Simply Love escrita por SpaceToCreat


Capítulo 3
Capítulo um


Notas iniciais do capítulo

Oi lindezas!
Tudo bem com vocês?
Espero que sim.
Viemos trazer mais um capítulo, hoje conheceremos um pouquinho mais dos outros personagens.
Esperamos que gostem.
Beijokas

Obs: Os capítulos serão postados todas as quartas-feiras.



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E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.

Caio Fernando Abreu

        

Começo a correr pelos corredores quase vazios do prédio, escutando no trajeto algumas pessoas me cumprimentarem, mas ignoro. Estou atrasado demais para parar e conversar.

Assim que entro na sala de aula, vejo que o Sr. Clóvis, pelo visto, já iniciou sua aula.

Merda!

Ele olha para mim, sorrindo ironicamente. — Obrigado por nos dar a honra de sua presença, Sr. Clark. — Diz ainda sorrindo. Me curvando teatralmente, fazendo uma reverência e Sr. Clóvis se irrita: — Tome seu assento logo, Sebastian.

Sorrio triunfante sabendo que Sr. Clóvis odeia ser tratado com brincadeiras, mas antes que eu adentrasse a sala para ir em direção a alguma cadeira, sou interrompido por uma trombada no ombro: — Porra! Não precisa empurrar. — Resmungo virando para trás e paraliso. Os olhos negros se encontram com os meus, assustados — Sam?

Ela apenas pisca repetidamente e entra na sala, indo diretamente ao Sr. Clóvis, entregando um pequeno papel amarelo logo depois se sentando em uma das primeiras carteiras da frente. Ela coloca sua apostila e livro sobre a mesa, olha disfarçadamente para a porta onde ainda me encontro paralisado a olhando, como se a mesma fosse um fantasma. Nervosa, abaixa sua cabeça em um movimento rápido fazendo com que seu cabelo longo e negro encubra seu rosto de meu olhar, desajeitadamente ajusta os óculos três vezes seguidas.

— Sebastian, dirija-se a seu lugar, agora! — Meus passos são hesitantes, como se não acreditasse no que meus olhos estão vendo. Passo ao seu lado continuando a encará-la, mas a mesma continua com a cabeça baixa.

Olhando a cabeleira negra a alguma carteiras à frente, não consigo parar de me perguntar: Como nunca percebi sua presença antes? Não consigo entender, ela esteve sempre aqui? Ela é bem bonita, isso é visível, então como nunca a notei?

Sou tirado de meus pensamentos quando Harry, meu amigo, começa a fazer perguntas: — Cara o que está acontecendo? Você não para de olhar pra esquisitona. — Meio disperso sussurro um ”Quê?“, e ele ri jogando uma bolinha de papel amassada em mim.

— Voltamos para o primário e ninguém me avisou? — Resmungo irritado.
Ele pega a bolinha de volta rindo e fala: — Você está bem estranho, espero que não interfira em seu desempenho no campo. — Olho para meu amigo que continua com um sorriso no rosto.

Que professor chato da porra!— Pode ir tirando esse sorrisinho do rosto, Harry, se não conseguiu tomar meu lugar até hoje não consegue mais.
Um som estrondoso anuncia o final de uma aula, me estico na cadeira e coloco meus pés sobre a mesa assim que o Sr. Clóvis sai da sala.

Que professor chato da porra!

— Ei, Harry! — Soco seu ombro o fazendo resmungar alto e virar para mim ainda resmungando.

— O que foi, Sebastian? — Ele pergunta meio irritado, como sempre.

— Aquela garota, — Aponto para Sam com a cabeça — Ela chegou há pouco tempo?

— Que foi, Clark, não me diga que está afim dela? — Sua voz fica algumas oitavas acima, ele pigarreia e volta a falar: — Agora resolveu fazer caridade? — Ele ri como se isso fosse uma ótima piada, o que acaba me deixando irritado.

— Só responde, cacete!

— Há muito tempo, cara. Ela estuda aqui tipo desde o primeiro ano? Algo assim se não me engano. — Ele diz me olhando de forma estranha — Tá interessado? — Sua mandíbula treme como se quisesse rir.

Interessante!

— Não, Harry, é só curiosidade mesmo. — Ele tenta, mas acaba não conseguindo esconder o sorriso. Essa é nova, Harry interessado em alguma garota que não esteja se jogando aos seus pés. — Nunca a vi, até ela me atropelar hoje. — Não falo sobre nosso encontro no ”Pet's“, esses babacas que chamo de amigos, nunca entenderiam.

Conheci o Pet's através de uma sentença judicial. Meus amigos e eu fomos pegos roubando cervejas e cigarros em uma loja de conveniência, eles fugiram a tempo me deixando para trás. Tive que prestar serviço comunitário por alguns meses, fui um dia e me apaixonei por aquele lugar e todos os animais que estão lá. Já faz seis meses que o trabalho acabou, mas continuo sempre voltando.

— É normal ninguém reparar muito nela, digamos que ela não tem muitos atrativos. Principalmente para você, né? Sr. Capitão do time.

— Não devemos estar falando da mesma garota, aquela ali é bem gostosa. — Digo quase com um sussurro enquanto olho para ela que está concentrada lendo algum livro.

Ela é uma figura no mínimo engraçada, tem uma espécie de tique nervoso, várias vezes a vi levar a mão aos óculos os arrumando, mesmo que este esteja no lugar correto. Acabo rindo de sua estranheza interessantíssima.

— Porque esse súbito interesse naquela tal de Samantha? — Matheus grita rindo e vejo Samantha olhar rapidamente para nós, enquanto arruma os óculos um pouco tensa, revira os olhos assim que seus olhos caem em mim que estou a secando descaradamente.

— Cala a boca, idiota! Não tem interesse algum! — Faço um barulho de desprezo desviando o olhar de sua direção — Só queria saber quem é a coisinha que me atropelou. — Desdenho e os idiotas riem tanto que chegavam a colocar as mãos em suas barrigas.

— Argh... Você é patético! — Vejo May, minha ”namorada“, se levantar e caminhar até a mesa de Samantha, elas têm uma breve e curta conversa e acabam trocando sorrisos depois.
Ela olha feio para mim e se senta com os braços cruzados olhando para frente.

— Hãm? — Resmungo e ela me olha ainda mais irritada fazendo um bico enorme e olhando para frente me ignorando. — Era só o que me faltava. O que foi agora…

Ela se vira com uma rapidez em minha direção e brada: — Você não sabe mesmo, Sebastian? Precisava ser rude com a garota? Pensei que fosse melhor que esses idiotas a quais você chama de amigos. — Ela aponta para os garotos que estão vendo algo no celular. — Mas parece que me enganei, não é mesmo?

— Eu me desculpo com a garota, satisfeita? — Ela me olha com uma cara de “Faça agora, quero ver”.

Suspiro e me levanto, indo até à morena sentada à minha frente, me abaixo apoiando os braços em sua mesa. Olho para a capa do livro que têm nas mãos, uma moça de cabelos longos e escuros com roupas de frio em tons pastéis, sentada num muro de pedra e recostada numa árvore antiga. “A menina feita de espinhos”, de Fabiane Ribeiro, é um título interessante, no mínimo.

— É bom o livro? — Pergunto tentando puxar assunto. Não sei porque estar em sua presença me deixa um tanto nervoso.

— É sim. — Ela responde sem tirar os olhos do livro, ignorando totalmente a minha existência — Devia ler pra ver o que seus atos e de seus seguidores podem causar em alguém. Não a mim, não me sinto ofendida pela infantilidade que falam, mas nem todos pensam e agem assim.

Foi como levar um chute no peito.

— Err… Descul…

— Pode guardar suas desculpas para si. — Ela tira os olhos do livro e os direcionam para mim, parecem duas jabuticabas grandes, negros e com um brilho invejável. Ela volta os olhos para o livro e retorna a me ignorar como se ainda não estivesse escorado em sua mesa.

Fico alguns segundos observando seu rosto. É uma garota tão bonita, não consigo entender como não a percebi antes: Seu nariz pequeno e arrebitado, a pele branca com algumas pintinhas aqui e ali, a boca pequena, mas com lábios cheios e naturalmente róseos, as sobrancelhas perfeitamente delineadas dão um ar forte ao rosto de traços delicados.

Sra. Willians cumprimenta a classe, e me dirige seu típico olhar amedrontador. Sorrio de lado para a mesma que apenas aponta para meu lugar. Caminho lentamente até minha carteira e me sento, pego o livro e abro colocando uma revista de esportes por cima.

Odeio aula de literatura!

•••

Porra, essa garota não sai da minha cabeça!

Não entendo o porquê dela ter sido tão “invisível” assim. Poxa, estudamos na mesma classe desde o início do ensino médio, são três anos e eu nem sabia de sua existência? Tudo bem que existem várias outras pessoas que eu não conheço aqui, mas parece ter algo diferente nela.
Suas palavras não param de rondar minha cabeça. E convenhamos, sua aparência também não é nada que dê pra ignorar.
Talvez seja simplesmente pela cena que eu vi ontem no abrigo, meu coração se cortou quando vi seus olhos cheios de lágrimas, ou simplesmente seja sua franqueza de agora a pouco e gostei disso, as pessoas não costumam falar o que pensam de mim.
Aquilo seriamente mexeu comigo.

— Sebastian! — A professora chama meu nome, me fazendo sair dos meus devaneios.

— Hãm? Ah! Sim? — Pergunto confuso e todos me olham como se eu tivesse louco.

Merda! O que fiz?

— Não estava seguindo a leitura? — Ela diz, vindo lentamente em minha direção.

Ah não! Era só o que me faltava.
Professora Willians é exagerada demais, sempre com essa chatice de leitura em voz alta. Estou pouco me fudendo para o tal do Enrico VIII que teve seis mulheres só porque queria um filho homem.

— De novo com isso? — Ela chega em frente a minha mesa e pega a revista.
Olho para ela e para a turma alternadamente. Harry e Matheus estão vermelhos de tanto segurar o riso. Esses "filho da mãe"! May sorri tristemente e Sam tem os olhos arregalados em nossa direção.

— Professora! Posso continuar? — A voz de Samantha destrói o silêncio vergonhoso que imperava na classe.
Ela torce o nariz e resmungando permite que a garota comece a ler.
Sorrio assim que sua voz inicia a leitura.
Essa garota acabou de salvar minha pele.

•••

— Estão liberados. — Ela diz abrindo a porta para a nossa felicidade, ao menos era para a minha.

Estava passando pela porta quando Sra. Willians me chama, volto com o semblante confuso. — Sim? — Pergunto, virando-me completamente para ela.

— Sente-se ao lado de Samantha, por favor! — Assim que seu nome foi pronunciado, Samantha nos lança um olhar confuso, mas para de guardar suas coisas sentando-se sem reclamar. — Bem… Sebastian. — Ela diz pela primeira vez sem seu semblante amedrontador, parecia, na verdade um tanto quanto tensa. — Você é um aluno realmente inteligente, mas ultimamente em algumas matérias, não apenas na minha, seu desempenho está deixando muito a desejar. — Diz pressionando os dedos em sinal de desconforto. — Foi decidido por unanimidade que devemos encontrar uma saída para esse abismo que você está se jogando. — Diz se escorando em sua mesa ficando a nossa frente. — Então pensamos em você, Samantha.

— Eu? — Ela mexe nos óculos visivelmente nervosa e os deixa cair um pouco, mas logo os aperta contra os olhos. — O q-que a senhora está querendo dizer com isso?

— Você irá exercer uma tutoria. — Diz com um sorriso sereno. — Terá que fazer ao menos três dias na semana. — Pegando uma pasta sobre sua mesa entrega o que parece ser uma espécie de planilha para Samantha. — Essas são as matérias que mais necessitam de sua atenção. — Samantha pega olhando tudo com bastante atenção, franzindo as sobrancelhas algumas vezes.

— O que! Por quê? — Digo indignado. — Eu não vou fazer nada disso! — Digo irritado, fazendo Samantha e a professora me olharem atordoadas. — Vocês não podem decidir a minha vida e estão com merda na cabeça se pensam que vou perder os treinos, sou muito importante para o time. — Protesto e a professora franze o cenho.

— Ah! Já ia me esquecendo, obrigada por me lembrar. E sobre o seu amado futebol. — Ela ri minimamente, mas não deixa de ser perverso — Se não houver uma significativa melhora em suas notas você será afastado e não poderá retornar nem mesmo se suas notas melhoraram depois disso. Você é um aluno destaque Sebastian, é o capitão do time, muitos alunos se espelham em você, não podemos deixar que isso continue assim. — Ela arqueia uma sobrancelha como se estivesse me desafiando.

— Isso não é justo! — Protesto mais uma vez.

— Você não tem escolha. Bem… Eu os deixo aqui decidindo os dias e horários. Boa sorte! — Diz olhando para Samantha.

— Então… — Ela hesita um pouco, mas logo depois continua. — Podemos nos encontrar hoje, quinta-feira e sábado, o que acha? — Ela sorri enquanto ajeita os óculos.

— Ha-ha-ha! — Rio de deboche — Acha mesmo que vou estudar no sábado? — Me jogo na cadeira resmungando um palavrão. — Não me faça rir.

— Então… terça-feira depois do abrigo? — Sua voz está um pouco embargada e vejo lágrimas em seus olhos.

Quase me faz querer ser gentil, quase.

— Pode ser… — Digo hesitando um pouco. — Você… Ainda está abalada pelo sacrifício de Max?

Quase, sei…

— Bem… — Ela suspira pesadamente. — Essas coisas acontecem não podemos fazer nada… — Ela dá de ombros se levantando. – Nos vemos hoje às treze horas na biblioteca. — Ela sorri minimamente para mim e sai da sala.

Como nossas aulas terminam às onze e meia, vou para meu apartamento que fica a poucas quadras da escola John Kennedy. Acabo me atrasando um pouco por causa do almoço. Entro pela portaria do JK; observo as garotas do período da tarde se desmancharem quando passo e sorrio para elas.

Garotas tolas.

Assim que entro na biblioteca, avisto Samantha tentando pegar alguns livros na última prateleira. Rio de suas falhas tentativas, e me aproximo encostando meu corpo no dela propositalmente, os pegando com certa facilidade.

— Você está atrasado, mas obrigada mesmo assim, e pode ir se afastando Sebastian. — Ela sorri um pouco constrangida com nossa proximidade. — Vamos começar? Separei um monte de livros, vamos começar por história o que acha? Ou você prefere matemática? Também pode ser física.

Ela fala rápido e eu a silêncio colocando meu dedo em frente aos seus lábios murmurando um “Shii”. — Tanto faz, só para de falar tanto Samantha. — Digo bufando, ela cora um pouco e pega o livro de Física.

Não, física não!

•••

Ela falava, falava e falava… Meu Deus, como ela fala.

Merda ela não cansa não?

Até quando ela vai continuar falando?

Não aguento mais, até meus cadarços agora estão mais interessantes.

Pego o livro que estava aberto e começo a desenhar coisas sem sentido, rio quando visualizo uma capivara no livro, faço uma seta apontando para a capivara e escrevo o nome do Sr. Clóvis.

— Mas o quê?… — Ela pega o livro de minhas mãos com raiva. Coloco a caneta na mesa ainda rindo. — Será que dá pra prestar atenção? — Ela fala alto, não grita, mas fala alto.

— Ui! A morena é nervosinha. — Rio desamarrando meus cadarços e os amarrando de novo.

— Meu nome é Samantha, e se for pra você ficar brincando com os seus malditos cadarços e com os livros, estou fora, Sebastian, você pode até pensar que não, mas tenho coisas mais importantes para fazer. — Ela pega seus livros, pronta pra sair, mas agarro seu antebraço.

— Não! Eu não posso sair do time. — Digo ríspido, mas com uma pontada de desespero.

— Estou pouco me lixando, pra mim já deu, não vou perder meu tempo com quem claramente não quer minha ajuda. — Ela se libera de meu aperto e sai da biblioteca pisando duro. Consigo ver através das paredes de vidro que ela se trombou em alguém deixando os livros caírem. Por um momento pensei em ajudá-la, mas logo tratei de ignorar esse pensamento. 
Peguei minhas coisas e também sai daquele maldito lugar, indo para o treino. Como a final do campeonato está aí, a diretora liberou uma das quadras nos horários da tarde para treinarmos.

•••

— Bom, por enquanto isso é tudo pessoal. — O nosso treinador Nilton diz logo depois de soar seu apito. — Estão todos dispensados. — Pegando a bola ele continua — Clark posso ter uma palavrinha com você?

— Claro, Nill.

Ele se senta no último degrau da arquibancada e me sento ao seu lado. — A Sra. Willians veio me falar que teve a conversa sobre a tutoria com você e a garota, e que você não pareceu nem um pouco disposto em cooperar.

— Aquela filha da mãe… — Falo baixo, mas ele parece ouvir.

— Só queremos o seu bem, Sebastian. — Fala em um tom terno e se vira de frente para mim e continua olhando diretamente em meus olhos. — De início eu até fui contra, como não seria? Estou com perigo de perder meu camisa dez, mas a Sra. Willians e os outros professores me fizeram enxergar que nesse momento temos de fazer o melhor para você. E suas notas vêm despencando ultimamente. Que você é um garoto inteligente e focado isso todos concordamos, mas você perde o interesse fácil demais. Você, Sebastian, é o tipo de cara que precisa de um alvo, por isso foca na taça, mesmo que isso signifique passar algumas horas a mais na biblioteca.

— Sim, senhor! — Falo em um tom desanimado.

— Ah! Meu amigo, ânimo, vamos concordar que não é nenhum sacrifício ficar algumas horas na companhia de uma garota. —   Automaticamente me lembro de Samantha tentando pegar o livro hoje na biblioteca, e de como o esforço do ato fez seu moletom cinza subir, me dando o vislumbre de sua barriga lisinha, ou como seu pequeno corpo se moldou ao meu, e do contorno perfeito da calça em seu belo traseiro.

— Você tem toda razão, treinador. — Sorrio de lado, amanhã procurarei Samantha e retornarei com as aulas.

 


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