Until My Last Breath escrita por Lady


Capítulo 6
Quinto




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Nico soube que o pai já estava no acampamento no instante em que gritos assustados irromperam pela área dos chalés. Ele não culpava os semideuses pelo susto de esqueletos abrindo a terra perto da fogueira de Héstia, não é como se acontecesse todos os dias, afinal. Fechou a mala que havia feito às pressas e deixou-a no canto da cama.

Saiu de seu chalé e andou em direção a Casa Grande. Sabia que os campistas estavam assustados e receosos, então tentava não ligar para os cochichos e afastamento sempre quando se aproximava. Não ficou surpreso quando viu Quíron sentado em suas cadeiras de rodas conversando com um homem alto e pálido. Seu terno era negro como a noite e, se Nico olhasse fixamente, poderia notar vultos agoniados presos ao tecido.

— Olá, pai. — Disse o moreno.

O homem olhou para Nico e seu olhos pretos pareceram ler a alma do rapaz, mas aquilo não o incomodava, pelo menos não mais. Hades não parecia fazer por querer, todavia seus olhares sempre eram profundos demais quando miravam o filho; como se ele fosse alguma incógnita cujo resultado Hades ansiava em descobrir. Logo após, a tensão se aliviou, o pai sorriu para o filho e abriu os braços para que o mais novo chegasse mais perto.

— Venha aqui, Nico. — Disse e sua voz estava calma.

Talvez aquilo fosse inédito para quem visse de fora. Para quem não conhecesse a relação em que Nico se empenhou a construir com Hades. No início não fora fácil. O homem não facilitava, era rude e não sabia conversar sem ameaças ou soberba. Nico por diversas vezes pensou em desistir de construir uma relação de pai e filho com o deus, mas Will sempre o incentivou, ainda mais quando o moreno lhe contou sobre a conversa que tivera com Hades há alguns anos, quando ainda lutavam contra Gaia.

Trêmulo, Nico andou até o pai e devagar, como se Hades fosse um animal arisco, envolveu os braços pelo homem e esperou, incerto, o retorno do abraço pelo pai. Assim que sentiu os braços de Hades em si, toda a tensão abandonou o corpo magro e Nico começou chorar baixinho. Odiava chorar na frente do pai, mas as lágrimas caiam de seus olhos como se tivessem vida própria. Odiava o sentimento de impotência que sentia sempre que lembrava que Will morreu e que ele não pode fazer nada para evitar isso. Odiava tantas coisas que nem se pedissem para ele listá-las ele conseguiria. Ele sabia que Quíron observava a cena, sabia que vários semideuses também observavam, meios embasbacados, mas naquele momento, Nico não se via como um semideus abraçando o deus dos mortos, mas como um filho pedindo consolo nos braços do pai.

— Eu estou cansado disso, pai. De todo esse sofrimento, da dor, da perda... — A voz baixa, quase sussurrada. — É isso que significa ser teu filho? Nascemos para sermos punidos? Vivermos em constante dor e amargura? Não merecemos paz e alegria?

Ele sabia que Hades não tinha as respostas de suas perguntas. Mas parecia tão injusto ele sofrer e sofrer enquanto vários outros semideuses vivam em completa alegria.

— Já mandei buscarem seus pertences no chalé 13. — Hades comentou. — Assim que estiver pronto, podemos ir.

Nico se afastou do deus e enxugou as lágrimas. O corpo ainda tremia e a parecia que ele tentava engolir uma bola, a garganta doía pelo choro preso.

— Se cuide, rapaz. — Disse Quíron. — Espero te ver novamente, quando estiver pronto para voltar.

O mais novo se limitou em apenas assentir. Hades se despediu do centauro com um balançar de cabeça e se adiantou para a área dos chalés, onde uma enorme escadaria levava ao mundo inferior. Nico apenas o seguiu. Não ligava mais se a grama murchava aos seus pés, ou se os adolescentes o olhavam com pena; naquele momento, nada mais importava a Nico di Angelo a não ser a enorme dor no peito que sentia. O vazio. O abandono.

Sequer se despediu de Jason. Apenas seguiu seu caminho atrás de Hades como se fosse um preso algemado sendo puxado pela polícia, olhos baixos e expressão vazia. Em sua mente, apenas uma certeza insistia em ficar e minar teus pensamentos.

A certeza de que um dia todos ficaremos sós.

*

Uma alma vagava perdida. Quando Will Solace teve a brilhante ideia de fugir de seu próprio julgamento, a razão não estava consigo. Afinal, como alguém que nunca havia ido ao mundo inferior, conseguiria correr por aí sem se perder? Ele que não seria o sortudo. Quanto mais corria pelo Campo dos Asfódelos, Will sentia que nunca deveria ter corrido. O que ele esperava? Protagonizar um filme besta de romance pastelão? Onde as pessoas tomam atitudes impensadas em nome do amor e no final tudo sempre acaba certo e eles vivem felizes para sempre? Will já devia saber que a vida real não funcionava daquele modo.

Ele nunca deveria ter corrido, ter se desesperado por Nico. O moreno era filho de Hades, afinal! Se Will tivesse apenas esperado sua sentença, poderia torcer para que o moreno pudesse convocá-lo, como antes fazia com o espírito de Bianca, e então loiro poderia pedir-lhe desculpas por morrer tão precocemente.

Mas Will Solace não era conhecido por sua notável inteligência.

Agora, sentado sobre um tronco ressequido do que já havia sido uma árvore, o rapaz ponderava. Sabia que não havia pensado direito e que sua súbita corrida pelo hades havia sido precipitada. Sua mente tentava puxar as memórias do dia em que conversara com Nico sobre como o menino havia encontrado com Hazel no submundo. Nico havia falado algo sobre fantasmas vagando sem saberem quem eram, pessoas sem rostos, sem identidades, condenadas a existirem presas eternamente numa casca vazia.

Em meio a tentativas frustradas de buscar informações em suas lembranças, Will notou algo. Algo que para muitos seria banal, algo tão corriqueiro que sequer levantaria suspeitas. Will Solace não se lembrava de como havia conhecido Nico.

Muitas pessoas não dariam importância para um fato tão simples, a primeira vez que Will olhou para Nico e prestou atenção no moreno. Mas para ele, aquele dia estava tão vivido em suas lembranças, tatuado em seu cérebro que o simples fato de não conseguir se lembrar de como aconteceu, assustou o loiro.

Imediatamente pôs-se de pé e limpou a terra em suas calças. Uma sensação amarga tomou sua boca e Will engoliu em seco. Ele não havia percebido antes, mas quanto mais tempo ele passava lá, menos vontade tinha de levantar-se. Aos poucos ele estava perdendo o propósito da fuga, o motivo por qual corria em direção ao castelo.

Foi quando, como quem recebe um jato de água fria no rosto, Will percebeu. O terror tomou seu corpo e suas pernas ficaram bambas. Ele lembrava-se de que corria para encontrar Nico, corria para que pudesse se reencontrar com seu namorado, corria para os braços de quem amava, mas...

Ele não se lembrava do rosto... Sempre que se esforçava, sua cabeça doía. A imagem do rapaz era contorcida e confusa e Will não sabia dizer como ele era.

Como era Nico mesmo?


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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