Pictures of Us escrita por Ellen Freitas


Capítulo 7
Real Change || Oliver


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!!
Olha quem pareceu na maior cara limpa!!
Desculpem a demora, foram uma sequência de eventos que atrasaram esse capítulo, mas finalmente aqui!!
Muito obrigada a todos que deixam reviews tão adoráveis, eles fazem meu dia mais azul brilhante e vocês não tem noção como me fazem bem.
Agora vamos ao capítulo, espero que gostem!!
Até as notas finais!! Bjs*



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A claridade que entrava pela janela me incomodou o bastante naquela manhã para me acordar antes mesmo do despertador. O colchão de Felicity era tão bom que devia ser pecado ter que levantar dele.

Ainda calculava sobre dormir mais um pouco, quando senti sua respiração contra meu pescoço. E não era a do tipo lenta e cadenciada de quando ela dormia, mas estava acelerando. Ela estava acordada a Deus sabe quanto tempo e, pela direção do ventinho que batia contra minha pele, olhava direto para mim.

― Para de encarar, sua estranha ― murmurei ainda de olhos fechados.

― Não dá pra evitar, você é tão bonito de manhã! Quer dizer, você é bonito em qualquer hora, mas de manhã... Nem parece desse mundo! ― Olhei para ela de relance por apenas dois segundos, então puxei o travesseiro de debaixo da minha cabeça e cobri meu rosto. Era estranho ser encarado tão de perto. ― Esses olhos? Ai, quero arrancar e colocar emoldurados na minha estante! ― Soltou um gritinho.

― Você é bizarra e está me deixando com vergonha ― minha voz foi abafada pelo travesseiro, mas ainda fui capaz de ouvir sua risada solta.

― Qual é, tira isso da cara, tá ridículo. ― Tentou puxar o travesseiro do meu rosto.

― Não.

― Não? Tem certeza? ― Quando ela começou a deslizar as unhas em círculos pelo meu abdome, soube que tinha perdido, o que não me impedia de jogar mesmo assim.

― Sim.

― Okay ― concordou comigo. Havia um leve tom brincalhão em sua voz, me mostrando que seus planos não acabavam ali. ― Pois fica aí escondido enquanto eu me livro dessa blusa. ― Engoli seco. Aguenta só mais um pouquinho, Oliver. ― E dessa calcinha. ― Só mais um pouco. ― E ter que fazer o serviço todo sozinha.

― Tudo bem, já chega. ― Tirei o travesseiro do rosto para me deparar com ela ainda usando todas as peças.

― Vocês homens são tão facilmente manipuláveis que dá dó. ― Gargalhou às minhas custas, mas eu não estava mais pra piadas. Felicity havia me deixado pronto para ação apenas com suas provocações infantis, e agora teria que lidar com isso. ― Opa! ― a exclamação ecoou no quarto, quando a puxei para baixo de mim.

― Então você gosta de provocar, babe? ― Arranhei minha barba por seu rosto, ouvindo com prazer sua risada.

Era engraçado como estávamos íntimos agora. No início, a gente não se beijava antes de escovar os dentes, ela não usava o banheiro da minha casa (que eu vivia arrumando e limpando) e tinha uma coleção de camisolas que faria inveja a muitas modelos Victoria Secrets.

Agora, quase um ano depois, nada disso acontecia mais. Não que minha namorada fosse a favor da minha bagunça, mas ela não surtava mais. E quanto a mim? Amava ainda mais vê-la à vontade, confortável em dormir comigo com aquele moletom feio cor mostarda com a insígnia de Yale e meias listradas e coloridas.

― Faz cócegas. ― Se contorceu sob meu corpo.

― Eu te amo, sabia?

― Você realmente vai fundo com a coisa do "eu te amo", hein?

― Mas eu amo. ― Deixei um beijo em seu ombro. ― Muito. ― Em seu pescoço. ― Muito. ― Em sua bochecha. ― Muito mesmo. ― Em seus lábios.

― Eu também, peixinho. Eu também.

Felicity segurou meu rosto e o trouxe ao encontro do seu, mordendo meu lábio inferior então passando a língua pelo local, a deslizando para minha boca em seguida. Seus beijos doces eram adoráveis, assim como os selinhos de cumprimento, beijos no rosto ou no meu braço, quando ela o abraçava. Mas eram nos nossos beijos a sós que me faziam ver estrelas.

Com uma agilidade incrível, Felicity usou os pés para descer meu short por minhas pernas. A olhei me divertindo com sua pressa.

― Temos que trabalhar daqui a pouco, meu bem, não temos muito tempo.

― Sim, senhora. ― Envolvi o braço em torno de sua cintura e nos puxei para cima, ela parando sentada em meu colo, as pernas ladeando meu quadril, nossas intimidades separadas apenas por sua calcinha. ― Você vai tirar isso, ou… ― Apontei para sua camiseta. Sem esperar nem mais um segundo, ela arrancou a blusa pela cabeça.

― Você vai colocar isso, ou… ― Apontou para meu membro ereto.

― Safadinha. ― Afastei o tecido de sua lingerie e me conduzi para dentro dela, a ouvindo abafar um gemido ao ser preenchida.

― Puta que pariu! ― exclamou antes de me beijar, enfiando as unhas em minhas costas, quando nosso ritmo se mantinha lento e coordenado. ― Não atende!

― Não atende o quê? ― Mal consegui formular a interrogativa, quando aceleramos e eu já sentia todo meu sangue indo para um só lugar. Do que ela estava falando?

― Seu… Telefone... Oh, meu… Não atende! ― ofegou. Eu estava perto o bastante da cabeceira para ver o nome de Thea brilhando na tela, só então fui parar para prestar atenção ao toque do aparelho. Não deveria ser nada importante.

― Jamais. ― Segurei seu quadril para guiar as estocadas, nossas peles suadas fazendo coro aos gemidos. Nessa hora, não conseguia falar, só precisava conseguir a libertação prazerosa que o orgasmo nos daria.

― Oliv… Oliver! Eu vou… ― gemeu, enfiando os dentes na curva do meu pescoço e ombro, aquela dor sendo a gota d'água para que eu também gozasse. ― Céus! ― Levou a mão à testa, enxugando o suor. ― Se todas nossas manhãs continuarem assim, eu posso continuar dando perdido na academia. Queima de calorias pagas com sucesso. ― Ergueu o polegar, me tirando mais um sorriso.

A segurei firme, depositando Felicity com as costas contra o colchão, saindo de dentro dela, mas voltando a deitar sobre seu corpo. Por mim, nossas manhãs seriam assim pelo resto de nossas vidas.

― É uma pena que temos que trabalhar.

― Podíamos umas tirar férias, eu estou precisando desesperadamente. Uma semana só com meu peixinho numa ilha paradisíaca, várias doses de Sex on the Beach… ― sugeriu maliciosa.

― Se for só a bebida, estou dentro! ― Apoiei meu queixo em seu colo, encarando aqueles olhos azuis tão de perto. ― Sexo na praia deixa areia em partes que você não vai querer saber, amorzinho.

― Você já fez? ― questionou curiosa.

― E não recomendo. Mas sexo em um quarto com uma vista para a praia, isso sim eu topo.

― Fechado. ― Me deu um beijinho rápido, então segurou meus ombros. ― Agora sai de cima, tenho que tomar banho.

Escorregou para fora da cama, mas ainda consegui segurar seu pulso a tempo para que não se afastasse demais.

― Hey. Te amo com bafo e tudo.

― Te amo com bafo e tudo ― repetiu, me dando um último beijinho antes do seu banho.

~

― Kara, faz favor... Só você consegue entender a letra do Tommy ― a chamei quando não consegui seguir adiante em finalizar o relatório de prisão de ontem. ― O maltratante utilizou um cervo ou o mediante umectou um trevo? ― Franzi a testa em completa confusão, então ela sorriu, me estendendo a mão para pegar o arquivo.

― O meliante urinou no beco.

― Puxa uma cadeira, tem uma sequência de hieróglifos desse tipo.

― Hieróglifos? Ela está te mudando ― atestou sorrindo, sentando no assento ao meu lado.

― Como assim? Ela quem?

― Felicity. Ela te deixa mais maduro, mais crescido, sabe?

― Isso é bom?

― Isso é ótimo, baixa o média de infantilidade aqui da delegacia ― elogiou. ― Agora se prepara, Queen, vou começar a tradução instantânea.

― Oliver Jonas Queen! ― Apertei os olhos com força, baixando a cabeça. Thea gritando meu nome completo a essa hora da manhã nunca era um bom sinal.

― Ainda dá tempo de correr? ― apelei sem olhar para trás, de onde vinha o berro.

― Ela já te viu, esquece. E você não precisa mais dos meus serviços, detetive Merlyn também chegou. Boa sorte.

Girei minha cadeira, dando de cara com Thea agarrada nas costas de Tommy como um macaquinho. Era até engraçado.

― Olá, irmãzinha. Cavalo da minha irmãzinha ― cumprimentei os dois, recebendo uma careta emburrada de ambos. ― Mau humor matinal, entendi.

― Não tem graça, nossa irmã é uma mercenária.

― Quietinho, chega mais perto, quero dar na cara do Oliver.

― O que eu fiz te fiz, pestinha? ― Fiquei de pé, caminhando até eles com as mãos nos quadris. ― Só porque não te carreguei nas costas como um escravo?

― Eu perdi uma aposta, cara, pega leve. Já posso te colocar no chão, Thea?

― Thea? ― repetiu, com crítica na voz.

Madame. Já posso te colocar no chão, madame?

― Pode sim, maninho lindo. ― Ela deixou um beijo no rosto dele, batendo de leve em seus ombros.

― Dissimulada ― criticou com os olhos estreitados para ela, que apenas riu abertamente, e desceu de seus ombros. ― Vou tomar um café. Ninguém quer, certo?

― Cara, preciso que traduza...

― Depois do meu café. ― Apontou para a sala de descanso, me dando as costas.

― Irresponsável ― critiquei.

― Ei, você, não foge de mim não! ― Thea segurou meu braço para me virar para ela. ― Por que não me atendeu essa manhã?

― Estava... ocupado ― falei vagamente.

― Eu não quero ser uma chata, Ollie, mas eu quase não te vejo mais ― resmungou fazendo beicinho.

― Eu trabalho muito, Thea. ― Voltei a sentar em meu lugar de costume, continuando a organizar os arquivos do caso que estava trabalhando, e ela logo sentou de pernas cruzadas na minha mesa, me impossibilitando continuar.

― Eu também trabalho muito, assim como Tommy, mas a gente sai para tomar café ou almoçar quase todos os dias. Jantar não, às noites ele está “caçando”. ― Fez sinal de aspas com os dedos, fazendo uma careta de nojo.

― Desculpa, Thea, vou tentar ser mais presente.

― É bom mesmo, já que eu... ― Ela entortou o pescoço, franzindo as sobrancelhas para algo atrás de mim. ― Oi?

― Oi ― ela falava com Roy, que cumprimentou de volta, dando um aceno meio abobado e sorrindo para minha irmã.

― Roy, posso te ajudar? ― perguntei a ele, chamando sua atenção para mim. O cara me olhou constrangido, parecendo tentar lembrar o que o havia trazido ali.

― Ah, claro. Felicity pediu para te entregar isso aqui, você esqueceu na casa dela hoje de manhã. ― Sorri pegando o envelope pardo.

― Não deixa minha namorada te explorar, Roy, mas obrigado.

― Trabalho nenhum, Felicity é como uma irmã. E minha chefe, então eu posso dizer que estou feliz em obedecer. Mais ou menos.

― Então, Roy Harper, assistente jurídico... Por que a gente não se vê com mais frequência já que nossos irmãos namoram? ― Thea passou na minha frente, usando sua voz mais insinuante para falar com ele, o deixando constrangido na hora. Rolei olhos, rindo de leve da situação. Quando minha irmã se interessava em alguma coisa ou alguém, ela não sabia ser sutil.

― Não, não! ― Tommy materializou-se como mágica. ― Não, não, não, não, não, não, não, não, não e não! ― cantarolou, caminhando até ficar entre eles. ― E se ainda não fui claro o bastante: não. ― Tocou o indicador no nariz dela, dando um sorrisinho cínico para nossa irmã. ― Tchau, Harper. ― Deu um tchauzinho sugestivo o dispensando, abraçando Thea pelo pescoço com uma proteção no mínimo excessiva.

― Até mais, detetives. Foi um prazer te rever, Thea.

― Digo o mesmo. ― Thea mordeu a unha no polegar, falhando mais uma vez em ser discreta ao encará-lo. ― Tchau, Roy. ― Ele acenou um adeus, mas ficou parado no mesmo lugar.

― Ela disse “tchau, Roy”, então, tchau, Roy. ― Tommy soltou Thea e começou a empurrar o outro para fora da delegacia. ― Você nem ouse, mocinha. Já basta esse aqui, copulando com o Belzebu. ― O moreno voltou apontando o indicador para ela, então para mim, me tirando um sorriso. ― Não, não ri. Nossa irmã é uma oferecida, isso não é engraçado.

― Thea é solteira, maior de idade e Roy um cara bem legal. Não vejo problemas.

― Atitude bem progressista, Ollie, mas isso não vai te livrar da comida de rabo que vai levar. Qual é, mano, vai me dar mais atenção ou não? ― se queixou fazendo drama.

― Vem aqui, minha caçulinha preferida. ― Abri os braços para ela, que logo sorriu, sentando em meu colo. ― A gente almoça hoje, tá bem?

― Tá ótimo. Você vem, Tommy?

― Pra você me obrigar a te servir comida na boca de novo, sua megerinha? ― questionou retoricamente sentando em sua cadeira na mesa à minha frente. ― Não, valeu, é a vez do Oliver. ― O olhei incrédulo.

― Covarde! ― acusei, deixando o queixo cair em um gesto encenado.

― Os dois são uns falsos. ― Pulou do meu colo, apontando para a gente. ― Mas você vai assim mesmo, Ollie. Nada de ficar “ocupado” no horário do almoço.

― Eu já disse que vou, Thea!

― Só dizendo... ― Deu de ombros. ― Tomando base por esse chupão no seu pescoço, bonitinho, eu sei bem como você tem se ocupado.

― Onde? ― Felicity tinha deixado alguma marca de hoje de manhã? Afastei a gola da blusa, procurando cegamente onde estava a marca que minha irmã havia mencionado.

― Caralho, olha isso, Tommy! ― Os olhos de Thea quase saltaram das órbitas, e ela saltitou até mim, afastando ainda mais minha camiseta, esquadrinhando meu pescoço e costas. ― Você tá todo roxo e mordido, e arranhado.

― É o que acontece quando se faz sexo com um ouriço ― Tommy falou como se me desse algum tipo de lição de moral.

― Para com isso, Thea! ― Afastei as mãos dela de mim, arrumando minha roupa. ― Não seja inconveniente.

― Minha cunhadinha é selvagem, amei. Leva ela para o nosso almoço! ― Gargalhou, colocando a mão na frente da boca, de tanto que ria. ― Mas agora já tenho que ir, meninos. ― Ela recolocou os óculos escuros. ― Tommy, meu príncipe... Cavalinho ― falou com um biquinho de garota mimada que só Thea Queen conseguia fazer. Ele bufou, mas obedeceu ficando de pé e se abaixando para ela subir em suas costas. ― Beijinhos, Ollie. ― Soprou um beijo para mim ao sair.

~

― Mentira! Sua irmã e Roy, que babado! ― Felicity exclamou fechando a porta do passageiro, travei o carro em seguida. ― Conta mais, amiga! ― Enlaçou o braço no meu.

― Estou te dizendo, mulher! ― exagerei na empolgação, mas de verdade, eu amava fofocar com minha namorada. ― O cara foi todo tipo "é um prazer te ver, vamos para a cama" e ela tipo "você é gato lindo sarado, me beija".

― Sério? ― perguntou franzindo a testa.

― Não, tô brincando. ― Sorrimos, e passei o braço por seus ombros e ela por minha cintura, enquanto caminhávamos em direção à entrada do restaurante que eu havia combinado com Thea. ― Mas falando sério agora, se tiver a oportunidade, diz pro cara não ir com tanta sede.

― Ciúmes de irmão mais velho? ― Ergueu uma sobrancelha para mim.

― Não, Tommy tem o bastante para nós dois ― a contradisse, dando de ombros. ― Mas é que conheço minha irmã, e Thea Queen pode ser bem volátil. Em um momento ela ama o cara, no seguinte ela não quer ver o coitado nem pintado de ouro. Diz para ele ir com calma e paciência, é mais garantia de sucesso, vai por mim.

― Recado anotado, valeu. ― Beijou meu rosto rapidamente, me arrancando um sorriso instantâneo. ― Ah, falei com meu chefe sobre tirar umas férias. Ele disse que não vai ser possível por agora, mas vou continuar insistindo.

― Oliver e Felicity! ― Thea chegou na porta do restaurante para nos receber com abraços. ― Casalsão da porra, combinação perfeita, meu OTP do coração, Olicity end game!

― O que você aprontou, pestinha? ― perguntei desconfiado. Conhecia aquela baixinha demais para saber que ela preferia ser paparicada e não o contrário.

― Eu? ― Usou o tom super ofendido, colocando a mão no peito.

― Speedy, desembucha!

― Então, cunhadinha… ― Desviou da minha exigência. ― Descobri hoje que você é chegada numa coisa mais selvagem com meu irmaozão. ― A fuzilei com o olhar, gesto bem parecido do que Felicity fez para mim.

― Calada!

― Só comentando… Ele não pode ter feito todas aquelas marcas de unhadas em si mesmo, aliás, amei seu esmalte.

― Obrigada, eu acho. ― Felicity conferiu as próprias unhas nervosamente, seja por conta do esmalte ou para evitar olhar pra gente.

― Eu não te mandei uma mensagem bem clara sobre não comentar sobre isso durante o almoço?

― Não foi tão clara assim ― retrucou.

― Dizia exatamente "Felicity vai comigo, não comente sobre as marcas que viu durante o almoço".

― Tudo bem, estou querendo te deixar com raiva de mim sobre algo besta, pra desviar sua atenção ― assumiu com uma voz culpada.

― Desviar minha atenção de quê?

― Surpresa! ― Abriu a porta, revelando em uma das mesas do fundo, nossa mãe, que olhava ansiosa. Fechei a porta em seguida.

― Traidora, você armou uma emboscada para mim? ― quase gritei, já retornando de onde tinha vindo.

― Ollie, Ollie, Ollie, não foi isso. ― Minha irmã segurou meu braço e firmou os pés no chão, impedindo que eu me afastasse.

― Thea, me solta!

― Eu não chamei, só comentei que ia almoçar com você e ela se convidou e não largou mais do meu pé. Disse que precisa falar algo sério para nós dois.

― Que seja sobre a falência da QC! ― ironizei, cruzando os dedos em um gesto encenado.

― Não fala isso, aquela empresa sustentou seus luxos por 27 anos ― me contestou.

― Que seja, Thea, não vou ficar. Vamos, babe.

― Espera um pouco, eu falo com ele ― Felicity me acompanhou quase correndo até o estacionamento, mas deixou a promessa implícita que logo voltaríamos. Ela não poderia estar mais errada.

― Nem pense nisso! ― Rebati logo seu beicinho pedante. Ela não achava mesmo que conseguiria tudo de mim com aquela carinha fofa, achava? ― Eu não quero contato com aquela mulher, e não entendo porque você não está me apoiando nisso, pois se me lembro bem, era sua boca que gritava com ela daquela última vez.

― Peixinho, você sabe que te apoio em tudo, mas aquela é sua mãe.

― Felicity, você não sabe as coisas que ela me disse sobre… ― Mordi a língua para não soltar ali os adjetivos nada legais que Moira Queen destinara a Felicity e Donna, naquele dia ou depois por mensagens. ― Ela não merece nosso respeito, tempo, muito menos perdão.

― Todo mundo merece perdão, amor.

― Não ela!

― Oliver, fica calmo e me escuta, okay?! ― Segurou minhas mãos, dando mais um passo para perto de mim. ― Ela errou muito, e vai continuar errando, mas não cabe a você condená-la à uma culpa perpétua, amor. Sei que não dá pra comparar as complicações da minha mãe com as da sua, mas você me ajudou com Donna. Me deixa fazer o mesmo por você.

― Você não entende, amor. Ela não muda, nada pode mudá-la.

― Você não sabe disso ― falou condescendente.

― Sim, eu sei. São longas três décadas de convivência e amargura.

― E você não acha que tem que se libertar desse peso? ― Felicity me abraçou pela cintura, colocando a mão direita onde meu coração retumbava. ― Peixinho, você é um homem doce e do coração mais puro que eu conheço, não merece viver amargurado por causa de outra pessoa. Se não quer fazer por ela, ou por sua irmã, faça por você mesmo. Você merece ser feliz, completamente.

Deus, eu amava tanto essa mulher! O coração dela sim era de ouro. Felicity era tão justa e empática que fazia todos os outros seres humanos inferiores a ela, pelo menos era assim que eu via. Como consegui viver todos esses anos sem ela?

― Tudo bem, eu vou.

― Isso! ― Ela deu um saltinho, me dando um selinho rápido. ― Já achei que teria que apelar pra greve de sexo.

― Você não faria… ― Estreitei meus olhos para ela.

― Ainda bem que não precisou. Vamos? ― Entrelaçou nossos dedos, quase precisando me arrastar de volta para o restaurante. ― Ah, e se está preocupado comigo, relaxe. Sou de Vegas, amor, sei me defender.

― Você é única, sabia?

― Sabia. ― Deu de ombros, sem falsa modéstia, logo que chegamos novamente na entrada. ― E se me conhece bem, já deveria saber que todos os meus bons planos vêm com um de fuga anexado. Se as coisas começarem a sair do controle, vou fingir que estou passando mal e a gente sai daqui correndo. ― Gesticulou com o polegar para trás de si.

― Te amo. ― Aproximei o rosto do dela.

― Te amo ― respondeu, quebrando a pequena distância entre nossos lábios. ― Agora vamos enfrentar a Medus… Hey, senhora Queen! ― Trocou totalmente o cumprimento quando viu já estávamos muito perto da mesa da minha mãe e irmã, e eu só não ri porque estava tenso demais para isso. ― Já faz um tempo.

― Senhorita Smoak ― retrucou educada, o que era um avanço, então me encarou. ― Filho.

― A gente tem pouco tempo de almoço, então podemos pedir logo? ― questionei sentando à mesa.

― Claro, claro.

― Eu amo o frango à parmegiana daqui! ― Thea, que apenas assistia a tudo com olhos arregalados, resolveu se manifestar, abrindo o cardápio.

― Então... Minha filha me disse que você trabalha numa defensoria pública. ― Minha mãe surpreendente foi a primeira pessoa a tentar preencher o silêncio constrangedor que tinha se instaurado na mesa nos minutos após minha irmã fazer nosso pedido.

― É verdade. ― Felicity não parecia saber bem como levar aquilo da minha mãe tratá-la com educação. Ela, assim como eu, aparentemente se preparou para uma guerra fria ou uma bem acalorada.

― Ela não só trabalha, ela arrasa em terninhos e salto alto. Você tem que ver, mãe, a mulher é o poder, Ollie que disse. ― Thea falava com tanta empolgação que arrancou até um pequeno sorriso de Moira e umas bochechas bem coradas de Felicity.

― Há sempre uma vaga para uma boa advogada no corpo jurídico da QC ― propôs. Minha mãe tinha acabado de oferecer um emprego para minha namorada que ela chamou de golpista da última vez que viu?

― Não, obrigada. Advogados corporativos são o baixo do baixo, nada que eu queira ser um dia.

― Mas eles ganham bem mais, senhorita Smoak.

― Não o bastante para pagar uma consciência limpa, senhora Queen. ― Minha mãe franziu os lábios para a resposta rápida de Felicity. Quem mandou mexer com a minha ferinha loira? Agora que os pratos começam a voar.

― Uma mulher de opinião. ― Era impressão minha ou havia um leve tom de admiração na voz dela? ― Bem o tipo dos homens Queen. ― Felicity franziu as sobrancelhas para aquilo e já ia retrucar quando o garçom chegou.

― A comida chegou, graças a Deus! Que rápido, né? Amo esse restaurante. Valeu, moço ― Thea agradeceu ao homem que trouxe os pratos.

Comemos em um silêncio constrangedor nos minutos seguintes.

― Não vou fazer isso, Thea, fomentar prostituição é crime, sabia? ― Felicity falava entre risadas, quase terminando seu prato.

― Só estou te pedindo pra você facilitar minhas atividades sexuais com seu amigo. Isso não é crime.

― Você acabou de descrever proxenetismo, lenocínio, rufianismo ou cafetinagem, crimes ― a corrigiu.

― Não é se não tiver dinheiro envolvido.

― Você me ofereceu uma de suas bolsas Prada, sua descarada. E muito me espanta sua família não dizer nada sobre, aposto que Tommy teria uma opinião forte sobre o assunto.

― Nós já estamos acostumados, Felicity. E outra, minha filhinha é como uma lindíssima Pincher. Muito latido para poucas mordidas.

― Mãe!

― Speedy disse que você tinha algo sério para falar com nós dois. ― Cortei a risada das três indo direto ao assunto.

― Nossa, Oliver... ― Thea resmungou. ― Nem esperou eu terminar meu frango para servir essa torta de climão.

― Eu tenho. ― Moira descansou os talheres, respirando fundo e dando uma olhada discreta para Felicity.

― Nem pense nisso, ela fica. ― Segurei a mão da minha namorada. ― É algo sobre a empresa? Outro divórcio? Se for sobre aquela maldita mansão eu nem quero...

― Estou doente, Oliver. ― Apenas aquelas três palavrinhas me calaram na hora. Eu tinha sentimentos conflitantes de preocupação instantânea e incredulidade.

― Mãe, isso é sério? ― Thea segurou a mão dela por cima da mesa.

― Infelizmente, filha. Eu estava fazendo consultas de rotina sobre aquelas dores abdominais, lembra? Descobriram um tumor no estômago.

― Eu… Eu sinto muito, senhora Queen.

― Obrigada, Felicity.

― Não ― murmurei.

― Eu vou ficar bem, filho, o médico me assegurou que descobrir no início nos deu alguma vantagem.

― Não ― repeti, mais alto dessa vez. ― Não é verdade. Você está mentindo. Está mentindo para me manipular, você não está doente.

― Oliver, pega leve.

― Felicity, não deixa ela te enganar, é isso que ela faz. Se finge de vulnerável para atrair os idiotas a fazerem o que ela quiser.

― Eu queria que fosse esse o caso, meu bem.

― Viram? A fala mansa, conversando com Felicity, fazendo piadinhas com Thea, tudo faz parte, mas eu não caio nessa, você não está doente, você é feita de aço! ― Me levantei da mesa sem esperar qualquer resposta, deixando as três mulheres chocadas com minha reação.

Parei ao lado do carro no estacionamento, então comecei a andar nervosamente pelo local. Só poderia ser mais um dos planos maquiavélicos da minha mãe para me ter sobre seu controle. Minha mãe não tem câncer, repetia para mim mesmo. Escorreguei até o chão por uma coluna com os dedos enfiados nos meus cabelos.

Demorou ainda alguns minutos quando senti Felicity se aproximar de mim. Mesmo sentado no chão com a cabeça entre os joelhos sabia que era ela. A presença e o perfume eram tão ela que não havia como eu confundir.

― Eu saí e ela confessou a mentira? ― falei baixinho.

― Não, amor. ― Senti sua mão acariciar meu ombro. ― Ela mostrou exames.

― São falsos.

― Poderiam ser, mas não são. ― Felicity me lançou um sorriso complacente, ao sentar no chão ao meu lado, apiedando-se do meu olhar abalado. ― Mas vocês vão passar por tudo isso e eu estou aqui, tá bom? ― Ela se agarrou ao meu braço, deixando um beijo em meu ombro. ― Porque de uma coisa você tem razão, aquela mulher é feita de aço.


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Notas finais do capítulo

Me chamem de coração mole, mas não consigo deixar uma vilã sendo apenas vilã por muito tempo. Vamos dar uma aprofundada nessa relação mãe-filho aos poucos, já que o enredo de POU vai se estender por alguns anos da história deles. E também não esperem que do nada Moira fique completamente boazinha e perfeita do nada, não vai acontecer. Mas quem não ama uma boa história de redenção?

Enfim... Me digam o que estão gostando e suas teorias sobre o que vai acontecer a seguir...

Comentem, favoritem, recomendem, indiquem para os amigos que curtem Arrow.
Muito obrigada por tudo. Bjs*



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