O Mágico e os Ladrões de Som escrita por André Tornado


Capítulo 8
O perigo continua




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— Não toquem nisso! – gritou o Doutor esticando um braço.

A respiração de Chester era irregular e ele cerrava os dentes, irritado por terem-no obrigado a gritar. Estava também suado e com o rosto vermelho. Dave passou-lhe um braço pelos ombros. Desta vez o vocalista não fugiu dele e aceitou o amparo.

— Isso quer dizer que o Joe está curado? – perguntou Rob, cauteloso.

— Quem é o Joe?

— É o… é o paciente, Doutor! – explicou Clara, fazendo um sorriso amarelo.

— Ah, o Joe! – Era como se o Doutor tivesse escutado o nome do DJ pela primeira vez. Uniu as fartas sobrancelhas grisalhas e declarou, muito sério: – Não, o Joe não está curado. A contaminação apenas foi interrompida e atrasada. Se a secreção do parasita se estendesse mais, já não seria capaz de reverter o processo. Ele continua com o agente dentro dele. Pelo pouco que consegui verificar, não foi atacado pela cabeça. A cabeça é apenas um centro crucial para dominar o hospedeiro, o local do corpo humano onde se situa o órgão mais importante do sistema, o cérebro. O parasita entrou no corpo do vosso amigo por outro ponto, menos evidente.

— Essa coisa verde… é a secreção do parasita? – perguntou Mike.

Brad fez uma careta de nojo e deu um subtil passo atrás. Rob censurou-o com o olhar.

— Sim. O parasita entrou na corrente sanguínea do vosso amigo…

— Do Joe – corrigiu Dave.

— Sim, do Joe – aceitou o Doutor agastado. – Encontrou o caminho para o cérebro e começou a desenvolver-se nessa matéria verde que estava a dominá-lo até à completa obliteração. Por sorte, consegui descobrir a tempo uma maneira de interromper esse desenvolvimento mortal. E graças ao descontrolo do vosso amigo nervoso.

— Ei! – protestou Chester.

— E quanto ao Joe? – insistiu Rob. – Se não está curado…

— Ainda tem o parasita dentro dele, por aquilo que disse o médico – explicou Brad, incerto do que estava a dizer, a passar os olhos por todos.

— Não sou nenhum médico, sou o Doutor!

— Ok, certo, certo. Temos o espetáculo para fazer… Doutor – disse Brad. – Se o Joe não ficou curado, não podemos ir para o palco.

— Não, não podem. O parasita ainda está dentro dele. Agora interrompemos a contaminação, o parasita vai perceber que estamos a combatê-lo e vai criar nova secreção.

— Esta crise vai repetir-se? – perguntou Mike preocupado.

— Até que consiga obter novos hospedeiros. Como vos disse, o parasita continua dentro dele. O vosso amigo Joe foi o primeiro, vocês serão os seguintes. Era o que a massa verde estava a fazer. Entrou no vosso amigo Joe, desenvolvia-se, entrava para dentro de vocês a seguir e prosseguia o seu caminho alegremente até entrar em todos os humanos deste planeta e consumi-los.

— O que sugeres que façamos a seguir, Doutor? – indagou Clara. – Isto não está terminado… e ainda não temos a explicação do que será este… parasita. Já sabemos como atua, sabemos também que se relaciona com o som. O som tanto o alimenta, como o sufoca. Mas falta descobrir mais para o combatermos, para o eliminarmos e impedirmos que a doença se espalhe pela Terra.

— Temos de ir para a TARDIS. E levar essa coisa connosco.

— Que coisa? – tornou Mike a perguntar, desconfiado.

— O Joe e a massa verde desativada.

— Ei! O Joe não é uma coisa! – indignou-se Chester dando um arranque, mas Dave puxou-o e conseguiu mantê-lo preso a si.

— Neste momento, o vosso amigo Joe é uma coisa— replicou o Doutor, zangado. – Caso ainda não se tenham apercebido, o vosso amigo Joe não reage a estímulos exteriores.

— Afinal está mesmo em coma… – murmurou Rob.

— E se o querem salvar, devem fazer o que eu digo.

— Nós vamos para onde o Joe for! – declarou Mike, tomando a liderança do grupo.

O Doutor encarou-o escandalizado.

— Vais comigo para a TARDIS?!

— Não sei o que isso é – respondeu o japonês –, mas podes crer que irei contigo para onde levares o Joe. Iremos todos! Somos um grupo e ninguém nos separa.

— E temos de saber quando podemos subir ao palco – acrescentou Rob. – Assim que o Joe estiver restabelecido, temos de ir atuar. As pessoas estão à nossa espera e precisamos de fazer alguma coisa a respeito disso. Ou bem que atuamos, ou bem que cancelamos o espetáculo. Não podemos ficar nesta situação indefinida para sempre.

— Continuas demasiado preocupado com a merda do espetáculo! – vociferou Chester. – Cala-te, Bourdon!

— Ei, Chaz! Acalma-te! – exigiu Dave, abanando-o. – Não vais falar mais, compreendido? Agora ficas comigo e ficas quietinho, senão dou-te um murro na testa para te deixar inconsciente e ficas quietinho à força. O Mike está a tratar de tudo.

Chester resmungou.

Clara disse, conciliadora:

— Vamos todos para a TARDIS. Será o melhor. Iremos ganhar tempo com a TARDIS, certo?

O Doutor considerou aquela ideia e concordou com ela. Também não estava disposto a permanecer ali onde não podia adiantar mais nada, precisava do auxílio da sua estimada nave para resolver aquele mistério o quanto antes. Achava que já possuía os dados suficientes para congeminar uma solução. Ou para, pelo menos, dar início a um qualquer plano.

Apontou para a massa verde e pediu um contentor para colocá-la dentro e transportá-la. Avisou que não podiam tocar na massa verde, ou seriam infetados. Brad apareceu com uma tigela grande que esvaziara dos chocolates e das bolachas que lhes tinham sido disponibilizados pela organização. Mike agachou-se e com a ajuda de umas baquetas dadas pelo Rob empurrou a massa verde para dentro da tigela. Dave tapou a tigela com a toalha que cobria a mesa, deu dois nós e fez uma trouxa que Mike pendurou numa baqueta. Esticou o braço, temendo tocar naquilo.

— E como faremos para levar o Joe? – perguntou Dave.

— Vamos primeiro identificar o ponto de entrada do parasita para sabermos como evitar o contacto – explicou o Doutor. Aproximou-se do DJ e observou-o minuciosamente. Ligou a chave de fendas sónica e uma luminescência esverdeada surgiu na unha do dedo indicador direito. – Aqui! O vosso amigo Joe contaminou-se ao tocar no parasita com este dedo. Cubram a mão com um pano, como fizeram com a tigela e não haverá problema. Depois, alguém que o carregue.

Brad recebeu o lenço que Mike retirara do bolso das suas calças e atou-o em redor da mão do Joe, com extremo cuidado, para não ser contagiado. O Rob disse-lhe:

— Não te preocupes, Delson. Se te acontecer alguma coisa, curamos-te ao mesmo tempo que curamos o Joe.

— Preferia não ficar doente – retorquiu o guitarrista, limpando as mãos nas calças.

— Quem é que o vai carregar? – perguntou Chester, que roía as unhas. – Ele é pesado como um elefante!

— Antes disso… – observou Mike, que tinha pousado a trouxa com a tigela no tapete. – Como é que saímos do camarim, passamos pela segurança, iludimos a Cammy e o Tom, fugimos do espetáculo onde estão à nossa espera para irmos para essa TARDIS? E o que é a TARDIS, afinal?

Time and Relative Dimension in Space! – esclareceu o Doutor.

— Ahn?! TARDIS é um acrónimo? E o que é isso de tempo e dimensão relativa no espaço? Parece-me uma treta de ficção científica… Pensava que iríamos para uma clínica médica.

— Depois vais descobrir, Mike – interveio a Clara. – No fundo, a TARDIS é como uma clínica médica. Ele tem razão, Doutor. Como faremos para contrabandear os Linkin Park desde o camarim até à TARDIS?

— Raptar-nos… – considerou Dave, curioso.

— Não será um rapto. Nós iremos voluntariamente para acompanhar o Joe – corrigiu Brad. Rob acenou afirmativamente com a cabeça.

O Doutor encolheu os ombros.

— Não sei. Podemos ir no mesmo autocarro em que viemos parar aqui, neste lugar infernal.

— Com os fãs? – admirou-se Clara. – Eles serão reconhecidos e ainda se gera um tumulto.

— Os fãs, a esta hora, já estarão todos no recinto à espera que eles apareçam para dar o espetáculo – desvalorizou o Doutor, abanando uma mão. – Não vão estar nos autocarros. Ou então eles que se disfarcem. Vistam umas roupas esquisitas e que não dêem nas vistas. Simples!

— Esperem. Eu vou resolver isso – disse Mike. E sacou do seu telemóvel.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Surpresas e mais surpresas.