O Mágico e os Ladrões de Som escrita por André Tornado


Capítulo 23
Reunião




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Assim que os batentes da porta deslizaram horizontalmente mostraram, no enquadramento da moldura, o Doutor e Mike Shinoda. Os daleks que ocupavam a ponte de comando detiveram-se por um curto instante, para logo de seguida retomar a sua marcha peculiar, rodeando os dois reféns que se mantinham imóveis, numa expetativa aterrorizada.

O comandante dalek, que usava uma armadura preta, aproximou-se.

— Caíste na nossa armadilha, Doutor!

— Não cantes vitória. Vim aqui recuperar o que me pertence. Não negoceio sob ameaça. Deixa a Clara e o rapazinho irem embora.

— Não há nada para negociar, Doutor! Estás rodeado! E estás numa nave buondabuonda. É muito complicado manobrar uma nave buondabuonda e descobrir o caminho certo da saída.

— Acabei de o fazer e encontrei a ponte, dalek. – O Doutor apontou um dedo. – Deixa os meus amigos irem embora! Não o volto a pedir.

— Exterminar!

Um disparo luminoso saiu da arma acoplada ao apêndice metálico de um dos daleks que estava perto dos reféns. Aconteceu uma explosão ofuscante, chispas quentes choveram, o ar a crepitar com o aumento brutal de temperatura. Tudo sem gritos, pois o ataque foi de repente.

Mike sentiu uma dor no coração ao ver que o alvo tinha sido o Chester. Uma coluna de fumo cinzento enrolava-se ao lado da Clara que se encolhia de horror. Reconhecendo que algo de terrível tinha ocorrido com o amigo, Mike continuava mudo e petrificado, preso naquele meio segundo de comoção incrédula.

A nuvem esguia dissipou-se e apareceu a figura embasbacada de Chester com a mão direita erguida e vazia.

— A guitarra! Ele pulverizou… a minha guitarra! Podia ter sido… eu.

Então, o mundo voltou a girar e Mike gritou:

— Chester!!

— Mike!!

Clara agarrou-se à cintura de Chester para impedi-lo de correr na direção do Mike e o braço do Doutor estendido na frente do japonês teve o mesmo propósito. Não podiam ceder ao pânico, senão não sairiam vivos daquela sala.

O comandante dos daleks rodopiou e repetiu a ordem, numa irritação crescente:

— Exterminar! Exterminar!

O Doutor puxou Mike para o lado e a Clara fez o mesmo ao Chester. Aconteceu um fogo cruzado de raios, pequenas explosões, novelos de fumo, as vozes metálicas dos daleks a exigir o abate dos invasores. As paredes forradas de painéis com as luzes intermitentes acabavam esburacadas e ajudavam ao ambiente caótico que confundia a mira das armas. Havia um barulho medonho, entre berros e deflagrações.

Clara ordenou a Chester que corresse. Ele agarrou-a pela mão. O Mike apareceu junto a eles e, por sua vez, agarrou na mão do Chester. Os três fugiram pela sala, desviando-se dos raios mortíferos, escapando-se à destruição por milímetros, por sorte, por instinto, por perícia.

O Doutor encavalitou-se na armadura de um dalek e dirigiu a arma do inimigo aos agressores, rebentando com outros daleks, criando um corredor que levava diretamente à porta aberta. Assim que notou que a Clara e os dois músicos estavam a correr para a salvação, empurrou o dalek e também ele correu. Assim que franqueou a porta, carregou no botão cinzento e os batentes fecharam-se com um silvo.

Estavam salvos.

Os quatro correram mais um pouco e afastaram-se da porta que parecia ter-se trancado automaticamente. Do outro lado, os daleks continuavam a vociferar, possessos, contra eles, desejando o seu extermínio. Ao alcançarem um átrio e por perceberem, através do silêncio, que estavam definitivamente salvos, pararam ofegantes e cansados. Chester encostou-se à parede, uma mão sobre o peito, mais assustado que exausto. Mike parecia que iria desmanchar-se a qualquer momento.

O Doutor segurou o rosto da sua companheira entre as mãos.

— Clara! Oh… a minha Clara!

— Estou bem, Doutor. Estamos bem. Conseguimos… escapar aos daleks.

— Clara!

Colou os lábios aos dela, num beijo terno e intenso. Ela fechou os olhos e ficou a saborear aquele momento especial que partilhava com o seu Doutor adorado. Um arrepio na pele, um calor no coração, a sua alma feliz e ela percebeu todo o amor que existia entre eles. 

Chester disse:

— Quando os dois acabarem de namorar…

Atrapalhada, foi Clara que quebrou o contacto com o Doutor, recordando-se, então, que não estavam sozinhos para viver aquela pequena pausa em que só existiam os dois no vasto universo.

O Doutor estava com os óculos escuros postos e não se conseguiu perceber como os seus olhos azuis ficaram húmidos devido à emoção de ter beijado aquela mulher que amava de uma forma tão despojada.

— Vamos regressar à TARDIS. Mike.

— Sim, Doutor?

— Fala com a nave.

— Está bem… acho que conseguirei…

— Lembra-te do teu amigo que está doente na minha nave. E não tentes, rapaz… não tentes.

— Sim. A lição do Yoda.

— Onde andaram vocês os dois? – perguntou Chester ciumento. – Parecem muito amiguinhos… até andam a discutir Star Wars

Nada aconteceu e Mike colocou a hipótese de estarem próximo de onde estava estacionada a cabina telefónica. O Doutor observou o átrio calado, assentiu com um pequeno resmungo e decidiu prosseguir a pé escolhendo a galeria à sua esquerda. Clara seguiu-o, assim como o fizeram Chester e Mike. Este perguntou baixinho:

— Por que motivo estás sempre a embirrar com ele?

— Não gosto daquele velho.

Mike parou-o com uma mão sobre o ombro.

— Chazy, nós precisamos do Doutor. Só ele é capaz de salvar o Joe. Por favor, engole o teu orgulho e aceita as ordens dele. Não quero que nada de mal aconteça ao Joe e nem a ti. A nenhum de nós. O Doutor é um alienígena poderoso, capaz de proezas incríveis. Viste como ele conseguiu salvar-nos daqueles saleiros gigantes… sem empunhar uma arma! E a coisa esteve complicada ali atrás. Por pouco não… se não fosse a guitarra que seguravas, eras tu que acabavas desfeito em átomos.

— Eu também quero que o Joe se cure. Quero entrar em palco o quanto antes. Preciso de ir cantar e libertar-me de todas estas energias negativas. Dispenso toda esta adrenalina…

— E quanto ao Doutor… por favor, deixa-o em paz. Se ele quiser beijar a Clara, tu não tens nada que ver com isso. Afinal, é a companheira dele.

— Ei, não interrompi nada.

— Mas fizeste um comentário.

— Ele também disse o mesmo quando tu andaste a…

— Eu não te beijei, Chester! – emendou Mike corado e retomou a caminhada. – Porta-te bem! É só o que te peço. Porta-te… bem.

— Está bem, Spike. Se és tu que me estás a pedir… – concordou Chester a enfiar as mãos nos bolsos das calças. – Eu faço. Eu deixo de embirrar com o velho. Mas sabes… em relação ao Joe. O Doutor também precisa de mim, das vibrações da minha voz. Pelo que, no fim de contas, bem vistas as coisas, serei eu que irei salvar o Joe.

— Mas tu sozinho não saberás o que fazer.

Um grito de triunfo assim que dobraram uma esquina. O Doutor ergueu os braços ao alto e correu em direção à cabina telefónica azul que estava no mesmo lugar onde tinha aterrado, naquela nave estranha que dispensava pedidos e aviava desejos.

Nisto, o Doutor travou, as suas botas deslizaram pelo chão liso. A Clara já tinha parado. Mike reconheceu quem estava junto à TARDIS e acenou contente:

— Dave!

Calando-se, de seguida. Chester quis correr, mas Mike puxou-o pela blusa, compreendendo o cenário que via. Era um reencontro com os restantes companheiros, mas nem tudo estava bem. Aliás, tudo parecia incrivelmente mal.

— Fica aqui, Chaz! Não avances.

Chester estreitou os olhos e também percebeu.

— Merda… isso é o Brad no teu colo, Phoenix?

— Sim, ajudem-me! Por favor! – suplicou o baixista.

 Da parte de trás da TARDIS, arrastando os pés como verdadeiros mortos-vivos, refulgindo uma massa verde borbulhante na cabeça, apareceram o Joe… e o Rob.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
A decisão necessária.