar antes para postar. Sito muito! Minha madrasta já está melhor, obrigada. E eu estou bem também. Espero que gostem!



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Impostores

 

Um mês inteiro sem Isabella.

É isso que ganho depois de arrumar tudo para que as férias dela pudessem se realizar.

Após garantir que tia Renée não contasse nada para a filha durante o período que a moça estivesse longe, levei-as ao aeroporto e praticamente implorei para Isabella voltar à cidade.

Remoí muito o fato de que eu teria que contar para a morena sobre ser Anthony e que matara sua melhor amiga. Contudo, a vida na empresa tornou-se um caos quando consegui colocar todas aquelas loucas na cadeia. Os advogados das mulheres foram para a imprensa com “informação privilegiada” sobre a gestão de Ocean e tivemos que responder a perguntas nada pertinentes ao caso de Isabella para um tribunal de justiça. Mesmo que não estivéssemos contra a lei. Também tivemos que contratar mais funcionários e designar novas pessoas para os cargos de liderança, já que a maioria das minhas mais antigas líderes estavam presas.

Rosalie encarregou-se de pesquisar sobre todos os antecedentes dos candidatos e ela e Emmett fizeram questão de entrevistar cada um antes de escrever um relatório para Alice indicando os cargos para cada um. Não questionei os métodos de segurança tomados pela minha prima porque o lema dos Hale era “Confie em Rose para arrancar a verdade de todos”. E eu confiava nela.

 

Fui buscar Isabella no aeroporto com Alice naquele dia. Não aguentava mais de preocupação com seu estado emocional. Minha mãe e irmã atualizavam-me frequentemente sobre as coisas que tia Renée falava ao telefone. Bella parecia estar lidando com o trauma muito melhor do que eu, já que cheguei a ponto de dormir em seu sofá durante algumas noites. Atribuí minha fraqueza emocional ao dilema sobre como contar a ela a respeito de Anthony.

—Bella! – gritou a baixinha quando a amiga apareceu dentre as tantas pessoas do lugar.

Meu coração palpitou quando o sorriso de Isabella se alargou.

Sim.

Eu estava ferrado.

A Swan se aproximou de nós e soltou sua bagagem no chão ao meu lado para abraçar minha irmã. Ouvi murmúrios das duas, todavia, não consegui decifrar o que diziam. Cumprimentei com um aceno de cabeça enquanto pegava suas malas e segui as duas para o carro.

Decidimos que Isabella ficaria em sua própria casa e que eu estaria permitido a entrar sempre que ouvisse algo fora do normal vindo dali. Digo, enquanto estivesse em casa, uma vez que não cheguei a tirar férias e minha vizinha ainda tinha dois meses em casa.

Jantamos na casa dos meus pais para que Esme, Alice e Rosalie pudessem tirar suas conclusões sobre o estado psicológico da morena. Enquanto as meninas conversavam no quarto, os rapazes limpavam a cozinha. Não que Emmett e eu quiséssemos, mas não tínhamos como discutir com dona Esme. Descobri que minha prima planejava se casar antes das férias da amiga terminar e que o noivo estava contratando dois seguranças para revezar turnos na vigia do prédio onde morávamos. Achei sensato da parte dele e contei à Isabella enquanto voltávamos para casa.

—Não acho necessário, Cullen – ela revirou os olhos.

—Eu realmente não estou pedindo sua permissão, Swan – retruquei um pouco irritado.

—Podemos sempre chamar isso de abuso de poder – instigou.

—Chame do que quiser – dei de ombros. – A decisão não partiu de mim e, se ligar para o seu pai, ele aprovará a ideia. Você é o que chamamos de voto vencido. Eu só estava te informando.

Ela deve ter me xingado. Não prestei atenção suficiente para escutar o murmúrio que saiu. Despedimo-nos no corredor e fui preparar-me para dormir.

Dez minutos depois que me deitei, ouvi os gritos dela pela parede. Levantei-me correndo, não acendi nenhuma luz na pressa de alcançar a porta da frente. Acabei batendo a coxa em algum lugar e o mindinho na quina da parede.

—Caralho! – murmurei entredentes.

Mancando um pouco, fiz meu caminho até a porta de Isabella entre xingamentos sobre a mãe da mobília e maldições sobre as portas em meu caminho. Não me preocupei em bater as portas atrás de mim, apenas corri desengonçado até onde a morena se debatia e gritava.

—Isabella! – chamei um pouco mais alto que um sussurro. Não adiantou. – Ei, Bella! Bella!

Sacudi seu ombro e chamei até que os olhos escuros se abriram assustados e cheios de lágrimas. Ela se encolheu para longe e recolhi minhas mãos, afastando-me da cama.

—Sou eu – tranquilizei-a. – Acalme-se, você está segura – prometi.

—Edward? – choramingou piscando e focando os olhos em mim.

Sorri e lentamente sentei-me na beirada da cama.

—Esperava o Batman? – brinquei erguendo a sobrancelha.

Bella riu e aproximou-se. Estendi a mão e ela se içou para mais perto.

—O que está fazendo aqui? – indagou brincando com meus dedos. – Que horas tem?

—Passou um pouco da meia-noite, eu acho – respondi. – Você começou a gritar e vim correndo. Parecia que alguém estava esfaqueando seu gato do tanto que gritou. Estou surpreso de que nenhum outro vizinho tenha irrompido pela porta. Ou o síndico.

Ela revirou os olhos antes de sorrir para mim.

—Não tenho um gato – lembrou-me e suspirou. – Sonhei que tinham me prendido novamente.

Puxei-a para meus braços sem pensar e afaguei os cabelos cheirosos plantando alguns beijos ali. Queria confortá-la, contudo, não fazia ideia de como. Digo, o trauma que ela passara ainda era recente e a mulher não iniciara as consultas ao psicólogo.

—Ninguém mais irá te ferir, Isabella – prometi. – Vou me encarregar de ser a única pedra no seu sapato. Nem mesmo Alice conseguirá te causar problemas.

A morena riu e bocejou, libertando meu próprio cansaço. Esfreguei os olhos.

—Deixarei que durma, agora.

—Por favor! – sussurrou. Os olhos suplicantes. – Fica aqui até eu dormir, por favor!

Assenti, beijei-lhe a testa e saí do quarto explicando que precisava fechar as portas.

Como imaginei, as portas estavam escancaradas e tive que me contentar em mancar de um lado para o outro, entre nossos apartamentos, porque a coxa e o dedo fisgavam. Quando voltei, parei na cozinha e levei a garrafa de água dela para o quarto. Bella deu dois tapinhas do lado vazio da cama e bebeu um pouco da água, colocando a garrafa na mesa-de-cabeceira ao seu lado. Deslizou para o meu peito assim que coloquei a cabeça no travesseiro e abraçou-me pela cintura. Passei os braços pela forma pequena e respirei seu cheiro, acalmando as batidas do meu coração assim que a senti adormecer, e caí num sono agradável.

Na manhã seguinte, desculpei-me por ter dormido com ela, mesmo que tivéssemos despertado nos braços um do outro. Ela entendeu que não foi por mal e assim seguimos a semana. Depois da terceira noite acudindo Isabella, decidi que dormiria em seu quarto de hóspedes. Não que mudasse alguma coisa, porque sempre acordávamos na cama dela, completamente abraçados, mas poupava o tempo de fechar as portas e atravessar os apartamentos.

Caímos em uma rotina agradável.

Acordávamos juntos, tomávamos nosso café juntos e eu saía para o trabalho enquanto Bella saía com minha mãe. Começamos a frequentar um terapeuta para tentar acabar com os pesadelos e Isabella deixou ser apresentada como minha noiva. Passávamos os domingos com Rosalie que insistia em carregar a morena para qualquer coisa que envolvesse o casamento.

—Você sabe que não precisa seguir cada passo da Bella, não sabe? – questionou a loira no primeiro domingo que fui junto. – Ela está segura comigo e Emmett.

—Não estou seguindo Isabella – retruquei mentindo descaradamente. – Estou fazendo a boa ação do dia ao acompanhar Emmett na tortura que você o está infringindo.

—Sim, sim – concordou. – Estou deixando-o nos seguir porque precisará de experiência para quando for a sua vez de se casar.

—Edward e casamento na mesma frase não combina, Rose – riu Bella.

Sorri de canto, mas suas palavras me machucaram um pouco. Desde criança, tive certeza de que me casaria. O caminho ficou turvo com o tempo e meus erros tomaram proporções gigantes, todavia, sempre quis me casar com ela. Com a minha Marie.

Rosalie bufou e Emmett bateu em minhas costas, condoendo-se. Revirei os olhos e deixei o fato passar. Bella ainda acordava em meus braços, então não importava o que ela pensasse.

Era o que eu acreditava até aquela manhã de sábado.

Mais uma noite descansando ao lado daquela mulher e meu coração indagava minha demora sobre o assunto Thony. Isabella pedia sempre para que ajudasse a encontrá-lo e até fizemos algumas buscas infrutíferas. Fomos até minha casa de infância e conversamos com os moradores ao redor. Agradeci internamente por cada novo morador dali.

Bella acordara primeiro, portanto encontrei-me sozinho na cama. Ouvi vozes risonhas vindo da sala e estranhei. Seth, nosso amigo em comum – conhecido por mim como tarado vadio –, era cauteloso com Bella desde que tentara abraçá-la e ela se encolheu em mim pedindo desculpas porque não conseguia se aproximar dele. No entanto, podia ouvir um homem rindo com Isabella na sala.

Foda-se lavar o rosto.

Caminhei todo amarrotado e esfregando os olhos para a sala. Vi um rapaz estranho que beirava os trinta anos sentado confortavelmente no sofá dela. Bella parecia encantada, e feliz, com ele a ponto de não perceber minha chegada.

—Bom dia – grunhi franzindo o cenho e olhando de um para outro.

—Bom dia – respondeu o homem, sorrindo e estendendo a mão.

—Edward, quero que conheça o Thony, meu noivo – apresentou uma Isabella contente.

Não cumprimentei o cara. Na verdade, acho que rugi de raiva e fuzilei-o com os olhos. Parti para o banheiro fazer minha higiene e fui até a cozinha, ignorando os dois completamente. Servi-me de café, sentando-me à mesa como se fosse apenas um dia normal. Ela não deixou meu comportamento passar batido. Pediu desculpas ao impostor e marchou até mim.

—Pare de ser infantil e vá cumprimentar meu noivo direito – rosnou baixinho.

Eu ri de descrença e bebi meu café.

—O cara não é seu noivo – constatei. – Ele não passa de um impostor que te achou boba o suficiente para cair no golpe do baú. Não preciso cumprimentar ninguém, não deixei ninguém vir. Na verdade, como ele te achou? – questionei colocando a xícara na mesa.

—Coloquei um anúncio no jornal – ela deu de ombros. – Faz uma semana.

—Você fez o quê? – guinchei horrorizado.

Levantei-me e andei pelo pequeno espaço da cozinha passando a mão pelos cabelos. Merda! Ela estava desesperada a esse ponto? E a mulher nem sabia que possuía dinheiro! Se esse imbecil falasse alguma coisa nos tabloides, estaríamos ferrados. Choveria homem estranho perto dela. E se algum deles fizesse mal a ela? Só o pensamento de um rapaz desconhecido acariciar seu rosto me aterrorizou.

—Precisa tirar essa merda de anúncio, Isabella – constatei. – Urgentemente!

Ela revirou os olhos e parou na minha frente. O pequeno sorriso e os olhos brilhantes acalmaram minha angústia por um momento. Contudo, a calma se foi quando ela abriu a boca.

—É claro que vou tirar, não preciso de anúncio já que encontrei o Thony.

—Ele não é o seu Thony – resmunguei.

—Certo – bufou ela. – Eu vi sua identidade e ele morou naquela casa que visitamos outro dia.

Uma raiva descomunal pela ingenuidade dela subiu minha cabeça. Dei-lhe as costas e parti para cima do rapaz. Segurei-o pela camiseta e rosnei.

—Quem é você e o que quer com ela?

Assustado, ele murmurou suas respostas claramente ensaiadas: “Sou Thony, amigo de infância dela e estou aqui para ficar ao seu lado nesse tempo difícil”. Certamente fodido que ele é!

—Solta ele, Edward! – gritou Isabella.

Fiz o que a morena pediu só para fitá-la com raiva. Como ela podia acreditar naquelas palavras? Depois que a imprensa espalhou por toda a cidade que Bella tinha 1/5 das ações da empresa? Em seus olhos, consegui perceber que nem passava por sua cabeça duvidar do homem com olhos azuis. E ali soltou-se o gatilho para a enxurrada de palavras impensadas que saíram de mim.

—Não pode acreditar nesse cara! – gritei indignado.

—Posso e vou! – foi sua resposta imediata.

—Ele só está te usando, Isabella! – insisti ainda aos berros.

—Não está!

Bufei.

—Você nem mesmo o conhece! Pare de depositar confiança nesse imbecil!

E chutei o inferior do sofá perto dos pés do desgraçado. O estranho nem mesmo tentou se defender das minhas acusações. Ela estava cega ou o quê? O cara era um mané! Eu nunca seria tão babaca! Nem mesmo quando era seu amado Thony fui tão sem reação!

—Não trate meu convidado assim! – ordenou socando meu ombro. – Não te dou o direito de tratar ele assim dentro da minha casa!

Soltei uma risada descrente.

—Trato-o como bem entender – lembrei-a e chutei novamente seu sofá. – Impostor!

—Já chega, Edward! – trovejou me empurrando e lacrimejando. – Em nome da amizade que construímos nesses últimos dias, pare!

O olhar de dor dela me impediu de continuar gritando e desferindo golpes na mobília. Meu coração se apertou, no entanto, não estava pronto para deixar que o homem se safasse assim.

—Mas, Isabella, ele é um maldito impostor! – insisti numa voz mais baixa. – Só está aqui por causa do seu dinheiro, esse maldito!

Olhe em meus olhos! Veja a verdade! Ele não é o cara que você procura!

Tudo isso era o que minha mente esbravejava enquanto eu tentava controlar a respiração. Se ela apenas esperasse um pouco... ou entendesse as inúmeras insinuações que nossa família soltava! Porém, Bella parecia não querer entender.

—Como pode saber? – questionou parecendo ferida com minhas palavras. – Ele é o Thony. O meu Thony. Meu noivo, lembra-se? Aquele que passei a vida inteira esperando!

Fechei os olhos. Assenti algumas vezes antes de murmurar um “foda-se” e sair. Não posso dizer que meu apartamento ficou inteiro depois que tranquei a porta. Creio que meu acesso de fúria durou uns cinco minutos. Até que lembrei que precisava estar calmo para ouvir quando o falso Thony deixasse a máscara cair e Bella o expulsasse.

Demorou mais do que imaginei. O dia inteiro, para dizer a verdade. Remoí meu ciúme e ódio durante todo o tempo que passei sozinho dentro de casa, questionando-me sobre fazer o certo escondendo a verdade dela. No entanto, o medo de ser rejeitado era ainda maior. Isabella não estava completamente curada dos pesadelos e precisava de mim. Se eu contasse a ela e fosse afastado, quem cuidaria da minha pequena Marie? Não. Eu não poderia contar a ela agora.

E era com essa decisão – de esperar pelo tempo que ela necessitava – que acabei deitado novamente em sua cama, olhando para cima e esperando que a Swan dormisse para poder admirá-la sem medo. Bella tinha as mãos debaixo do travesseiro, um sinal de que tentava dormir.

—Edward? – chamou ela procurando meu rosto na escuridão.

—Sim? – murmurei em resposta.

—Como você sabia que ele não era o meu Thony?

Olhei-a de canto e dei um sorriso enviesado.

—Ele não era loiro.

Bella riu e virou-se para o lado. Suspirei cruzando as mãos atrás da cabeça. O sono ainda não me alcançara, então não fazia sentido aconchegar-me nela de propósito. A morena ainda podia me expulsar dali, alegando conseguir dormir sozinha. Não correria esse risco.

—Edward? – chamou novamente.

—Hm?

—Obrigada por cuidar de mim.

Suspirei de alívio quando as palavras de retirada não vieram. Sorri para o teto quando a realização de trabalho cumprido me bateu.

—De nada. Mas, da próxima vez, faça perguntas específicas antes de acreditar em qualquer um – comentei.

Não que eu quisesse uma próxima vez, contudo, conhecia bem Isabella a ponto de saber que existiriam algumas próximas vezes.

—Está bem – concordou num murmúrio.

Alguns minutos de silêncio se passaram. Sentia-me aliviado porque ela não ficara tão brava comigo e meu deplorável comportamento nessa manhã, mas Bella parecia longe demais ainda.

Olhando-a tentar dormir ao meu lado, imaginei uma vida inteira desses momentos. Ela era adorável quando estava sonolenta. Talvez eu devesse contar para ela a verdade. Durante a noite, Bella não poderia alegar nada, já que eu juraria até a morte que sonhara.

—Bella? – sussurrei temendo acordá-la.

—Oi? – respondeu quase de imediato, virando-se para mim. – Chamou?

—O que você faria se eu fosse o seu Thony?

Ela riu e se aconchegou mais perto de mim.

—Nem eu teria tanto azar.

Meu peito doeu. Certo, eu não poderia contar a verdade. Nunca. Bella não gostaria de saber.

—Por que quer encontrá-lo mesmo?

Deitada em cima de meu peito, ela suspirou. Abaixei uma mão para afagar seus cabelos enquanto esperava sua resposta.

—Quero de volta meu amigo.

—Mas você sabe que sou seu amigo, não sabe?

—Não é a mesma coisa, Edward. Explique-me o que você faria se passasse a vida inteira sabendo que se casaria com alguém e tudo acaba dando errado. Não quereria saber o que poderia ter sido? O que a pessoa pensou quando te viu adulto? Não gostaria de saber que alguém te aceita do jeito que você é?

Suspirei e abracei seu corpo com o braço livre.

—Posso imaginar como se sente, Swan, mas isso não é motivo para uma busca dessas. Anúncio em jornal! Não seria mais fácil contratar um detetive?

Ela desvencilhou-se e sorriu grandemente.

—Podemos?

Revirei os olhos.

—Sinceramente? Essa seria a reação lógica e inicial de alguém que procura por um fantasma.

—Thony não é um fantasma – resmungou.

Dei de ombros e bocejei involuntariamente.

—Tanto faz. Amanhã podemos pensar sobre isso, se quiser. Hoje merecemos desfrutar de um bom descanso.

Ela assentiu e beijou minha bochecha, virando-se para o lado oposto e pedindo que abraçasse sua cintura. Já passáramos dos momentos embaraçosos e Isabella sabia o suficiente sobre a anatomia masculina para entender por que eu simplesmente não chegava tão perto nessas ocasiões.

—Edward? – murmurou ela quando eu estava quase pegando no sono. – Acordado?

—Hm?

—Estava aqui pensando. E se o Thony me aceitar assim quebrada?

Sorri.

—Seria um homem inteligente.

—Mas ele provavelmente não quereria alguém com mais experiência?

—Não. Você é bonita e sensual. A experiência vem com o tempo. Ele seria um imbecil para não ver o seu potencial. Mas por que quer saber?

—Será que eu tenho coragem de ficar com alguém assim?

Alguém assim?

—Um estranho? Não. Você é inteligente demais para cair em armadilhas amorosas. Tenho certeza de que quando se apaixonar, saberá o que fazer. Mas nada garante que seu sentimento é confiável. Afinal, você só conheceu sua versão infantil. As crianças não sabem o que é paixão. O amor delas é puro demais para um sentimento tão carnal.

—E se eu me apaixonar por ele? E se não for só um sentimento infantil?

Abri largamente o sorriso. Aquele seria o bilhete premiado do século.

—Ele será o homem mais sortudo do mundo.

—Pensei que Emmett fosse o homem mais sortudo do mundo.

Eu ri.

—Não conte a ele, mas Rosalie tem defeitos.

—E eu não tenho?

—Todo mundo tem defeitos, Isabella. Os seus são a melhor parte de você. Se colocar na sua mente que ninguém é perfeito, vai ver como a vida se resolve mais fácil. Nem seu Thony será perfeito.

—Eu sei – ela suspirou e virou-se para me fitar. – Se eu te pedisse, me ensinaria a beijar? Acho que perdi a prática.

Eu ri.

—Nem você tem tanta sorte, Isabella.

—Por que não? A sua dama deve saber que você tem dormido na minha cama por quase dois meses, não sabe?

Beijei-lhe a testa.

—Não é por isso. Você não está realmente pronta, Isabella. Quer estar quando o encontrar, mas se ele for mesmo o homem inteligente que você sugere, vai te aceitar mesmo sem saber beijar direito. Vamos dormir, por favor. Antes que eu me lembre de que tem uma mulher gostosa na minha cama e eu não posso tocar nela.

Gargalhando, Bella bateu em meu ombro e deitou a cabeça em meu peito.

—Palhaço. Você não tem jeito mesmo, hein, Cullen?

—Boa noite, Swan – murmurei antes de ignorá-la para dormirmos.

Não se passaram mais de cinco dias para eu encontrar outro homem estranho conversando com Seth e Isabella no apartamento da minha vizinha. Cumprimentei-os vagamente e chamei a Swan para me seguir até meu próprio apartamento.

—Você jurou que tiraria o anúncio do jornal – rosnei.

Bella suspirou, fechou a porta atrás de si e encostou-se ali.

—Eu tirei faz três dias – comentou. – Estou esperando a tua vontade de contatar aquele detetive que comentamos outro dia.

Tentei maneirar na raiva, mas só de lembrar que Seth estava socializando com um rapaz estranho na casa da minha Marie já fazia meu sangue ferver. O olhar acusatório que Isabella lançava em mim também não estava ajudando. Lembrava-me dos dias que Isabella implicava com tudo o que eu decidia na empresa. Dessa vez, a errada era ela.

—E o que esse cara está fazendo na sua sala?

O olhar sonhador dela voltou e tive ganas de sacudi-la para voltar à realidade.

—Alice disse que o Thony foi procurar-me na empresa, acredita? – falou com um sorriso. – Ele me procurou, Edward! Ele me encontrou do jeito que disse que faria!

Bufei de incredulidade. Ela era retardada?

—Poupe-me! O idiota sabe que você tem 20% das ações de Ocean e quer se beneficiar com isso. O cara nem mesmo se parece com a sua descrição do Thony!

—Claro que se parece... espera um pouco aí! Que história é essa de vinte por cento das ações? De onde veio isso? Edward, o que você e a louca da sua irmã fizeram dessa vez?

Merda de boca! Preciso que isso volte para a crise atual.

Pensa, Cullen. Pensa!

Ah, claro. O rapaz deve ter bajulado ela por tempo suficiente para que não desse a chance dessa sonsa questionar alguma coisa.

Por favor, Deus, que ela volte à crise atual e esqueça essas ações. Só por agora.

—Faça um teste com ele, Isabella – mudei de assunto. – Faça perguntas que só o seu Thony saberia a resposta.

—Mas, Edward, se passaram tantos anos! É possível que o homem não se lembre de nada do que eu perguntar. Eu entendo isso.

Ah, sim! A memória curta das crianças. Não é algo com o qual precisei me preocupar, já que minha memória era melhor do que a maioria. Infelizmente porque daria a Ocean e todo meu dinheiro para poder esquecer certas coisas. Aquela história de esquecer-se não colava comigo.

—No entanto, lembrou-se de uma promessa dita uma única vez – apontei o erro em sua observação. – Por que não se lembraria de coisas feitas várias vezes?

—Tens razão. Se eu me lembro, ele deve lembrar-se de algumas coisas, não é?

—Exato.

Então ela voltou ao seu impostor atual e questionou sobre o que sugeri. Claramente, o rapaz não tinha noção da infância. Puxou uma conversa estranha que fez Isabella se frustrar e o enxotar da casa. Agradeci mentalmente por isso e consolei a garota antes de ligar para Randall e pedir seus serviços. Isabella retribuiu-me com um abraço caloroso que fez com que me sentisse sujo por lembrar que eu falaria com o homem para que enrolasse minha vizinha para longe da verdade.

 No entanto, os esforços do homem para deixar passar meu passado despercebido me custaram um pouco mais, porque, é claro, eu estaria pagando porque prometera à moça que ajudaria nas buscas com um bom cavalheiro.

Deixar Randall cuidar do caso fez com que me preocupasse um pouco menos com o bando de rapazes que inventava de abordar Marie na rua. Seth se dispôs em ser o guarda-costas dela e aprovei a boa-vontade do vadio, já que o trabalho o mantinha sóbrio e focado. Contudo, as loucuras ainda passavam por mim quando ela relatava seus dias antes de cair no sono.

Passaram-se dias e estávamos prestes a sair de casa para almoçar com Alice e Jasper, quando o telefone dela tocou.

—Avisa àquela baixinha que já estamos indo – falei pegando as chaves do carro. – E peça para que ela reserve uma mesa mais discreta.

A última vez que fomos a um restaurante com a criatura, seu pai biológico e Carter fizeram um escândalo ao afirmar que minha irmã não era digna de afeto, porque só estava escolhendo Jasper por causa do dinheiro dele. Já que nem Cullen ela era. Praticamente derrubei a cadeira e parti para cima dos otários, mas Alice, sendo a dama criada por Esme, respondeu-lhes que já era maior de idade e ambos estavam ciumentos porque não teriam como viver às suas custas. Fiquei feliz por sua ação autossuficiente, porém, tivemos que contar à Isabella sobre como Alice integrou nossa vida. E o jantar foi arruinado pelas meninas emocionadas.

—Não é a sua irmã – Bella respondeu com ar de superioridade.

Estranhei e tentei ver sobre seu ombro, no entanto, ela escondeu a tela de meu olhar curioso.

—E quem é então?

—Thony.

Bufei. Se não soubesse que Isabella ficaria muito mais decepcionada do que fica quando descobre sobre esses falsos, teria dito quem sou. A decepção em seus olhos dirigida a mim não valia a pena da verdade.

—Mais um? – reclamei. – Não vai aprender?

—É ele – insistiu teimosamente. – Dessa vez, tenho certeza.

Ergui uma sobrancelha e cruzei os braços.

—Nos encontramos outro dia – apontou.

Ergui as duas sobrancelhas. Como é? Quando foi isso? Como eu perdi isso?

A Swan deu-me um sorriso presunçoso. Quis dar um soco na cara dela para desmanchar a expressão. Não que eu batesse em mulher, mas vontade não me faltava nesses momentos.

—Fiz o que você pediu, Edward, questionei coisas que o Thony saberia responder. O rapaz soube. Portanto, esse é o meu Thony, queira você ou não.

Engoli em seco para não xingar o novo bastardo e a ingenuidade da morena.

—Ah, sim? E, por acaso, ele sabe como era seu vestido favorito? Sabe sobre os penteados que você usava? Esse cara tem uma irmã, pelo menos?

Bella soltou uma respiração pesada e cruzou os braços, fuzilando-me com o olhar.

—Qual seu problema? Eu acredito que encontrei o homem que estamos procurando por quase dois meses e você surta?

—O que quer que eu faça enquanto você se ilude com um maldito impostor? – gritei.

—Ele não é um impostor, Edward! Jesus, coloque isso na sua cabeça!

Argh!

—Ah, é sério? – irritei-me. – E ele sabe que seu vestido favorito era azul-claro e tinha várias borboletas pelo corpo? Ele sabe como seu cabelo era comprido e você adorava deixar uma mecha de cada lado do rosto, para enrolar nos dedos, mesmo quando a sua mãe insistia em prendê-los? Esse Thony sabe que quando você brincava de esconde-esconde corria direto para o quarto dele porque achava que nunca ninguém a procuraria ali? Esse cara sabe disso, Isabella?

Os olhos da morena se arregalaram e a respiração dela prendeu. Suspirei frustrado, passando a mão pelos cabelos e desviando os olhos dos dela. Preparei-me para a futura mentira que sabia precisar utilizar depois de despejar tanto conhecimento em sua cabeça.

—Okay, Cullen. Agora diga-me: como você sabe dessas coisas?

Aí estava! Merda. Tia Renée que me perdoasse depois.

—Eu... tenho umas fontes, sabe? – inventei. – Elas são meio que sua mãe e melhor amiga. Alice e Renée, conhece? Então, como combinamos que eu te ajudaria a encontrar o cara, precisei de algumas informações a mais e...

—Aquelas tratantes! – rosnou Isabella. – Por que você não perguntou para mim? Quer dizer, como elas puderam me trair desse jeito? Eram segredos! Confissões de paixonite infantil! Não fazia sentido nem mesmo sua irmã guardar essas informações!

Suspirei de alívio internamente. Eu não estava pronto. Ela mesma não estava pronta para saber como eu sabia daqueles detalhes.

—Pergunte a ela no almoço – comentei balançando a chave do carro.

—Não vou almoçar com vocês – anunciou.

Travei. O quê?

—Thony estava justamente me chamando para almoçar com ele, então, deixarei vocês na mão dessa vez. Tenho certeza de que Alice e Jasper entenderão quando você falar.

—Foda-se esse cara, Isabella – reclamei. – Você tem que vir. Alice disse que queria te contar sobre as ações da empresa antes da sua volta. E, QUE PORRA, você volta amanhã!

Ela revirou os olhos e a raiva pulsou em mim novamente.

—Sempre podemos ter conversas de adultos enquanto você está deitado na minha cama.

Rosnei.

—Não terei conversa nenhuma na cama. Na verdade, acho que, já que você encontrou o seu Anthony, podemos suspender minha aparição em seu apartamento durante a noite. Ele que venha cuidar da pequena Marie dele.

E saí batendo a porta.

—INFANTIL! – gritou ela quando alcancei o elevador.

—Não sou eu quem estou me iludindo com um estranho, no fim do dia – retruquei entrando no elevado e acenando.

Isabella me alcançou antes que a porta se fechasse a prendendo no quinto andar. Pisou no meu pé com força e sorriu grandemente quando eu grunhi.

—Quem está sendo infantil agora, Swan?

Como resposta, mostrou a língua e eu ri.

 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? O Edward não parece meio mole demais? Ainda estou processando o fato de que eles têm dormido juntos todas as noites e ainda não se mataram! Falem-me o que acharam, por favor! E perdoem-me pela demora! Beeijos!



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