Sweet and bitter love escrita por Ka Howiks


Capítulo 20
Quebra de barreira


Notas iniciais do capítulo

Boa noite pessoal, como estão? Sim, estou BEM atrasada e peço minhas sinceras desculpas pelo sumiço. Li os comentários( e pretendo responde-los após postar aqui) e acho divertidíssimo ler os surtos de vocês kkk. Mais um vez, agradeço todo o carinho que venho recebendo, vocês são maravilhosos!
Sobre o capítulo: no passado estamos no momento crucial e a tão terrível conversa entre Felicity e Oliver irá acontecer.
No presente: teremos o retorno de uma das minhas personagens favoritas que irá balançar( e arrumar, com o seu jeitinho de furacão e espontaneidade) a vida do nosso casal. Sim, é ela! Nossa amada Mama Smoak.
Escolhi " Quebra de barreira" como o nome do capítulo porque é realmente isso, tanto no passado quanto no presente( em parte pela maravilhosa Donna Smoak :) )
Beijos e boa leitura ♥



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Star City 2015 

 

— Oliver?

 

Seu murmúrio se repetiu, quase inaudível aos ouvidos de Tatsu. Reclinou-se  para a frente, e ao ter a confirmação por seus próprios olhos de que conhecia aquele agente se encostou no banco, abalada. Não podia ser, simplesmente não podia…

 

Não podia ser Oliver.

 

Não o seu Oliver.

 

— Acho melhor irmos.- disse Tatsu em tom baixo, analisando Felicity que continha os olhos cravados a frente.- Vou deixá-la em casa.

 

— Não.- respondeu seco.- Eu não vou pra casa.

 

— Mas…- se calou diante de seu olhar petrificado.- Onde?

 

— Mansão Queen. Agora.

 

Seu tom não a deixou alternativa, e de certo modo, Tatsu se solidarizou, ela estava magoada.

 

Quebrada.

 

Conhecia bem a sensação.

 

Felicity o olhou uma última vez, segurando as lágrimas, no entanto, confrontar Moira ainda parecia ser o melhor dos cenários. Ele trabalhava com ela.

 

Ao menos parecia trabalhar.

 

Balançou a cabeça. Talvez houvesse um mal entendido, talvez Oliver estivesse ali por uma coincidência muito interessante, que incluísse Sara. Céus.

 

Sara estava lá também. 

 

Sua melhor amiga.

 

Seu estômago se revirou, a deixando nauseada. Aquilo precisava ser mentira, precisava...talvez na realidade, ela precisasse se apegar a algo, pois se aquilo fosse verdade, por mera probabilidade que fosse, não havia dormido com seu marido nesses quase dois anos de casados. Havia dormido com um agente.

 

Um estranho.

 

E ainda por cima havia sido apunhalada pela própria amiga.

Começou a se recordar de pequenos momentos. A distância de Sara, que evitava por diversas vezes encará-la, a mudança de humor de Oliver nos últimos dias, como reagiu ao saber da A.R.G.U.S... De fato, nunca demonstrou nenhuma emoção ligada a citação da empresa que não envolvesse preocupação a Felicity.

 

Havia sido preocupação mesmo?

 

Preocupação com ela? 

 

Ou tudo não passara de fingimento?

 

Apertou os lábios, não poderia chorar agora. Tatsu parou em frente ao enorme portão dos Queens e Felicity, em um movimento rápido, bateu a porta com força. Escutou sua voz.

 

— Posso esperá-la aqui se quiser. Não está em condições de dirigir ou andar por aí.

 

— Se eu demorar vá, tudo o que eu preciso é ficar sozinha

 

Tatsu assentiu, mas se negou a sair. Felicity teve sua entrada autorizada pelos seguranças, que já estavam habituados a sua presença. Marchou a passos duros até a entrada, mas ao levantar a mão, parando a centímetros da madeira da porta se sentiu impotente. Suas pernas estavam trêmulas, coração disparado e a mandíbula fechada. Perguntaria, mas se as respostas se confirmassem…

 

Felicity não sabia o que fazer.

 

Nem o que sentir.

 

Tudo o que sabia era que precisava bater na maldita porta.

 

Reuniu a coragem e bateu repetidas vezes. Raisa abriu, estranhando sua visita. Seus olhos se arregalaram, confusos ao encará-la.

 

— Felicity?

 

— Onde está Moira?- perguntou direta, a governanta estranhou seu tom brusco.

 

— Está tudo bem, querida? Talvez queira tomar um chá…

 

— Onde está Moira?

 

Repetiu, firme. Sabia que estava sendo uma idiota. Raisa a adorava, mas naquele momento não conseguia se conter. Tentou controlar sua respiração, respirando fundo. Ela não merecia aquilo.

 

— Desculpe.- pediu com a voz embargada, precisava fazer o que planejava logo, estava ficando cada vez mais difícil se segurar..- Onde está Moira, Raisa? E não ouse mentir pra mim.- a advertiu no meio de uma desculpa.- Eu sei que ela não foi a jantar nenhum.

 

— Ela…

 

— Lis?- chamou Thea, confusa ao encontrá-la na porta.

 

— Ótimo.- suspirou Felicity impaciente.- Onde sua mãe está?

 

— No quarto.- deu de ombros, Felicity lançou um sorriso irônico a Raisa, que se desculpou pelo olhar. 

 

— Com licença.

 

Passou entre as duas, cada vez mais raivosa. Raisa tentou encobri-la, o que significava que por suas ordens, não havia sido a primeira vez. Se enfureceu ainda mais. Abriu a porta com brusquidão, a encontrando sentada na ponta da cama, tomando uma taça de vinho. Entreabriu os lábios, surpresa ao ver a figura da nora ali.

 

— Um belo jantar de negócios, não?- perguntou sarcástica. 

 

— Eu cheguei a pouco tempo.- respondeu calmamente.- Oliver teve…

 

— Não faça isso.- interrompeu Felicity, sentindo sua garganta fechar.- Não ouse mentir pra mim Moira.

 

— Foi uma emergência de última hora. Saímos juntos, se tiver dúvidas ligue pra ele, tenho certeza…

 

— Chega.- pediu fraca. Lágrimas quentes escorreram pelo seu rosto.- Eu sei de tudo.- Moira arqueou as costas, paralisada.- Eu sei que Oliver é um agente da A.R.G.U.S

 

Um longo minuto de silêncio se estendeu pelo quarto. A falta de resposta de Moira, seguido por seu olhar baixo a deixou apavorada. Era verdade.

 

Tudo era verdade.

 

Um soluço a escapou. Cobriu os lábios, balançando a cabeça negativamente. O homem que jurou amá-la, honrá-la, que compartilhou uma vida era um completo estranho. Felicity não conhecia Oliver.

 

Não tinha ideia de quem ele era.

 

Uma súbita raiva a atingiu. Como fora idiota sendo enganada esse tempo todo! Agora tudo fazia sentido. A maneira como a A.R.G.U.S ficara tão íntima dos planos do FBI, sabendo exatamente quando e como agir. Ela o contava tudo, e Oliver, como um excelente ator, a entretia enquanto arrancava resposta, usando seus charmes…

 

Os toques…

 

Sua vontade de vomitar duplicara.

 

— Felicity eu…

 

— Como pode compactuar com tudo isso?- perguntou, a olhando desesperada.- O ajudando com as mentiras, e me usando como uma idiota!- gritou. Apertou os cabelos com força.

 

— Há uma perfeita explicação para isso querida.- falou Moira se pondo de pé, tentando acalmá-la.- Ele a ama…

 

— Não ouse falar em amor pra mim!- gritou mais uma vez, sentindo seu peito subir e descer, ofegante.- Isso têm haver com traição, mentiras, não há nada que envolva amor aqui

 

— Oliver iria te contar, estava desesperado para isso, só queria protegê-la.- tentou argumentar, Felicity sorriu, em tom irônico.

 

— Realmente, ele parecia angustiado em me proteger.- fez aspas.- E realmente desesperado com a nossa relação.

 

— Oliver não queria tudo isso Felicity.- falou Moira, olhando no fundo de seus olhos. Sua angústia era visível.- Aceitar aquelas ordens não foi fácil pra ele. No começo eram apenas informações, mas quando isso chegou a você ele ficou sem saber o que fazer!- a nora apertava os lábios.- Como a invasão a casa de vocês. Se você soubesse como ele ficou…

 

— Ah meu Deus.- murmurou atormentada. Colocando a mão na cabeça, como se contivesse alguma dor.- Ele sabia do ataque?- perguntou horrorizada.- Deixou que apontassem uma arma pro filho dele? Em mim?- sua voz falhou

 

Sua mente voltou aquela noite, sentindo a mesma tensão, o mesmo frio na espinha e o mesmo terror a percorrerem outra vez. Oliver sabia da invasão, deixou que a machucassem, colocando a ponta do metal gélido, que ainda sentia quando acordava de um pesadelo, em seu rosto. Deixou que destruíssem sua casa. Céus.

 

Ele nem se importou com o próprio filho!

 

Tudo era pior do que pensava.

 

Se apoiou a maçaneta, fraca. O amor de sua vida, o qual desejou viver o resto de seus dias só se aproveitou dela. A usou, por conveniência. Não havia amor, não havia sentimento, não havia nada, apenas um rosto gélido, que por ser bem treinado, atuou, por todo esse tempo ao seu lado. O verdadeiro Oliver era aquele que viu naquela noite. Frio, calculista, que seria capaz de tudo para obter êxito em sua missão, custe o que custar.

 

Havia custado demais para ela

 

. Chegava a ser irônico lembrar que a pessoa que era considerada seu porto seguro, fora a própria que a deixou desolada, que a pôs em perigo. Felicity o amou.

 

Amou um desconhecido.

 

Que não a via mais que um objeto útil.

 

— Eu sinto muito querida.- murmurou Moira. Felicity ergueu o olhar, vermelho por conta do choro.- Se você soubesse…- suspirou.- Às vezes, quando amamos alguém fazemos de tudo para protegê-los, qualquer coisa.- enfatizou.- Perder você sempre foi o maior medo dele.

 

— Uma pena que isso já tenha acontecido.- sorriu tristemente.- Tenha uma boa noite Moira.- passou pela porta, não antes de a olhar uma última vez.- Vocês são realmente parecidos. A forma de mentir tão facilmente, sem se importar com os outros deve ter sido sua.- a Queen entreabriu os lábios, afetada por seu comentário.- O ensinou muito bem.

 

Seguiu a passos rápidos pelos corredores. Ficar naquela casa estava a deixando claustrofóbica. Já havia sido forte o suficiente, conseguindo as não tão desejadas palavras, não precisava mais se segurar.

 

Poderia desabar.

 

Poderia terminar de ruir.

 

Não sabia exatamente como desceu as escadas, já que sua visão estava nublada pelas lágrimas. Sua mente estava um turbilhão, e toda linha enrolada naquele enorme nó levava apenas a uma ponta.

 

Seu casamento havia sido uma mentira.

 

Sua vida havia sido uma mentira.

 

Cada sonho planejado, cada momento juntos, e o calor que sentia sempre quando estava com Oliver, as juras de amor, tudo não significava nada.

 

Tudo não passara de uma mentira;

 

O amor, ah o amor. O que aquele sentimento havia lhe proporcionado? A melhor das vidas.

 

E a pior delas.

 

Os dois lados da moeda.

 

Era um sentimento confuso, incontrolável, e ela o amava, amava muito, e se odiava por isso. Esbarrou em Thea ao se dirigir à porta dos fundos, tendo como resposta o olhar alarmado da Queen mais nova.

 

— Lis? O que..

 

— Eu só quero sair daqui por favor.- falou com a voz trêmula.- Eu sinto muito Thea.

 

— Hey.- a abraçou, confusa. Felicity soluçou.- Quer que eu a leve pra casa?

 

— Não.- negou, limpando os olhos.- Tenho alguém me esperando, não se preocupe.- Thea assentiu, hesitante.- Boa noite.

 

E a deixando com um olhar preocupado, saiu, aos tropeços. O refresco da noite não mudou em nada sua falta de ar, sabia que nada naquele momento a ajudaria. Estava sozinha.

 

Quebrada.

 

Enganada pelo amor de sua vida.

 

***

 

A operação foi um verdadeiro sucesso. Conseguiram conter as duas substâncias que dariam origem ao vírus Omêga. Porém, ao notar a presença do FBI o coração de Oliver acelerou.

 

O que estavam fazendo ali?

 

Seus lábios se entreabriram, confusos. Olhou para Diggle, que da mesma forma, se encontrava tenso. Havia algo errado.

 

Muito errado.

 

Não houve tempo para resposta, já que no momento seguinte, dois braços o guiaram até a lateral perto dos carros. Encarou Tommy e John confuso, mas ao checar seus semblantes apreensivos, soube na hora que algo ruim estava por vir.

 

— Vá para casa, agora.- murmurou John em tom baixo.- Evite a todo custo o encontro com os federais e troque de roupa.

 

— Mas…

 

— Watson está aqui.- interrompeu Tommy, o deixando sem palavras.- Ela sabe, Oliver.- o viu engolir em seco.- E a essa altura…

 

— Não.- ficou pálido. Sua voz não passava de um cochicho.- Não.- Tommy e Dig se entreolharam, piedosos.

 

— Vá pra casa.- repetiu o amigo. Oliver permanecia estático.- Ela precisa ouvir você.

 

— Será que você não entende?- Ergueu a voz, desesperado. John recuou.- Não há o que dizer, acabou.- seu olhar ficou vazio.- Felicity jamais me perdoará por isso.

 

***

 

Oliver subia no elevador alarmado, com apenas um fio de esperança. Talvez a notícia não tenha chegado até seus ouvidos, como um presente do universo, dando a chance de dizer o que tanto evitará. Seria melhor ela ouvir dele, poderia explicar tudo, de uma forma que compreendesse. Já havia imaginado como contaria, mas o final de seus pensamentos sempre era assombroso. Oliver estava apavorado.

 

Apavorado com a possibilidade de perdê-la.

 

Aquilo não era uma opção, não enquanto pudesse lutar por ela.

 

As portas do elevador abriram, e como um furacão, correu até a entrada, soltando um palavrão baixo por não acertar a fechadura pela tremedeira em suas mãos. Ao abrir, se assustou com a escuridão da sala, sendo a única fonte de luz o corredor acima, vindo de seu quarto.

 

— Amor?- chamou, enquanto subia as escadas. Seu traje estava no carro, no entanto, sentia que não fazia mais diferença escondê-lo ou não.- Oi Lis.- sorriu aliviado ao encontrá-la com um quadro nas mãos, de costas. Ao que parecia, havia ganhado um presente do universo.

 

Era hora de contar.

 

Respirou fundo, reunindo coragem.

 

— Como foi o jantar?

 

— É… Bom.- sorriu, a viu assentir, e colocar a fotografia da lua de mel em Positano na mesa de cabeceira.- Demorei um pouco porque tive que resolver uns problemas.

 

— Problemas?

 

—  Nada com que tenha que se preocupar, somente algumas divergências com clientes.- respondeu, estranhando, pela primeira vez seu comportamento.- Nós…

 

— Foi sempre tão fácil assim pra você?- seu tom o deixou confuso.- Parece fácil.

 

— O quê?- perguntou.- Felicity…- a chamou, se aproximando, a esposa continha o olhar baixo.- Olha pra mim.- pediu.- Olha.Pra.Mim.- repetiu pausadamente enquanto a virava em sua direção, e  ao observar seu rosto, vermelho por conta do choro, engoliu em seco. Ela sabia.

 

Sabia de tudo.

 

Sua mão que segurava seu braço cedeu, fraca. Felicity continuou a encará-lo, e Oliver pode ver, através de seus olhos, o quanto havia a machucado. Sua mandíbula se fechou. Não sabia o que falar.

 

O que fazer.

 

— Lis eu…- entreabriu os lábios, se sentindo impotente ao formular uma frase. Suspirou, alto.

 

— Eu realmente achei que pudesse ser mentira, e Deus sabe o quanto eu pedi por isso. Mas então eu o vi lá hoje.- sorriu de forma assombrosa.-  Em sua farda, com olhos atentos. Um verdadeiro agente.

 

— É mais complicado do que parece.

 

— O que é mais complicado Oliver?- ergueu a voz, irritada.- O fato de eu descobrir que o meu marido e a minha melhor amiga me apunhalaram pelas costas? Que durante esses quase dois anos o que nós tivemos não significou nada?

 

— Tudo foi real, eu juro.- tentou argumentar, desesperado. Felicity balançou a cabeça em negativa.- Eu amo você Felicity, mais que tudo.

 

— Para.- levantou a mão. Cobriu seus lábios novamente, segurando as lágrimas que ardiam ao descer.- Eu não quero ouvir outra mentira.

 

— Eu amo você.- repetiu urgentemente. Felicity recuou ao vê-lo dar um passo, o que o fez ficar paralizado.- Eu fiz muita coisa errada, mas isso Lis.- apontou para os dois.- Isso foi real.

 

— A única coisa real aqui é que eu descobri que o meu marido e a minha melhor amiga são os dois infiltrados na minha agência!- disse desesperada.- As duas pessoas que eu mais confiei no mundo foram as responsáveis por tudo isso. Destruíram o meu projeto.- o olhou com raiva.- Como você pode? Eu confiei em você, confiei uma vida, eu amei…- sua voz falhou.- Eu amei você.

 

. Um frio o percorreu à espinha ao ouvi-la usar a palavra no passado, e seu corpo tremeu, tremeu com a possibilidade de perdê-la. Se sentiu um covarde, e uma das piores criaturas do mundo por ocasionar aquele sofrimento a ela. Sua respiração ficou pesada, e tomado pelo pavor, a trouxe para perto de si. Felicity não relutou muito, estava cansada, e de certa forma, queria senti-lo mais perto. Oliver segurou seu rosto com ambas as mãos, a impedindo que olhasse para outro lugar que não fosse suas esferas azuis, carregadas por lágrimas.

 

— Eu mereço todo o seu ódio e repulsa.- sua voz grave a fez estremecer.- E você tem todas as razões do mundo para não acreditar em mim. Mas quando eu digo que amo você, estou sendo o mais puramente sincero.- seus lábios se encostaram brevemente.- Porque eu te amo, muito, isso não foi um joguinho pra mim Felicity.- viu seus olhos serem tomados por um brilho diferente, afiado, imponente.

 

— O que você sabe sobre o amor, Oliver?- sussurrou entre seus lábios.- E aparentemente eu não sei nada também.- sorriu melancólica.- Até porque, como posso amar alguém que mal conheço?

 

Suas palavras o atingiram em cheio. Felicity se afastou, limpando o rosto e parando ao lado da porta. 

 

— Eu não vou dormir aqui.- tentou se recompor. Oliver, ainda em transe, virou o rosto para encará-la.-  E não precisa fingir preocupação, ok? Ambos sabemos que você é frio demais pra sentir qualquer tipo de emoção. É calculista, um verdadeiro agente.- o olhou com desdém.- Espero que tenha ficado satisfeito com o resultado de sua missão, porque ela custou muita coisa.

 

Seus olhares se cruzaram uma última vez. Felicity pegou uma pequena bolsa e saiu, abalada, enquanto Oliver permaneceu sozinho, e ao escutá-la bater a porta com força desmoronou. Um choro mudo o tomou, e ao pegar o quadro do casal, acariciou o rosto de Felicity com o polegar.

 

— Eu sinto muito meu amor.- sussurrou. Apertou as mãos com força, jogando o retrato no chão logo em seguida.

 

E com os cacos de uma vida, ele se sentou no chão, destruído. Aquela missão havia lhe custado tudo.

 

Inclusive o amor da sua vida.

 

*** 

Atualmente

 

— Então resumidamente isso são bolas que soltam tiros e lasers?- perguntou Roy, fascinado pelas esferas-T quase prontas.

 

— São…

 

— As bolas super potentes do Curtis.- falou Tommy os fazendo rir.

 

— São instrumentos metálicos altamentente avançados, que além de soltarem lasers podem copiar e acessar qualquer banco de dados.- respondeu Curtis.- Bom, fariam tudo isso se estivessem prontas, o que não é o caso.- o lançou um sorriso amarelo.- E se as chamar de bola mais uma vez eu juro que as programo para seguir você.- apontou o dedo para Tommy, que colocou a mão sobre o peito, chocado.

 

— Ele me lembra a…

 

— Eu sei.- sorriu Felicity tristemente para Roy, que segurou sua mão em gesto de conforto.- Não deveria estar treinando com Oliver?

 

— John está treinando com ele na realidade.- deu de ombros, um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.- Mas acredito que, se descer com passos leves, ainda pode vê-lo em camisa.- sugeriu, arqueando as sobrancelhas. Felicity bufou.

 

— Cada dia que passa penso se não deveria ter deixado Damien o torturar um pouco mais.- revirou os olhos.

 

— Sabemos que você jamais faria isso.

 

— Continue me testando.- o ameaçou, Roy piscou em sua direção. Sua atenção foi desviada ao barulho emitido pelo celular, indicando que as informações chegaram.- Já era hora.- suspirou.- Parece que o vice-diretor quer falar com a gente. Tommy? Pode chamar Oliver pra mim lá embaixo? Fale que recebemos a nova missão.

 

— Pode deixar chefinha. 

 

O moreno desceu a passos calmos. Ao chegar no andar dos exercícios, encontrou John e Oliver lutando com dois pedaços de bambu. Ambos pararam quando notaram sua presença, ofegantes. 

 

— A Lis pediu pra te chamar, ao que parece, os detalhes da nova missão chegaram.- informou. 

 

— Declaramos empate então.- falou John, limpando a testa suada.

 

— Por hora.- sorriu Oliver, também ofegante.- Já estamos subindo.

 

Trocou um olhar demorado com Tommy que assentiu. John os deixou, e quando sozinhos, o moreno arqueou as sobrancelhas, curioso.

 

— O que quer falar?

 

— Como você está?- perguntou. Não precisou explicar ao que se referia, já que no momento seguinte o mesmo hesitou. Seu olhar brincalhão perdeu o brilho por uns instantes.

 

— Se acha que devo visitá-lo perdeu o seu tempo.- respondeu em tom hostil.- E pouco me importa se ele está em prisão domiciliar. Eu não…

 

— Tommy…- o interrompeu, colocando a mão sob seu ombro.- Eu perguntei como você está.

 

Respirou fundo, se recompondo do pequeno ataque de fúria. Quando mais calmo, encarou Oliver com sinceridade.

 

—Chateado,magoado.- sorriu em tom irônico.- Há uma série de coisas que sinto em relação a ele. Mas me parece que você está preocupado com outra coisa.- observou.- O que é?

 

— Está chateado com a gente? Por ter mentido?- questionou. Sabia que Tommy estava sentindo muitas coisas, e se alguma delas fosse por sua culpa queria resolver.- Por eu ter decidido que não contaríamos a você?

 

— Vocês não mentiram, apenas omitiram.- constatou.- E claro, no começo eu fiquei meio sentido quando você e Felicity me contaram, mas não foi com vocês.- seus lábios se entreabriram.- Foi comigo, por ter acreditado nele de novo, e mais uma vez quebrar a cara.- inspirou alto. O olhou novamente, e com um sorriso gentil disse- Você só fez o que irmãos fazem, quis me proteger, e eu realmente aprecio isso.

 

Oliver sorriu, aliviado. Poderiam não ser irmãos de sangue, no entanto, Tommy era e sempre seria sua família, mesmo que de vez em quando desejasse matá-lo.

 

— Você mudou.- comentou após um tempo, Tommy o encarou.- Felicity disse que não ficaria bravo.

 

— Ela geralmente tem razão.- partilharam um sorriso.- Você também mudou.- o analisou. Seu olhar se tornou mais analítico..- Seus problemas para dormir parecem ter melhorado também.- Oliver abaixou o olhar.- Sei que não gosta de falar disso, mas nas missões antigas, antes de entrarmos aqui, eram bem mais constantes. Está mesmo melhor?

 

Oliver sabia que o amigo  já havia o visto em um de seus pesadelos. Se recordava bem ao ser acordado e encontrar o olhar alarmado de Tommy, Sara e John, preocupados. Foi uma das piores sensações que sentiu.

 

Odiava ser visto vulnerável. 

 

— Eu ainda acordo.- encarava os pés.- Mas é diferente.- uma ruga surgiu entre suas sobrancelhas.- Sem gritos, sem tanta ansiedade, eu apenas acordo.- suspirou.- Não sei o que aconteceu.

 

— Eu sei.- Oliver ergueu o olhar.- E você também.- Tommy revirou os olhos em impaciência.- Felicity.

 

Oliver permaneceu mudo, o que o fez sorrir. 

 

—Vocês estão tendo alguma coisa, não é?- continuou.- Caitlin meio que me contou.

 

— Estão fofocando sobre a gente agora?

 

— Ela é minha namorada, se eu não fofocar com ela então com quem vou?- Oliver balançou a cabeça, divertido.- Sei que a história de vocês é complicada, mas acho que, para duas pessoas que se amam tanto, uma segunda chance é definitivamente merecida, não é?

 

— Talvez.- assentiu.- Agora vamos, já demoramos demais aqui.

 

***

 

A equipe se encontrava reunida na sala de reuniões. Poucos minutos após o combinado, o vice-diretor da A.R.G.U.S apareceu, lançando um aceno breve.

 

“- Um bom dia a todos.- os cumprimentou.- Antes de começarmos tudo isso, tenho algumas palavras ao senhor Harper.- Roy endireitou a postura, nervoso.- Pelos dados recém enviados pelo agente Queen, seu desenvolvimento na equipe está evoluindo gradativamente, o que é excelente. No entanto…- o sorriso de Roy sumiu.- A senhorita Waller insiste em querer continuar sua fase de teste, e a missão de hoje, pode garantir ao senhor sua entrada definitiva.”

 

— Sem pressão.- ironizou Sara.

 

“- O caso que iremos abordar desta vez está ligada a um homem poderoso, chamado Joseph O’Brien.- a imagem de um homem em volta de seus 35 anos apareceu, com cabelos caramelos e pele bronzeada.-

 

 

— O’Brien?- repetiu Laurel.- Da grande família O’Brien? Conhecidos principalmente por seus investimentos no mercado financeiro e retornos exorbitantes?

 

 

 - Exatamente. O senhor O’Brien está sendo investigado pelo FBI pelo assassinato de mais de seis mulheres jovens, algumas turistas e baristas, que foram encontradas, após serem violentadas, nas mais diversas regiões de Las Vegas, todas com um corte fino nos pulsos,  sendo a última, Jennifer Daley, localizada em Hederson, a 20 quilometros da área badalada por turistas. Joseph é dono do clube “ La Aventura”, tendo como sócio Kevin Pérez, que controla o local enquanto o dono  fica fora resolvendo seus negócios.- frisou, as meninas fecharam a cara.- Usem Kevin Pérez ao seu favor, se aproximem e consigam provas, sem elas, um homem poderoso como Joseph jamais ficará atrás das grades, além de este não ser seu único crime. Se infiltrem, arranquem informações, atraiam Joseph e o capturem. Alguma objeção?”

 

 

— Vegas, certo?- perguntou Felicity, que embora incomodada pelo caso, estava com o coração aquecido por visitar sua cidade natal.- Onde ficaremos hospedados?

 

— Watson me avisou sobre isso.— sorriu em sua direção.- Ficarão hospedados na casa de Donna Smoak, já entramos em contato e a mesma aceitou prontamente.— Felicity entreabriu os lábios, surpresa.- Considere um agrado de sua chefe.- piscou, a loira sorriu.- Se era só isso, desejo uma boa sorte agentes.” 

 

A ligação fora finalizada e, embora a perceptível animação de Felicity, assim como as dos demais agentes, Oliver se sentia tomado por desespero. Iria rever Donna, e até onde sabia, havia deixado sua lista de favoritos há muito tempo, e isso nem era o que mais o incomodava. Só ao imaginar seu olhar, antes gentil e caloroso, agora raivoso e frio o deixava desarmado.

 

—... Vegas e ainda por cima Donna.- ouviu Tommy dizer, aparentemente feliz.- Vai nos mostrar onde fazia seus jogos clandestinos, Lis?

 

— Talvez eu mostre.- sorriu.- Mas vocês quatro.-apontou para Ray, Laurel, Caitlin e Tommy.- É melhor se prepararem, porque ela vai literalmente surtar ao saber que estão juntos. Já peço desculpas.- sorriu constrangida, Tommy deu de ombros.

 

— Uma conversa inteira sobre mim e Caitlin? Onde está a parte ruim nisso?- brincou, Caitlin balançou a cabeça, divertida.

 

— Eu também estou preocupada.- cochichou Sara a Oliver.- Será que ela vai nos tratar bem?- perguntou, preocupada.

 

— Espero que sim.- tentou a confortar, mas o sentimento interno angustiante tomava conta de seus lábios. Sara suspirou fundo.

 

— Está na hora de resolver problemas antigos.

 

***

Após algumas horas voo a equipe desembarcou na animada Las Vegas, que por ser de dia, deixava ofuscada suas luzes, que atraiam, como armadilhas, as pobres e inocentes almas as suas mais elaboradas formas de diversão. Las Vegas era conhecida por suas leis( na maioria das vezes ignoradas por seus visitantes) que se diferenciavam da maioria das outras nos Estados Unidos, que de certa forma, dava às pessoas uma sensação de “liberdade”.

 

Joseph O’Brien levava isso muito a sério.

 

Sua família continha uma alta reputação. Seu pai fora do mesmo ramo e agora, como sucessor da herança familiar, fazia investimentos e convencia seus clientes a confiarem em sua empresa de ações. Era um homem bem visto, casado.

 

Aparentemente perfeito.

 

Mas não era. 

 

Seu clube, pelo o que os agentes foram notificados, era muito badalado. Sempre cheio, com música, luzes, bebidas( e outras formas de prazer) entretém os convidados. Os desaparecimentos das jovens começaram a tomar um conhecido maior do FBI após a terceira morte, exatamente igual às anteriores. Jovens, atraentes, em busca de diversão, que de uma hora para outra( segundo testemunhas) recebiam convites para as festas mais luxuosas da cidade do pecado. Era um padrão.

 

Que começou a tomar visibilidade.

 

Joseph continha visibilidade no mercado financeiro, sempre bem visto em suas palestras. Seis assassinatos( e um pouco mais, que ainda estavam sob investigação do FBI) certamente se tornariam um escândalo, principalmente por suas outras atividades. A agência Federal o queria atrás das grades.

 

Imediatamente.

 

Keviz Pérez, seu sócio do clube, era um dos membros mais importantes que conseguiriam dar êxodo à equipe para o colocar atrás das grades. Ele era geralmente o responsável de avisar Joseph sobre alguma companhia interessante, e seria exatamente o que faria. A equipe o abordaria, se infiltrando no clube em busca de chamar a atenção de Joseph, que havia chegado à cidade três dias antes, pronto para momentos de lazer.

  O clima em Vegas estava quente, beirando os 28 graus. Dois carros os esperavam como de costume, desta vez mais discretos. Felicity dirigiu, sendo a primeira a sair para guiá-los até a residência da mãe. Passaram pela famosa Strip, onde Ray fez questão de parar para que tirassem uma foto em frente a famosa placa que desejava boas-vindas aos visitantes. Passaram por mais cassinos e hotéis, todos luxuosos, sem contar os chafarizes que espirravam água de forma elegante. Continuaram a seguir por pouco mais de meia hora  quando Felicity virou a esquerda, em uma rua paralela, que apesar de mais calma e ter um tom residencial, com casas baixas, ainda permanecia perto da região movimentada. Felicity sentiu seu estômago revirar de nervosismo, suas mãos suavam. Fazia um bom tempo que não via Donna.

 

Estava com saudades da mãe.

 

Estacionaram os carros em duas vagas em frente a casa. Felicity desceu, se demorando a olhar o local que fora por muito tempo seu lar. A cor cinza, um pouco gasta permanecia a mesma e a rua, apesar da modernização, era exatamente como se lembrava. Cortinas se balançaram na janela, revestida de madeira branca. A porta de madeira foi aberta, revelando uma Donna trajando um vestido azul turquesa curto, sorrindo alegremente. Felicity balançou a cabeça.

 

A forma da mãe se vestir não mudava, nunca.

 

Sempre em tom jovial.

 

Seus olhares se cruzaram, e como se não pudesse aguentar mais, caminhou a passos apressados até a mãe, e no momento que sentiu seu abraço apertado, seguido se seu cheiro suspirou, cansada. Estava passando por tanta coisa ultimamente, sentindo tantas emoções, sempre tentando ser forte, mas naquele momento poderia relaxar e por apenas um pouquinho, abandonar a postura de chefe.

 

— Oi bebê.- falou a voz de Donna embargada, se afastou para segurar seu rosto com ambas as mãos.- Você está tão linda.

 

— Resultado de um sono perturbado em três horas de voo.- brincou a fazendo rir. Donna a apertou mais uma vez.- Senti sua falta.

 

— Também senti a sua querida.- murmurou. Um limpar de gargantas as chamou atenção.

 

— É realmente um momento lindo, mas estamos com malas pesadas.- sorriu Ray desconfortavelmente, Donna riu.

 

— Vamos, entrem.

 

A equipe se dirigiu ao interior da pequena casa  Os móveis estavam em boas condições e Felicity sabia, embora a mãe tentasse esconder, que continuava trabalhando muito. A sala era, pelo o que puderam notar, o local mais espaçoso da casa, que apesar de não ser muito grande, era extremamente confortável. Um sofá rosa fez Felicity rir quando deixaram as malas na chão, era realmente a cara de Donna comprar uma coisa chamativa daquelas, sem contar as almofadas da mesma cor na pequena poltrona, que a surpreendeu por ser de tons neutros.

 

— Mas vocês estão ótimos!- falou Donna que abraçava Laurel e Ray.- Caitlin… Está com um semblante mais leve, arranjou algum agente bonitão?- piscou a deixando vermelha, Tommy riu, passando seu braço no entorno de sua cintura.

 

— Ela achou sim Donna.- apontou para si mesmo em satisfação, seu grito agudo os fez pular.

 

— Eu não acredito!- gritou os abraçando.- Ai meu Deus! Eu sempre soube, não soube querida?- perguntou animada a Felicity, que lançava um olhar de desculpas a Caitlin.

 

— Ray e Laurel estão juntos também.- dedurou Caitlin desviando a atenção de si. Mais um grito foi ouvido. Donna tampou a boca, chocada.

 

— Isso… Isso é maravilhoso!- os parabenizou, Ray e Laurel agradeceram, envergonhados, mas felizes pelo apoio de Donna.- Quentin já sabe?

 

— Bom...Sim.- sorriu Laurel um pouco desconfortável.- Mas se ele gostou é um mistério.

 

— É claro que gostou, Ray é um cavalheiro, e se precisar da minha ajuda pra mudar aquele cabeça dura pode contar comigo.- piscou, Ray sorriu, aliviado.

 

— Se puder trocar umas palavrinhas com ele…- sugeriu, Donna assentiu prontamente.- Já ajudaria muito.

 

— Pode deixar comigo.- seu olhar vagou até Roy, que estava parado ao lado do sofá rosa.- Harper!

 

— Como vai senhora Smoak?- sorriu, a abraçando.- Estava com saudades.

 

— Faz um tempo desde o meu pulinho em Los Angeles.- sorriu. Havia sido uma total surpresa, e quando Felicity descobriu, a mãe já batia em sua porta com uma enorme mala para passar apenas três dias.- John!

 

As saudações continuaram, demoradas. Curtis foi apresentado, totalmente chocado por descobrir que Donna era mãe de Felicity. A Smoak mais velha oscilou ao avistar Sara, mas ainda sim a abraçou. Seu sorriso se desmanchou por completo ao finalmente encarar Oliver, que se encontrava em frente a porta. Seu olhar duro, com um quê de recriminação o atingiu em cheio. A última vez que a viu fez uma promessa, a qual não pensou duas vezes antes de quebrar.

 

— Queen.- o cumprimentou.- Seja bem vindo.

 

E então se voltou aos demais, sorrindo. Oliver esperava qualquer coisa, xingamentos, ser expulso de sua casa ou até mesmo ouvir palavras duras. No entanto, havia sido tudo muito pior.

 

Donna o tratou com indiferença.

 

Não trocou mais do que dez palavras com o agente.

 

Assentiu consigo mesmo, abaixando o olhar.Sua frieza lançada era deverasmente merecida, mas ainda assim, sentia falta de seus sorrisos gentis. Oliver tinha uma forte opinião sobre Donna, no melhor dos sentidos, e saber que havia quebrado sua confiança o deixava terrivelmente angustiado. 

 

Seria uma longa missão.

 

***

 

— Aqui, todas as informações de Kevin Pérez.

 

Os agentes se encontravam reunidos na sala, sendo servidos por Donna que os entregava um pouco de café. Curtis virou a tela do computador, mostrando a imagem de um homem da mesma idade de Joseph, no entanto era mais despojado, olhos claros e maxilar bem definido.

 

— Nossa, todos os criminosos são tão bonitos assim?- perguntou Donna por cima os fazendo rir, Felicity balançou a cabeça.- O vice diretor me contou um pouco, que tragédia.

 

— Eram tão bonitas, cheias de vida.- lamentou Laurel.- Esse mimadinho do O’brien precisa pagar.

 

—  Curtis, preciso que continue monitorando Joseph e Kevin, ok?- pediu Oliver ganhando um aceno positivo em resposta.- Sabemos que ele está na cidade, o que precisamos fazer é chamar sua atenção.

 

— E como exatamente faremos isso?- perguntou Caitlin.

 

— Temos que parecer interessantes para O’brien, o que significa…- Felicity suspirou desgostosa.- Mãe? Precisamos que nos arrume para uma boate.

 

— Pode deixar comigo.- sorriu empolgada por participar.

 

 - Vamos ao clube hoje a noite.-  falou Oliver.- Mas nada de distrações, ouviu bem?- se direcionou a Tommy.

 

— Jamais conseguiria relaxar, principalmente por saber que elas estarão na linha de frente.- respondeu extremamente sério.- Não tem outro jeito?

 

— Não.- falou Felicity.- E vocês estarão por perto, não é como se estivéssemos completamente sozinhas.

 

— O que não seria algo ruim, até porque, pelo o que eu me lembre- recordou Sara.- Quem salvou a bunda de vocês em Mônaco fomos nós. Damos conta disso.

 

— Sabemos que dão.- sorriu John.- E o restante de nós, o que faremos?

 

— Além de ficarmos de vigilância, Curtis precisa que coloquemos um grampo no telefone de O’brien, tarefa que eu deixamos exclusivamente para Roy.- o mesmo assentiu, confiante.- Tommy, John e Ray ficarão espalhados pelo clube, conseguindo mais informações. E eu vou ter uma conversinha com Kevin.

 

— Temos tudo resolvido então.- suspirou Felicity se levantando.- Agora com licença, temos que…- fingiu um sorriso de animação.- Nos arrumar.

 

— Não irão se arrepender.- sorriu Donna segurando seu braço.- Podem confiar em mim, quando o assunto são festas em Las Vegas eu sou especialista.

 

***

 

— Tá apertado.- reclamou.

 

— Você está maravilhosa.

 

— Aperta minhas pernas.

 

— Lhe deixou com belas pernas.

 

Felicity revirou os olhos, não importava o que dissesse, sua mãe a ignoraria completamente. Se olhou no espelho mais uma vez. Poderia odiar o disfarce, mas tinha que admitir, Donna fez um bom trabalho. Sara parecia extremamente satisfeita com sua imagem. Seus lábios, marcados pelo tom vermelho, sorriam ao encarar o vestido de tonalidade prata brilhante. Laurel apareceu ao seu lado, também se observando com certa aprovação diante de seu vestido azul claro, também brilhante. Donna gostava muito, muito de chamar atenção.

 

Os vestidos demostravam isso.

 

Caitlin puxava um pouco para baixo seu tecido de couro, que fazia questão de marcar completamente seu quadril, e em suspiro de desistência para deixá-lo maior, se juntou ao restante do grupo. Felicity também se olhou longamente, seu vestido de alçãs o tom rosa rouge camurça havia realmente lhe caido bem, no entanto, o tecido confortável nada mais era que uma mera distração para a tortura que era usá-lo.

 

— Um pouco mais de couro e as quatro poderiam facilmente posar para a Playboy.- brincou Caitlin as fazendo rir.- Quem será que vai conseguir chamar a atenção dele primeiro?

 

— Isso é algum tipo de aposta?- sorriu Laurel.

 

— Talvez lance.- arqueou as sobrancelhas.- E então, o que que me dizem?

 

— Você está passando muito tempo com Tommy.- murmurou Felicity, a mesma a lançou um olhar rabugento.- Certo, digamos que eu aceite, qual é o prêmio?

 

— Se uma de nós conseguir, sem interferência externa, chamar a atenção de Joseph ou de Kevin, as outras três terão, pelas próximas duas missões, preencher o meu relatório.- exclamações foram ouvidas.- O quê? Já aceitaram a derrota?

 

— Ficar sem preencher aquelas coisas chatas parece um paraíso mesmo.- suspirou Laurel.- Fechado.

 

— Fechado.

 

Felicity foi a primeira a sair, abandonando o grupo que continuava a fazer previsões animadoras caso ganhassem. A parte burocrática era sempre a mais demorada e chata de se fazer, se livrar dela por um tempo parecia um presente.

 

Precisava ir bem nisso.

 

Parou abruptamente ao encontrar Oliver sozinho na sala. O mesmo terminava de colocar seu comunicador de forma que o deixasse escondido em seu blazer azul marinho, que caia perfeitamente em destaque por sua camisa branca. Felicity arfou ao encará-lo. Seus cabelos pareciam molhados, a barba bem alinhada…

 

O blazer o desenhava tão bem…

 

Oliver se virou em sua direção, também parando impactado. Seus olhares se cruzaram, e por minutos, Oliver parecia ter perdido a capacidade de respirar.

 

— Donna realmente levou a sério o processo de sedução do O’brien.- comentou com dificuldade.

 

— Ela é Donna Smoak, não deveria estar surpreso.- sorriu se aproximando, pegando os equipamentos, Oliver deu um passo para trás.- Vai falar com Kevin?

 

— Vou.

 

— Quando diz “vou” quer dizer que vai ameaçá-lo, não é?

 

— Você me conhece tão bem.- brincou. Felicity sorriu, porém pode notar, pela pequena ruga em suas sobrancelhas, que estava um pouco aflita.- Não precisa ficar nervosa Lis, vamos estar lá o tempo todo.

 

— Eu sei mas…- suspirou.- Ser isca para um assassino abusador é um pouco desgastante. O que ele fez…

 

— Vamos dar um jeito, eu prometo.

 

Seu olhar gentil, com o pequeno toque em seu ombro a fez relaxar.Ainda se encontrava confusa, principalmente depois dos últimos acontecimentos, mas em todos os momentos em que estavam juntos seu mundo parava, e as dúvidas, os receios e aflições desapareciam por completo.

 

Felicity ainda gostava de Oliver.

 

Muito.

 

Estava cada vez mais difícil disfarçar.

 

Notou que Oliver havia se aproximado, e como se despertasse de seu lapso temporário,virou o rosto, sentindo sua respiração quente bater em sua bochecha. Limpou a garganta.

 

— Eu...Já volto.

 

A assistiu sair rapidamente, e antes que pudesse fazer alguma coisa, notou um par de olhos azuis, que como se pudessem ler sua alma, o observavam. Oliver abaixou a cabeça diante de Donna, encarando os pés.

 

— A mantenha segura pra mim, ok?- seu pedido o fez erguer o olhar, surpreso.- Pode me prometer isso?

 

Sentiu seu coração acelerar, assim como as mãos que suavam. Sabia o peso daquelas palavras, e pelo tom de Donna não fora brincadeira.

 

Seria ali sua redenção?

 

Mesmo diante de seu olhar afiado, aguardando uma resposta, ousou encará-la profundamente, passando veracidade.

 

Essa promessa não iria quebrar.

 

— Tem a minha palavra senhora Smoak.- assegurou.

 

 Donna o olhou firme por mais alguns minutos, onde Oliver pareceu congelar. Satisfeita, o lançou um sorriso pela primeira vez.

 

    - Ótimo.

 

***

 

O clube O’brien fazia jus a Vegas. Luzes neon espalhadas pelo salão, pessoas balançando suas bebidas enquanto dançavam umas nas outras, algumas com biquini pulando na piscina na área aberta...

  As meninas já estavam posicionadas, cada uma em seus postos, e como predadoras, esperavam Joseph aparecer.

 

“- Já ganhei essa.- riu Sara.”

 

“- Não cante vitória antes do tempo.- cantarolou Laurel.”

 

“- Estão confiantes demais, quero ver a cara de vocês quando preencherem minha papelada.- sorriu Caitlin.”

 

“- A minha papelada.- corrigiu Felicity.- E sim, vai ser maravilhoso.”

 

Caitlin apertou as mãos, um pouco nervosa.Estava confiante diante da missão, mas a ideia de se imaginar tendo que flertar com um abusador fazia seu corpo inteiro se arrepiar.

 

“- Mas que mulher linda, não me diga que está comprometida, vai partir meu coração.- a voz de Tommy em seu ouvido a fez sorrir.”

 

“- Tem mais alguém na linha?”

 

“- Só nós dois, mas a senhorita ainda não respondeu a minha pergunta.- seu comentário a fez revirar os olhos, prendendo o riso.”

 

“- Eu namoro e só tenho olhos pra ele, sinto muito.- suspirou fingindo pesar.”

 

“- Ele é um cara de sorte.- Caitlin sorriu mais uma vez.- Vi que estava nervosa, mas estamos aqui, ok? Eu estou com os olhos em você.

 

Seu olhar percorreu o clube, e ao finalmente achar um moreno acenou em sua direção e sorriu, mais aliviada.

 

“- Dou conta disso, fique tranquilo.”

 

“- Eu sei que dá, qualquer coisa me chame aqui, certo?”

 

“- Certo.”

 

 Oliver do outro lado do salão observava um a um. Notava Tommy e Ray aos arredores do balcão de bebidas, John mais ao fundo, perto da área vip, Roy que se passava por um bartender… Seus olhos iam e vinham de Felicity a cada minuto, checando se estava bem. A maneira como dançava, sendo, em sua nada humilde opinião, a mulher mais deslumbrante do salão o deixava sem fôlego. Seu olhar, no entanto, achou um Kevin que analisava o salão com certo interesse. Olhou Laurel, Sara, Caitlin…

 

Sua espinha gelou ao parar em Felicity.

 

Porém não demorou. Seguiu andando para a área vip. Oliver o alcançou, colocando a mão sob seu ombro.

 

— Senhor Pérez.- sorriu como se fossem amigos de longa data.- Temos que ter uma conversinha.

 

— Quem é você?- perguntou em tom defensivo.- Polícia?

 

— Algo assim.

 

Passaram para área vip, onde portas de vidro transparente abafavam o som alto da música lá fora, deixando assim uma ótima visão da pista de dança. Oliver se sentou em uma cadeira de couro, enquanto Kevin ficava a sua frente, o analisando. Um sorriso irônico brotou em seus lábios.

 

— Se está aqui por denúncia de drogas posso garantir…

 

— Não é por isso que estou aqui.- interrompeu.- Quero falar sobre o seu amigo, Joseph O’brien.

 

Suas sobrancelhas arquearam. Passaram-se alguns segundos até que seu sorriso em tom de desdém surgisse novamente.

 

— O que Joseph fez desta vez? Bateu um carro?

 

— Ele teve contato com uma jovem…

 

— Sexo não é crime,principalmente em Vegas.- soltou um riso baixo.- O que é muito frequente aqui.

 

— Assassinato continua sendo considerado crime senhor Pérez.- o sorriso de Kevin murchou.- E isso continua sendo válido em Las Vegas, não importa o quão diferente suas leis sejam dos outros estados.

 

— Assassinato?- repetiu surpreso.

 

Jennifer Daley, conhece?

 

— Joseph saí com muitas mulheres, é difícil gravar um rosto.- falou simplesmente.

 

— Você não dá a mínima, não é?- perguntou Oliver se inclinando para frente, irritado.- Seu amigo está sendo acusado pelo assassinato de pouco mais de seis jovens, jovens senhor Pérez, pelo o que nos foi informado, foi  você que fez a conexão até o senhor O’brien.

 

— Sim, eu realmente o dou o contato de alguma garotas que ele possa achar interessante, mas isso não prova nada e… 

 

Sua voz ficou muda. Oliver havia parado de olhá-lo e sua atenção estava voltada para uma loira qual Joseph passava por perto.. Um riso baixo o fez despertar.

 

— Parece que alguém lhe cativou agente. Posso consegui-la pra você, ou para o próprio Joseph…

 

— Chegue perto dela e será um homem morto.- trincou os dentes.

 

— Dúvido muito que o FBI o de tal liberdade.- deu de ombros.

 

— Quem disse que eu trabalho pro FBI?

 

Pela primeira vez, as expressões de Kevin mudaram drasticamente. Não havia mais o sorriso convencido, muito menos a ironia. Oliver aproveitou seu deslize e o encarou friamente.

 

— Se tocar nela, pode ter certeza que farei questão de deixar um trabalho imenso para a polícia forense, que vai ser bem divertido.- sorriu sombriamente. Kevin engoliu em seco,- É melhor me ajudar Kevin. Sei que não tem participação nos crimes de O’brien, mas posso garantir que passe alguns anos na prisão.- continuou a fitá-lo e ao ter certeza que havia o atingido, se encostou na cadeira despreocupadamente.- Ótimo.

 

— O que quer que eu faça?

 

— O de sempre, faça suas conexões.- deu de ombros.- Só me deixe checar com quem.

 

Oliver chamou pelo comunicador, em busca de novas informações.

 

“- Caitlin.- respondeu Tommy com certo esforço.- Eles estão conversando e O’brien parece…- suspirou desgostosamente.- incrivelmente interessado.”

 

— O nome dela é Caitlin.- avisou a Kevin.- Vou lhe passar o restante das informações e você vai cooperar com essa missão, entendeu?- Kevin assentiu.- Bom, temos muito que conversar.

***

 

Caitlin permaneceu no clube tempo suficiente para terem certeza de que Joseph havia caído na armadilha. Após o mesmo abordá-la antes de irem embora, um sorriso vitorioso surgiu em seus lábios ao encontrar as amigas, que estavam de cara fechada. Seguiram até a residência Smoak, onde se jogaram no sofá após uma noite cansativa e retiraram os saltos.

 

— Parece que eu ganhei.- sorriu Caitlin.

 

— Maldita hora em que eu fui aceitar isso.- resmungou Sara.

 

— Use toda essa raiva enjaulada como força no momento em que forem preencher o meu relatório, quero extremamente preciso e detalhado.- a provocou, Sara revirou os olhos.

 

— O espírito irritante de Tommy tomou posse de você.

 

— Tudo o que eu escuto são reclamações de alguém que vai ter que escrever sobre a mesma coisa duas vezes.- Sara a deu um empurrãozinho enquanto Felicity e Laurel riam.

 

— Sou uma boa perdedora.- Felicity deu de ombro. Seu olhar caiu em Oliver que retornava para sala assim como os demais agentes.- O que conseguiu?

 

— Kevin vai nos ajudar. No começo foi um pouco relutante, mas após algumas palavras gentis ele aceitou bem.- sorriu em tom sarcástico, Felicity balançou a cabeça negativamente, correspondendo ao seu sorriso.

 

— O grampo que Roy implantou no celular funcionou, só estou terminando de conectar e vamos ter acesso a O’brien.- falou Curtis.

 

— O celular não foi a única coisa que eu peguei.- disse Roy que retirava uma caderneta do bolso.- Joseph carregava isso, tentei ler mas...Parecem apenas um monte de letras.- entregou a Curtis.- Acha que pode ser algum código sobre as meninas?

 

— Nunca vi nada parecido.- murmurou concentrado.- Mas vou dar uma olhada.

 

— E o que fazemos agora?- perguntou John.

 

— Temos que esperar a confirmação de Kevin.- falou Oliver.- Até lá ficamos de olho no celular. Descansem, amanhã será um dia cheio.

 

— Se me permitem interromper.- sorriu Donna.- A casa não é uma das maiores, como puderam notar, temos dois quartos fora o meu, então acho vamos ter que colocar alguns colchões no chão.

 

— Não se preocupe senhora Smoak.- sorriu Ray.- Damos um jeitinho.

 

— Já trabalhou bastante, pode deixar que nos viramos.- disse Laurel, Donna deu de ombros,

 

— Arrumar vocês não foi nada demais, e pelo visto funcionou.- falou contente.

 

— Eu quase não respirei a noite toda.

 

— Eu não disse pra você?- cochichou com Curtis que prendeu o riso, Felicity semicerrou os olhos.

 

— O que vocês dois estão conversando aí?

 

— Nada.- mentiu Curtis.- Apenas que sua mãe é figura.- Donna soltou um riso baixo.- Acho que agora vejo de onde você puxou…- se calou ao analisá-las.- Cabelo?- franziu as sobrancelhas.

 

— Ela pinta.- respondeu Donna, Curtis olhou Felicity com uma feição divertida.- Pelo o que ouvi vocês vão dormir, então descansem e boa noite.

 

A Smoak mais velha os desejou um boa noite. Olhou Oliver rapidamente e piscou, se retirando. Felicity puxou Curtis pelo braço até um canto mais afastado.

 

— O que vocês dois estão aprontando?

 

— Nada.- seu sorriso se ampliou.- Apenas conversei um pouquinho com a sua mãe e ela se mostrou muito interessante.

 

— Não falou nada de mim e Oliver pra ela, não é?

 

— Teria alguma coisa pra falar?- questionou. Felicity entreabriu os lábios. Curtis sorriu mais uma vez.- Ela apenas queria saber como você estava, me deu uns conselhos ótimos. Já sobre você e o seu deus grego...- a viu o lançar um olhar aborrecido.- Apenas perguntas simples. Nada com o que se preocupar.- piscou.- Mas cá entre nós.-sussurrou.- Deveria disfarçar mais quando está com ele.

 

— Você é um ser muito irritante.

 

— Eu sei.

 

Curtis saiu tranquilamente, assobiando. Felicity cruzou os braços, desconfiada. Estava claro que Donna estava aprontando alguma coisa. A viu, antes de dormir, sussurrar algo a Sara que sorriu, e balançou a cabeça prontamente. A reação da mãe diante do ex marido não fora tão ruim como pensava, apesar dos olhares gélidos e de como Oliver andava achando o chão extremamente interessante, tudo estava indo bem, mas algo a dizia, bem no fundo, que a mãe aprontava alguma.

 

 Só o tempo lhe contaria o quê.

 

 Quando a questão era planejar surpresas às escondidas, Donna era uma das melhores pessoas, e nem uma interrogatória de horas a faria revelar seus planos.

 

***

 

A equipe se encontrava espalhada pela casa em mais um dia ensolarado na famosa Las Vegas. Curtis continuava a trabalhar na caderneta entregada por Roy, enquanto Ray com a ajuda dos demais, se concentravam no grampo implantado no celular de O’brien e em sua localização. O mesmo permanecia parado e até o momento, não havia entregado nenhuma prova possível.

 

Precisavam aguardar.

 

Oliver conversou com Kevin, que prometeu estar trabalhando para marcar o encontro. Donna, notando que os agentes não sairiam de casa( mesmo com os pedidos de Tommy, que ganhou um uníssono “não” da equipe), resolveu fazer um almoço com a ajuda dos demais.

 

— Mas é só uma saidinha…- choramingou Tommy que a ajudava a cortar os legumes.

 

— A sua última saidinha não acabou nada bem.- respondeu Ray que estava ao seu lado. Donna riu.

 

— Se terminarmos rápido, prometo levar você até o cassino onde trabalho pra me ajudar a pegar uma bebida.- cochichou, Tommy abriu um sorriso gigantesco.

 

— Sua mãe é maravilhosa, Lis.

 

— Não cai na dele não, esse charme todo esconde as reais intenções.- falou Felicity apontando o dedo em sua direção, o moreno piscou.- E por falar em cassino...Por que não está lá?

 

— Resolvi tirar uns dias de férias.- respondeu dando de ombros.- Ando trabalhando muito, está na hora de descansar.

 

Felicity a observou, surpresa. Não era do feitio da mãe faltar ao trabalho, e por sua forma despreocupada enquanto cozinhava, duvidava muito de que estivesse sentindo remorso. Na cozinha parecia tudo realmente resolvido, Laurel, Caitlin e Sara haviam chegado para ajudar, o que acelerou o processo. Voltou à sala, onde Oliver estava sentado com o computador no sofá rosa pink. Seu olhar não estava focado na tela, mas sim nos quadros espalhados pela estante. Notou que um pequeno sorriso brincava em seus lábios ao observar uma Felicity adolescente emburrada, ao lado da mãe sorridente.

 

— Se divertindo com minha fase emo?- perguntou, Oliver ergueu o olhar, prendendo um riso.

 

— Jamais.- mentiu. Felicity pegou o quadro e se sentou ao seu lado.- Você realmente amava preto.

 

— Tempos sombrios, literalmente.- Oliver sorriu.- Eu era um pouco revoltada na época.

 

— Um pouco?

 

— Qual é.- o deu um empurrãozinho no braço, Oliver sorriu.- Queria mudar o mundo, achava o sistema errado, mas não sabia o jeito certo pra isso.- suspirou.- Foi nesse tempo em que tomei algumas decisões que eu adoraria poder apagar. Meu pai foi uma grande inspiração.

 

— Seu pai?- perguntou, atento. Eram raros os momentos em que Felicity falava sobre Noah.

 

— Ser filha do hacker mais procurado do mundo tem os seus pesos. Na época eu achava que para mudar as coisas deveria fazer como ele.- revirou os olhos.- Pura bobagem e rebeldia. Mas de certo modo, acho que eu fazia isso mais para ter sua presença, sabe?- Oliver assentiu.- Eram os únicos momentos em que tínhamos algum contato, ele sempre parecia tão orgulhoso.-sorriu ironicamente.- Noah Kuttler e seu modo de amar.

 

— Ele te ama Lis, seria um tolo se não amasse.- Felicity virou o rosto e sorriu timidamente.- Só demonstra isso de uma maneira diferente. Até porque…- pegou o quadro de suas mãos.- Como não amar essa garota que parece tão...Feliz?- arqueou as sobrancelhas, confuso, Felicity riu, balançando a cabeça.

 

— Meu estilo não era um dos melhores.- fez uma careta.- Só minha mãe pra achar isso bonito.

 

— Sua antiga eu era intensa.- comentou.- Mas nunca deixou de ser bonita.

 

Felicity o olhou descrente. Era literalmente sua pior fase, como poderia achá-la atraente? Se lembrou de uma frase de Sara, que a avisara sobre isso.

 

“ Oliver iria gostar de você de qualquer forma, você poderia ter um arco-íris como cabelo.”

 

O olhou mais uma vez com certo carinho. Se não fosse pela forma como se envolveram, tendo mentiras e vida dupla, a loira duvidava muito de que se separariam. Poderiam ter uma segunda chance

 

Poderiam tentar...

 

Mas somente a menção do acontecido era o bastante para a fazer congelar. Notou que o olhava há tempo demais, pois Oliver a analisava minuciosamente, como sempre fazia ao tentar decifrar o que se passava em sua mente. Desviou o olhar.

 

— Você tem que parar de fazer isso.- falou sem graça.

 

— Você não tem ideia de como me atormenta com esse mistério todo, mas posso conviver com isso.- sorriu, fitando seus olhos.

 

— Deveria desistir.

 

— Nunca.

 

Felicity sorriu de canto. O loiro observava suas mudanças de humor enquanto se levantava, trabalhando seu cérebro como a estrutura de um relógio. Montou sua barreira novamente e saiu. Oliver não precisava ler mentes para entender que a mesma estava confusa, haviam cruzado uma linha.

 

Linha absurdamente prazerosa e dolorosa.

 

Precisavam decidir como iriam prosseguir e, embora quisesse muito, o medo de a perder outra vez o deixava apavorado.

 

Era muita coisa a se pensar.

 

O almoço de Donna havia se passado recheado de risadas. Tommy a acompanhou até o cassino onde trabalhava, voltando com três garrafas de vinho e um bolo, o qual Ray ficou encantado.

 

— São os famosos “ Celebration cakes”, não é?- perguntou a Donna que assentiu contente, enquanto cortava alguns pedaços.- Parece delicioso.

 

— É algo muito além de sabor.- comentou colocando uma fatia generosa em um pratinho e o estendeu a Oliver, seu olhar se fixou no loiro.- Dizem que realizam desejos.

 

— Qualquer desejo?- questionou Oliver.

 

— Depende, se for puro e com boas intenções…- o encarou profundamente, como se soubesse exatamente o que estava pensando.- com certeza será atendido.

 

Oliver olhou a massa com certo interesse. O restante da equipe se servia, incluindo Curtis que apareceu após um longo tempo recluso, estava fascinado com a caderneta, no entanto, não havia conseguido nada ainda. Todos se sentaram na sala, alguns no sofá e outros no tapete felpudo de cor creme. Oliver notou que Sara estava bem relaxada ao lado de Donna, rindo de suas histórias e ficou feliz, ao que parecia, haviam se entendido. Sua situação não era tão complicada em seu ponto de vista, já a dele…

 

Suspirou desgostosamente.

 

Roy abraçava Felicity pela cintura enquanto conversava com o restante do time. Sabia que havia chegado a pouco tempo, mas a forma que a protegia, realmente como um irmão fez Oliver ter um grande respeito Roy. Eram uma família.

 

Todos ali formaram uma família e, apesar das diferenças e discussões, tudo o que passaram apenas fortaleceu o laço de parceria entre eles. Felicity olhou para Oliver que se encontrava entretido em uma conversa com John e Laurel. Desde o momento que o loiro e a Lance mais nova pisaram em seu antigo lar não pôde deixar de ficar preocupada. Suas histórias se cruzaram da forma mais peculiar possível e de uma hora para a outra estavam ali, juntos, rindo em uma sala de estar.

 

A vida é realmente um enigma.

 

Seus olhares se cruzaram e por um instante, a sensação de estar em uma nuvem a atingiu novamente. Oliver sorriu de forma tímida. Felicity se levantou, caminhando até a cozinha, precisava respirar.

 

Tudo ali estava a deixando estranhamente confusa.

 

Passos a fizeram olhar para trás rapidamente, encontrando Oliver que trazia o restante dos pratos. Se dirigiu até a pia.

 

— Para uma fã de doces você nem comeu.- indicou o pedaço de bolo quase intocável em seu prato.

 

— Eu cresci ouvindo essa historinha e vai por mim, meus desejos não se realizaram.- respondeu pegando um pano, Oliver lavava os utensílios.

 

— Talvez não fossem pedidos tão puros.- deu de ombros.- e francamente, a comunidade bruxa estaria decepcionada com sua falta de fé na magia.- Felicity soltou um riso baixo.

 

— Ok mago.- colocou o prato em sua mão e, ao fechar os olhos, levou uma garfada do bolo de chocolate até a boca, suspirando.- É divino.

 

— O que desejou?- perguntou Oliver que havia parado para olhá-la, Felicity ficou vermelha.

 

“ Que as coisas se resolvessem."

 

— Se falar não se realiza.- deu de ombros.- E você? O que desejou?

 

— Se falar não se realiza.- repetiu com diversão, Felicity bufou.- Regras são regras.

 

A loira se preparava para responder a sua provocação quando o grito de Curtis os deixou em alerta. Felicity e Oliver largaram seus afazeres e correram, preparados para o pior. Já fechavam suas mãos em punho quando o encontraram na sala, pulando enquanto apontava para o pequeno caderno furtado por Roy.

 

— Eu descobri!- gritou.

 

— Pela décima vez, o que você descobriu Curtis?- perguntou Sara impaciente.

 

— No começo eu achei que era perca de tempo, poderiam ser senhas de banco ou algo do tipo, até porque nada ali fazia sentido. Mas aí eu comecei a tentar formar nomes, o primeiro foi “trauts acinom”.

 

— E o que isso significa?- perguntou Caitlin confusa. Curtis bufou impaciente.

 

  - Monica Stuart.- mostrou a imagem de uma jovem ruiva de olhos verdes.- Morta há pouco mais de três meses aqui em Vegas, e o mais bizarro não foi isso.- continuou, mostrando a fotos de mais de sete jovens.- Encontrei uma série de nomes, sendo o último “yelaD refinneJ”, que de trás pra frente significa Jennifer Daley, nossa vítima.- apontou para a tela.- Todas essas jovens apareceram mortas repentinamente, e seus nomes estão aqui.- apontou para o caderno.- Algumas até de outros estados, como Flórida e Carolina do Norte, o que significa…

 

— Não estamos lidando com um homicídio qualquer.- comentou Felicity com os dentes cerrados.- Joseph O’brien é um serial killer.

 

Um silêncio tenebroso se apossou da sala de estar. Caitlin olhou para Tommy, nervosa, quando o mesmo a abraçou por trás, a apertando, enquanto encaixava seu queixo em cima de sua cabeça. A situação não lhe agradava nenhum pouco, principalmente agora por saber que lidariam com um serial killer. Felicity encarou Oliver, que também estava com um semblante fechado.

 

— Kevin precisa marcar o encontro, agora.- falou. Oliver assentiu.- Não seria melhor irmos até lá?

 

— Eu vou.É melhor termos um número limitado de agentes já conhecidos na operação, e como eu sou o único que Kevin já conhece é recomendado mantermos assim.

 

— Você vai sozinho ao covil de um serial killer?- perguntou preocupada.

 

— Eu não vou estar sozinho, vou ter vocês no meu ouvido o tempo todo.- sorriu, Felicity parecia ainda incerta com sua decisão.

 

— Pegue os comunicadores, e Curtis, o acesso das câmeras do clube, por favor.- pediu com esforço, Oliver sorriu.- Se você se machucar eu juro que eu mesma mato você.- levantou o dedo em riste.

 

— Isso parece melhor do que um “eu te avisei''- brincou.

 

— Com certeza haverá um “eu te avisei'' .- um sorriso brincou em seus lábios.- Tome cuidado, ok?

 

— Pode deixar.- garantiu. 



John o acompanhou até o carro, entregando os comunicadores. Oliver olhou para os lados e, ao notar que estavam sozinhos, segurou no braço do amigo

 

— Dig.-o chamou.- Em hipótese alguma deixe Felicity chegar perto do clube, entendido?

 

— Ainda acho que ela seria um bom reforço.- falou confuso.- Qual é o real motivo para não a querer lá?

 

— Kevin a viu, e eu fortemente acredito que, se alguma coisa der errado, ela vai ser a primeira qual ele vai tentar usar para me atingir.- respondeu em tom baixo- Ele acha que temos uma espécie de ligação.

 

— E está errado?- provocou, Oliver revirou os olhos.- Disfarce mais quando estiver com ela, qualquer um consegue enxergar que há algo entre vocês.- O loiro fechou a porta, dando partida no motor.- Até Donna consegue ver.

 

Seu comentário o fez gelar. Não sabia ao certo como seria a postura de Dona diante de seus sentimentos, e pelo modo que vinha o tratando a resposta, por mais que tentasse evitar, estava estendida sobre sua cara.

 

Talvez Felicity realmente merecesse alguém melhor…

 

Apertou os dedos ao volante, teria que deixar qualquer sentimento ansioso de lado naquele momento e se concentrar na missão.

 

Kevin ouviria boas palavras dele.

 

***

 

— Pela décima vez , Lis, ele está bem.- respondeu Curtis impaciente, apontando para a tela. Oliver estava sentado perto do balcão de bebidas, conversando com Kevin.- Tenta descansar um pouco, tá? Se tivermos algo útil aviso... 

 

Felicity o deu as costas antes que encerrasse sua frase. Céus! O que diabos estava acontecendo? Nunca fora tão paranóica, sabia que Oliver era um dos agentes, se não o agente, mais bem dotado da A.R.G.U.S

 

Então qual seria a razão de toda aquela preocupação?

 

Seguiu ao quarto da mãe, onde respirou fundo e fechou os olhos. Minutos em silêncio se passaram, mas ao notar por seus sentidos que alguém se aproximava se virou rapidamente, encontrando a figura da mãe na porta que encarava com as sobrancelhas franzidas.

 

— Não deveria estar no trabalho?- perguntou tentando parecer normal. Donna fechou a porta.

 

— Vou entrar de férias como falei, e francamente, estou sem interesse algum de ir ao cassino.- deu de ombros. Felicity a encarou, confusa.

 

Donna nunca fora de faltar ao trabalho.

 

— Mas…

 

— Por que está aqui no quarto?- a interrompeu.

 

— Queria descansar um pouco.- mentiu. Donna se aproximou e segurou seus ombros, lançando um sorriso gentil.

 

— Você pode ser uma agente durona lá fora, mas aqui ainda é minha filha, e eu sei quando não está bem.- comentou.- O que foi bebê?

 

— Eu não sei.- suspirou dando de ombros e pela primeira vez, se permitiu pensar sobre o que vinha acontecendo.- Está tudo tão confuso, entende? E eu…- engoliu em seco.- Eu não sei como lidar com tudo isso.

 

— Quando diz tudo isso se refere a Oliver, não é?- Felicity assentiu de forma tímida.- Eu vejo que você ainda o ama, sim, ama.- a cortou enquanto escutava um “não”.

 

— Amar o quê? As historinhas que ele inventava pra mim na sua vida dupla?- perguntou sentindo sua garganta fechar.- O seu jeito carinhoso de ser? A conforma ridiculamente compreensiva…- sua voz falhou,olhou a mãe com desespero.

 

Donna sabia o que queria dizer. Sim, ela continuava o amando, e se não fosse o passado traumático, recheado de mentiras, estaria agora totalmente certa de seus sentimentos, sem dúvidas.

 

Sem questionamentos.

 

Mas quem era Oliver no final das contas? Seria ele a pessoa atenciosa e aparentemente, arrependida que estava convivendo nestes últimos meses? Ou o agente frio que destruiu seu casamento?

 

Felicity não sabia.

 

— Ah mãe..- enterrou o rosto em seu pescoço, enquanto a sentia a balançar.- É tudo tão confuso, entende? Eu não sei o que fazer.

 

— Ninguém sabe quando se trata do amor, querida.- sorriu acariciando seus cabelos.- Mas você me parece muito ligada a ele, e ele a você.- comentou. Felicity ergueu o rosto, a fim de encará-la.- A forma como ele olha pra você…- suspirou.- Ele pode ter feito muita coisa errada, mas duvido muito de que não tenha existido amor.- Felicity assentiu, limpando o rosto.

 

— Você mal falou com ele.

 

— Precisaria apenas de cinco minutos para saber se ele é bom pra você ou não.- sorriu.- Eu fiquei terrivelmente chateada com Oliver no passado, mas agora ele me parece bem arrependido, e se você não soubesse disso, duvido muito que continuaria a amá-lo desse jeito.- apontou. Felicity a abraçou mais uma vez.

 

— Eu não sei o que fazer mãe.

 

— Vai descobrir.- a apertou.- Tenho certeza que vai. As Smoaks são fortes, sempre dão um jeitinho nas coisas.

 

Felicity riu e respirou mais aliviada. Donna e a filha se sentaram à beira da cama onde permaneceram em silêncio por alguns segundos. Felicity então se recordou do início da conversa.

 

— Onde vai passar suas férias?

 

— Pensei em Star City, até já comprei as passagens.- falou animada.- Não me sinto mais em casa aqui, acho que é hora de ir.

 

— Vai se mudar para Star City?- perguntou chocada.

 

— Talvez, vamos ver como será minha estadia lá.- deu de ombros.- Mas gosto daquela cidade.

 

— Quentin já sabe?

 

— Sim, ele me ajudou a achar o voo.- sorriu, um brilho animado tomou conta de seus olhos.

 

— Claro que ele ajudou.- balbuciou Felicity que a observava com atenção. Levantou os lábios em um sorriso.- Vocês estão tendo alguma coisa?

 

— O quê?- ergueu a voz.- Como ousa dizer uma coisa dessas? Parece que estamos tendo alguma coisa? Parece né, tenho que disfarçar mais.- Felicity riu.

 

Ali estava o traço genético que explicava suas divagações quando estava nervosa.

 

— Saiba que tem meu apoio,Quentin é um homem incrível.- sorriu.- E você e Sara parecem bem.

 

— Conversamos, ela me pediu desculpas e eu percebi que vocês duas já estavam bem, não havia motivos para ficarmos mal. Só preciso conversar com mais alguém.

 

— Não!- segurou seu braço arregalando os olhos.- Não faça isso, mãe.

 

— Ah eu vou sim.- sorriu, e pelo toco da companhia, o assunto principal da conversa havia chegado.- Olha só, mas que coincidência.

 

— Coincidência.- repetiu de mal-humor.- Oliver veio trazer informações,ok? não o faça se desviar do foco principal.

 

— Não tenho pressa.- ergueu a voz enquanto Felicity deixava o quarto. Suspirou fundo.

 

Precisava manter Donna longe de Oliver.

 

Não que houvesse muita opção.

 

***

As novas informações entregues por Oliver funcionaram como um último( e mais precioso) impulso para a apreensão de Joseph. Kevin, após uma conversa gentil com Oliver, conseguiu convencer seu amigo a encontrar a encantadora mulher que conhecera no clube  que segundo ele, havia ido algumas vezes à sua procura.

 

Exatamente como Oliver pediu.

 

O local marcado ficava no extremo norte de Vegas, em um hotel chamado Stratosphere, localizado, segundo Donna que era uma residente há muitos anos de Vegas, a parte considerada morta da tão movimentada Strip. Um local calmo, onde sem olhos curiosos poderiam ter certa privacidade.

 

Tommy não gostou nenhum pouco, mas sabia que a namorada daria conta.

 

O plano então começou a ser montado. Dois carros ficariam na entrada e saída dos fundos do hotel, onde Ray, Laurel e Sara estariam escondidos. Mais adiante, no primeiro hall, John e Roy se dispersariam  pelos lazeres que o hotel oferecia, assim como os demais em outras áreas de Las Vegas, sempre continha uma área para jogos. Joseph havia pedido  o quarto no sétimo andar, onde Oliver, Felicity e Tommy alugaram um quarto no mesmo corredor e aguardariam o chamado de Caitlin caso algo desse errado.

 

Precisavam somente colocar em prática.

 

Oliver havia sido o primeiro a acordar como de costume. Limpou o rosto no banheiro e após decidir que pegaria um café na cozinha se deu conta tardiamente da não tão inteligente ideia. O mesmo congelou em frente a porta ao notar que estaria sozinho com Donna. A Smoak mais velha o observou e indicou uma cadeira à mesa, Oliver não se opôs. A viu pegar duas xícaras e as encher de café até a metade enquanto se sentava na outra cadeira, os deixando frente a frente. O entregou a xícara.

 

— Obrigado.- agradeceu Oliver sem jeito.

 

Era tão comum assim um agente treinado se sentir intimidado pelo olhar da ex sogra?

 

Minutos em um silêncio constrangedor se passaram carregados. Oliver bebericou seu café diversas vezes, sentindo o olhar de Donna em si.

 

Deveria inventar alguma coisa para sair dali....

 

— Tudo certo para a missão de hoje?- perguntou Donna, interrompendo sua estratégia de fuga.

 

— Sim.- respondeu.- Já temos tudo armado, apenas precisamos esperar o tempo certo agora.

 

Tempo certo.- repetiu Donna, seu tom, como Oliver percebera, refletia algo mais profundo do que a missão.- O tempo realmente muda as pessoas, não é?- o encarou com seus olhos azuis.Oliver assentiu.

 

Pela primeira vez, embora nervoso, viu a oportunidade que não houve há muito tempo de pedir desculpas.

 

Havia a machucado também.

 

— Senhora Smoak, eu....- engoliu em seco, Donna o olhava com atenção.- Eu sei que não foi fácil me aceitar aqui, e eu compreendo completamente…- suspirou angustiado.- Minhas palavras não valem muita coisa, e você tem todos os motivos do mundo para me achar um imbecil.

 

— Sim, eu tenho.- concordou.- Você a machucou muito.

 

— Eu sei.- falou pesaroso.

 

— Nunca a vi tão quebrada antes.- sua frase o atingiu em cheio. Oliver encarou a mesa.- Mas de certo modo, acho que nunca o vi tão triste também.

 

O loiro ergueu a cabeça, encontrando, ao contrário do que estava acostumado, um olhar gentil e piedoso, como se soubesse muito bem o que estava sentindo.

 

— Minha filha perdeu muita coisa, e você…- suspirou Donna.

 

— Eu perdi tudo.- sorriu tristemente.- Minha casa, meu filho, a mulher que eu amo…- sentiu sua garganta se fechar, e uma queimação atingiu seus olhos.- Eu fiz tudo errado.

 

Massageou a cabeça, como se de alguma forma aliviasse a dor emocional que o torturava fazia anos. Olhou para Donna novamente.

 

— Você pode não acreditar em mim mas eu realmente a amei.- falou com toda a convicção que continha.- Não houve um segundo onde isso deixou de ser verdade. 

 

— Você ainda a ama? 

 

— Como nunca amei ninguém.- respondeu sem hesitar.- Ela é o amor da minha vida, espero que…- engoliu em seco.- Espero que algum dia eu possa chegar a ser isso pra ela também.

 

Donna o analisou profundamente e pela primeira vez, Oliver se sentiu extremamente exposto. Suas pupilas escuras, em contrastes com aquele mar azul familiar pareciam ter o poder de ler a sua alma. Será que via alguma coisa boa?

 

Será que Oliver era realmente alguém bom?

 

O loiro muitas vezes duvidava, principalmente por conta de seu passado repleto de sombras, mas ao notar o breve sorriso de Donna, um fio de esperança o encheu por completo.

 

— Você era jovem. Fazemos muita besteira, eu que o diga.- brincou, Oliver sorriu um pouco aliviado. - E além de suas palavras eu vejo o jeito que olha pra ela.- o loiro ficou levemente constrangido.

 

— É tão visível assim?

 

— É.- respondeu honesta, um riso baixo os contagiou.

 

— Eu sinto muito senhora Smoak, por tudo.- pediu.- Minhas desculpas nunca vão ser suficientes.

 

— Não é a mim que tem que pedir perdão.

 

— É também, quebrei sua confiança, ela é importante pra mim.- Donna sorriu.

 

— Vamos começar de novo então.- o estendeu a mão.- Eu paro de chamá-lo de Queen e você de me chamar de Senhora Smoak.- fez carreta, o loiro riu mas concordou ao apertar a sua mão.

 

— Certo se...Donna.- se corrigiu.

 

— Combinado, Oliver.- ambos sorriram pela piada interna, soltaram as mãos.- O que vai fazer?

 

— Eu não sei.- suspirou se encostando na cadeira.

 

— Felicity é orgulhosa, terá que derrubar essa barreira, o que não vai ser fácil.

 

— Estou disposto a fazer isso.- sorriu.

 

— E eu estou torcendo por vocês.

 

Fios de cabelos loiros, presos em um rabo de cavalo emergiram na cozinha. Felicity ficou estática por um momento, estava mesmo vendo aquela imagem ou suas lentes de contato não estavam funcionando bem?

 

— Mãe? Oliver?- chamou confusa.- O que estão fazendo?

 

— Tomando café.- respondeu Donna erguendo a xícara, piscou para Oliver que conteve um sorriso.- Quer se juntar a nós?

 

— Tá…- ainda a encarava, como se soubesse o que havia aprontado.

 

Felicity sentou quando a mãe foi rapidamente ao armário, pegando algo para comer e aproveitando seu afastamento, Felicity cochichou para Oliver.

 

— Sinto muito.

 

— Sua mãe é maravilhosa, Lis, não foi incomodo algum.- sorriu de forma leve, o que deixou a loira ainda mais confusa.

 

Donna havia realmente aprontado alguma coisa, e pelas expressões suaves de Oliver ambos haviam conversado, e muito.

 

Respirou profundamente.

 

***

Uma grande mobilização tomou conta da casa Smoak. Todos os agentes se aprontavam colocando seus comunicadores e seus equipamentos de proteção. Curtis continha a localização em tempo real de Joseph por conta do grampo, e o empresário estava afastado do hotel, o que os deu tempo para se organizarem. Ray, Laurel e Sara já faziam vigilância nas portas do hotel, enquanto Roy e John já haviam pegado suas fichas para jogarem nas áreas de diversão, analisando o local. Curtis ficou em casa com Donna, que acompanhava ansiosa o desenrolar da missão.

   Tommy se despediu de Caitlin com um abraço apertado, e a mesma precisou o assegurar diversas vezes que ficaria bem. Era um tanto complicado ver pessoas que temos cuidado se pondo em perigo de forma tão direta.

 

Oliver e Felicity conheciam a sensação como ninguém.

 

Os três seguiram para fazer o check in, ganhando um olhar de pura desaprovação da senhora da recepção.

 

— Foi alugada uma suíte para vocês três?- perguntou, Tommy abafou a risada diante do olhar chocado de Felicity.

 

— Não é nada disso que a senhora está pensando.- tentou se justificar, Oliver também começava a rir.- Nós...

 

— Aqui está a chave, a suíte dos senhores é no sétimo andar.- a interrompeu de cara fechada.

 

— Obrigado.- agradeceu Oliver, piscando em sua direção.- Vamos?

 

— É, vamos logo, afinal de contas já esperamos muito para começar nossa brincadeira, não é?- sugeriu Tommy arqueando as sobrancelhas, a senhora arregalou os olhos.

 

— Eu vou matar você.- ameaçou Felicity enquanto caminhavam até o elevador.- Juro que vou. Como o aguenta?

 

— Ele é um teste de autocontrole constante.- respondeu Oliver.- Quer jogá-lo da janela?

 

— Chamaria muita atenção, talvez devêssemos tentar algo mais discreto. Ideias?

 

— Muitas.- sorriu.- Você pode escolher.

 

— É uma sensação extraordinária ver o amor que vocês sentem por mim, me sinto emocionado.- falou Tommy limpando lágrimas inexistentes.- Mas deveriam ser mais discretos se querem uma suite só pra vocês. Eu entenderia completamente se quisessem um tempo a sós.

 

— Cala a boca Tommy.- falaram juntos.

 

— Estão até falando juntos, que conexão incrível.

 

Oliver suspirou impaciente, e felizmente( ou não) as portas se abriram, dando a Tommy a oportunidade de fugir.

 

— Ele parece que tem seis anos.- falou contraído.

 

Felicity sorriu divertida. Encontraram com facilidade o quarto, localizando antes o que Caitlin iria se hospedar. Os minutos se passaram demoradamente até que Curtis os avisou que o empresário já estava a caminho, e que Caitlin o esperava.

  A mesma tentou não parecer nervosa, porém era inevitável, só ao imaginar o que aquele homem havia feito...

 

O que pretendia fazer…

 

Engoliu em seco ao vê-lo entrar pelo hall, com um enorme sozinho, não antes de ver as figuras de Sara e Laurel, que acenaram da porta de forma discreta.

 

Hora do show.

 

— Senhorita Snow.- a cumprimentou com um beijo na bochecha, deslizando sua mão por suas costas.- Como vai?

 

— Incrivelmente bem.- mentiu, tentando disfarçar o incômodo ao senti-lo se apossar de sua cintura.- Pronta para viver a “aventura de Vegas” como você prometeu.- brincou.

 

— Garanto que você vai gostar.- sorriu.- Muito.

 

Seguiram para o check in e ao finalizá-lo, subiram abraçados pelo elevador. Caitlin respirou fundo.

 

Pela missão…

 

Joseph a surpreendeu ao plantar um selinho em seu pescoço, aparentemente satisfeito. A soltou rapidamente apenas para pegar a chave, abrindo a porta.



— Deixa que eu fecho.- sorriu a agente, pegando as chaves de sua mão, Joseph não se importou e, sem que percebesse, Caitlin a deixou destrancada.

 

— Finalmente a sós.- a puxou para si, sorrindo. Caitlin viu seu olhar parar em seu pulso, onde geralmente deixava sua marca.

 

— Acho que eu não estou me sentindo muito bem.- encenou exatamente como o planejado, esperando a retaliação de Joseph.- Deveríamos ter marcado outro lugar... 

 

— Nós chegamos aqui, e não vamos sair até fazermos o que viemos fazer.- falou em tom baixo, segurando seu pulso. Caitlin tentou puxá-lo, mas o aperto se fortaleceu.- Eu garanto que vai ser bom, não vai sentir nada, elas nunca sentem.

 

— Como a Jennifer Daley?- seu tom o deixou em choque por um momento.- Eu sei o que você fez.

 

— Que tive um pouco de diversão?- riu.- Não deveria ter vindo.

 

— Como você pode matar tantas mulheres inocentes? Você tem tudo!

 

— Digamos que é um passatempo.

 

Caitlin, embora afetada por seu comentário, sorriu satisfeita.

 

Havia gravado sua confissão.

 

Hora de chamar os outros. Clicou discretamente no botão em seu peito.

 

— você tirou a parte prazerosa, então infelizmente sobrou apenas a parte em que eu tenho que matar você.- deu de ombros

 

— Nos seus sonhos talvez você consiga.

 

A mesma o acertou com um chute no meio das pernas, desvencilhando seu braço para jogá-lo no chão. Se sentou em cima de suas costas, imobilizando suas mãos.

 

— Isso dói!

 

— Eu sei.

 

A porta fora escancarada por três agentes armados. Tommy sorriu ao escutar as exclamações de dor emitidas por O’brien.

 

— Minha garota.- sorriu orgulhoso.- Oh Joseph.- o empresário ergueu com dificuldade o olhar.- Polícia federal e adivinha só, você tá preso.

 

— Meus advogados…

 

— Não vão poder fazer nada, temos sua confissão.- sorriu Felicity.- Ao menos que queira mentir para as autoridades, o que seria outro crime.

 

— E ele não precisa de mais um, não é?- falou Oliver que entregava as algemas para Caitlin.- Os seus já vão o deixar um bom tempo atrás das grades.

 

***

 

Joseph O’brien foi recebido por uma enxurrada de reportes, que aguardavam ansiosamente o momento de flagrar um dos homens mais bem sucedidos do país sendo preso em flagrante. Seu caso tomou uma repercussão tão grandiosa que dois dias depois já havia virado manchete nos principais veículos de informação dos Estados Unidos, como o famoso The New York Times e a BBC News americana. A caderneta( pegada por Roy) se mostrou como um grande recurso para a identificação de mais vítimas com a ajuda Curtis, o que deixou as agências muito satisfeitas.

 

Ao que parecia, Roy estava a um passo de se tornar o mais novo membro da equipe de espiões.

 

— Com certeza você já está dentro, Waller gosta de torturar as pessoas.- comentou John enquanto arrumavam as malas.- Só tente relaxar.

 

— Fez um bom trabalho.- sorriu Oliver, orgulhoso.- Todos fizeram.- olhou para o restante do time.

 

— Ao que parece eu tenho uma mulher muito mais perigosa dormindo do meu lado, não é?- brincou Tommy piscando para Caitlin que riu, assim como os demais.

 

— Se eu fosse você, tomaria cuidado.- avisou Sara.- Olhos abertos.

 

— E isso me lembra…- suspirou Caitlin, satisfeita.- que três pessoas farão o meu relatório quando chegarmos.Quero algo bem bonitinho, como já falei.

 

— Prevejo dias torturosos.- falou Laurel em tom desgostoso, Ray a abraçou por trás.- Mas isso é relaxante.

 

— Podemos fazer outras coisas se você quiser amor.- sussurrou em seu ouvido a fazendo soltar um riso baixo. 

 

— Acho que eu vou vomitar.- disse Sara.

 

— Te acompanho nessa.- falou Curtis.

 

— Vocês não crescem mesmo, não é?- perguntou Laurel.

 

— Pedido um pouco impossível.- sorriu Felicity que surgia na sala ao lado da mãe, que a ajudava a carregar uma das malas.- Que horas é o nosso voo?

 

— Daqui umas duas horas.- suspirou John.- Acho bom irmos indo, para não termos atrasos.

 

— Os processos dos aeroportos são um inferno.- concordou Ray.

 

Começaram a carregar os carros e quando prontos, as despedidas se iniciaram. Donna continha olhos marejados, que se enchiam a cada abraço dado. Prometeu a Ray que assim que visse Quentin falaria muito bem do namorado da filha, o que o fez rir, levando para viagem um delicioso pedaço dos famosos Celebration cakes, que o deixou eufórico.

 

— Ás vezes acho que o amor dele por doces é maior que o que tem por mim.- brincou Laurel entre risos.

 

Felicity, que até o momento mantinha uma postura durona, se desmanchou ao abraçar a mãe.

 

— Vou sentir sua falta.- falou com a voz embargada.

 

— Eu também vou sentir a sua meu amor.- suspirou chorosa.- Mas eu ainda tenho um celular.- Felicity riu.- Sempre que precisar de mim é só ligar.

 

— Eu sei.- sorriu ao se afastar, limpando as lágrimas, Donna segurou seu rosto com ambas as mãos.- Eu te amo.

 

— Eu também te amo. E sobre aquele assunto…- Felicity suspirou.- Siga seu coração.

 

— Meu coração já me enganou uma vez.

 

— Não é todo mundo que tem o privilégio de encontrar um verdadeiro amor filha, não perca o seu por uma passado tão remoto e que não existe mais.E um amor desses, tão grande tem que ser vivido.- a aconselhou. Felicity assentiu, a abraçando mais uma vez.

 

— Obrigada.

 

— Tudo preparado, estamos prontos para partir. - avisou Oliver que voltava do lado de fora, a loira limpou o rosto.

 

— Certo.

 

Donna os acompanhou até a porta, acenando para os outros agentes que estavam no carro. Puxou Oliver antes de sair, o dando um abraço apertado.

 

— Obrigado por tudo Donna.- agradeceu Oliver com a voz abafada. 

 

— Pense naquilo que eu falei, está bem?- sussurrou enquanto se afastavam. Oliver assentiu.

 

— Eu vou lutar por ela, mesmo que receba um não.- Donna deu pulinhos de alegria, o fazendo rir.

 

— Dedos cruzados.- brincou.- Cuide dela pra mim, ok?

 

— Eu prometo.- a sensação de paz que o atingiu ao finalmente saber que compriria uma promessa de Donna o deixou extremamente contente.

 

— Acho bom.- fingiu uma postura brava.- Não quero ter que chutar o meio de suas pernas, que por sinal me daria netos lindos.- Oliver riu sem graça.- com um salto agulha.

 

— Não vai ser necessário.

 

Donna o abraçou mais uma vez, acenando animadamente para o ex( ou futuro, segundo suas preces) genro. Felicity o esperava no banco do motorista e ao vê-lo finalmente embarcar, o olhou com uma feição desconfiada.

 

— O que tanto conversaram?

 

— Nada demais.- piscou.- Apenas que sua mãe ameaçou chutar o meio das minhas pernas.

 

— Ela não fez isso.

 

— Fez sim.- Felicity cobriu o rosto envergonhada.

 

— Me desculpe mais uma vez.- pediu enquanto dava partida no carro.

 

— Ah, não se preocupe, ela tem boas intenções.— Felicity apertou o volante, entendendo o real sentido de suas palavras.- Não é única.

 

Seu tom baixo, mas o suficiente para que Felicity escutasse a fez encará-lo, entreabrindo os lábios. Oliver sustentou o olhar, voltando apenas a olhar para frente devido a buzina que indicava que estavam comendo uma faixa. Felicity voltou a se concentrar, sem deixar de notar o sorriso de canto que o homem ao seu lado carregava no rosto.

 

Se pegou sorrindo também.





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Notas finais do capítulo

Sim, eu sei que vocês ficaram com pena do nosso Ollie do passado, eu também fiquei kkk. Bom, as coisas irão mudar um pouco agora, estamos quase na reta final para encerrar o nosso ciclo sobre a relação de Oliver e Felicity no passado, mas há ainda algumas coisinhas que vocês irão descobrir nos próximos capítulos.
Já no presente, pensei muito sobre o retorno de Donna e em como ela poderia dar uma ajudadinha para o nosso casal favorito, o que eu tenho a dizer é que a conversa dela funcionou, e para a felicidade todos, tenho praticamente inteira a ideia de como será o próximo capítulo da história, então tentarei entrega-lo o mais rápido possível. Uma coisa que tenho a dizer é que esse próximo passo será um divisor de águas para a nossa história, então fiquem ligados
.E esse foi mais um capítulo de Sweet and bitter love. Comentem muitoooo e até a próxima ♥



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