Solaris escrita por Satine
A garota terá uma escolha a fazer
Liberdade violenta ou segurança sufocante
Somente uma irá prevalecer
E poderá ser àquela que a levará ao próprio fim
Parte 1
Book trailer: https://www.youtube.com/watch?v=kpsBn3zfbao
Capítulo 1 - Emma
— Eu tinha dez anos e corria pelo parque. Nathan estava comigo, acho que ele tinha uns dezesseis anos na época. Eu me abaixava e pegava as moedas e tickets que as pessoa deixavam cair de seus bolsos na montanha russa e nós usávamos isso para ir até o nosso brinquedo favorito: o tapete de dança. — Uma risada breve e sincera escapa da minha garganta. — Éramos muito bons.
A imagem passa pela minha mente. Nossa sincronia era perfeita, os movimentos iguais. Sempre tirávamos as melhores notas do jogo. Éramos melhores amigos.
— Por que acha que esses sonhos continuam voltando, Isadora?
— Eu não sei. Eles parecem tão reais.
— Eles? Teve outros sonhos além desse? — pergunta a Dra. Débora. Diferente das Psicólogas dos filmes, ela não anota nada em uma prancheta, mas raramente esquece algum detalhe do que disse em outras sessões.
Desvio os olhos para o chão e para meus dedos que entrelaço uns nos outros. Sim, tenho tido outros sonhos estranhos e reais.
Essa manhã sonhei com um homem, as íris de seus olhos eram brancas e havia algo de sombrio em seu rosto inexpressivo. Ele me levou para uma espécie de sala com fumaça como se tivessem exagerado no gelo seco e disse “Onde você está, Isadora?”. Acordei sobressaltada com a voz dele ecoando em minha mente como se ele estivesse dentro de meu quarto.
— Não, na verdade — minto. — Só esse mesmo sonho com Nathan e alguns com a Lisa também.
— Sua suposta irmã imaginária.
— Sim. Já faz cinco anos que eles desapareceram e vó Dora me disse que eles eram amigos imaginários. Bom, não tem acontecido muita coisa estranha ultimamente, nem sei porque tive esses sonhos, a ideia é esquecer isso e tentar ser normal.
— Se tiver novos sonhos, não se esqueça de escrever em seu caderno. Nós continuamos semana que vem, está bem?
Eu me despeço da doutora Débora e saio do prédio para uma rua movimentada. Passo com ela desde os dez anos de idade quando meus irmãos sumiram, se é que eles existiram. Ela me orientou a escrever meus sonhos em um caderno, assim eu sempre poderia diferenciá-los das lembranças.
Encontro Georgina, minha colega de classe, na catraca do metrô. Ela está rodeada por um grupo de amigos da nossa sala. Gina é o tipo de garota que conversa com todo mundo. Cumprimento cada um deles, embora eu nem saiba o nome de alguns.
— E aí, Sonhadora, vamos? — ela diz, animada.
Adquiri o apelido de Sonhadora ao esquecer meu caderno de sonhos uma vez na sala de aula. Foi um pouco constrangedor.
— Vamos.
Não muito tempo depois, estamos atravessando São Paulo de metrô e chegando a uma boate com o nome Monsier brilhando em vermelho neon em cima de uma porta com degraus levando a um porão com música eletrônica alta. Vida normal, aí vou eu.
Deixo-me levar pela música por algumas horas e quase não noto uma mulher me observando. Ela se aproxima. Há algo de predatório em seus olhos fixos em mim e não consigo distinguir a cor deles no ambiente escuro.
— Olá meninas, eu sou Emma, a dona do Monsier. Conheço todo mundo que vem aqui, mas vocês duas são novas — ela grita para ser ouvida mesmo com a música alta, tem um forte sotaque estrangeiro, e abre um sorriso largo, quente e acolhedor nos lábios pintados de vermelho. — Como são novas, trouxe uma bebida de cortesia para vocês.
Emma nos oferece duas taças de uma bebida azul, que eu finjo tomar. Quando ela se afasta, jogo o líquido no chão e esbarro em Gina para derrubar a dela.
— Desculpe...
— Tudo bem. Alguém te empurrou?
— Acho que sim. Gina, eu preciso ir, você sabe, eu moro longe.
— Toma cuidado — ela diz genuinamente preocupada.
Saio da Monsier em passos rápidos com a sensação ruim de ser seguida. A rua está cheia, ainda não é tão tarde, não deve passar das onze. Desvio das pessoas até chegar ao metrô que está quase vazio e paraliso ao encontrar Emma do outro lado da plataforma. Ela usa um vestido longo e justo ao corpo esguio e é bem mais alta do que eu.
A chegada do metrô traz uma sensação de alívio que dura pouco.
— Não vai conseguir fugir de mim, Isadora Alencastro. — Ela está tão próxima que consigo sentir sua respiração em minha nuca.
O metrô abre as portas e só então eu me viro. De perto, consigo ver seus olhos de um azul intenso.
— O que você quer de mim? — pergunto para ganhar tempo. Ela sorri e eu gostaria de saber a sua resposta, mas o último sinal de que a porta se fecharia toca e eu entro. O trem fecha as portas e me deixa ter um vislumbre da dona do Monsier mostrando as presas sobrenaturalmente longas e afiadas.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que tenham gostado. Por favor, não esqueçam de deixar um comentário com sua opinião e o que estão achando da história. Beijos ♥