Sweet and bitter love escrita por Ka Howiks


Capítulo 19
Fermentação


Notas iniciais do capítulo

" E você chegou atrasadinha..." kkkk. Novamente mil desculpas pelo atraso, mas em forma de presente para não os deixar chateados, esse capítulo recheado promete muita coisa, então fiquem preparados. Não vou me alongar muito aqui, bjs e boa leitura.



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Star City 2015

 

Felicity estava incrivelmente nervosa.

 

Apertava as mãos enquanto seguia pela calçada, atenta, realmente se perguntando se o que estava prestes a fazer não era loucura, afinal, estava mesmo apostando todas as suas fichas em uma total estranha?

 

Se pondo em perigo?

 

Os questionamentos eram válidos, afinal de contas, sua vida se tornou um turbilhão nos últimos meses. Primeiro a perda do projeto, sendo seguida pela invasão, que a marcou de uma maneira inexplicável, e por último e não menos importante…

 

Oliver.

 

Seu marido não estava normal, após incidente Felicity pode notar que o peso em seu olhar, semelhante ao que usava quando se culpava de alguma coisa, se fazia frequente. Seu sono agora era interrompido, nunca direto, seja para ver alguma coisa da empresa ou uma simples caminhada. Oliver sempre negava suas perguntas, mas era claro que ele estava diferente.

 

Um pouco distante.

 

Não que a negasse amor, mas seus beijos em maioria pareciam transmitir uma dor profunda, o que a deixava extremamente preocupada. As marcas em seus pescoço nem eram mais visíveis, porém pareciam que haviam criado uma enorme barreira.

 

Oliver se culpava tanto

 

Felicity não tinha ideia em como ajudá-lo, talvez com um jantar, uma conversa, dizendo que o amava e que o sentimento era imutável, e que apesar das circunstâncias superariam juntos. Seus pensamentos foram interrompidos com o barulho dos sinos ao cruzar a porta. Era uma cafeteria comum, nada diferente do que havia visto. Espaçosa, e bem iluminada, principalmente pela luz da rua que era transmitida pelas janelas enormes de vidro. Repetiu o número passado mentalmente, tentando localizá-lo, encontrando um ponto discreto ao fundo, longe das vitrines. Apertou a bolsa, se dirigindo ao local, e ao puxar a cadeira, olhou mais uma vez ao redor, tentando encontrar seu informante. Será que era uma emboscada?

 

Será que queriam seu rosto?

 

Engoliu em seco, disfarçando a sensação. Pediu um café, tamboreando os dedos pela mesa. Após alguns minutos em espera, bufou, irritada com a demora.

 

Parece que a tal “ T” não iria aparecer.

 

— Seu pedido agente Smoak.

Seu corpo se sobressaltou, assustada. Ergueu o olhar, se deparando com uma mulher, aparentemente jovem, no entanto, com um rosto cansado. Os cabelos escuros em chanel destacavam seus traços que não negavam sua origem asiática, e os olhos, escuros, sempre em alerta, aguardavam sua reação. Felicity entreabriu os lábios, surpresa, sem saber muito o que dizer. A mulher então puxou a cadeira a sua frente, se sentando, a fitando intensamente, e após sua análise, sorriu de canto, estendendo a mão.

 

— Bom vê-la a cores.- sorriu a mulher, Felicity permanecia estática.

 

— T?- perguntou, ainda incerta.- Isso é loucura.

 

— Quando eu lhe contar o que sei, vai mesmo precisar estar com a sanidade em dia.- respondeu, suspirando. entregou o café.- Alguém a seguiu?

 

— Não, deixei o carro em um ponto longe daqui, estava precisando mesmo andar.- deu de ombros.- Bom… Quem é você?

 

T apertou os lábios, era óbvio que por sua postura confiante tivesse se preparado para responder esse tipo de pergunta, no entanto, sua tensão também era perceptível. Fechou os olhos, suspirando fundo, e quando abertos, a olhou marcadamente.

 

— Meu nome é Tatsu, Tatsu Yamashiro,- respondeu com cautela, Felicity arregalou os olhos, chocada.

 

— Yamashiro?- repetiu com a boca aberta.- Como Maseo Yamashiro? O membro importante do alto escalão de Hong Kong? Yamashiro? Com Y...

 

— Exatamente senhorita Smoak.- interrompeu sua divagação. levou seu corpo mais para frente, diminuindo a distância.- E posso dizer, sem sombra de dúvidas, o que eles estão planejando.

 

— Qual é sua relação com ele?- perguntou. Tatsu revirou os olhos.

 

— Fomos casados.- deu de ombros.- Éramos felizes, de fato, mas aí…- seus olhos escureceram. Tomou um tempo maior para responder.– Ele traiu você?

 

— Se fosse isso eu a garanto que não estaria nessa mesa com você.- riu sarcástica, balançando a cabeça diante de uma ideia tão absurda.- Você ainda não entendeu, não é? A gravidade disso tudo.

 

— Então me explique- segurou suas mãos, fitando o fundo de seus olhos.- Sem mais invasivas. 

 

— Certo, você quer a verdade então vamos a verdade.- arrumou a postura.- Alguns anos atrás ocorreu um acidente em uma pequena cidadezinha na China, que ocasionou dezenas de mortes. As autoridades abafaram o caso, até porque não era uma grande metrópole, estava mais para um pequeno vilarejo. Uma investigação foi aberta com a ajuda de alguns oficiais dos Estados Unidos para tentar entender como de uma hora pra outra isso ocorreu, se havia sido algo na água, comida, ou talvez alguma doença perigosa.Você sabe como o governo chines é fechado, e por não encontrar algo plausível decidiu abafar o caso. Essa falta de pistas não foi uma coincidência inocente, um homem, desprezível, com um certo poder nas mãos sabia exatamente como e o que havia acontecido.

 

— E quem é esse homem?

 

— General Matthew Shrieve.- seus lábios se contorceram, em desgosto.- Os Estados Unidos e a China tiveram uma iniciativa de começar uma guarda unida, que resolveria o problema em áreas mais pobres do planeta, uma boa ideia, entretanto alguns homens dessa guarda não tinham boas intenções.  Matthew Shrieve criou uma arma biológica senhorita Smoak, conhecida como o vírus Alpha Ômega, altamente perigoso, que se espalhado no ar, pode levar não só dezenas, mas milhares de pessoas a óbito em menos de cinco minutos. Sua maneira de abafar o que estava fazendo, no entanto, atrapalhou sua produção, e é aí que as máfias entram.

 

— Dinheiro em troca de produção.- deduziu Felicity.

 

— Alguém tinha que fazer o trabalho sujo escondido, e bom, ele encontrou membros eficientes, que se encontram muito interessados em seu projeto.

 

— Nossa.- murmurou, se encostando na cadeira.- O que Shrieve ganhará com isso?

 

— Seu plano atual é derrubar a economia chinesa, deixando assim somente os Estados Unidos como única potência. Planeja um ataque no país inteiro.

 

— Meu Deus.- cobriu os lábios. horrorizada.

 

— E isso não é a pior parte. Após o seu showzinho ele não vai parar por aí, com uma arma tão impotente, pode ameaçar as outras nações, ganhando aliados, mais do que já tem. Entretanto, a tríade e o alto escalão de Hong Kong tem seus planos próprios, apoiarão Shrieve por um tempo, o tirando de circulação depois.

 

— E assim a anarquia começa.

 

— Temos uma chance. Por falta de matéria os produtos utilizados no Ômega demoraram a chegar, e ainda não estão juntos, o que significa…

 

— Que a arma não está pronta.

 

— Bem observado.- sorriu de canto.- Essas substâncias são extremamente raras, o que os dá um número limitado. Daqui três dias um encontro entre mafiosos ocorrerá, onde esses líquidos enfim se encontrarão. Avise sua chefe, somente sua chefe.- deixou claro.- E aprontem a missão. Isso não pode dar errado Felicity, você me entendeu?

 

— Claro.- assentiu.- Sabe que se fizermos isso, seu marido… Ex marido.- se corrigiu diante de seu olhar afiado.- Irá preso também, não é? Não está preocupada?

 

— Há coisas mais importantes que devo prestar atenção.- respondeu dura.- Maseo merece pagar agente, não sinta pena. Ele não sentiu comigo.

 

Seu olhar vagou pela cafeteria, perdida em pensamentos. Felicity pode notar, que no canto de seus olhos emergia um acúmulo de água, qual a mesma parecia segurar arduamente. Sem saber o que fazer, segurou sua mão, em sinal de apoio. Era estranho sentir tanta compaixão por alguém que mal conhecia.Tatsu olhou para suas mãos, unidas, se fixando ali.

 

— Meu filho foi uma das vítimas Felicity.- respondeu em tom baixo.- Maseo ficou possesso, ficou distante, frio.- sua voz diminuía.- Até simplesmente sumir, entrando pro alto escalão. Ele perdeu as esperanças, mas eu ainda tenho.- ergueu o olhar.- Eu jurei a mim mesma, depois de ver meu filho morrer em meus braços que mais nenhum Akio morreria de novo.

 

— Não vamos deixar isso acontecer.- garantiu- Eu prometo.

 

— Sei que não vai, é por isso que escolhi você.

 

Partilharam um sorriso por minutos silenciosos. Felicity então recolheu suas mãos, arrumando a bolsa. Era hora de ir.

 

— Bom, Tatsu.- pronunciou o nome com diversão.- Creio que tudo isso que você me falou já tenha sido enviado, assim como aquele e-mail de natal, era você, não é?– Tenho te observado por muito tempo.- sorriu de canto.- Felicity…- a chamou uma última vez, ao vê-la se levantar.- Daqui três dias sua vida vai mudar muito, então descanse.- Sugeriu.- Avise a sua chefe que irei junto, e a propósito, não serão a única unidade presente.

 

— A.R.G.U.S- deduziu.- Por que não deixar isso com eles então?

 

— Você confia neles?

 

Seus lábios se entreabriram, sem saber ao certo o que responder. Pegou mais alguns detalhes de como ocorreria o grande evento e saiu, aérea, era muita informação, algo muito mais perigoso do que havia imaginado. Se viu presa novamente a frase de Tatsu.

 

“ Sua vida vai mudar muito”

 

E o que seria muito?

 

***

Oliver separava com mais alguns agentes os equipamentos que seriam utilizados na próxima operação. Era clara sua importância, o encontro valia muita coisa. Poderiam conseguir um dos líquidos, deixando assim a arma incompleta, pegando membros importantes. Oliver sabia que estava apostando demais, via esse encontro como o fim de seu pesadelo.

 

E o começo de uma nova vida.

 

Sem mais mentiras, somente ele e a família, juntos, superando as feridas. Se pegou pensando em uma viagem, mereciam depois de tudo. Poderiam visitar alguns países, ou talvez alguns estados, Felicity havia falado uma vez sobre seu desejo de conhecer o local onde uma de suas sagas favoritas foi gravada.

 

Felicity adoraria Seattle…

 

Sua atenção foi desviada pela feição fechada dos dois amigos, que o olhava com desgosto. Mandou que o restante continuasse quando se retirou, caminhando em suas direções.

 

— Se vieram me fazer mudar de ideia…

 

— Não tem necessidade nenhuma de você ir.- interrompeu Diggle.- Amanda sabe disso.

 

— Eu vou estar presente Diggle. Da última vez que deixei de fazer meu trabalho você lembra o que aconteceu.- o viu revirar os olhos.- E você?- perguntou a Tommy.- Não é do seu feitio ficar calado.

 

— Você e Sara sabem o que eu penso.- respondeu sério.- Mas são grandinhos, se querem ir, então…

 

— Obrigado.- agradeceu Oliver, suspirando pesadamente.- Vai dar certo, e após isso eu vou tirar umas férias.

 

— Uma segunda Lua de mel?- brincou Tommy.

 

— Algo assim.- sorriu de canto.- Bom, preciso ir. Boa noite.

 

— Boa noite.

 

Se despediram com um aperto de mãos rápido, sendo o mais demorado o de Diggle, que insistia em fazê-lo mudar de ideia.  Entendia a preocupação do amigo, um evento desses chamaria no dia seguinte muita atenção, no entanto, sabia exatamente como sua empresa era cautelosa ao se tratar de descrição. Se trocou novamente, colocando o terno que fazia parte de sua encenação e  dirigiu para casa, sorrindo de canto ao notar o carro da esposa já estacionado em uma das vagas. Ao abrir a porta, notou a figura loira na varanda, pensativa. Felicity não costumava pisar muito ali desde o “incidente”, eram raras as vezes em que olhava a rua a partir de agora.

 

As coisas estavam melhorando no final das contas.

 

Seu barulho propositalmente alto a despertou. Pode notar, por suas feições que algo a afligia, mesmo com o pequeno sorriso. Se aproximou, sentindo a brisa leve que soprava pelas ruas de Star City.

 

— Oi.- a deu um selinho.

 

— Oi.- respondeu, o observando.- Como foi o trabalho?

 

— Tranquilo como sempre, a coisa mais perigosa que fiz hoje foi brigar com Isabel.- brincou, a fazendo sorrir de canto. Não era bem uma mentira, das vezes em que esteve presente Isabel se mostrou totalmente hostil com sua presença.- E você? Algo importante.

 

— Nada.- mordeu os lábios. Oliver franziu o cenho.

 

Tinha alguma coisa errada.

 

— Tem alguma coisa preocupando você?- questionou, Felicity desviou o olhar.- Lis…

 

— Você.- respondeu, o deixando surpreso.

 

— Eu?

 

— Você anda tão estranho ultimamente.- suspirou, se xingando mentalmente. Usar seu relacionamento para fugir de perguntas mais detalhadas não era um golpe baixo, realmente a interessava.

 

Oliver não era o mesmo.

 

E se pudesse, ao menos ter um relato do que o afligia talvez pudessem resolver.

 

— Depois daquilo.- o viu afrouxar a gravata.- Só quero vê-lo feliz.

 

— Você me faz feliz amor.- a trouxe para perto, acariciando com uma das mão sua bochecha.- Muito. São só tempos difíceis, mas garanto que logo estaremos bem.- Felicity deitou a cabeça em seu peito, os deixando abraçados.- Eu prometo.

 

Felicity sorriu, se aconchegando ainda mais em seus braços. Estava tão esgotada mentalmente, com um turbilhão de pensamentos que se deixará levar. Talvez as coisas não estivessem estranhas.

 

Talvez ela estivesse estranha.

 

Seu rosto fora erguido, sendo preenchido pelos lábios gentis de Oliver. Logo se tornará mais profundo, deixando as carícias de lado. 

— Me desculpe.- pediu em tom baixo.- Só me preocupo com você. Sei que nossa vida não está fácil, e eu admito que tenho andado meio arisca, mas é difícil saber em quem confiar.- suspirou fundo.- Ainda bem que tenho você.

 

O olhar de Oliver de repente se tornou gélido, trazendo novamente à tona sua insegurança. E mesmo diante de seu sorriso forçado, pode notar sua mudança de humor.

 

“ Sua vida vai mudar muito”

 

Aquilo se encaixa também?

***

Os três dias se passaram voando e o tão aguardado encontro estava prestes a acontecer. Felicity já havia contado a Watson, que sem mais delongas armou uma operação, não avisando sua equipe, o que a deixou nervosa.

 

Seria um deles?

 

Ray era fora de cogitação, assim como Laurel, Sara e Caitlin também não seriam capazes de fazer uma coisa dessas. Talvez fosse só uma medida de precaução…

 

Suspirou fundo.

 

Suas mãos estavam suadas no banco reserva, enquanto aguardavam no carro o momento em que a operação começaria. Tatsu se encontrava no banco do motorista, batucando as unhas no volante, parecia ansiosa.

 

Não tanto quanto ela.

 

Agradeceu aos céus ao ser informada por Oliver que iria com Moira a um jantar de negócios, assim não precisaria mentir, odiava o fato de deixá-lo de fora, e não era por falta de confiança, mas para sua própria segurança. Não queria colocá-lo em risco caso algo desse errado.

 

Muito menos William.

 

Precisava focar.

 

— Onde estão os agentes da A.R.G.U.S?- perguntou, tentando encontrá-los.- Sei que irão ficar bravos, no entanto vamos ser um suporte maior de ajuda, já que vamos pegar um líquido enquanto eles pegam outro.

 

— Sua chefe decidiu fazer uma parceria?– Watson não falou muito, mas creio que já tem um plano pra depois daqui.- respondeu, notando seu olhar congelado em um ponto a frente.- Tatsu? Tudo bem?

 

— Felicity, acho melhor irmos embora.- murmurou de repente, pegando as chaves, sua mão foi contida.

      - Claro que não, somos um time, lembra? Você merece ver isso.

 

— Mas você não.- suas sobrancelhas arquearam.

 

— Como assim?

 

Seguiu seu olhar, confusa até um dos pontos em que tinham visibilidade. Notou o nomes A.R.G.U.S gravado na farda de alguns agentes, ainda não entendendo sua fala, era óbvio que eles estariam ali, então com o que ela…

 Engoliu em seco, sentindo seu corpo tremer, não podia ser, não podia…

 

— Sara?

 

Olhou para Tatsu, que com um olhar piedoso indicou mais um ponto à frente. Apertou os olhos, na tentativa de ter uma visibilidade melhor. Seu coração se acelerou ao prestar atenção na figura que indicava. Tinha o rosto rígido, postura ereta e olhar atento. um verdadeiro soldado pronto para batalha, a questão é que Felicity conhecia aquele soldado mais do que qualquer um. Balançou a cabeça em negativa, desejando que fosse uma miragem.

 

— Oliver?- sussurrou, sem forças. Tatsu assentiu.

 

— Sinto muito agente Smoak.

 

***

 

Atualmente 



— Isso, está indo muito bem.

 

O treinamento com Roy se dirigia a passos calmos, devido a seus ferimentos na última missão, o que não havia sido uma desculpa para Olivernão ficar no seu pé, estava pegando pesado.

 

Muito pesado.

 

Roy não protestava diante de suas ordens, sabia que estava sob observação, e começar socando um de seus chefes não fora uma ideia muito inteligente. Um gemido de dor o escapou ao sentir um dos pedaços de bambu atingir em cheio sua perna, o deixando ajoelhado.

 

— De pé.- falou Oliver.- Vamos Harper.

 

— Estamos treinando a horas.- resmungou, se levantando com dificuldade.- E nessas horas o que eu mais tenho feito é apanhar.

 

— Seus reflexos estão lentos, de fato, mas é por isso que estamos treinando. Agora…- apontou para o pedaço de bambu.-Em posição.

 

Roy assentiu, a contra gosto. Voltou à sua posição original. No momento em que levantava os braços passos na escada os chamaram atenção. Felicity apareceu, com uma feição divertida ao analisá-los.

 

— Roy? Sobe, preciso falar com seu chefe.

 

— Graças a Deus.- respirou aliviado, pegando sua camisa pendurada.- Eu te amo.

 

— Eu também te amo. Caitlin deve ter alguns analgesicos, agora vá.

 

 O mesmo a deu um beijo na bochecha, saindo rapidamente. Quando sozinhos, Felicity arqueou as sobrancelhas, encontrando o rosto quase angelical de Oliver.

 

— Não faça esse sorriso pra mim, Queen.- o repreendeu.

 

— Mas o que eu fiz?- perguntou, inocente, recolhendo os equipamentos usados no treinamento.- Veio falar sobre Roy?

 

— Também.- assentiu, o observando. Oliver então virou em sua direção, cruzando os braços. Engoliu em seco, ele estava tão atraente…

 

Suado.

 

Só em imaginar tocar aqueles músculos com a ponta dos dedos...

 

Fechou os olhos, na tentativa de interromper seus pensamentos. 

 

— E então?- questionou Oliver, com as sobrancelhas franzidas.- O que…

 

— Coloca a camisa.- pediu ainda sem encará-lo.

 

— Como?- perguntou confuso.

 

— A camisa Oliver, veste.

 

Acatou seu pedido confuso, sem fazer questionamentos. Agora vestido,apontou para si mesmo, pedindo aprovação.

 

— Melhor?

 

— Sim.- agradeceu, envergonhada.- Bom, sobre Roy, eu queria dizer que o que ele fez em Mônaco…

 

— Tá tudo bem Lis, relaxa. Eu não vou reprova-lo por motivos pessoais, achei que soubesse que sou profissional.– Eu confio, não me entenda mal, é que…- passou a mão no cabelo em gesto nervoso.- Não foi legal. Desculpe.

 

— Tudo bem, e hipoteticamente falando, eu meio que merecia aquele soco.

 

— Hipoteticamente falando eu tenho que concordar.- admitiu, os fazendo soltar um riso baixo pelo costume antigo.- Sobre o treinamento…

 

— Teste. Vamos ver até onde Harper aguenta.- piscou, Felicity sorriu de canto.

 

— Não pegue leve, ele merece sofrer um pouquinho.

 

— Combinado.- sorriu, ajeitando sua postura. Estava pronto para se dirigir a escada quando a viu ir em direção aos equipamentos.- Felicity?

 

— Vamos, quero ver esses seus truquezinhos.- se pôs em posição. Oliver riu.

 

— Tá.- concordou, retirando sua blusa.

 

— É claro que você tinha que fazer isso.- balbuciou, revirando os olhos.

 

— Distração é uma das principais armas para derrubar o oponente.- respondeu com humor, a deixando sem graça.- E você aparentemente parece bem distraída.

 

— Céus, como eu odeio você.

 

Seu soco foi desviado rapidamente por Oliver, fazendo uma sequência. O loiro sorriu de forma provocativa diante de sua raiva, a deixando ainda mais competitiva. Oliver se abaixou diante de mais um soco, aproveitando o momento para a pegar pela cintura, fazendo seus corpos cair no tatame. Felicity tentou se debater, porém seus braços foram contidos. Suspirou contrariada.

 

— Você sabe o que fazer.- falou Oliver ofegante.- Por que não faz?

 

—  Não quero machucar você

 

— Será mesmo?- arqueou as sobrancelhas.- Curtis ficaria desapontado vendo sua principal professora de uma forma tão...Como posso dizer?- fingiu pensar.- Fraca.

 

Felicity semicerrou os olhos, aceitando o desafio, Oliver sabia exatamente o que iria acontecer, no entanto, não ousou fazer movimento algum para impedi-la. Felicity abraçou seu braço esquerdo, o empurrando rapidamente. Seus quadris se encaixaram perfeitamente o impedindo de sair, enquanto que com o cotovelo, o deixou imobilizado.

 

— Maldita raspagem.- comentou Oliver. Felicity sorriu.

 

— Você nem tentou se defender, o que me deixa com um ponta a sua frente de melhor professora.– Isso não vale, é uma contagem totalmente sem embasamento.

 

— Sem embasamento?- ampliou o sorriso.- Sou eu que estou por cima agora, não é?

 

— É, não há como negar.- murmurou, se fixando em seus olhos, Felicity engoliu em seco.

 

— Aí meu Deus.

 

Um murmúrio nervoso os atraiu até a escada. Curtis estava parado, cobrindo os lábios chocado.Seu sorriso, embora coberto, era perceptível, parecia incrivelmente satisfeito, o que deixou Felicity nervosa.

 

— Merda.- murmurou, se levantando em um pulo, Oliver a seguiu, segurando a risada.- O que foi?

 

— Eu só vim avisar o casa...Os chefinhos.- se corrigiu diante de seu olhar repreensivo.- Que as informações chegaram.

 

— Trouxe o tablet?- perguntou Oliver, Curtis o entregou o equipamento.

 

— Vou deixar que vocês leiam com calma...E mais privacidade.- seus lábios formaram um sorriso cômico.- Poderiam ter escolhido....

 

— Curtis, você tem cinco segundos pra sair daqui.- interrompeu Felicity, nervosa.- 1...2…

 

— Tchauzinho.

 

O mesmo piscou para a amiga, a deixando furiosa, Se virou para analisar as expressões de Oliver, porém o que encontrou estava longe de diversão.

 

— O que foi?- perguntou preocupada.-É tão ruim assim?

 

— Pior do que ruim.- respondeu massageando as têmporas, como se estivesse com dor de cabeça.- Veja você mesma.

 

Felicity leu o arquivo atentamente, prestando atenção aos detalhes. Seus lábios se entreabriram, em choque com a informação. Ergueu o olhar até Oliver.

 

— Malcolm?

 

***

 

Todos se encontravam presentes na sala de reuniões. Oliver e Felicity conversavam a murmúrios baixos, o que os deixaram apreensivos, seus rostos transmitiam tensão. Oliver lançou um último olhar a Felicity, que assentiu em confirmação a sua pergunta interna. Limpou a garganta.

 

— Bom, vamos ao que interessa.- suspirou Oliver.- Nossa missão desta vez não atingiu o âmbito internacional, então respondendo as perguntas, não, não sairemos do país.- resmungos foram ouvidos.- Nossa missão se passará aqui em Nova York mesmo, e desta vez analisaremos um grupo de corruptos, algo que não é novidade.

 

— Mark Boyle, CEO de uma das multinacionais mais famosas do nosso país fora assassinado há um ano. A perícia não encontrou nada em seu corpo que revelasse a até então, morte precoce. Nada de tiro, agressões ou escoriações. Mas…– Sempre tem um “mas”.- comentou Sara.– O senhor Boyle fazia parte de um grupo com os empresários mais ricos desta cidade. O grupo até então é restrito, há poucas pessoas, que tem como fundamento juntarem dinheiro para instituições de caridade. Que a essa altura, como já sabemos, são inexistentes.- informou Felicity.– O FBI começou a prestar atenção no grupo, cada encontro e extratos milionários feitos eram investigados minuciosamente, até que chegaram a mais pistas.- continuou Oliver.- Mark Boyle foi assassinado, com um veneno até então descartado de ser importante na perícia, mas que se ingerido em grandes quantidades, pode levar a morte.

 

—  Esse grupo já desviou milhões, alimentando cartéis de drogas, investindo em políticos corruptos e contratando assassinos para silenciar aqueles que os delatam.

 

— Nossa missão é pegar um dos cabeças do grupo, dando assim as nossas agências as informações necessárias. Descobrimos mais detalhes com a ajuda de um informante, qual, como fora pedido pelos nossos superiores, teremos que trabalhar nesta missão.

 

— Não entendi todo o estresse.- comentou Ray confuso.- Vocês pareciam tão tensos.

 

— Tommy…- chamou Oliver com cautela, o mesmo contornava Caitlin com um braço.- Você vai precisar ser paciente.

 

— Se for por Mônaco, eu prometo não fazer outra vez.- brincou, Caitlin revirou os olhos.- E qual é, nem foi tão ruim. Nós jogamos…

 

— Quase fomos mortos.- completou John por cima.

 

— Quase, se tirarmos esse quase foi perfeito.- piscou, seu sorriso se desmanchou ao encarar Oliver.- O que foi?

 

— O informante...É o seu pai.

 

— Como é que é?

 

Suas feições endureceram. O restante dos agentes se entreolharam, surpresos com a informação. Não era mistério algum que o relacionamento de Tommy e Malcolm era conturbado. 

 

Ele nunca falava do pai.

 

Caitlin virou o rosto para encará-lo, seus olhos estavam distantes.

 

— Malcolm está na cidade?- perguntou, Felicity assentiu. Um sorriso sarcástico se formou em seus lábios.- É claro que ele está.- balançou a cabeça, irritado.- Quando vamos vê-lo?

 

— Amanhã.- respondeu Oliver.- Essas são as informações que temos pra hoje, estudem-as e amanhã de manhã conversamos com nosso informante, dispensados.

 

Tommy não disse mais nenhuma palavra, apenas sussurrou algo a Caitlin e saiu, com o semblante fechado. Todos olharam para os chefes.

 

— Malcolm?- sussurrou John.´- O FBI perdeu a cabeça?

 

— Mesmo trabalhando pra eles tenho que concordar, isso é loucura.- concordou Laurel.

 

— A questão mais importante é, podemos mesmo confiar nele?

 

A pergunta de Sara os deixou em silêncio reflexivo.

 

— Tommy quase nunca o menciona pra mim..- murmurou Caitlin.- Ele é tão ruim assim?

 

— Quando conhecer vai ter certeza.- respondeu Oliver, Felicity o repreendeu pelo olhar.- Embora ele esteja querendo mesmo mudar, apesar de tudo ama Tommy. Teremos que ser absurdamente cautelosos com isso, ok?- falou os fazendo assentir.- Malcolm é uma peça chave para nossa operação. Agora vamos descansar um pouco, amanhã será um dia cheio.

 

Os agentes se dispersaram. Roy que se encontrava um pouco confuso diante da situação fora informado pelos colegas, quais estavam o tratando muito bem desde sua chegada. Oliver, o último a sair, olhou mais uma vez a foto de Malcolm. Não confiava nele, nenhum pouco.

 

Algo o dizia que Tommy se frustraria outra vez,

 

***

A mudança com a entrada da primavera era perceptível em todos os arredores da tão famosa cidade dos sonhos. No lugar de neve e galhos secos, os parques se encontravam floridos, encantando turistas e moradores pela diversa coloração das árvores de ipê. O sol também se tornará um companheiro, que embora um pouco fraco pela manhã, poderia esquentar quem desejasse um banho com sua luz. 

 No entanto, a atmosfera leve parecia um mero enfeite em meio a tensão que os agentes se encontravam. Oliver terminava de ler as últimas informações quando Felicity apareceu na pequena sala de reuniões. 

 

— Já estamos prontos.- informou.- Oliver… Eu sei que isso não está sendo fácil pra você também. Nunca gostou de Malcolm, mas no momento ele é nossa única chance de pegar esse pessoal.

 

— Uma terrível chance você quis dizer.- largou o tablet na mesa, encontrando seus olhos.- Malcolm não é de confiança Lis, nunca foi.

 

— Faça isso por Tommy então.- o deixou sem palavras.- Ele é um irmão pra você, sei que está tentando protegê-lo, mas Malcolm é o pai dele, pode estar querendo mudar, merece uma chance. Promete que tentará pelo menos ser gentil?

 

— Eu…- o olhar afiado da agente o fez mudar o curso das palavras.- Tá, mas ficarei de olho.

 

— Sei que vai.- sorriu de canto.- Vamos?

 

— Vamos.

 

***

 

Tommy fora o primeiro a descer do carro, observando com cautela o enorme prédio à frente. Caitlin segurou em sua mão, lançando um sorriso confiante, o qual o mesmo retribuiu. Oliver, Felicity e John os direcionaram, atentos. Passaram pelo hall, sendo indicados a subir no décimo primeiro andar. A construção não era nada fora do comum de um ambiente corporativo. O andar da presidência estava vazio, sendo apenas a porta da sala principal aberta. Malcolm se encontrava concentrado em seu computador, porém, ao escutar toques ergueu o olhar, seu sorriso fora imediato.Se levantou em um movimento abrupto, alinhando seu terno. Seus olhos vagavam em busca de um rosto conhecido, até encontrá-lo. Engoliu em seco.

 

— Filho.- cumprimentou de longe, incerto, Tommy fortaleceu o aperto na mão de Caitlin.

 

— Oi pai.- respondeu, desconfortável.

 

Se encararam por longos segundos. Oliver limpou a garganta.

 

— Senhor Merlyn.- se aproximou, estendendo a mão.

 

— Oliver Queen.- sorriu, o aperto forte o fez soltar um sorriso nervoso.- Quanto tempo. Quando foi a última vez que nos vimos?

 

— Sua presença é algo que eu não me recordo muito, Malcolm.- fingiu um sorriso, a respiração alta de Felicity o fez se policiar.- Bom, vamos ao que interessa?

 

— Claro.- o sorriso de Malcolm sumiu. Seu olhar endureceu.- Vamos começar por Mark, não é?

 

— Não, mas se acha melhor.- falou Felicity.- Como se envolveu nessa situação senhor Merlyn?

 

— Fui enganado.- respondeu, voltando a se sentar em uma cadeira. Tommy bufou.

 

— Você? Enganado?- perguntou descrente.

 

— Pedi para algumas pessoas de confiança acharem instituições de caridade, a Global Merlyn anda tão bem que não faria mal repartir um pouco.- suspirou.- Então encontrei uma sede aqui em Nova York, me pareceu magnífica, com um propósito tão puro, não havia nada de errado até então.

 

— Desde quando é tão generoso?- perguntou Tommy o olhando fixamente. Um sorriso triste se formou em seus lábios.

 

— Aprendi com a sua mãe.

 

Seus lábios se entreabriram, surpresos com a resposta. Malcolm desviou o olhar, limpando a garganta.

 

— Minha esposa, Rebecca.- sorriu nostálgico.- Tinha uma instituição que infelizmente foi encerrada após sua morte. Achei que era uma boa maneira de realizar um de seus sonhos.

 

— Como acabou no meio de corruptos empresários, senhor Merlyn?- questionou Felicity.

 

— Após os primeiros investimentos, que não foram poucos.- apontou.- Resolvi me aprofundar na instituição, sendo muitas vezes barrado por um dos empresários, Tom Bain, fiquem de olho nele. O mesmo, pelo o que Mark me contou antes de falecer, é o chefe da operação, e após notar que Mark estava o investigando, descobrindo o que não deveria, o assassinou. Eu não podia ficar calado, não depois de perder alguém que havia se tornado praticamente da família pra mim.- os olhou desesperado.- Isso é o porquê que estou aqui, preciso da justiça, Tom merece pagar.

 

Oliver assentiu, trocando um olhar com Felicity. Não era certamente o que esperava. Olhou para Tommy, que parecia preso nos próprios pensamentos.

 

— Como podemos entrar?- questionou Oliver.

 

— Eles estão à procura de um novo investidor, pode facilmente se passar por um.

 

— É um bom plano.- concordou Laurel.- Sua ocupação é até o momento desconhecida, então se pesquisarem na internet…

 

— Ainda aparecerá Oliver Queen empresário.- completou seu raciocínio.- Malcolm, precisamos de todas as informações possíveis, pode nos ajudar?

 

— No que precisar.- garantiu, firme.- Vou ter segurança?

 

— Está com os melhores do país.- sorriu Ray.

 

Ótimo, isso é realmente um alívio, obrigado.- agradeceu.- Se precisarem de mais alguma coisa…

 

— Chamaremos.

 

O encontro demorou mais um tempo, sendo anotada toda informação necessária. Quando finalizada, Malcolm segurou no braço do filho, pedindo para que ficassem a sós por alguns minutos. O mesmo trocou um olhar breve com Caitlin, se demorando em Oliver que assentiu, discretamente. Cruzou os braços, aguardando até estarem inteiramente sozinhos.

 

— O que quer?- perguntou com rispidez.- Tenho um caso para resolver.

 

— Sei que não está feliz em me ver.- começou com cautela. Malcolm passou a mão no rosto, em gesto nervoso.- Faz tanto tempo que eu te vi, está um verdadeiro homem.- sorriu orgulhoso.- Quero que saiba que sempre esteve comigo, em todos os lugares que estive.

 

— Todos os lugares, mas nunca comigo.- sorriu em tom sarcástico, Malcolm entreabriu os lábios.- Depois de anos aparece, como a figura de um bom moço…

 

— Não precisa me perdoar agora.- o interrompeu, segurando seus ombros.- Eu só...Eu só quero um tempo juntos, um almoço, amanhã. Você tem o meu número, então apenas...Apenas ligue.- pediu, Tommy não respondeu.- Pense, por favor.

 

Tommy sentiu os braços do pai o contornarem, em um abraço desengonçado. Congelou em meio ao ato, ainda na defensiva, mas após um tempo retribuiu. Se afastou rapidamente, limpando a garganta.

 

— Tchau pai.

 

— Tchau filho.

 

***

Tommy executava uma sequência de socos repetidamente. O mesmo se encontrava suado, suas juntas doíam, nada comparado com o que sentia internamente. Estava irritado.

 

Perdido.

 

Malcolm nunca havia ligado pra ele, nem quando soube de seu trabalho secreto, ao contrário, fez pouco caso. Nunca havia realmente o apoiado.

 

Então o que era todo aquele arrependimento agora?

 

Oliver desceu as escadas, encontrando a figura descontrolada no meio da sala. Seu último soco fora forte o suficiente para fazer o saco cair no chão. O mesmo bufou em resposta.

 

— Precisa descansar.- comentou Oliver, o rondando de braços cruzados.- Tommy…

 

— Você o conhece.- o interrompeu, erguendo o saco do chão e o pendurando outra vez.- Me convidou para a porcaria de um almoço, acredita?

 

— Eu realmente acho que você deveria ir.- respondeu, o deixando pasmo.- Ele é seu pai, talvez esteja querendo uma segunda chance, e se eu tivesse a mesma oportunidade, eu iria.

 

— Não compare seu pai ao meu, o seu pelo menos era presente.

 

— Ele não era perfeito, e você sabe disso.- continuou, Tommy entreabriu os lábios.- A missão de amanhã não é perigosa, então se quiser ir…- soltou no ar.- A decisão é sua.

 

Oliver tocou em seu ombro, o lançando um olhar significativo. O escutou subir as escadas e quando sozinho, realmente ponderou a ideia. Será que Malcolm queria uma reaproximação?

 

Ou era mais um de seus joguinhos?

***

 

As informações dadas por Malcolm realmente continham valor. Curtis e Ray, com a ajuda dos demais, trabalharam duro para conseguirem uma reunião com o empresário. O disfarce era simples, na realidade, eram raras as vezes em que Oliver podia usar seu próprio nome, mas naquele momento era essencial. Ele era Oliver Queen, empresário de sucesso com um sobrenome conhecido, o que facilitou sua entrada com o empresário, que, pelo o que dissera Felicity, havia ficado eufórico. O mesmo faria uma reunião com Tom Bain, onde tentaria, após negociações, entrar para o grupo. Enquanto estivesse conversando, sua assistente executiva, que sairia com uma desculpa, colocaria um dispositivo que passaria as informações em tempo real para a base, uma ideia boa.

 

Que Felicity havia odiado.

 

Com os comunicadores e a equipe em alerta, entraram no prédio, se dirigindo ao hall. Quando autorizados, pegaram o elevador. Felicity suspirou, irritada quando as portas se fecharam.

 

— Se você me pedir um café eu juro que não respondo por mim.- comentou em tom baixo, Oliver escondeu o sorriso.

 

— Jamais faria uma coisa tão terrível senhorita Smoak.- falou divertido.

 

— Oliver Queen versão magnata- comentou de repente, o analisando em seu terno cinza.- Mas que nostalgia.

 

— Boa ou ruim?- perguntou, virando o rosto para encará-la, Felicity mordeu os lábios.

 

— Eu...Eu não sei.- respondeu honesta, seus olhares se cruzaram. Oliver assentiu, voltando a encarar a porta do elevador.

 

— Quando descobrir me conte, fiquei curioso.

 

A mesma entreabriu os lábios, porém o tempo para conversa havia se esgotado. Uma mulher, ruiva, com um sorriso gentil os direcionou até a sala. Tom, estava sentado ao redor de uma enorme mesa, com mais dois homens, também trajando ternos. Se levantou assim que a porta fora aberta.

 

— Oliver Queen.- o estendeu a mão, em um cumprimento animado.

 

— Tom Bain.- respondeu da mesma forma, se certificando se era o mesmo que haviam visto na foto.- Pronto para negócios?

 

— Sempre pronto.- seu olhar desceu até Felicity.- E quem é essa?

 

— Felicity Smoak.- respondeu a loira.- É um prazer vê-lo ao vivo senhor Bain. Nos falamos no telefone.

 

— Claro, jamais esqueceria uma voz tão bonita.- Oliver forçou um sorriso.- Vamos nos sentar?

 

— Claro.

 

Oliver e Felicity se sentaram em duas cadeiras ao lado oposto em que Tom e seus homens estavam. Oliver arrumou sua postura.

 

— Por que decidiu investir em nossa instituição, senhor Queen?- perguntou Tom.

 

— A Corporação Queen está em alta no mercado, claro que somos conhecidos por nossos projetos públicos, como a ajuda na limpeza da baía de Star City, no entanto, queremos expandir os negócios. O conhecimento público de nossas atividades nos mantém com uma boa imagem no mercado, e é exatamente o que queremos.

 

— Vimos alguns de seus projetos.- falou Tom.- Belos, e por sabermos que é uma empresa séria, achamos que poderíamos ser beneficiados com essa sua boa ação.

 

— Todos seremos. Eu garanto.- sorriu Oliver, seu comunicador fora aberto.

 

“- Curtis na linha, escritório do senhor Bain limpo, está na hora de entrar.”

 

— E o que acha…

 

— Vocês teriam café?- interrompeu Oliver.

 

— Que tolice a minha, não ofereci nada, desculpe.- sorriu envergonhado.- Nossa máquina de café deste andar está quebrada, mas há uma…

 

— Não se preocupe em levantar.- falou Oliver, notando seu movimento.- A senhorita Smoak pode fazer este pequeno favor, não pode?

 

Felicity o lançou um olhar afiado, escondido por seu sorriso gentil. Oliver prendeu o sorriso.

 

— Claro que posso acarretar este pedido.- sorriu se levantando.- Em qual andar?

 

— Dois abaixo.- respondeu Tom.

 

— Com licença.

 

Seu último olhar a Oliver fora o bastante para fazê-lo cobrir os lábios em um gesto discreto. Ela estava raivosa.

 

Reconsiderou se beberia seja lá o que ela o trouxesse.

 

— Todas as assistentes são assim em Star City?- escutou a voz de Bain ao longe, o despertando.

 

— Como?

 

— Há mais assistentes como a senhorita Smoak em sua cidade, pois se houver eu estou indo.- riu, Oliver  forçou um sorriso, fechando as mãos em punho embaixo da mesa.

 

Só mais alguns minutos…

 

— Ela parece ser bem competente.- falou, seu tom fez Oliver trincar o maxilar.

 

— Elá é bem…- o homem se calou ao sentir seu olhar, gélido, em tom de repreensão.- Ela parece ser muito inteligente.- comentou, engolindo em seco.– Realmente, não há nada que ela não consiga fazer.- sorriu, Tom parecia não ter notado sua mudança de postura.

 

— Ela me interessa cada vez mais.

 

Oliver se segurou, recordando da missão. Não seria nenhum pouco profissional agredir o criminoso.Ele realmente não ligava a mínima para etiquetas. 

 

Talvez não fosse uma ideia tão ruim acertá-lo com um soco…

 

Talvez dois…

 

Precisava sair dali, mas não antes de terem o que precisavam. Afinal de contas, onde diabos Felicity se meteu?

 

“- Ela conseguiu.- informou Curtis pela linha, deixando Oliver aliviado.- Temos.”

 

Após um tempo de conversa, qual Oliver teve que se segurar diversas vezes para não quebrar o rosto de Bain, Felicity retornou, trazendo quatro copos. Os entregou, segurando o último em sua mão, entregando diretamente.

 

— Seu café senhor Queen.- fingiu um sorriso, Oliver olhou para o copo com receio.

 

— Obrigado senhorita Smoak.- agradeceu, se policiando para não tomar o líquido.- Bom, onde estávamos?

 

— Melhor voltarmos do começo.- sorriu o terceiro homem, lembrando do assunto a minutos atrás. Oliver o olhou com desprezo, sentindo o toque discreto de Felicity em seu braço. 

 

— Vamos aos negócios.

***

O restaurante qual Malcolm escolheu ficava ao lado do Central Park. Tommy e Caitlin caminhavam juntos, quando de forma repentina o moreno parou, os impedindo de ir. 

 

— Acho melhor voltarmos.- comentou desconfortável.- Isso foi uma péssima ideia.

 

— Tommy…- segurou seu rosto com ambas as mãos.- É só um almoço, não uma missão com reféns.

 

— Eu preferia estar negociando com um cara armado do que ter que falar com ele.- respondeu, Caitlin lançou um olhar gentil.

 

— Não, não queria.- corrigiu.- Uma chance, lembra? Ele pode estar realmente mudado.

 

— Você tem um coração muito bom, sabia? - sorriu, a trazendo para perto, Caitlin colocou os braços ao redor de seu pescoço.- Acha mesmo que vai dar certo?

 

— Só indo lá para ver.

 

Tommy suspirou. Deram um selinho rápido e depois entrelaçaram os dedos. Mais confiante, seguiram até o restaurante. Foram conduzidos até a mesa, onde Malcolm já os aguardava, sorriu ao encontrá-lo.

 

— Filho.- o abraçou, Tommy retribuiu, ainda sem jeito.- E essa é…?

 

— Caitlin Snow.- sorriu, aceitando seu cumprimento. Um arrepio gelado a percorreu. Forçou um sorriso.

 

— Minha namorada.- completou Tommy, orgulhoso. Malcolm pareceu surpreso.

 

— Namorada?- perguntou, seu choque não durou mais que meio segundo.- Seja muito bem-vinda a família então, Caitlin. Se sentem por favor.

 

 Fizeram seus pedidos, ainda um pouco constrangidos. A mesma não estava se sentindo nenhum pouco confortável, no entanto, tentou quebrar o gelo.

 

— É um bom restaurante.- sorriu.

 

— Tommy sempre amou esse tipo de lugar, comida tailandesa.- olhou para o filho, que lançou um sorriso mínimo.- Ia muito com Oliver, geralmente era o ponto de encontro deles após fazerem besteira.

 

— Quais eu adoraria saber.- falou, Tommy arqueou as sobrancelhas.

 

— Não conte a ela, por favor.- pediu os fazendo rir.

 

— Há muitas histórias. a quantidade de ligações que eu recebia sobre as brincadeiras de Tommy eram exorbitantes. Principalmente quando o mesmo foi visto nadando completamente nu na baía de Star, de madrugada.

 

— Você o quê?- repetiu Caitlin, seus lábios estavam entreabertos, chocados, com um brilho divertido no olhar.-Thomas Merlyn!

 

— Foi uma aposta, e como pode perceber, eu adoro apostas.- sorriu, Caitlin balançou a cabeça.- Estava frio aquele dia. Nadar naquelas águas foi torturante.

 

— Houve outra vez…

 

— Pai, por favor, vai acabar com a minha imagem.- o interrompeu. Malcolm sorriu.

 

— Claro, filho.- pronunciou com prazer, seus olhares se cruzaram. Caitlin sorriu com carinho para os dois. Foram interrompidos pela chegada dos pratos.- Vamos comer?

 

— Vamos.- sorriu Tommy.

***

— E como foi?- perguntou Sara assim que Oliver e Felicity chegaram.- A reunião foi muito chata?

 

— Incrivelmente entediante.- comentou Felicity, amarrando os cabelos soltos em um rabo de cavalo.

 

— Você não tem ideia.- murmurou Oliver, ainda irritado.- Tommy já voltou?

 

— Não, Caitlin ligou, disse que vão estender o horário. Ao que parece, Malcolm quer passar o dia com o filho.- Oliver assentiu, surpreso.

 

— Pode avisar pra eles que o encontro com os outros acionistas vai acontecer amanhã?- pediu.

 

— Que rápido, eles estão realmente desesperados.- comentou, dando de ombros.- Mas aviso sim, pode deixar.

 

— E os outros? Onde estão?- perguntou Felicity.

 

— Ray e Curtis analisando as informações ocupadas, Laurel está os ajudando também, e John está ensinando Roy a usar uns dos equipamentos.- Felicity sorriu.

 

— Ele está indo bem?

 

— Você parece a mãe dele.- brincou.- Mas sim, estamos todos bem, só aguardando ordens.

 

— Informe se souber alguma coisa.

 

Felicity franziu as sobrancelhas. Oliver estava de cara fechada, parecia preso nos próprios pensamentos. 

 

Estava desconfiado.

 

O seguiu até a cozinha, onde o mesmo, de uma forma cômica, tentava desfazer o nó na gravata. Suspirou irritado.

 

— Mas que merda.

 

— Deixa que eu resolvo pra você.

 

Não pestanejou, apenas assentiu, cansado. Se sentou na ponta da mesa, ficando quase a altura de Felicity, que se concentrava em desfazer o nó.

 

Que estava incrivelmente apertado.

 

— Você está preocupado.- murmurou em tom baixo, o chamando atenção.- Isso não foi uma pergunta, e sim uma afirmação.

 

— Alguma coisa não está certa.- respondeu cansado.- Está fácil demais Felicity, há alguma coisa que não estamos vendo.

 

— Tem ideia do que é?

 

— Não. Ainda não.- seus olhares se cruzaram.- Acredita em mim?

 

— Claro que sim.- sorriu, o nó foi desfeito, no entanto, seus dedos ainda  subiam e desciam pelo tecido.- Sei que meu codinome é observadora, mas ele lhe cai bem também.- soltaram um riso baixo.- Precisamos de provas, não podemos sair por aí acusando alguém.

 

— Estou trabalhando nisso, vai dar certo.- sorriu.- Mas não conte a ninguém ainda, ok?

 

— Minha boca é um túmulo.- seus lábios se entreabriram, confusos.- E quando eu digo túmulo quero dizer que a informação morre aqui, e não que minha boca seja túmulo, o que seria nojento e teria um gosto horrível.- fez uma careta desgostosa. Oliver balançou a cabeça, divertido com sua divagação.

 

— Eu entendi de primeira, até porque, pelo o que eu me lembre, seus lábios tinham um sabor muito bom.

 

Seus olhos se cruzaram, e com um brilho magnético, ficaram presos um no outro. Felicity sentiu seu coração acelerar diante da atmosfera. Estavam sozinhos, não completamente, mas ainda sim sozinhos. Era extraordinária a maneira como Oliver conseguia a deixar embascada com uma única frase, e realmente intrigante a maneira que seu corpo reagia ao seu. A maneira como se arrepiava…

 

Estremecia…

 

Tudo diante de um solene toque, que embora inocente, a provocava mais do que gostaria de admitir.

 

Engoliu em seco com a mão do loiro que havia parado em sua cintura.

 

Os olhos azuis de Oliver a observavam intensamente, mirando seus lábios. Um aperto mais firme a trouxe para perto, a deixando entre suas pernas. Sua vontade naquele momento era de beijá-la ardentemente, erguê-la em um puxão firme, e a levar para algum lugar onde pudessem ficar completamente sozinhos, escondidos. Era um desejo um pouco pervertido, nem sabia se a mesma aceitaria, mas mesmo assim desejava.

 

Ansiava por isso.

 

Um chamado quebrou sua conexão energética. Felicity soltou sua gravata com delicadeza, e em um último olhar, se afastou, ficando a uma distância considerada segura para os olhos alheios. Oliver limpou a garganta, ainda afetado. Arrumou sua postura.

 

— Lis.- chamou novamente Roy, sorrindo aliviado ao encontrá-la.- Preciso te mostrar uma coisa que eu aprendi, você vai amar.

 

— Claro.- sorriu, olhando mais uma vez para Oliver.- Vamos lá.



Retirou o blazer, em um claro sinal de claustrofobia. Estava perdendo o controle, isso era um fato. A maneira como se olhavam, sendo um simples toque capaz de provocar um incêndio estava o consumindo cada dia mais, célula por célula. Ele gostava daquilo.

 

Respeitar o acordo mútuo estava se tornando cada vez mais difícil.

 

***

 

O dia havia amanhecido mais cedo para os agentes. Curtis e Ray tentavam a todo custo conseguir hackear as câmeras do prédio onde encontrariam os outros acionistas do grupo, tendo êxito na ação poucas horas antes da reunião. Tommy terminava de se caracterizar para a missão quando o toque sonoro de seu celular fora escutado. O nome no visor o fez franzir as sobrancelhas, não que achasse ruim, apenas estranho. A tarde na companhia de Malcolm havia o feito muito bem, conversaram muito, e no tempo sozinhos em que Caitlin os deixou, conseguiu sentir um pouco de veracidade nas palavras do pai.

 

“ Somos uma família.”

 

Tudo ainda era muito estranho. Atendeu o telefone.

 

“- Pai?- chamou confuso.- Aconteceu alguma coisa?”

“- Sim.- sua voz cansada o deixou em alerta.- Preciso de você aqui Tommy, agora.

“- O que aconteceu?- perguntou preocupado.- Pai…”

“- Estou no hospital, acho que alguma coisa não me fez bem, mas preciso de você aqui.- pediu, a urgência em sua voz o deixou mais ainda assustado.- Por favor.”

“- Estou a caminho.”

 

Pegou sua carteira com rapidez, se livrando dos equipamentos. Ao abrir a porta com força, esbarrou em Caitlin, que o olhou assustada.

 

— Hey, o que foi?

 

— Sabe aonde a Lis e o Oliver estão?- perguntou acelerado.- Não posso ir com vocês.

 

— O que houve?- 

 

— Meu pai, está no hospital. E se for alguma coisa relacionada ao que Mark teve?Eu preciso...

 

— Mas é claro que tem que ir.- confirmou Caitlin.- Eu os aviso, não se preocupe. Agora vai.

 

— Cuidado lá.- a deu um beijo rápido.- Me liga.

 

— Pode deixar.

 

Seu coração se apertou ao vê-lo descer as escadas de maneira angustiante. Malcolm parecia ontem tão bem, que era estranho pensar que estava passando mal. Limpou os pensamentos, não era nobre suspeitar de alguém que se encontrava com alguma espécie de virose.

 

Uma virose muito repentina.

 

***

 

“- Atenção, espartano e… Qual é o seu codinome mesmo?- Perguntou Curtis pela linha.”

 

“- Arsenal.- respondeu Roy, que assim como John se passavam por faxineiros.- Aguardando a entrada.”

 

“- Já pegou o jeito com os rádios, isso aí.- brincou.”

 

“- Curtis, foco.”

 

“- Desculpa, chefinho, tudo em ordem. Há dois seguranças, podem ir.”

 

Caitlin e Laurel fizeram um sinal discreto a Oliver, que passava com Felicity. O local marcado por Tom era um restaurante um pouco afastado, sendo reservada uma mesa. Seguiram para a área privativa.

 

“- Tem dois caras armados na porta da sala.- informou Ray que ajudava Curtis.- Sei que esses caras são muito ricos, mas eles não se moverem nenhum centímetro desde que chegaram. Nem olharam a sala lá dentro.."

 

— Tem alguma coisa errada.- murmurou Oliver para Felicity.- Tom disse que seria uma reunião discreta, e ficar com dois caras armados me parece o contrário disso.

 

— Entendi.- sussurrou."- Estamos virando o corredor que dará para a sala. Fiquem de olho nos seguranças.”

 

—” Entendido.”

 

No momento em que o corpo de Oliver havia ficado visível sabia exatamente que era uma cilada. A porta fora aberta, e ao entrarem, tendo a visibilidade de uma mesa vazia, suas dúvidas foram respondidas. No momento em que se viravam, os dois homens já continham suas armas apontadas. Oliver ergueu os braços.

 

— Acho melhor abaixarem isso.Se sabem quem somos, não vai acabar bem.

 

— Pra vocês de fato.

 

Felicity aproveitou o momento para acertar o segundo homem no meio das pernas, o nocauteando. Oliver e o segurança entraram em uma luta corporal, no entanto, o loiro teve seu corpo jogado no chão. Se preparava para levantar quando ouviu o barulho da arma engatilhada. Não havia muito a ser feito. O disparo o fez fechar os olhos. Estranhou o fato de não sentir dor, e ao abri-los novamente, viu a bala, que aparentemente deveria ter sido sua, no braço do homem a frente, que era contido por Roy. John estendeu a mão.

 

— Hoje não.- sorriu, o ajudando a levantar.- O garoto do parkour salvou você.- se referiu a Roy.

 

— Devo uma a ele então.

 

***

Os dois homens se encontravam no momento sob custódia, haviam sido pagos por alguém poderoso, que a essa altura já continha um nome, sem muitas surpresas na realidade.

 

Tom Bain.

 

Seu disfarce não fora tão convincente assim.

 

Tommy apareceu às pressas na base, preocupado. Abraçou Caitlin fortemente, sendo em seguida Oliver. Suspirou ao se certificar de que estava bem.

 

— Vaso ruim não quebra fácil.- brincou, dissipando a tensão formada. Oliver sorriu, não importava a situação, se Tommy estivesse daria um jeito de forma sarcástica de apaziguar tudo.

 

— Como está seu pai?

 

— Alarme falso, ele está bem.- informou.- Melhorou depois que eu cheguei, deve ser alguma coisa relacionada a idade.- brincou.Oliver assentiu.

 

— E vocês estão bem?

 

— É estranho dizer que sim?- perguntou, confuso.- Ele tem se esforçado, admito,e como você falou estou tentando dar uma chance.

 

— Fico feliz por isso.- forçou um sorriso, tocando levemente em seu ombro.

 

— Fico ainda mais em vê-lo vivo.- sorriu.- Prometo não sair de novo.

 

— Ele é sua família.

 

— E vocês também são.- o lembrou.- Agora com licença, preciso ajudar a equipe, tirei muitas férias e meu chefe pode me despedir a qualquer momento.

 

Oliver soltou um riso baixo, balançando a cabeça. Se preparava para subir e falar com John, quando se deparou com Roy, que passava pela sala. Limpou a garganta.

 

— Hey;- chamou.- Posso falar com você?

 

— Claro.

 

Seguiram para a sala de reuniões. Roy estava receoso aparentemente. 

 

— Eu….

 

— Obrigado.- agradeceu. Roy pareceu surpreso.- Sua ação hoje me salvou de um ferimento grave.

 

— É o meu trabalho.- respondeu. 

 

— Sei que começamos com um pé errado, e eu, digamos, não fui o mais gentil com você.- começou incerto.- Mas gostaria de mudar isso.

 

— Eu também tenho que te pedir desculpas.- comentou.- Aquele soco, bom, foi precoce.

 

— Foi uma promessa.- respondeu, o fazendo sorrir.

 

— Eu me preocupo com a Felicity.- falou de repente.- Ela já sofreu muito, você não tem ideia.- seu rosto endureceu.- Ela é da família, e eu vou fazer de tudo para protegê-la. E quando eu vi você…

 

— Queria protegê-la de mim.- completou. A afirmação doeu em seu peito,

 

Havia a machucado mais do que imaginava.

 

— Mas vocês parecem bem.- o chamou atenção.- E você não é o idiota riquinho que eu pensava.- Um sorriso brincalhão se formou em seus lábios.- Um mauricinho.

 

— Que derrubou você diversas vezes.

 

— Eu te acertei com um soco, e estava de muletas!- provocou, sorrindo.

 

— Me pegou desprevenido.

 

— Ainda assim o acertei.- deu de ombros.

 

— Vamos ver isso em uma luta justa.- propôs, estendendo a mão.- Do zero?

 

— Do zero.

 

O aperto firme selou a paz. Oliver o segurou por mais um tempo, olhando no fundo de seus olhos.

 

— Você acabou de me conhecer, e tem o melhor dos motivos para não acreditar em mim, mas quero que saiba que eu me importo muito com a Felicity, e não pretendo fazer nenhum mal a ela.

 

Roy assentiu em silêncio. Surpreso com o rumo da conversa. Oliver então saiu, se dirigindo até as escadas. Deu dois toques na porta de Felicity, entrando rapidamente. John já o aguardava.

— Já contei o que estamos planejando.- falou Felicity.

 

— Tem certeza disso?- questionou Dig.

 

— Tommy mencionou que Malcolm se recuperou de forma milagrosa quando apareceu, o que é estranho, já que o mesmo cobriria Roy hoje, ficando exposto, correndo risco, sem contar que Tom descobriu repentinamente nosso disfarce. Quer mais alguma coisa?

 

— Provas.

 

— É por isso que vamos lá no prédio em que ele está trabalhando.- interviu Felicity.- Mas precisamos que distraia Tommy, não vamos contar até ter certeza.

 

— Tá.- concordou a contragosto.- Vocês dois sempre estão se colocando em confusão, inacreditável.

 

— E você cuidando da gente.- sorriu Felicity, segurando em sua mão.- Fechado?

 

— Fechado.- suspirou.- Mas tomem cuidado. Se isso for verdade, Malcolm vai pegar pesado com vocês.

 

— Nos garantimos.- tranquilizou Oliver.- Vamos amanhã. Enquanto estivermos fora tome conta dele, ok?

 

— Pode deixar.

 

— Uma missão secreta dentro de uma missão secreta.- balbuciou Felicity, Oliver e John sorriram.- Vamos conseguir.

 

— Assim espero;

 

***

 

John atendeu seu pedido com perfeição. Curtis e Ray haviam encontrado uma nova pista sobre onde os acionistas que participaram da morte de Mark estavam  Poderiam estar escondidos, isso era um fato, no entanto, seus últimos registros constavam que estavam na cidade, e de que não havia saído até então. Dig, como um agente extremamente dotado e um amigo paciente, pediu para que Tommy e Ray o acompanhasse. Era uma distração, claro, mas saber onde o restante do grupo pequeno estava assim como Tom era algo vantajoso. Oliver e Felicity poderiam estar enganados.

 

Perdendo tempo.

 

Por falar nos agentes, ambos esperaram a confirmação de Curtis de que Malcolm estava no prédio onde havia ocorrido o primeiro encontro. O mesmo concordou em compactuar, mesmo sem saber exatamente do que se tratava.  Ambos trajavam roupas casuais, sendo acompanhado por um casaco fino da loira, e uma jaqueta marrom escura de Oliver. Estacionaram o carro a uma distância segura, e seguiram caminhando tranquilamente. Felicity ligou o comunicador.

 

“- Agora.”

 

O sistema de câmeras oscilou no momento em que entraram. Pegaram o elevador, parando a um andar abaixo do de Malcolm, precisavam ser discretos.

 

“- Malcolm acabou de entrar na sala, terão que fazer alguma distração.- informou Curtis.”

 

— Ele não facilita.- murmurou Oliver. Seu olhar se abaixou para o chão ao notar que estavam sendo seguidos.- Felicity…

 

— Eu vi.- sussurrou, aceleraram o passo.- Curtis? Onde há um lugar em que possamos nos esconder?”

 

“- Não subam as escadas. Continue reto e virem o corredor à direita, tem uma varanda que aparentemente o pessoal usa pra fumar. Vou tentar fazer alguma coisa para atrasar eles.”

 

Um alarme tocado no hall fez o segurança parar imediatamente. Os agentes correram, abrindo a porta. A brisa gelada pela altura os arrepiou. Encostaram a porta e aguardaram em silêncio.

 

— Foi por pouco.- sorriu Felicity.- Achei que você ia ter que apagar ele.

 

— Estava pensando nisso também.- sorriu de canto. Um zumbido em seu ouvido o fez apertar a orelha.- Aí.

 

— Tem alguma coisa acontecendo.- murmurou Felicity, notando que o zumbido vinha dos equipamentos.- Curtis?”

 

“- Ele...Vocês…”

 

“- Curtis?- repetiu. A linha ficou muda.- Curtis!”

 

— O que foi isso?- perguntou Oliver retirando o equipamento do ouvido,

 

— Tem alguma coisa causando interferência na linha.- respondeu. Seus lábios se entreabriram ao olhar a porta.- Oliver, você fechou?

 

— Não.- segurou a maçaneta, tentando abrir.- Merda. Tá trancada.

 

— Como assim tá trancada?- ergueu a voz, tentando empurrar a porta.

 

— Significa que estamos presos.- explicou. Felicity o olhou alarmada.-Malcolm sabe que estamos aqui.

 

***

 

Caitlin caminhava a passos pesados pela rua. Era uma loucura o que estava fazendo, completamente sozinha indo enfrentar um magnata, mas era necessário.

 

Principalmente depois de suas teorias não se mostrarem tão fora da realidade assim.

 

A sensação que sentiu ao primeiro contato com Malcolm fora o oposto do esperado. Deixou-se achar, por um minuto, que talvez fosse resultado das histórias ouvidas. Ninguém confiava em Malcolm.

 

E agora Caitlin entendia o porquê.

 

Se sentiu extremamente péssima ao investigar o pai do namorado. Tommy estava tão mais leve.

 

E eles estavam tão próximos.

 

Não queria mudar isso.

 

Mas ao reunir dúvidas o suficiente, tinha certeza do que havia encontrado. Seu faro de agente a alertou.

 

Estava certa.

 

Mark morreu de forma inesperada após ingerir um líquido. E após pesquisar, com a ajuda de Ray, os registros daquele tempo, se focou em um detalhe. Malcolm havia o visto naquela semana também. E não que isso fosse fora do comum, eram amigos, e exatamente por serem amigos Mark o contaria tudo, sua ideia de sair do grupo, procurando alguém que pudesse recorrer. O que não esperava era que o próprio amigo, “inocente”, fosse capaz de algo tão cruel. Os fatos batiam, mas precisava de provas.

 

Era exatamente por isso que estava indo ver Malcolm.

 

Adentrou o prédio com confiança. A Global Merlyn realmente estava em todo lugar, e Nova York era um destes. Quase fora barrada, mas após um telefonema subiu. Suas mãos suavam, e seu coração disparou ao encontrá-lo em sua enorme mesa.

 

— Senhorita Snow, mas que surpresa.- sorriu, fechando seu notebook.- Ao que devo a honra? Pelo o seu rosto é algo sério, está pálida.- apontou. Caitlin suspirou fundo.

 

— Eu vim falar disso.- mostrou o registro. Malcolm o leu com atenção.- Você o viu antes de morrer.

 

— E…?- arqueou as sobrancelhas, fingindo confusão.

 

— Você sabe o que isso quer dizer senhor Merlyn.- falou firme. Malcolm a analisou dos pés à cabeça.- Foi você que mandou.

 

O mesmo se ergueu da cadeira de forma indiferente. Caitlin deu um passo para trás com sua aproximação.

 

— E qual é a sua teoria?- questionou.

 

— Foi você. Está dando ordens, e por ser um informante da nossa operação consegue prever os próximos passos. Usou Tommy pra isso, e quase matou Oliver, porque sabe que ele não acredita em você.- diminuiu o tom ao receber seu olhar duro.- Não passa de uma fraude.

 

—É mais inteligente do que eu pensava.- murmurou, sorrindo de canto.- E acha que Tommy vai acreditar em você?

 

Sua pergunta a deixou sem palavras. Malcolm notou seu deslize, sorrindo ainda mais.

 

— Vai acreditar na “namorada” do que em mim?- falou com desdém.- Tommy não tem namoradas agente, tem passatempo, e você é um deles.

 

— Não sabe o que está dizendo.- trincou o maxilar.

 

— Vou te explicar em então.- olhou no fundo de seus olhos.- Ele usa você, e quando já não o satisfaz mais, procura outra pessoa. Se acha especial, não é?- a fez engolir em seco. Caitlin prendeu a respiração com sua proximidade.- Que a relação de vocês é diferente.-  Caitlin segurou o choro.- Mas será mesmo?- franziu as sobrancelhas.- Ou está se deixando levar por algo ainda incerto? E mesmo que ele tenha alguma consideração.- revirou os olhos.- Acha que vai existir depois da acusação que você vai fazer? Por puro perseguimento?

 

Lágrimas teimavam em cair por seu rosto. Malcolm a deu as costas, voltando a se sentar.

 

— Você não é especial pra ele, pode ter certeza que nada mais o proporciona uma transa boa.- comentou calmamente.- Agora se veio até aqui para isso, sugiro que se retire.

 

Caitlin assentiu, ainda impactada. Olhou para a estante próxima ao lado da porta, se focalizando em um quadro. O segurou com as mãos, se atentando a Rebecca, ainda viva, e um Tommy criança  sorridente.

 

— Ele não merece você.- comentou, guardando o objeto em seu lugar. Olhou Malcolm.- Seu filho é muito melhor que isso.

 

O empresário fechou a cara. Caitlin suspirou fundo ao fechar a porta, cobrindo os lábios para abafar um soluço. Ao que parece havia conseguido.

 

Mas por que se sentia tão destruída?

 

***

 

— Você ficar batendo aí não vai melhorar a situação.- falou Oliver entediado, enquanto Felicity insistia em tentar abrir a porta.- Felicity…

 

— O que você quer que eu faça?- ergueu a voz, irritada.- Nossos comunicadores não funcionam, os celulares estão sem sinais. Estamos presos a uma altura de dez metros…- engoliu em seco ao olhar a varanda.- E…

 

— Fe-li-ci-ty- segurou seus ombros.- Você precisa se acalmar, ok?

 

— Mas…

 

— Respira.- pediu. A loira bufou.- Megan, respire.

 

— Eu odeio esse nome.- falou irritada, Oliver sorriu.

 

— Eu sei.- sorriu de canto.- Agora respira.

 

Felicity o seguiu a contragosto. Aos poucos sua inquietação diminui, dando lugar a uma postura mais calma.

 

— Melhor?

 

— Melhor.

 

Oliver se sentou no chão, indicando o espaço ao seu lado. Ficaram em silêncio por longos minutos. Felicity encarava os pés quando o ouviu suspirar.

 

— Acha que Tommy vai me perdoar? Pelo o que estamos fazendo?- seu olhar era vazio. Felicity observou seu rosto, era nítido o sofrimento, se sentia culpado, culpado por tentar proteger o amigo e falhar no processo. Isso era…

 

Isso era tão Oliver.

 

— Eu não vou mentir, talvez ele fique um pouquinho chateado, e é compreensível, afinal das contas é o pai dele, e você é o irmão.- Oliver a olhou.- Você está preocupado pela possibilidade dele se machucar de novo, mas Tommy amadureceu muito, vai ouvir você.

 

Oliver assentiu. Entreabriu os lábios, mas os fechou ao ouvir sua voz.

 

— Famílias não são perfeitas, por mais que desejemos isso, assim como nossos pais.- seu olhar endureceu.- E pessoas têm seus passados, suas razões…

 

— Segredos.- completou, capturando seu olhar.

 

— Segredos fazem parte também, alguns terríveis.- suspirou desgostosa.

 Oliver não sabia o que a mesma havia feito, mas a forma de que se esquivava e escurecia somente com a menção de seu passado o deixava preocupado. Não sabia o porquê que ela se culpava, mas seja lá o que fosse, merecia perdão também.

 

— É interessante, até um pouco triste ver um ser tão empático agir tão duramente consigo mesmo.

 

— Eu sou assim.- sorriu tristemente.

 

— Não é saudável.

 

— Sei que não. Cada um acha uma maneira de lidar com suas atribulações. Você corre, eu…

 

— Tenta cuidar de todos ao seu redor.

 

— Eu ia sugerir comida, mas essa sua opção soa mais nobre.- respondeu com humor, Oliver riu.

 

— Você é impossível.- comentou divertido. O brilho de seus olhos o deixou hipnotizado.- E com uma teimosia imensa.

 

— Diz o senhor paciência.- provocou.- Pelo o que eu me lembre era conhecido por ser playboy, mimado…

 

— Um dos homens mais cobiçados de Star City.- a lançou um sorriso malicioso. Felicity revirou os olhos.

 

— Céus como você é convencido! Thea tinha razão sobre você.

 

— Então era ela que lhe contava as coisas?- arqueou as sobrancelhas.- Aquela pestinha.

 

— Não posso revelar minhas fontes.- deu de ombros.

 

— Não vai falar, é?- um sorriso brincalhão surgiu em seus lábios.- Vamos ver então.

 

— Oliver não.

 

O mesmo a puxou para perto de si, bagunçando seu cabelo. Sabia que um de seus pontos fracos eram as famosas cócegas, nunca infalíveis. Felicity ria nervosamente, enquanto se contorcia.

 

— Chega.- pediu sem fôlego.- Era ela, ok? Satisfeito?

 

— Mais ou menos.- sorriu, colocando um dos fios loiros rebeldes atrás de sua orelha.- Ficaria mais com isso.

 

 Seu corpo se inclinou. Felicity parecia assustada, no entanto, não se moverá.  O olhou surpresa ao notar que o mesmo havia parado a meros centímetros de seus lábios.

 

   - O que foi?- sussurrou.

 

   - Não vai correr como sempre faz?- perguntou, olhando no fundo de seus olhos.- Se afastar, dizer que isso é loucura?

 

   - Você sabe que é loucura.- suspirou, fechando os olhos ao sentir seus lábios quentes beijarem sua bochecha.- Muita loucura.- murmurou, Oliver envolveu sua cintura, enquanto sua outra mão permanecia segurando seu rosto.- Minha mente me diz para fugir e...

 

   - Shh...- colocou seu dedo indicador entre seus lábios.- Você pensa demais, Lis.

 

   - Alguém precisa. Isso, nós...- suspirou.- Não é fácil.

 

   - Eu sei que não é.

 

Seus olhares se cruzaram,  transmitindo toda dor e confusão por estarem daquela maneira. Era óbvia a atração, não estavam conseguindo se conter, mas e depois disso? Como iria ser?

 

   Como iriam lidar?

 

   Tudo era tão confuso, tão novo e ao mesmo tempo tão familiar. Se beijaram da penúltima vez, recordando com clareza a potência que continham juntos, mas a questão é que tudo era mais complicado que isso. Estavam exaustos, exaustos de reprimir os desejos, os sentimentos.

 

  Exaustos de tentar fugir.

 

  Encostaram suas testas, suspirando alto.

 

   - Nada é fácil.- murmurou Oliver.- Talvez não precise ser fácil, e...

 

   - Isso é uma conversa muito longa e certamente nos fará brigar.- respondeu Felicity.

 

  - Realmente, é uma conversa muito longa.- concordou Oliver sorrindo de canto.- Não sei quando vou ter uma oportunidade dessas de novo, então é melhor aproveitar.

 

Os lábios de Oliver tomaram os seus, ávidos, porém ainda a dando chances de fugir. Felicity odiava isso, odiava ter que ser a pessoa a colocar limites, o manter afastado, mas e se ela, pelo menos hoje, não quisesse isso?

 

E se pudesse por um momento para de pensar?

 

Correspondeu o beijo, sentindo a chama quente se alastrar por cada centímetro de sua pele. Com um simples toque a mesma já sentia a potência dos dois juntos, mas ali, sentindo seus lábios se moverem em uma sintonia perigosa era tudo muito mais intenso, formando um verdadeiro incêndio. Oliver fez o que desejou no dia anterior, e em um aperto firme, a colocou sentada em seu colo, sem nunca soltar seus lábios, mais doces do que se lembrava.

 

— Oliver…- sussurrou, seu pescoço tombou para o lado. Uma mordida leve a arrepiou.- E se alguém nos ver?

 

— Garanto que Malcolm tenha coisas mais importantes para fazer.- respondeu com um sorriso malicioso, se afastando para observá-la.

 

   - Você não vale nada, sabia?- balançou a cabeça divertida.

 

   - Eu sei.

 

  Ambos sorriram. Felicity, agora mais solta, passou seus braços ao redor de seu pescoço, o trazendo para perto de si. Uma de suas mãos deslizou por sua blusa, até erguê-la e sentir os músculos definidos. Queria tocá-lo.

 

  Senti-lo.

 

 Oliver suspirou, era bom sentir seu toque, que como brasa, o incendiava por inteiro. Com um impulso quase impossível de ser controlado, o mesmo afastou seus lábios, a ajudando a se livrar das peças, e em seguida, Oliver retirou com agilidade sua jaqueta. A forma como se sentiu ao ser admirada, com um olhar nenhum pouco inocente a fez engolir em seco. Oliver era um homem incrível, formado, e seus olhos, sempre tão observadores, estavam cravados em seus seios. Estremeceu com o toque de sua mão, os endurecendo. Seus lábios voltaram a se encontrarem, desesperados por mais contato. Felicity se preparava para ajudá-lo a retirar a camiseta quando um barulho na porta os chamou atenção.

  Oliver a entregou sua jaqueta, sendo a peça mais fácil de vestir no momento pela proximidade, já que a de Felicity se encontrava a alguns metros à frente. No momento em que se afastaram um do outro a porta abriu com brusquidão. Uma funcionária abriu os lábios, surpresa por os encontrar ali, assim como Caitlin.

 

Caitlin?

 

O rosto feminino marcado pelas lágrimas os deixou preocupados. Caitlin estava visivelmente abalada, porém, os encarava em confusão. Limpou a garganta.

 

— Eu já saio daqui, ok? Obrigada por me acalmar.- agradeceu a funcionário que sorriu, os deixando sozinhos. Um minuto de silêncio se passou.- O que…

 

— Você está fazendo aqui? É uma excelente pergunta.- falou Felicity se pondo de pé. Oliver pegou seu casaco.

 

— Diga vocês primeiro.- falou. Seus olhos percorreram com interesse a jaqueta que Felicity usava.- O que aconteceu?

 

— Ficamos presos.- respondeu, dando de ombros. Caitlin a lançou um olhar desconfiado.- Ficamos presos, ok? Foi isso.

 

—  Deve ter dado uma brisa forte para os seus cabelos estarem assim.- provocou, Felicity ficou vermelha.

 

   - Não podemos falar do porquê que a fez chorar?

 

   - Ah, claro.- seu rosto se endureceu novamente.- Eu não quero falar sobre isso. Acho que não vai ser bom também. Tommy pode ficar bravo com vocês e...

 

   - O que Tommy fez?- perguntou Oliver.

 

   - Não foi Tommy, foi Malcolm.

 

  Oliver e Felicity se entreolharam.

 

   Malcolm.

 

 Parecia que mais alguém não havia caído em seu papo de informante.

 

   - Você o confrontou, não foi?- disse Felicity.

 

   - É mas... Como sabem que eu fiz isso?- perguntou confusa.- Espera aí. Claro.- balançou a cabeça.- Claro, vocês sabem o que ele está fazendo.

 

   - Viemos pegar provas, mas acabamos presos aqui.- suspirou Felicity.- A porta emperrou.

 

   - Estava trancada.- respondeu.- Alguém deixou vocês aqui.

 

   - Malcolm.

 

  Oliver suspirou, irritado, podia ser o pai de seu melhor amigo, mas não tirava o fato de que Malcolm era um verdadeiro idiota, e muito audaz, sabia que estava sendo vigiado.

 

   - Você o confrontou,e aí?- questionou Felicity. Caitlin hesitou.

 

   - Eu estava desconfiada.- começou com cautela.- Chequei umas informações, não batiam, como o fato de termos armado uma emboscada e o principal alvo não estava presente. O único que continha essas informações era Malcolm, então comecei a prestar atenção,liguei os fatos, até achar um registro que comprova que o mesmo esteve com Mark pouco antes de morrer.- Oliver e Felicity a observavam atentos.- Então eu vim aqui, joguei todas as coisas na cara dele e ele simplesmente assumiu.- balançou a cabeça com raiva.- Fiquei tão sem saber o que fazer que vim aqui hoje, pra ter certeza de que não estava louca, e no final eu estava certa.

 

—   Ele ameaçou você?- falou preocupada. Um brilho no canto dos olhos de Caitlin surgiu.- Hey…

 

— Isso nem foi o pior.- riu sarcástica, seus olhos se encheram de lágrimas novamente.- Malcolm disse que eu não era importante, só era mais uma brinquedinho que o filho tinha, e que logo logo se cansaria de mim.- seu lábios formaram uma linha fina.- Falou que colocaria Tommy contra mim, que ele jamais iria contra a palavra do pai, e ele está tão feliz com ele.- suspirou desesperada.- Vocês tinham que ver, a maneira como conversavam no restaurante e no tempo em que os deixei sozinhos,, a maneira como Tommy o olhava... Eu iria estragar tudo. Eu não quero estragar tudo.

 

  Um soluço a escapou. Felicity a abraçou fortemente, na tentativa de a acalmar. Eram raros os momentos em que via assim, tão vulnerável. Seu ódio por Malcolm aumentou ainda mais.

 

— Eu gravei um pouco da conversa, e deixei uma escuta no escritório.- comentou, se recordando do momento em que havia pegado o quadro da família.- Pode dar certo, mas toda hora em que penso em qual será a reação de Tommy comigo eu me desespero. E se ele ficar mesmo contra mim?

 

   - Caitlin...- chamou Oliver, se aproximando.- Malcolm joga com palavras, é calculista, sabe o que deve e como dizer algo para afetar uma pessoa. É exatamente o que ele fez com você. E como melhor amigo do seu namorado eu garanto a você...- olhou no fundo de seus olhos.- Que Tommy jamais descontaria a raiva do pai em você. Não é passatempo o que vocês tem, posso garantir isso, mesmo que não entenda o que você vê de tão especial naquele ser ao ponto de se relacionar com ele.

 

 Caitlin riu, sendo acompanhada por Oliver. Respirou mais leve, limpando as lágrimas.

 

   - Isso foi muito gentil, obrigada.- agradeceu, Oliver piscou.

 

   - Nada mais que a verdade.

 

  Felicity os lançava um olhar encantado, feliz com a ação de Oliver. Caitlin então os observou, semicerrando os olhos, um sorriso malicioso tomou conta de seus lábios.




— E o que vocês fizeram nesse tempo todo sozinhos?

 

 - Como assim o que fizemos? Não fizemos nada, o que poderíamos ter feito?- balbuciou Felicity, nervosa.- Apenas conversamos. Conversamos sobre o céu.- apontou para cima.- Sobre como o céu é azul, não é Oliver?

 

  - O céu?- franziu o cenho, um beliscão discreto em seu braço o fez abafar um gemido de dor.- Claro, o céu.- fingiu um sorriso.- Falamos sobre como o céu pode ser bonito.

 

  - E como ele pode ser imenso...

 

   - Tá, é melhor ensaiarem a histórinha de vocês.- os interrompeu.- Vamos?

 

   - Vamos.

 

  Felicity sorriu amarelo para a amiga, que balançava a cabeça, divertida. Os deu uma última olhada, sendo a primeira a passar pela porta.

 

  - O céu? Sério Lis?- cochichou Oliver em seu ouvido.

 

   - Eu estava em pânico, ok?- se justificou.

 

  - A história original seria bem melhor.

 

  - Qual era a história mesmo?

 

  Seus olhares se encontraram, brilhantes, disputando uma com ardor uma piada interna.

 

  - Não pense que vai fugir de nossa conversinha. 

 

  - Ainda não sei do que está falando.

 

  Em uma piscada Felicity se virou, seguindo pelo corredor que Caitlin os esperava. Oliver prendeu a risada, divertido com sua fala. Olhou para trás, se focalizando na blusa esquecida. Felicity devia estar tão nervosa que nem deve ter notado o fato de estar somente com o sutiã embaixo da jaqueta.

 

Tão sexy.

 

Oliver suspirou em prazer com a imagem. Recolheu a peça, a enrolando para que coubesse em seu bolso,  Um sorriso o escapou. As regras seriam diferentes agora.

 

  Iria cobrar a conversa.

 

Parecia que estava na hora de fazer as coisas e ainda de brinde, guardaria sua blusa, até a dona exigir sua volta. Se pegou pensando no momento.

 

  Se encontrava ansioso por isso

 

***

 

As informações que Caitlin os disponibilizou preencheram a lacuna em branco. Oliver, John e Felicity escutaram a conversa sem a presença de Caitlin, já que a mesma explicou ter vivido uma vez só fora o bastante para a machucar. Felicity o xingou diversas vezes , mas ficou feliz pelas provas. Agora não era somente achismos.

 

Continha veracidade, embasamento.

 

Malcolm estaria ferrado.

 

Pensaram com cautela sobre a armação do plano. Malcolm não sabia que havia sido descoberto, acreditava que Caitlin ficaria de boca fechada, então usariam isso ao seu favor. Ainda no papel de informante, os ligou mais uma vez, avisando que Tom havia marcado uma reunião em seu prédio com os três acionistas. Tommy, ainda sem saber de nada, o aconselhou a aceitar participar, e que no momento certo saísse, pois seria o momento da apreensão. Parecia um plano bom.

 

E Malcolm não desconfiaria de nada.

 

Caitlin sabia que contaram aos outros, embora Tommy ainda parecesse um verdadeiro mistério. Estava o evitando até a ação, evitando quase todos na realidade. A insegurança se fazia presente.

 

E se ele não a perdoasse?

 

A reunião tão esperada chegou. Todos trajavam coletes a prova de balas, para evitar futuros riscos. Não precisavam de disfarce desta vez, eram agentes treinados, e ver seus distintos já servia como um passe livre.

 

Estava na hora.

 

Caitlin havia ficado na equipe de Oliver e Felicity, sendo Tommy designado a outra. Não tiveram tempo para conversar, o que a deixou ainda mais preocupada.

 

E se…

 

— Já sabem o que fazer.- falou Oliver ao lado de Felicity.- Vamos até lá e evitar qualquer tipo de retaliação, ok?

 

— Há civis inocentes no local, são nossa prioridade também.- completou Felicity.- Bom. vamos lá. Curtis?”

 

“- Três seguranças no local e dois no hall.- informou.- Podem entrar.”

 

Os oito agentes seguiram em formação. A atenção dos olhares fora inevitável no momento em que pisaram no prédio. A secretária pareceu surpresa, e ao mostrar o distintivo não ousou fazer perguntas, os dois seguranças também não.

 

— Até que enfim encontramos alguém que não proteja criminosos.- comentou Ray, entrando no elevador.- Já estava ficando chato

 

— Espero que tenhamos sorte com os de cima.- murmurou Laurel.

 

A porta do elevador abriu, dando ao andar da sala de reuniões. Ray suspirou irritado ao notar que não tiveram tanta sorte assim desta vez. Sara em um movimento rápido desarmou um, enquanto Laurel e Ray pegaram os outros dois. Como previsto, Malcolm não se encontrava mais presente. Ao invés de seguirem para a porta, Felicity e Oliver direcionaram Caitlin até as escadas, lançando um olhar significativo a John.

 

— Tommy não deveria vir?- murmurou Caitlin, confusa.

 

— Não contamos a você porque parecia indisposta, e não há tempo para explicar agora.- falou Felicity.- Mas está tudo planejado, apenas provoque Malcolm.

 

Aumentaram os passos. Oliver fora o primeiro a aparecer no corredor, se certificando de que era seguro. Abriu a porta da sala de Malcolm com brusquidão, assustando o empresário.

 

— Mas o que está acontecendo aqui?- perguntou Malcolm, confuso.- Vocês os tem sob custódia, o que querem…

 

— Nós sabemos, acabou Malcolm.- falou Felicity- Se entregue.

 

— Me entregar? Mas pelo o quê?- questionou, quando seu olhar caiu em Caitlin.- Você.- apertou as mãos em punho.- Não podem acreditar nela, eu arrisquei tudo para ajudá-los.

 

— Para se safar, quis dizer.- disse Oliver.- Conosco por perto sabia exatamente o que fazer sem estragar sua operação, entregando pessoas que já não estavam o obedecendo, os ameaçando. ideia brilhante, mas não funcionou.

 

— Isso é um caso claro de perseguição.- sorriu cínico.- O agente Queen tem problemas comigo, assim como a agente Snow. Ambos devem ter se juntado e criado essa historinha fantasiosa, que claramente é falsa.

 

— Temos provas, acabou Merlyn.- disse Oliver.

 

—  Se entregue.- falou Caitlin.- Não queremos que isso piore.

 

— Tommy jamais acreditará em vocês.- comentou, ignorando a fala de Oliver.- Posso até ir preso hoje, ou talvez…- pegou a arma de sua cintura, a apontando para Caitlin. Felicity e Oliver deram um passo à frente, em alerta.- Havia mais um terceiro alguém, que por fatalidade matou três agentes, e eu, como poderia ajudar? Sou um simples cível.- falou com pesar, suspirando.- Tommy ficará arrasado, mas eu o consolarei, vai dar certo.

 

— Você é um maldito canalha!- xingou Felicity.

 

— Olha a boca agente Smoak.- a advertiu.

 

— Somos três, antes de você atirar já estará sangrando.- lembrou Oliver.- Pense bem.

 

— Eu estou pensando.- sorriu.- Jamais teria coragem de matar o pai do seu melhor amigo, é fraco demais pra isso, Robert sabia.

 

— Vai pro inferno!

 

— E Felicity, bom, pelo o que eu me recordo dos tempos antigos, era uma mera garotinha do TI, e Caitlin…- a encarou, com desprezo.- Tommy já a odiará quando descobrir que mentiu, me machucando então…- deu de ombros.- Perderá o pequeno, quase inexistente espaço que acha que tem nele.

 

Caitlin apertou os lábios. Estavam sozinhos ali, em clara vantagem, mas então por que se sentia tão impotente? Se recordou do aviso de Oliver. Malcolm trabalha com palavras.

 

Precisava focar.

 

Trocou um leve olhar com os agentes, sabia que estavam escondendo algo. Sem dizer uma palavra, os lábios de Felicity se moveram.

 

“ Ganhe tempo”

 

— Você realmente não conhece o seu filho, ele é totalmente o oposto de você.- Malcolm trincou o maxilar.-  Ele é gentil, se importa com os outros ao seu redor e arrisca a vida todos os dias para salvar pessoas que nem conhece. Se acha mesmo que seu planinho vai dar certo então o faça, atire em mim.- abriu os braços- Eu tenho pena de você.

 

— Temos uma mártir aqui, que adorável.- falou sarcástico.- Acho bom você se comparar com um, porque assim como eles, você acabará morta.

 

— Não, ela não vai.

 

A voz potente, um tanto nervosa o atraiu para olhar para o lado. Tommy caminhava a passos pesados, sendo seguido por Roy e Sara, já que o restante terminava de levar os demais criminosos. Parou a menos de um metro, com o rosto impassível, o apontando um revólver.

 

— Se afaste dela.- pediu.- Agora.

 

— Tommy…- o chamou surpreso, não contava com sua presença.- Isso não é…

 

— Se afaste dela, agora.- repetiu firme.

 

— Foi você.- olhou para Caitlin enfurecido.- Armou tudo isso, eu vou...

— Se a machucar, eu juro por Deus que não pensarei duas vezes antes de atirar em você.

 

 A tensão pairava pela sala. Todos os agentes, atentos, permaneciam em seus postos, prontos para o pior dos cenários. Tommy mantinha seu olhar preso no pai, trincando o maxilar. Todos já haviam visto sua versão brincalhona, sempre pronta para alguma piada sarcástica, mas naquele momento, seu rosto tão leve carregava peso demais. Suas mãos apertavam a pistola com firmeza, ainda mirando o pai. Malcolm arqueou as sobrancelhas.

 

  - Sua mãe ficaria desapontada com você. Rebecca...

 

  - Não toque no nome dela!- gritou, dando um passo à frente.- Não ouse usar a memória da minha mãe para justificar os atos horríveis que tem feito!

 

  - Você nunca entendeu Tommy, nunca entendeu como o mundo funciona. Tudo o que eu fiz foi por nós!- ergueu a voz.- Tudo o que eu sempre fiz foi por nós. Estávamos nos dando bem, mas essa sua amiguinha...- olhou para Caitlin com desprezo, apontando a arma para seu peito.- Tinha que abrir a maldita boca, não é?

 

   - Pra trás.- advertiu Tommy ao vê-lo se aproximar de Caitlin.- Agora largue o revólver e coloque as mãos onde eu possa ver.

 

  - Ela vale tudo isso? Tudo por um brinquedinho? Uma transa boa?

 

   Seu olhar se cruzou com o de Caitlin, que embora assustada, permanecia firme diante da situação. Tommy a encarou profundamente, se certificando de que não houvesse maus entendidos em suas palavras.

 

  - Ela vale sim.- respondeu, sem deixar de encará-la.- Vale muito mais que isso.

 

  - Eu sou seu pai.- murmurou Malcolm, incrédulo.- Somos uma família.

 

  - Não, você não fez questão nem quando deveria ter feito.- rebateu, firme.- Agora largue o revólver, ou serei obrigado a acertá-lo em um ponto fora de risco.

 

   Malcolm permanecia perplexo. Encarou fundo os olhos do filho, e ao não encontrar nenhum vestígio de dúvida, se viu obrigado a obedecer.

 

   - Está cometendo um grande erro.- murmurou ao colocar suas mãos para trás.

 

  - Não, já estava na hora de eu crescer e parar de deixar você me desapontar.- apertou as algemas.- Malcolm Merlyn, você será indiciado por formação de quadrilha e corrupção, tudo o que disser poderá e será usado contra você, Alguma objeção?

 

  - Meus advogados cuidarão disso pra mim.

 

   - Isso já não é mais problema meu. 

 

Trocaram um olhar hostil,  demorado. Oliver e Felicity se entreolharam, e em uma mensagem discreta, o loiro assentiu.

 

  - Agentes Lance e Harper, levem o senhor Merlyn.- pediu. Sara e Roy assentiram, o tomando de Tommy, que permanecia calado. Se dirigiu a passos apressados a Caitlin



  - Você tá bem?- perguntou, respirando aliviado ao finalmente sentir o corpo de Caitlin ao seu.- Ele machucou você em algum lugar?- segurou seu rosto com as mãos.

 

   - Eu estou bem.- respondeu, respirando fundo, fechando os olhos ao deitar a cabeça em seu peito.- Estamos bem.

 

   - Estamos sim.

 

  Oliver e Felicity sorriram com a situação. Os deixaram tomar um tempo, até estarem mais recompostos. 

 Médicos foram chamados ao local para atenderem o homem ferido, que havia tentado fugir pelas escadas, sendo pego por Roy. À tarde se passou corriqueira, entre mais procedimentos e procedimentos. Por serem homens e mulheres poderosos, seus advogados tentaram de tudo para os deixarem soltos, no entanto, com as provas e o flagrante mostrados por Laurel fora o suficiente para garantir que não iriam sair tão facilmente. Tommy havia sido o primeiro a ir para base. Caitlin chegou horas depois, se livrando dos equipamentos e tomando um banho demorado, não era todo dia em que ficamos tão frente a frente em um revólver, e embora fosse sua profissão, a situação de hoje havia atingido o extremo. Deu dois toques fracos na porta, escutando a voz de Tommy, permitindo a entrada. O moreno estava sentado na ponta da cama, olhando uma foto, e ao notar sua presença, sorriu, a deixando na cômoda. Virou o corpo em sua direção, indicando o espaço ao lado, para se sentar.

 

   - Você está bem?- perguntou a Caitlin.

 

   - Fisicamente sim.- deu de ombros.- E você?

 

   - Sim.- Forçou um sorriso, olhando para as mãos.- Deu tudo certo, ele vai ser preso e...

 

   - Tommy...

 

   - É o que a lei quer. E eu realmente nem me importo...

 

   - T-o-m-m-y.- falou seu nome pausadamente, segurando com ambas as mãos seu rosto, a tempo de ver lágrimas presas no canto de seus olhos.- Tá tudo bem.

 

   O nó em sua garganta, a tanto evitado voltava com força. Se sentiu ser puxado em um abraço, onde desmoronou. Caitlin afagava seus cabelos, também chorosa. Permaneceram em silêncio, juntos, quando o mesmo se afastou, limpando o rosto.

 

   - Eu não deveria estar chorando. Ele é um criminoso.

 

   - Que continua sendo o seu pai.- acariciou seu rosto, trilhando com o polegar o caminha percorrido pela lágrima.



   - Ele nunca foi um pai.- balançou a cabeça, irritado.- Me deixou sozinho aos oito, quando minha mãe morreu. Eu era uma criança...- fungou.- Eu só queria ficar seguro com o que restava da minha família. E ele...- sua voz falhou.- Ele volta depois de malditos anos, a porcaria de anos! E me usa, como se eu não valesse nada?- a olhou, desesperado.- O que eu deveria fazer? Assistir de novo uma pessoa importante pra mim morrer com uma bala na cabeça? 

 

 Caitlin engoliu em seco. Não havia parado para pensar na similaridade que era sua situação com Rebeca, ela morrerá por uma arma, e Malcolm tentou matá-la com uma. Para Tommy, era como vivenciar a mesma situação outra vez, e se sentiu culpada, por um momento, de ter o colocado naquela situação.

 

  - Desculpe.- pediu. Tommy franziu as sobrancelhas.- Não queria que escolhesse entre mim e seu pai, não queria que vivenciasse tudo de novo e...

 

   - Caitlin.- segurou a ponta de seu queixo, a olhando firmemente.- O que eu disse lá foi verdade, você vale a pena, é importante demais pra mim, não pensaria duas vezes em salvar você.

 

  - Não ficou bravo por não ter te contado?

 

   - Claro que não.- sorriu, arrumando com a ponta dos dedos seus cabelos, ainda molhados pelo banho.- Você não tem ideia do valor que significa pra mim, não é?- sorriu, balançando a cabeça, como se fosse um absurdo não ter notado.- Tão cabeça dura.- Caitlin sorriu timidamente.- Você é, sem sombra de dúvidas a melhor coisa que me aconteceu, e eu espero que agora ponha isso nessa mente brilhante aqui.- cutucou sua testa, sorrindo de canto.

 

— Você vai visitá-lo?

 

— Eu não quero falar de Malcolm hoje.- murmurou. Caitlin assentiu.- Pode dormir comigo?

 

— É claro que sim.

 

Se aconchegaram no colchão e permaneceram abraçados, sendo o único som suas respirações. Aos poucos, o peso que Tommy sentia nas costas desapareceu. Apertou ainda mais Caitlin, se certificando de que realmente estava ali, e sentindo seu perfume, adormeceu, exausto. Ele não estava sozinho.

 

Não mais.

 

***



Após uma missão intensa nada melhor do que um bom banho para relaxar. Malcolm a essa altura estava passando por um interrogatório no FBI, enquanto seu sócio, Tom Bain, destilava seu ódio pelo acordo que fizeram, principalmente ao descobrir que o “amigo” não estava o protegendo tanto assim. De qualquer forma, sua parte já estava feita.

 

Podiam descansar.

 

Felicity terminava de se trocar, pensativa. Olhou para a jaqueta de Oliver jogada em sua cama. Ainda não havia tempo para devolvê-la, e só ao lembrar o susto que tomou ao notar que estava apenas com a roupa debaixo quando a abriu o zíper já a fazia querer se esconder. Não tinha ideia de onde sua blusa estava, talvez tivesse a jogado alto demais no momento de euforia, até porque naquele momento, sua roupa era o que menos importava. Engoliu em seco.

 

Mais uma vez Oliver a tirava dos eixos.

 

Era claro que respeitar o acordo( que ela mesma impusera) estava ficando cada vez mais desagradavel. Quando se via, já estava o lançando sorrisos bobos, olhando seus braços fortes.

 

O desejando.

 

E só ao lembrar de suas mãos a percorrendo já lhe faltava o ar. Não sabia o que fazer.

 

Não tinha ideia de como lidar com Oliver.

 

Olhou para porta ao escutar duas batidas, dando voz de que pudesse entrar. Roy apareceu, sorridente.

 

— Como se sente após sua primeira missão?- perguntou divertida.- Você foi muito bem hoje, Roy.- sorriu orgulhosa.

 

— Obrigado.- agradeceu um pouco sem graça, encostando a porta.- Eu falei com Oliver.- disse de repente.- Me desculpei, como você queria.

 

— Ele aceitou?

 

— Sim.- assentiu.- Na realidade eu tive coragem só após escutar a conversinha de vocês lá embaixo.- Felicity o olhou chocada.

 

— Você estava escutando?

 

— Faz parte do trabalho.- sorriu cínico.- E francamente, ele já pega pesado comigo, você ainda pediu que continuasse? 

 

— Você merece, principalmente depois de nos espiar.

 

— Ah, eu não ouvi tudo.- Um sorriso de menino brotou em seus lábios.- Parei na parte em que vocês começaram a flertar. É meio nojento ouvir os gemidos da pessoa que eu considero uma irmã...Felicity!- gritou ao receber um travesseiro na cara.- Baixe o outro, agora.

 

— A minha vontade é de matar você!- esbravejou vermelha, o acertando outra vez.

 

— Eu só queria ter certeza de que ele não me odiava!- respondeu, a impedindo de acertá-lo.- Eu dei um soco na cara dele.

 

— Deu porque é um idiota.

 

— Porque fiz uma promessa a você.- sorriu. Felicity tentou ficar brava, mas acabou cedendo, soltando o travesseiro.- Agora que sei que sou bem-vindo me sinto mais confortável.

 

— Ele jamais o dispensaria por um problema pessoal.- comentou, achando um absurdo a ideia.- Ele não é assim.

 

— Você parece ter uma grande admiração por ele.- falou pensativo. Seus olhos correram até a cama, se focalizando na jaqueta. Assentiu consigo mesmo, como se confirmasse o racíocinio.- Eu posso estar errado, estou aqui apenas alguns dias mas…- olhou no fundo de seus olhos.- Ele não é o idiota que eu pensava, e tem um grande carinho por você.

 

Suas palavras, embora gentis, a deixaram sem reação. Roy, notando que não falaria mais nada se aproximou, a dando um beijo de boa noite. Felicity continuou parada no mesmo lugar, encarando a porta. Se já estava confusa agora a dúvida duplicara. Não sabia o que fazer com Oliver.

 

Não sabia o que sentir.

 

Mas será que deveria saber alguma coisa mesmo?

 

Balançou a cabeça, que pesava toneladas no momento. Pensou em Oliver novamente, sentindo seu coração se aquecer.Isso era ruim.

 

Muito ruim.

 

Riu consigo mesma. Nunca fora boa para escolher relacionamentos, e isso não havia mudado. Talvez fosse uma parte sua da antiga Felicity de Vegas, que a colocava em enrascadas. Era ciente do que essa Felicity falava no momento.

 

Iria escutá-la?

 

Tudo estava uma verdadeira fermentação, e independente do resultado, Felicity sabia que acabaria se queimando.




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Notas finais do capítulo

PEGA FOGO! KKKK. Esse foi mais um dos capítulos que estavam planejados em minha mente desde quando decidir começar a escrever. Mais coisas irão começar a ocorrer agora, então fiquem ligados, e sobre o nosso casal as coisas estão em movimento, e garanto que nosso casal começara a se render aos encantos um do outro( como já estão fazendo). Comentem MUITOOO. Beijos e até a próxima atualização.



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