O Mágico e os Ladrões de Som escrita por André Tornado


Capítulo 7
Uma lição indispensável




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O trajeto até ao camarim era curto, mas Clara aproveitou-o para fazer um breve resumo da situação, com os dados que possuíam até àquele momento, no bom estilo de uma professora no início da aula – um sumário da matéria dada na última lição, um sumário do que iria ser dado na presente lição.

Joe Hahn dos Linkin Park tinha sido atacado por uma criatura, em princípio, um parasita alienígena que gostava de som, pois reagira positivamente às vibrações da chave de fendas sónica. A análise tinha sido interrompida, pois a leitura devolvida era de que o parasita aumentaria de perigosidade se a chave de fendas sónica permanecesse ligada.

A Clara e o Doutor pararam novamente junto à porta do camarim.

— Se não conseguiste completar a verificação da criatura que está a alimentar-se do Joe Hahn, como sabes que é uma ameaça assim tão grande ao mundo? Que nos vai infetar a todos irremediavelmente? – perguntou ela, curiosa, depois de ter terminado de resumir o que estava a acontecer.

Ele respondeu:

— Consegui ver que se trata de um organismo que não é da Terra e durante as primeiras vibrações da minha chave de fendas sónica percebi a sua gula. Por isso desliguei-a logo, mas antes de a ter desligado obtive alguns dados. Escassos e bastante importantes, são os únicos que possuímos. O som é o elemento primordial, neste caso. E não são os Linkin Park músicos? Não fazem um barulho enorme quando tocam nos seus espetáculos? A criatura chegou a este planeta e deve ter conseguido traçar uma rota que a conduziu ao local na Terra onde iria ser concentrado o maior volume de ruído. A música da banda e a multidão barulhenta que vai assistir. Um banquete, para se desenvolver mais depressa e prosseguir com a sua conquista. Foi a dissertação que desenvolvi com a pouca informação que recolhi. 

— Então, estamos perante… um ladrão de som?

— Exatamente, Clara! Exatamente! – aquiesceu o Doutor entusiasmado. – Estamos perante um ladrão de som. Nunca encontrei semelhante criatura nas minhas viagens pelo universo. É uma novidade também para mim. Não faço a mínima ideia do que fazer a seguir.

— Bem, parece-me que estás a ficar mais empenhado em descobrir.

Clara alçou o braço para bater na porta.

— Porque dizes isso? – estranhou o Doutor.

— Olha só para ti. Toda essa felicidade e excitação. Isso é um senhor do tempo empenhado.

— Clara…

— Doutor, vamos seguir o meu instinto neste assunto. Pode ser? Se se tornar demasiado perigoso, pensamos noutra solução. Por favor. Fá-lo por mim.

— Não me deixas outra escolha, infelizmente.

Clara bateu na porta. Disse que tinham voltado, o Doutor queria ver outra vez o paciente. Passados alguns segundos de tensão, a porta entreabriu-se e ela e o Doutor reentraram no camarim.

O cenário permanecia igual. Joe com a gosma verde na cabeça estacionado no tapete encarquilhado sem qualquer reação, Chester num canto a roer as unhas, Dave ao lado dele, Brad de braços cruzados, Rob de mãos nos bolsos e Mike mortificado. Foi ele que disse:

— Acabaste de dizer que não havia nada a fazer aqui… o que foi que mudou, entretanto?

— Estivemos a conferenciar, os dois – esclareceu Clara, deitando um rápido olhar ao Doutor. – A trocar pontos de vista, a verificar… uh, a recordar casos semelhantes, que possam ser usados como procedimento inicial para descobrirmos… eh, o que se está a passar. É isso. Fizemos a analogia com outros casos e conseguimos definir uma linha de atuação que fará da intervenção um sucesso.

— Não pareces muito segura do que estás a dizer – disse Dave, desconfiado.

— Bem, este é um caso totalmente inédito na longa carreira do Doutor.

— Isso não será muito bom… pois não? – indagou Brad.

— É a vossa melhor hipótese, acreditem em mim – respondeu Clara. – É a nossa melhor hipótese.

O Doutor já tinha a chave de fendas sónica na mão. Olhou para a sua companheira e ela assentiu, instando-o a prosseguir. Ele ligou o instrumento e logo uma enorme bolha começou a emergir da viscosidade que cobria a cabeça do DJ. Chester gritou. Deu um salto e apontou um dedo acusador:

— Ele faz aquela coisa verde reagir com aquela geringonça estranha que tem na mão! É melhor que pare. Isso vai piorar o estado do Joe!

— Chester… o doutor está a ajudar – explicou Dave, voltando-se para o vocalista.

Clara mordeu os lábios.

— Doutor…

— O parasita está, de facto, a reagir. Positivamente. Está a comer, está a…

— É um parasita? – admirou-se Rob, dando um passo atrás.

— E estás também a conseguir ter uma leitura, certo?

— Certo, Clara Oswald. Mas não está a ser fácil.

— Para além de comer, o que mais está esse parasita a fazer? – perguntou Brad.

Surgiram mais duas bolhas que palpitavam e cresciam. Um dos olhos do DJ estava a ficar tapado. Chester deu um segundo salto, mas Dave conseguiu intercetá-lo e prendeu-o nos seus braços.

— Chazy, calma!

— O que é que está a acontecer?! Porra, larga-me, Phoenix! Joe, Joe! Acorda, Joe!

O Doutor estendeu um braço e pediu:

— Por favor não se aproximem!

— O que é que o parasita está a fazer? – insistiu Brad elevando a voz.

— Está a desenvolver-se – disse o Doutor. – E assim eu estou a conseguir comunicar com ele.

— O quê?!! Cala-te, merda! – vociferou Chester. – Cala essa boca enorme! – Voltou-se, agitado, para os seus companheiros. – Não o deixem fazer isso ao Joe! Aquela coisa verde está a engoli-lo. Será que não veem? Não estão a ver o que está a acontecer? Esse maldito médico está a fazer uma experiência com o nosso amigo. Foi por isso que ele voltou. Ele não sabe o que é aquilo verde, mas quer descobrir para ganhar um prémio Nobel e assim ficar famoso. É só uma experiência. A porra de uma experiência!!

Disse a última palavra num grito rouco e desesperado. O Doutor voltou a chave de fendas sónica para o vocalista.

— Ei! Não me apontes isso! Larga-me, Phoenix! Larga-me! – berrou Chester, preso nos braços fortes de Dave. Os seus pés derrapavam no chão. – Não sou eu o inimigo. É ele! É ele! É esse médico impostor que se veste como um mágico. O Rob tem razão! É um mágico, não é um médico. Larga-me!

— Chazy, tem calma!

— Que instrumento é esse que o médico está a usar? – indagou Rob que permanecia o mais calmo dos seis rapazes. O Joe não contava.

— É a chave de fendas sónica – explicou Clara. – E não é um médico, é o Doutor!

O doutor?

Doctor… doctor who? – estranhou Mike, carregando uma sobrancelha.

— Precisamente – confirmou ela.

— Precisamente, o quê? – admirou-se Brad.

Rob encolheu os ombros, confuso, tão baralhado como os outros. Chester continuava a berrar, o sangue a subir-lhe à cara, as veias a sobressaírem no pescoço.

— Tens a certeza que foi este o médico que chamaste? – perguntou o guitarrista.

— Chamei por um médico, não especifiquei que médico precisávamos, pois não soube dizer o que tem o Joe – explicou Mike nervoso. – Ei, doutor! Doutor! O que é que se está a passar?

— Cala-te, Chester! Por favor, ele está a ajudar – insistia Dave.

Chester rugiu e obedeceu. Ficou a arfar, a suspender o choro que tinha entalado no peito. Estava agora assustado e inquieto.

— Não, não te cales! – exigiu o Doutor, voltando a chave de fendas sónica outra vez para o DJ. O seu som característico vibrou no curto silêncio.

Chester recuou, amedrontado, libertando-se de Dave.

— Não te cales. Berra como o estavas a fazer.

— O quê?

— Ouviste o doutor… Berra, Chester! – pediu Brad.

Mike olhava do Doutor para o amigo, completamente atarantado.

— Agora queres que ele cante?

— Não quero que cante, quero que ele berre – esclareceu o senhor do tempo com uma certa urgência. – Estava a apanhar uma leitura muito interessante. A primeira leitura interessante!

— Eu não vou cantar para esse… para esse…

— Chester – pediu Clara, de mãos postas –, por favor, faz o que o Doutor te está a pedir. Berra.

— Eu não vou fazer nada. Estão a ouvir-me?

— Chester!

— O que foi, Mike? Porra!

— Berra, meu rapaz. Vamos, estou à espera! – pediu o Doutor dando um passo em frente, com a chave de fendas sónica em riste.

Chester levou as mãos à cabeça, espetando os cotovelos. Os lábios tremiam-se-lhe de medo, de raiva e de indecisão.

— O Mike também canta – informou Rob, apontando com o polegar para o japonês.

— Quero a voz dele. Quero as ondas vibratórias que ele consegue produzir com as suas cordas vocais e o seu diafragma. Vamos, rapaz! Isto é importante… É um caso de vida ou de morte. Tu queres ajudar o teu amigo e nesta fase és o único que o poderá fazer. O parasita adora a minha chave de fendas, mas detesta os teus gritos.

— O Joe está em perigo de vida? – alarmou-se Brad.

— O Joe está em perigo de vida – reforçou Mike. – Berra para o doutor, Chester!

— Não me deixem encurralado. Eu não gosto!

— Sabemos disso, companheiro – disse Dave tentando alcançar Chester com um braço. Este esquivou-se, saltando para o lado. – Mas faz o que o doutor te está a pedir. Por favor! É por causa do Joe!

Chester gritou durante vinte segundos, ininterruptamente.

E, de repente, a gosma verde encolheu-se e desprendeu-se de Joe, caindo pesada e inerte sobre o tapete chamuscado.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
O perigo continua.