1936

Cidade de Arkham, USA.

Os civis estavam agitados diante do grande Zepelim H.P. 137. nunca antes uma monstruosidade não-bélica  desafiou as leis da natureza e sobreviveu para contar a história; sim o Gigante Voador era frequentemente comparado ao Titanic de outrora.

Reunidos debaixo de um clima de 60 graus Farenheit com uma constante chuva fraca, estavam pessoas da alta sociedade, conhecidas no mundo inteiro por seus esforços em acabar com a "Guerra que acabaria com todas as Guerras"; de soldados à cientistas e professores de universidades, até mesmo alguns charlatões do mundo cultural como, cantoras, atores e artistas. Todos convidados para um único objetivo, marketing e propaganda, o produto a ser vendido era que a América vivia a parte dos demais países 

Entre esses passageiros alta estirpe, estava a famosa bailarina russa, Lyza Pereverzeca, a pérola da União Soviética e do Bolshoi, diziam ser a favorita de Stálin, a embaixadora Vermelha.  Vestia um casaco não muito grosso, acabou sendo pega de surpresa pela chuva. O vento frio fazia seu cabelo dançar no ar enquanto seu corpo se arrepiava quando a brisa gélida e húmida acariciava sua nuca, mas contudo, adorava o clima frio, a fazia lembrar de casa, lugar onde deveria estar. Originalmente o convite havia sido feito ao próprio Stálin, mas; "Jamais subirei em tal armadilha capitalista", o homem bravejou com seu charuto nos dedos. Dias depois Lyza recebeu uma carta do governo lhe informando de sua ida aos Estados Unidos da América, estaria sob seu disfarce de bailarina do Bolshoi e se apresentar no dirigível, tudo para eliminar um alvo, um inimigo ao governo de Stálin que secretamente se esgueirou para dentro do Zepelim, o ex-coronel Sergei Stanislaw, um homem de 45 anos que fugiu do exército vermelho em 1930. 

Era um trabalho como qualquer outro, monótono, matar sem ser vista. O cenário era o desafio, uma besta alada de aço, tecido e ar planejada por um gênio da engenharia o Doutor Richard Howard Potter, Liza nunca havia vista algo tão majestoso  e ao mesmo tempo frágil. Ao tocar suas mãos no corrimão, sentiu um arrepio na espinha, era como se atravessasse um portal para uma dimensão desconhecida. Uma dimensão escura e misteriosa.

Ela foi escoltada para dentro do monstro de ferro por dois homens fortes, altos e muito bonitos, um deles tinha a pele morena. Era raro ver aquilo na Rússia, um latino. Geralmente eles eram enviados para Sibéria antes de conseguirem dizer bom-dia em russo, já o outro um americano típico, com um orgulho escondido no coração e um nariz erguido. Seus aposentados não eram tão grandes, havia uma cama, um armário próximo de uma das janelas redondas por onde se via repórteres e jornalistas falando com o capitão do HP debaixo de guarda chuvas; em breve estariam no céu… uma idéia um tanto avessa à russa. No quarto também havia uma mesa de leitura, era ali onde estava uma medalha junto de uma carta. A medalha continha o desenho do Zepelim gravado no latão, a carta pedia o uso da medalha durante o jantar de boas vindas do Capitão. Lyza respirou fundo. Ela se levanta e caminha até a porta, Lyza passa a mão pelo belo trabalho de madeira maciça e, ao mesmo tempo delicado, suas mãos passam de forma ligeira no trinco. Por fim ela coloca a mala sobre a cama, a russa a abre para verificar se seu rifle ainda estava lá..., Afinal tinha uma Missão a cumprir. 

Yelyzaveta ainda olhava suas coisas, queria verificar se tudo estava em seu lugar… não pode deixar de ouvir a voz rígida e fria de Madame Maytrinkav; "Nunca deixe o laço de sua sapatilha solto, menina, você pode cair ou atrapalhar os outros". Uma lembrança de inverno veio até sua mente;  uma garota ruiva, em seus oito anos de idade, ela estava em foco vítima do holofote dos palcos russos, rodopiando graciosamente, sob olhares severos e perfeccionistas. Enquanto seus braços se moviam delicadamente com as asas de um cisne a musica é interrompida, e das sombras a presença de Madame Maytrinkav se faz ameaçadora, ela encarava Lyza como se a menina fosse uma aberração…

—Petrakov você girou muito devagar. -A velhota russa bravejou contra um garota a direita de Lyza, Luka Petrakov, por quem Lyza tinha uma "quedinha" infantil, ele nunca errava, era perfeito, mas naquele dia...

—Desculpe, madame… -Madame Maytrinkav o interrompe com um golpe de sua bengala nas pernas do bailarino.

— Eu não terminei. Você girou devagar por que estava olhando para Yelyzaveta, ela diminuiu a velocidade quando sentiu que a sapatilha estava frouxa. E foi por isso que Ivan, Cherikov, Alesha, Joseph e Sergei erraram, todos erraram… -Ela apontava para cada jovem com sua bengala fina e escura. - por causa de uma sapatilha frouxa. -Maytrinkav Bateu no chão com seu apoio, criando um eco tão frio quanto o inverno russo. -Existe uma regra, uma lei no ballet; "Nunca deixe o laço de sua sapatilha solto, você pode cair ou atrapalhar os outros". Agora, senhorita Pereverzeca, espero que isso não volte a se repetir… -Lyza sente a canela da perna esquerda arder, um golpe para não se esquecer da lição, mesmo depois de anos, a dor ficaria marcada na memória dela, e sempre que Lyza tinha a oportunidade de se preparar depois, a dor retornava como um mecanismo de alerta.  

—Me desculpe, Madame….  -Ao olhar para a instrutora o coração de Lyza falha, seu estômago se retorceu, podia sentir a garganta dar um nó. O rosto da Maytrinkav havia desaparecido dando lugar ao um grotesca e deformada ursa, sua pele se soltava em decomposição atraindo moscas para as feridas abertas e lavadas de pus e sangue. O cheiro era pútrido e de arder o nariz. Por mais que tentasse Lyza não conseguia se mover, era como se estivesse pregada no palco. E então…. 

O transe de Lyza é rompido por um som vindo da porta. Antes de abri-la Lyza olhou rapidamente pelo vidro circular que compunha a janela de sua cabine, o capitão ainda estava lá fora, talvez terminando o discurso.