Número Um escrita por Evangeline White


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Manas e manos, que ideia aleatória foi essa que me atingiu HAUDHAUIDAHD Estava relendo Harry Potter e o cálice de fogo, quando uma ceninha no fim do livro me fez ter essa ideia boba e eu precisei escrever.

Sério, Ron e Viktor tem uma química maravilhosa, fico impressionada como tem tão pouco material deles na internet e como podem chamar deles de crackshipp. Eles são tipo Drarry ou Wolfstar, um casal óbvio demais para ser ignorado! Por isso estou fazendo minha contribuição aqui.



Divirtam-se ♥



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O cheiro de café fez Viktor sorrir. Fazia mais de uma semana que ia para a mesma cafeteria no centro de Londres, destinada exclusivamente aos bruxos que gostavam de apreciar as invencionices muggles. Coberta por uma passagem mágica e invisível, o pátio de lojinhas locais se estendia apenas para o mundo mágico, localizada perto do ministério da magia. Viktor sabia que o pátio era recente – uma ideia genial do Departamento de Turismo – e por isso fez questão de conhecer as lojas assim que retornou para Londres, cerca de um mês atrás.

Uma atendente baixinha chegou com seu pedido, e sorriu quando Viktor não fez cerimônias para dar um belo gole na xícara grande de café.

— O senhor tem se tornado nosso cliente favorito — a menina sorriu largamente, e Viktor subiu os olhos para ela com simpatia. — Ficamos felizes que esteja gostando dos nossos produtos!

— É muito bom — a voz carregada de sotaque soou baixa e polida, diferente da postura relaxada de Viktor. — Obrigado...?

— Wanda — a menina se adiantou, apontando para o pequeno crachá preso no avental colorido. — Disponha senhor...?

— Viktor.

Wanda assentiu e com um pedido de licença, se afastou para atender outra mesa. Já havia um tempo que Viktor conseguia sair para passear sem ter fãs em cima, graças a uma magia interessante que Hermione descobrira para lhe disfarçar, assim como precisou fazer para com Harry Potter após sua formatura em Hogwarts. Agora, anos mais tarde da queda de Lord Voldemort, Viktor apreciava a bebida forte com a tranquilidade que o feitiço podia lhe ofertar.

Amava seu antigo posto de jogador, com toda a certeza; mesmo após os tristes incidentes da guerra bruxa que lhe impediram de continuar no quadribol, Viktor nunca deixou de se orgulhar pelo que conquistou. A pausa – forçada – de sua carreira, porém, não diminuiu o prazer dos que acompanhavam seu trabalho, e mesmo que fosse grato por isso, às vezes apenas queria um pouco de paz com seus amigos mais íntimos.

Amigos esses que não imaginava que um dia teria, antes daquele maldito ataque de lobisomem.

Um estalo alto o tirou dos pensamentos distantes, e Viktor sorriu quando, do outro lado da rua, Ronald Weasley aparatou, balançando discretamente o casaco comprido de auror. Ron olhou para os lados antes de finalmente avistar Viktor, que acenou discretamente. Outra vantagem interessante no feitiço de disfarce era que Viktor podia escolher, no momento em que o aplicou, quem lhe via sob sua forma real – esse detalhe fora desenvolvido diretamente pelo padrinho de Harry Potter, Sirius Black-Lupin.

Ron estralou os ombros antes de atravessar a rua, vez ou outra lançando olhares discretos para as pessoas ao redor; um costume que desenvolveu pelos anos de trabalho, Ron confessara a Viktor certa vez, quando estavam comemorando o aniversário de Hermione.

— Boa tarde — Viktor cumprimento quando Ron se sentou à sua frente. Uma pequena colher se movia sozinha no café. — Estava no trabalho?

— Harry me segurou na sala de reunião — Ron resmungou, acenando para ser atendido. Wanda apareceu outra vez, com um bloquinho em mãos. — Um cappuccino e uma torta de frango.

Viktor sorriu quando Wanda se afastou, e ao ganhar o olhar questionador de Ron, apenas deu de ombro.

— Café e torta, Ronald?

Cappuccino, idiota — Ron revirou os olhos, mas o bom humor começava a lhe contagiar. — Se ficasse o dia inteiro preso naquele ministério você pediria a primeira coisa do cardápio também.

— Tenho certeza de que sim.

— É bom que tenha certeza mesmo.

Os dois trocaram olhares e, segundos depois, estavam rindo.

— Por onde tem andado? — Ron questionou, finalmente se livrando da capa de trabalho e arregaçando as mangas da camisa.

Já fazia dois meses que Viktor mal dava notícias, viajando para todos os cantos e se ocupando com projetos dos quais nunca explicava. “Você vai entender depois” era o que dizia sempre que alguém lhe questionava, então pedia licença e voltava para seu vários pergaminhos. Mesmo Hermione não sabia dizer o que Viktor planejava, e mal tinha tempo para tentar descobrir, com a correria para oficializar suas novas leis. Então, sobrava a Ron e Harry ficarem especulando sem nunca chegar a um resultado, embora as noites “investigativas” fossem divertidas e tivessem até mesmo a participação de Draco no meio das apostas.

— Estava arrumando um novo emprego.

Ron arregalou os olhos e endireitou a postura. Depois de todas aquelas vezes em que tentara imaginar formas intrigantes de conseguir respostas de Viktor (uma delas envolvia poção polissuco, um animago e balaços enfeitiçados) de repente estava recebendo uma informação direta.

E era absolutamente frustrante.

— Só isso?! — Ron bateu com a mão na mesinha em que estavam, ganhando o olhar surpreso de vários clientes, entre eles o próprio Viktor. — Mas... mas... é algum emprego absurdo? Você vai trabalhar no adestramento de lobisomens ou algo assim não é?

— Adestramento de lobisomens...?

Algo na forma como Viktor apertou as sobrancelhas fez Ron perceber que talvez tivesse ido um pouco longe demais.

— Bem, você sabe! — Ron gesticulou, sentindo as pontas das orelhas esquentarem com o olhar atento de Viktor. — Você não tem me respondido direito esses meses e fiquei... Hermione ficou perguntando sobre você! Todos ficaram curiosos!

Viktor sorriu, enfim relaxando a postura. Voltou a se focar em seu café e Wanda trouxe os pedidos de Ron. Por dois minutos, nenhum dos dois parecia saber falar, concentrando-se em comer e beber como se não o fizessem há anos. Aquele silêncio ajudou Ron a se acalmar, percebendo que parte do estresse ainda era por culpa de Harry. Só porque eram aurores não queria dizer que precisavam se meter em todos os problemas do ministério, mas o melhor amigo não conseguia manter a curiosidade controlada – e olha que ter Draco Malfoy como namorado deveria ser suficiente para enfiar rédeas curtas no “herói Potter”.

— Então... emprego novo, meus parabéns — Ron tornou a falar quando limpou a boca no pequeno guardanapo. — Vai trabalhar aonde?

O sorriso de Viktor se alargou ainda mais, e Ron achou que seu cappuccino era muito mais interessante de se olhar, afinal não lhe causaria mais vermelhidão do que o necessário. Já fazia um tempo que vinha se desviando de Viktor daquela forma, ao mesmo tempo que buscava estar sempre próximo – mesmo que lhe custasse a admitir. “Só estou preocupado” dizia a qualquer um que inventasse de fazer piada sobre seus interesses no ex-jogador búlgaro. “Eu acompanhei ele com a coisa da licantropia, viramos amigos. Amigos cuidam uns dos outros”.

Oh, como ele acompanhou. Quando Ron voltou para completar seu último ano em Hogwarts e Voldemort já era apenas uma lembrança obscura, passara a trocar cartas e cartas com Viktor, que se via mergulhado na depressão por ter sido mordido por um lobisomem. Mesmo que o apoio de Bill e Remus tivesse sido primordial, Viktor confessara a Ron, várias vezes, que foi ele quem o ajudou a erguer a cabeça e ver que sua vida não havia acabado.

A partir disso, os dois desenvolveram uma relação estranha e agradável, da qual Ron não poupava xingamentos e Viktor se divertia com piadas íntimas e sugestivas.

— Sobre isso... — Viktor mexeu o copo, e Ron ficou curioso sobre o movimento inquieto. — Eu vou voltar ao quadribol.

O lanche de Ron parou na metade do caminho, pingando molho no pratinho branco ao ser esmagado pelo susto. Pareceu incapaz de expressar qualquer reação humanamente aceitável, grunhido algo que fez Viktor precisar se inclinar para mais perto e tentar ouvir.

E se arrependeu no minuto seguinte quando Ron provou ser filho de Molly Weasley.

— VOCÊ VAI VOLTAR A JOGAR?!

Os clientes pareceram prontos a azarar Ron ali mesmo, e Viktor imaginou que apenas não tinham feito isso pelo símbolo do ministério estar visivelmente estampado no uniforme de Ronald. Wanda lançou um olhar de aviso a eles, e Viktor sorriu em sinal de desculpas.

— Ron — Viktor tomou-lhe a mão com educação, surpreendendo-se com o calor repentino nos dedos do auror. — Não grite, por favor.

Ron abriu e fechou a boca tantas vezes que Viktor acreditou que tivesse dado algum pane mental, mas quando fez menção de se levantar para ajudar o amigo, o viu se balançar nos sapatos e pigarrear alto. Ao se sentar outra vez, tinha as orelhas e pescoço tão vermelhos quanto o uniforme de Durmstrang.

— Não fique me dando ordens, parece a Mione — Ronald reclamou. — Até quando terminamos ela decidiu como seria!

— Achei que tinha sido um término mútuo.

— Sim, mas ela quis dar a última palavra.

Talvez Viktor tivesse se compadecido por Ron se não fosse a pisada dura de pé que o tornou adoravelmente infantil. Ronald vinha mantendo a aura jovem ao longo dos anos, e mesmo que fosse muito mais maduro do que na época da escola (segundo palavras dos melhores amigos) ainda tinha crises como aquela que faziam Viktor se ver irremediavelmente encantado.

Girou mais uma vez sua caneca de café, agora vazia, e se inclinou para frente da mesa. Os olhos de Ron focaram-se nos de Viktor, e algo fez a ambos se arrepiarem.

— Não pretendo jogar, não seria aceito na minha condição. O preconceito com... criaturas como eu não diminuiu muito no esporte.

Mesmo com os esforços de Hermione para quebrar os preconceitos com elfos domésticos e outros seres marginalizados na sociedade bruxa, ainda estavam longe de conseguir a plena confiança para se empregar lobisomens. Remus Black-Lupin e William Weasley eram uma rara exceção à regra.

— Ainda acho isso um absurdo — Ron reclamou — porque todo mundo sabe que você é o melhor apanhador! — Sob o olhar significativo de Viktor, Ron deu de ombros. — Depois da Ginny, mas ainda o melhor apanhador.

Parecendo satisfeito com a resposta, Viktor pegou sua xícara mais uma vez. Ron caçou o resto de seu lanche no prato, e o movimento súbito o fez perceber que ainda estava de mãos dadas a Viktor. Quis recolhê-la de imediato e fingir que nada acontecera, como sempre fazia. Eram amigos íntimos, mas não queria dizer que precisavam ficar literalmente grudados! E Viktor com certeza entenderia e faria o mesmo. Era óbvio.

Então, por que não conseguia puxar a mão de uma vez? E por que Viktor fazia questão de acariciar sua pele com o polegar? Os dedos dele eram ásperos, e Ron imaginou que fosse pelos anos de quadribol e depois por conta da licantropia. Talvez as patas dele fossem ásperas, ou seriam fofas iguais as de cachorro?

“Mas que porra de pensamento?!”

— Diz aí como vai ser o trabalho — Ron enfiou o lanche na boca para disfarçar o surto silencioso, se arrependendo no minuto em que engasgou com o pedaço maior do que podia mastigar.

— Eu vou voltar como treinador — a animação foi nítida naquelas palavras, e Ron se viu contagiado com a notícia, esquecendo-se outra vez das mãos entrelaçadas. — Me chamaram na Liga Internacional de Quadribol para conversar a respeito e decidiram que eu tenho qualificações excelentes para isso.

— Viktor, isso é incrível! — Ron se jogou sobre a mesa, e seu sorriso era tão grande que fazia as sardas de seu rosto se espremerem nas bochechas. — Você me ensinou muitas coisas legais e conhece o quadribol melhor que qualquer um! Vai ser um treinador fantástico e todo mundo vai te querer!

Oh, aquelas palavras. Aquelas palavras singelas de quem mal se dava conta de onde estava se metendo. Ron tagarelava sobre novos jogadores e times em potencial, mas Viktor já não o acompanhava mais. Estava fixo nele, algo se transformando lentamente em sua expressão alegre.

Todo mundo vai te querer!

— Isso quer dizer — Viktor disse lentamente, cortando a explosão de sugestões que Ron soltava no ar — que vou voltar aos holofotes do quadribol. As equipes podem não quererem um lobisomem nos times, mas ainda tenho... admiradores.

Viktor e Harry haviam definido como tabu a palavra “fã” em uma brincadeira com os amigos, que só voltavam a repeti-las com a clara intenção de testar a paciência dos dois. Harry era sempre mais fácil de tirar do sério, ainda que Viktor ostentasse uma expressão carrancuda pelo resto do dia.

— Bem, com isso você sabe lidar — Ron riu. Seus dedos começaram a tamborilar contra a palma de Viktor discretamente. — Quando vai começar?

— No final do mês. Passarei por algumas semanas em testes e se for bem, vão me oficializar.

— Então é bom já ir se acostumando com as garotas chorosas implorando seu autógrafo, treinador. Porque você vai ser a atração principal graças ao seu fã clube.

Pareceu que finalmente Ron se dava conta de suas escolhas de palavras, pois se distanciou novamente com um pigarreio discreto. Antes que conseguisse tirar sua mão da de Viktor, no entanto, foi segurado com mais força. Se não o conhecesse, teria lhe afastado com um tapa bruto, mas por Merlin, o búlgaro era tão atrapalhado quanto Ron para tentar qualquer movimento íntimo em público.

— Falando assim — as palavras saíram perigosamente baixas — faz parecer que já não ocupa mais o pódio como meu fã número um.

Ah, mas que grande filho da puta. Ronald havia aprendido a esperar o inesperado de Viktor sempre que se viam, mas aquela cartada era tão cretina quanto o tabu “fã”.

— Isso não vai funcionar hoje, Viktor — Ron sibilou. Mesmo assim, seus olhos se estreitaram em desafio. — Já faz anos desde que pedi um autógrafo seu.

— Um no ano do torneio tribruxo. Um após a guerra e... quando pediu para eu assinar seu peito, você lavou no dia seguinte ou usou algum feitiço protetor?

— Eu estava bêbado esse dia e você sabe disso!

O terceiro tapa de Ron na mesa pareceu ter sido a gota d’água para a atendente.

— Senhores — Wanda tinha os braços na cintura, e mesmo que sua cabeça mal chegasse no ombros dos dois homens, parecia pronta para soca-los até a raiva passar. — Esse é um ambiente de relaxamento e tranquilidade. Se estão com tanta energia para gastar sugiro que deem uma volta pela cidade. Agora.

Bem, pelo visto Viktor não seria mais o cliente favorito da cafeteria. Com um pedido de desculpas a Wanda, Viktor pagou pelos pratos e deu à menina uma gorjeta enorme, que pareceu ajudar a diminuir o mau humor. Ron por outro lado apenas dirigiu-lhe uma careta e pegou seu copo de cappuccino, jogou a capa por cima do ombro sem muito cuidado e saiu de lá aos resmungos.

— Que menina folgada — ele ainda reclamava, cinco minutos depois, quando estava cruzando um beco entre enormes prédios de roupas e materiais de escritório. — Eu ia comer mais, perderam um cliente.

— Acho que não irão reclamar disso.

— Cala a boca, Viktor — Ron chutou algumas pedras do caminho, mas antes que pudesse sair para a claridade do outro lado, se recostou na parede. A falta de pessoas fazia com que Ron respirasse com mais calma. — Então, treinador de quadribol. Meus parabéns. Já contou isso aos outros?

Algo na forma hesitante como Ron perguntara aquilo fez com que Viktor se virasse para ele, curioso. Seu rosto pálido finalmente assumiu um tom rosado no alto das bochechas, mas Ron não pareceu perceber, ocupado demais em acompanhar uma formiga fazer trilha no chão.

— Não, contei apenas para você — respondeu com brandura, e seus dedos tocaram o queixo de Ronald antes que pudesse pensar no que estava fazendo.

Merlin, o que estava acontecendo entre eles? Ron podia jurar que seu coração dera saltos tão altos que reverberava por todo o beco, e de repente Viktor parecia extremamente próximo.

— Ahn... e por que...?

O sorriso de Viktor se abriu outra vez, mais carinhoso e acolhedor. O coração de Ron disparou e agora tinha a certeza de que era ouvido por toda a cidade.

— Porque... eu não poderia deixar de informar ao meu fã número um.

Os poucos segundos de silêncio foram suficientes para Viktor observar a mudança abrupta de Ron, cujas orelhas ferviam em raiva agora e a boca sumia numa linha fina de quem tentava miseravelmente se controlar.

— Eu já disse que não sou seu fã número um! — E a explosão chegou como uma bola de fogo, obrigando Viktor a dar dois passos para trás para não ser acertado pelas mãos inquietas de Ronald. — Você é um imbecil arrogante se acha que pode sair por aí chamando os outros assim! Foram só uns autógrafos e um bonequinho, mas claro que vai se achar o famoso metido! Você não mudou nada mesmo, desde aquele torneio estúpido!

A lista de xingamentos que saíra da boca da Ron teriam feito Molly Weasley arrancar a língua do filho, e se Viktor não conhecesse Ron tão bem, talvez tivesse se sentido mal por aquele ataque de raiva. Mas bem, Viktor o conhecia, e era exatamente o que queria ter visto – suas gargalhadas deixaram óbvia a provocação, e não parou de se contorcer mesmo quando os tapas ardidos de Ron o pegaram em cheio nos braços.

— Eu não sabia dos bonequinhos, Ronald. São de edição limitada?

— Vai se foder, babaca! — Parecendo não ter mais nenhum palavrão em sua extensa lista, Ron cruzou os braços e se encostou na parede de novo. — Você vai ter um bando de idiotas babões em cima, por que não pergunta se eles são seus queridos fãs?!

— Porque eu não gosto deles como gosto de você.

Pareceu que o lanche que Ron comia antes se materializou em sua garganta, fazendo-o engasgar com aquela declaração. Viktor era sim um cretino direto nas palavras, mas precisava ser tão direto assim?!

— Você é maluco — Ron rosnou — eu tenho outras coisas para fazer, Viktor. Sai da frente.

Mesmo assim, nenhum deles se mexeu.

— Você é um bom amigo, Ronald — a voz de Viktor estava baixa, e quando voltou a se aproximar de Ron, seus dedos tocaram a bochecha quente do auror. — Tem me ajudado por anos. Não poderia pedir por outra pessoa para ser meu fã.

— Eu não sou... — as palavras falharam, e Ron engoliu em seco. A boca de seu estômago estava pesada e arrepios disparavam por seu corpo. — Isso é exagero, Viktor. Eu só gosto do jeito que você... do seu... das jogadas...

Qualquer linhas de pensamento que Ron tentara criar morreu no minuto em que Viktor, mais uma vez, sorria para ele. Era curto e simples, mas tão significativo que Ron não conseguiu expressar mais nada além dos olhos incrivelmente brilhantes e a boca seca entreaberta. O ar entre eles foi morrendo à medida que Viktor quebrava qualquer mínimo espaço entre seus corpos, e os arrepios de antes se tornaram correntes elétricas quando se tocaram.

— Viktor...

Ele não respondeu, se inclinando para Ron. Os olhos azuis se fecharam e a boca esperou... o beijo que nunca veio.

Quando abriu os olhos, assustado, Viktor já estava assumindo uma distância segura e tinha a varinha em mãos. Nos primeiros segundos, Ron pensou que pudessem estar sendo atacados e se colocou em alerta, mas quando a falta de preocupação no rosto de Viktor foi captada pelos olhos treinados do Weasley, o fogo de raiva voltou a subir, mesclado à incrível vergonha que sentia.

— Mas que porra foi essa?!

— Só achei que devia dar ao meu fã favorito algum carinho.

Viktor mal precisou apontar, Ron já estava tateando o peito e puxando um broche grande e dourado da roupa. As palavras mudavam entre “V.I.P” e “FAN #1” em letras bonitas e berrantes.

— É um convite para me visitar no treino quando quiser, e assistir ao primeiro jogo do time que eu treinar. Não precisei pensar muito para saber que queria que fosse você.

Aquela pequena declaração teria um peso muito bom para Ron horas depois, quando pensaria com calma na sua tarde reveladora com Viktor Krum. Mas ali, tomado por uma tremedeira de raiva e descrença, tudo o que fez foi levantar os punhos e socar Viktor com tanta força que o búlgaro cambaleou para trás.

— Você acha que pode sair por aí roçando os outros na parede e depois fazendo isso com eles?! — Ron o agarrou pela blusa, quase esfregando o broche no rosto de Viktor. — Não, você não pode! Porque não é assim que se conquista as pessoas!

E Ron não queria que mais ninguém fosse conquistado por Viktor, oh, como não queria.

— Se vai agir feito um pervertido idiota, ao menos faça isso direito!

E sem dar tempo de Viktor sequer conseguir lhe dizer como aquelas palavras não faziam sentido, Ron o puxou para ainda mais perto e o beijou com tanta raiva que seus dentes quase rasgaram a boca de Krum, que pareceu demasiado surpreso – e feliz – para se importar.

Ao se separarem, a falta de fôlego se acentuou pelos nervos à flor da pele e o choque do que finalmente estavam fazendo ali, naquele beco discreto. Os arrepios ainda disparavam pelos dois, e os olhos recaíam sobre a boca um do outro, aguardando qualquer oportunidade para voltar a se tocarem.

— Isso quer dizer que aceita? — Sob o olhar questionador de Ron, Viktor o abraçou lentamente pela cintura. — Aceita sair comigo em um encontro?

Ron bufou, revirando os olhos.

— Você tem um jeito muito estranho de chamar os outros para sair.

— E você tem um método muito interessante para conseguir um beijo — Viktor murmurou, e deitou sua testa na dele antes que ganhasse outro soco. — Mas é o que se espera de fãs malucos não é?

— Melhor calar essa boca se não quiser um olho roxo para combinar com sua cara feia.

Viktor não respondeu dessa vez, achando muito mais divertido se ocupar com a boca de Ron do que com provocações. Ronald era difícil de ler, mas fácil de se provocar, e Viktor se via apaixonado por aquele comportamento explosivo do garoto corajoso que ajudara a salvar não apenas o mundo bruxo, como também sua vida quando o próprio Viktor estava para desistir.

 

 

Depois de dois meses de encontros divertidos, raivosos e repletos de desejo, Ron ocupava o assento da área VIP no primeiro amistoso em que o time de Viktor Krum participava (que fora recebido com gritos e palmas no estádio) ao lado da irmã. Ginny comentava sobre o desempenho dos times, falava com quais já jogara e como as vassouras deles eram boas para curvas fechadas. Mas só quando perguntou a Ron quais eram as expectativas para o jogo foi que o percebeu inclinado pelas barras que protegiam a cabine, e seus olhos corriam não para os jogadores, e sim para o treinador búlgaro logo abaixo.

— Oh, parece que foi fisgado uh? — Ginny cutucou Ron na costela, abrindo um sorriso travesso. — Eu disse que isso aconteceria com você, era maluco pelo Krum.

— Ele é um completo imbecil — Ron retrucou, descansando o rosto na mão. Não perdia um único movimento de Viktor, que ia e vinha pelo gramado com seu time sempre na cola. — Idiota profissional. Vou pedi-lo em namoro hoje à noite.

Qualquer reação de Ginny passou despercebida por Ron, e quando o apito anunciou o começo do jogo, precisou se esforçar para subir os olhos até os jogadores animados. Podia ouvir o apoio do público e os comentários sobre o desempenho de cada membro dos times iniciantes, mas nada daquilo realmente soava mais importante a Ron do que admitir para si mesmo, ao menos uma vez, que Viktor Krum sempre foi seu foco favorito no quadribol.

Afinal, era seu fã número um, e deixaria isso bem claro naquela noite.


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Notas finais do capítulo

Sério, Vikron é um casal maravilhoso. TEM COMO NÃO AMAR ESSES DOIS??? ♥♥ Fiquei realmente feliz por ter escrito isso, foi bem divertido. c:

Reviews são sempre bem vindos! Obrigada a quem leu! ♥



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