Pictures of Us escrita por Ellen Freitas


Capítulo 30
Dear, Mia || Olicity


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Como vocês estão?
Cheguei com um dos meus capítulos preferidos e um dos mais aguardados por vocês? Preparados para conhecer a pequena Mia?!
Nem vou enrolar muito por aqui, só queria mesmo agradecer por todos o carinho que vocês me dedicaram com o retorno de POU.
Boa leitura!! Até as notas finais!! Bjs*



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#POV Felicity

― Desculpa de novo, babe ― Oliver pediu, enquanto mantinha uma mão segurando firme a minha e outra na base da minha coluna, me conduzindo à recepção da delegacia. ― Eu podia jurar que estava no carro. Devo ter deixado aqui quando devolvi uns casos que trabalhava em casa ontem.

― Só me dá uma cadeira, Oliver, minhas costas estão me matando! ― reclamei, mas não com ele, pelo menos não dessa vez.

Meu sermão sobre como ele era esquecido e precisava prestar mais atenção nas coisas importantes havia sido dado em casa, quando ele me avisou que teríamos que passar aqui antes da consulta de pré-natal, que já deveria ser a última, para buscar meu plano de parto e os exames que havia feito ontem, sendo que claramente eu tinha pedido que a pasta com tudo não saísse do carro.

E se Oliver achava que toda aquela gentileza e fofura ia me dobrar, estava mais do que certo, eu estava dobrada, não literalmente, óbvio, já que a dor na base das costas e no meu baixo ventre estivesse especialmente maior essa manhã.

― Hey, Felicity! ― Kara me cumprimentou animada, ficando de pé atrás de sua mesa logo que entrei. Lancei para ela o melhor sorriso que uma pessoa com dor poderia dar a alguém.

― Ótimo, você, pessoa mais tranquila que conheço. Pode ficar com ela um segundo?

― Claro! ― Oliver puxou a cadeira para que eu me sentasse como uma pata gorda e já foi em direção à sua sala. ― E aí, como vão as coisas? Quando a pequena Mia se juntará a nós do lado de fora? ― questionou interessada.

― Estou com uma semana depois da data que o médico previu que a coisinha ia nascer ― expliquei. Nem preciso falar do pequeno surto quando a data chegou e o bebê não veio, mas o doutor Wells disse que era normal, o cálculo não era preciso e que Mia nasceria quando quisesse nascer. O tempo era dela, não nosso. ― Quer dizer, eu amo minha filha, mas não vejo a hora de parar de gerar esse bebê elefante. ― Kara não segurou a risada, se sentando. ― Isso é sério, a criaturinha está crescendo como se não tivesse que sair por um buraco pequeno demais para aquela cabeça.

― Você parece bastante bem-humorada diante de tudo isso ― observou, franzindo o cenho diante da minha brincadeira.

― Ah, não, estou aterrorizada! ― a contradisse. ― Mas depois da gravidez que eu tive com todas as dores, vômitos e surtos de ansiedade, o parto não pode ser a pior parte. Está tudo detalhadamente planejado, e se existe algum Deus, ele vai ter pena da minha pessoa.

― Torcendo pelo melhor ― Kara desejou de dedos cruzados.

― Ei, amiga! ― Olhei ao redor em busca da voz conhecida, até encontrar Caitlin. Ela deu um tapa na parte de trás da cabeça de Tommy, com quem discutia por algo, então veio em nossa direção, deixando as reclamações do moreno para trás. Ele me acenou um tchauzinho rápido e foi em direção à Oliver, que saía de sua sala com nossa pasta em mãos. ― Como tá a neném mais linda da titia? Cadê aquele chutão pra madrinha? ― falou com voz infantil para minha barriga, se abaixando e colocando a mão lá, e como se entendesse, logo senti o chute nas minhas costelas.

― Ai, sua pestinha! ― reclamei com Mia, mas Cait pareceu mais feliz do que nunca. ― Sabe, não sei como você vai se acostumar a voltar a falar me olhando nos olhos algum dia, amiga.

― Não liga pra essa sua mamãe rabugenta, Mimi. Ela tem ciúmes da nossa parceria ― continuou a falar com a voz esquisita.

― Como estão as coisas na defensoria? ― Eu estava adoecendo por não poder trabalhar nesses dias, mas o médico tinha me mandado ficar em repouso desde a semana passada por estar tão perto do parto. ― O que faz aqui na delegacia que você mais odeia no mundo?

― Tudo corre muito bem por lá, mas tive que vir porque o idiota do Merlyn fez uma prisão indevida. Sério que tem que ser ele o padrinho da Mia, tadinha da minha afilhada.

― Eu não vou discutir isso com você de novo, Caitlin. Ele é o melhor amigo do Oliver.

― E daí? Ele não pode ser bom para crianças, é irresponsável, inconsequente e muito obsceno. Vai ensinar coisas horríveis pra ela, vamos ter que tirá-la de um lugar assim antes dos quinze. ― Girou os indicadores mostrando o lugar.

― Por isso te escolhi como madrinha, amiga. Equilibra as coisas.

― Eu não vou ficar perto dele no batizado ― decretou, se rendendo ao fato que não poderia mudar a escolha de Oliver sobre Tommy.

― Ótimo, porque eu sou judia e isso não vai ser necessário. Feliz?

― Vocês são engraçadas ― Kara comentou, quando até me esqueci que ela observava a cena. ― Mas e o Oliver? Como tem lidado com essa paternidade iminente?

― Viu, por isso gosto dessa garota! É a única aqui que sabe diferenciar palavras como iminente e eminente.

― Oliver está surpreendente calmo a gravidez toda, o que é irritante, às vezes ― respondi à pergunta de Kara, ignorando o comentário impertinente de Caitlin. ― Tomara que não esteja reprimindo todo o estresse e venha a surtar nas próximas semanas.

Todas nos viramos na direção dele, que tinha se inclinado um pouco em sua mesa para assinar algo que Tommy pediu. Os músculos de seus braços se destacavam na blusa cinza de malha, já que havia tirado a jaqueta e jogado no encosto da cadeira, e sua bunda estava bem marcada pelo jeans escuro. Não contive uma mordida no lábio inferior.

― Já está no nosso momento diário de apreciar a bunda de Oliver Queen? ― Sara chegou fazendo graça. ― Hey, Felicity. ― Se alguma das meninas não estava olhando, definitivamente estava agora, quando entortamos nossos pescoços na mesma direção em um movimento quase sincronizado.

― Eu sinto falta de sexo ― resmunguei. ― É normal sentir tesão quase o tempo todo? ― perguntei baixinho, sem desviar o olhar do meu loiro.

― Não com esse marido na equação. ― Todas olhamos para Kara, estranhando o comentário tão incomum para ela. ― Qual é, gente, foi com todo respeito a você e ao meu lindo maridinho ― completou corando de leve.

― Eu te ensinei alguma coisa, afinal. ― Sara soou orgulhosa. ― E falando como alguém que já provou da coisa, você tá certíssima, super recomendo. ― A loirinha deu uma piscadela marota.

― Merece até uma foto ― entrei na brincadeira, fazendo o clique do meu celular mesmo.

Eu sei que o fato de Oliver ser um homem excepcionalmente bonito e ter muitas amigas no trabalho incomodaria muitas mulheres, mas eu conhecia as meninas, assim como Laurel. Nunca perdi meu tempo, paciência ou um minuto de sono sequer com isso.

― O pior é que não basta ele ser lindo, ainda fica me dizendo como estou incrível. Eu sei que é compensação por eu estar carregando a prole dele, mas não deixa de me deixar com vontade o tempo todo! E essa barriga deixa tudo mais difícil.

― Hey! ― o chamado veio de Tommy, do outro lado da delegacia. ― Ele não é um pedaço de carne, suas taradas! ― ralhou, ficando de braços abertos entre a gente e nossa visão privilegiada da bunda de Oliver, que parecia nem se dar conta de nada até o momento.

― Dá uma voltinha também, Merlyn ― Sara o provocou, girando o indicador no ar.

― Invejosas! ― acusou em retorno, dando uma volta e um leve tapa na própria bunda.

― Gostoso! ― Sara gritou.

― Acabamos de ter a palestra sobre assédio no local de trabalho, se controlem ― Diggle brigou com eles aí passar em direção à sala do capitão, mas só conseguiu uma gargalhada coletiva.

― Tommy Merlyn, também recomendo ― Sara disse apenas para nós, juntando o polegar e o indicador em um gesto que dizia como era bom. ― Principalmente pra você, Snow. ― Caitlin arregalou os olhos surpresa, então irritada.

― Não antes que o inferno congele.

― Falando sério agora, por que não transformar toda essa implicância em sexo? Não seria o primeiro casal a começar assim.

― Eu e Mon-El meio que começamos assim ― Kara comentou. ― Ele implicou com a bebida que pedi quando fui em seu bar.

― Club soda não é bebida de adulto, eu também implicaria ― Sara provocou.

― Eu e Oliver também começamos assim. Mas a implicância só durou algumas horas, então acho que não conta. ― Dei de ombros.

― Eca, vamos mudar de assunto antes que eu faça igual Felicity e vomite em vocês.

― Podem ficar à vontade, vou apressar Oliver ou perderemos a consulta. ― Me apoiei na mesa para ficar de pé. ― Só eu que odeio ter que fazer xixi a cada cinco minutos? ― perguntei retoricamente, tirando uma risada coletiva delas.

― Em um segundo, amor ― Oliver falou quando cheguei perto dele. ― Esqueci também de assinar esses relatórios de prisão ontem.

― E a princesinha do titio Tommy? ― O moreno falou com minha barriga, e logo recebi outro chute, tão forte dessa vez que pode até ser visto pelo tecido fino do meu vestido. Se aquilo era algum indicativo, Mia parecia amar os dois padrinhos, o que seria uma um tópico de disputa nos anos seguintes. ― E aí, receptáculo?

― Pare de chamar Felicity assim ― Oliver alertou.

― Eu não me importo, meu bem, sei que ele já me ama, mas não pode admitir. Tá tudo bem, querido. ― Fiz carinho em seu ombro, ao que ele se afastou num salto.

― Não me toca, sua coisa! ― Fez uma cruz com os indicadores em minha direção.

― Tanto faz. Oliver, preciso ir ao banheiro.

― Claro, já acabei aqui também. ― Ele pegou minha pasta do pré-natal e segurou minha mão. ― Te levo lá.

Eu não gostava desses banheiros de instituições públicas, eram pequenos e apertados, principalmente quando sua bunda está do tamanho de duas melancias.

Senti uma pontada mais forte, então uma contração que me fez segurar a barriga e fazer uma careta. Ainda bem que já estávamos a caminho do hospital, alguém precisava me explicar o que aquilo significava. Eu até tinha aprendido a lidar com algumas coisas, mas como mãe de primeira viagem, tudo parecia ser sério para mim.

Dei descarga no xixi e arrumei minhas roupas, mas quando já estava quase na porta de saída, senti algo escorrendo entre minhas pernas. O líquido era quente e transparente, e já estava começando uma briga com minha bexiga para que ela se comportasse, quando a ideia me veio à mente, quase uma revelação.

― Oh, não ― murmurei para mim mesma. ― Agora? Aqui?

Quando abri a porta, pronta para apressar todo mundo para o hospital, encontrei a delegacia, que estava relativamente calma quando entrei no banheiro, transformada em um verdadeiro caos.

― Oh, não ― repeti.

― É, eu sei, me desculpe ― Oliver, que me aguardava na porta, me olhou pesaroso. ― Melhor ligar pro médico e adiar a consulta pra amanhã, amor.

― O que aconteceu?

― Estamos em isolamento ― explicou, e eu senti meu coração falhar algumas batidas, minha respiração suspensa.

― Não podemos ficar aqui.

― Eu sei que é inconveniente, mas somos obrigados. Algumas delegacias também têm recebido esse pacote suspeito, todos alarmes falsos, mas temos que checar antes o caso de um ataque biológico.

― Ataque biológico? ― repeti sentindo meu estômago afundar.

― Tenta ficar calma, ok? Vamos só adiar a consulta pra mais tarde então, vamos correr pra agilizar a liberação de todo mundo e podemos ir.

― Não podemos adiar nada.

― Eu falo com eles, vai dar certo ― me acalmou.

― Você não entendeu, não dá pra adiar mais.

― Como assim? ― Ele franziu a testa, e quando seu olhar baixou, ele sorriu. ― Você não anda mais com aquela muda de roupas suas na bolsa?

― Peixinho, minha bolsa rompeu.

― Compramos outra no caminho, babe. ― Arregalei meus olhos para ele, apertando seu antebraço, tentando transmitir o desespero que começou a me atingir, foi quando ele entendeu. ― Oh, não, aquela bolsa? Agora? Aqui? ― Sua voz subiu uma oitava, espelhando meu desespero em suas feições.

― Nossa filha está nascendo, Oliver.

.

#POV Oliver

Eu ia ser pai.

Eu sei que eu já sou pai há alguns meses, mas eu ia ser pai pai em alguns minutos, e nunca me senti tão despreparado para algo na vida.

O trabalho como detetive da SCPD exigia que eu fosse bom de improviso, criatividade e desenvoltura, não conseguiria levar um interrogatório, perseguição ou negociação de reféns se não tivesse uma boa porcentagem de tudo isso. Sempre me preparava para o inesperado, e vinha funcionando bem. Até as últimas cinco palavras saírem da boca de Felicity.

"Nossa filha está nascendo, Oliver."

Eu não poderia improvisar com um bebê, ou usar apenas criatividade para fazê-la parar de chorar. Como diferenciar manha de dor? E se fosse alguma doença mais grave? Deus, eu não sei o que faria se alguma garota malvada a intimidasse na escola, ou pior, alguma pessoa chegasse perto de quebrar o coração dela na adolescência. Eu estava perdido.

E claro, ela não pôde escolher pior hora para nascer. Eu mordia minha língua para não falar nisso e assustar Felicity, mas o pacote suspeito que fez a delegacia entrar em isolamento poderia ser desde o inofensivo trigo até algum agente químico perigoso. Daí todos estariam perdidos e por minha culpa.

Foi fácil manter a calma durante quase toda a gravidez, até porque Felicity surtava por nós dois, com suas perguntas sem respostas, crises de ansiedade e desejos estranhos na madrugada, eu tinha que balancear a coisa. Mas durante todo esse tempo, nossa bebê estava segura e protegida no ventre de Felicity. Mas não mais.

Senti o suor frio escorrer por minha testa e tudo ao meu redor não era nada além de barulhos não identificáveis, as vozes distantes. Só eu estava ouvindo um zumbido agudo e irritante?

Eu iria surtar. E seria bem agora.

― Oliver! ― a voz elevada de Felicity me fez olhá-la, e só pela cara da minha esposa, aquele não era a primeira vez que ela me chamava. ― Tá machucando minha mão. ― Ela franziu o nariz de leve e eu afrouxei o aperto, quando nem percebi que estava a segurando tão forte.

― Desculpe.

― Ok, amiga, o que o seu médico disse?

Estávamos na sala de descanso da delegacia, sentados no sofá maior, Felicity no centro e eu e Caitlin a ladeando. Pelo menos isso, as circunstâncias fizeram com que a melhor amiga dela estivesse ali no sufoco.

― Doutor Wells falou que as dores que comecei a sentir hoje mais cedo já eram as contrações para a dilatação, só que como eram distantes uma das outras, eu não percebi. Disse que elas vão ficar mais longas e frequentes à medida que chegar mais perto da hora da Mia nascer.

― E sobre o isolamento?

― Ele disse que vai mandar uma ambulância para a porta da delegacia para me atender e me levar até ele logo que liberarem a entrada. E que vai estar no telefone para guiar a pessoa que for... Ai merda, aí vem outra.

Felicity soltou minha mão e enfiou as unhas no couro escuro do sofá quando se contorceu de dor, fechando os olhos e mordendo o lábio inferior. Eu fiquei sem reação alguma, igual as outras vezes, só me sentindo um merda impotente, a olhando com piedade e querendo pegar aquela dor para mim.

― Tá doendo? ― Tommy mordia o próprio punho fechado, olhando aterrorizado pra minha mulher.

― O que acha, imbecil? ― Caitlin ralhou com ele, passando a mão pelas costas de Felicity.

― Mas não deveria doer só quando fosse sair? ― A morena rolou olhos, mas resolveu ignorar, começando a falar palavras de conforto para a amiga. Os segundos se arrastaram até que Felicity suspirou, relaxando as costas no sofá.

― Já chega, esse bloqueio já era! ― Caitlin ficou de pé, indo até a porta. ― Eu não vou ficar assistindo minha amiga se contorcendo de dor nesse sofá com cheiro de bunda de policial.

― Primeiro, esse sofá é o mais limpinho da delegacia ― Tommy a interrompeu barrando a saída dela ao segurar seus ombros. ― Segundo, ninguém sai. Eu sei que vocês defensores do Satanás não dão o mínimo valor à segurança das pessoas nessa cidade, mas nós sim. Temos que manter tudo isolado até termos certeza...

― Certeza de quê? Que receberam um pacote de açúcar e não sabem diferenciar de algo tóxico? Não, não, quando a ambulância chegar, eu e Felicity não ficaremos um segundo a mais aqui!

― Não faz eu te prender, sua... Sua diabinha! ― ele elevou a voz.

― É sua afilhada querendo sair ali, Merlyn!

― Você acha que não estou preocupado? Mas não é seguro pra Felicity e Mia saírem sem saber do que se trata, já que também foram expostas. Pode ser antraz! ― quase gritou, à beira do desespero. O homem morria de medo de ataque de armas químicas e vinha sugerindo uma das piores opções possíveis desde que o pacote foi descoberto.

― E a droga de uma delegacia de polícia com a merda de um agente biológico desconhecido, mas um caralho de gente fazendo barulho lá fora é o local ideal para nascer um bebê? Você é oficialmente a pessoa mais burra que eu conheço!

― Burra é você, sua morceguinha das cavernas do além!

― Do que você me chamou?

― Desculpa, guardadora das catacumbas do inferno ― se desculpou sem sentir muito de verdade, estendendo as palmas da direção dela.

― O quê? ― a voz dela afinou ainda mais de irritação.

― O que tá rolando aqui? ― Kara entrou com uma prancheta em mãos, e por pouco interrompeu Caitlin de saltar no pescoço de Tommy.

― Filho da mãe.

― Filha da mãe é você.

Eu e Felicity apenas assistíamos a discussão como uma partida de ping pong, e apenas em olhar uma vez para minha esposa, sabia que ela também estava repensando nossa escolha para padrinhos de Mia. Seria uma confusão que não conseguiríamos controlar.

― Ok, Lissy, eis o que temos. ― Kara também deixou a discussão para trás para sentar ao lado de Felicity. ― Um estudante de medicina do segundo período preso por porte de drogas, uma enfermeira aposentada que veio buscar o neto e o tenente, que teve treinamento médico no exercício militar. Ah, e Barry, que tem algum conhecimento médico por ser perito forense.

― Filha, parabéns, você realmente escolheu o pior momento ― falou sorrindo mesmo sem parecer graça enquanto acariciava a barriga. ― O que acha, amor?

― Eu?

― É. Você conhece essas pessoas e ambiente melhor que eu, o que acha?

― Eu… Eu… Eu não sei.

Fiquei em pé, começando a dar voltar no pequeno local. Havia visto documentários o bastante para saber como era um momento delicado e que muita coisa poderia dar errado, tenho consequências horríveis para minha mulher e minha filha. E como eu poderia escolher entre péssimas opções? Se escolhesse errado, poderia perder uma ou as duas. Eram os amores da minha vida, sequer conseguia imaginar e nem queria tentar.

E havia tanto barulho, é como se ninguém respeitasse o que estava acontecendo ali dentro. Lá fora estava um caos e Caitlin e Tommy estavam fazendo que aqui dentro também ficasse assim com toda a discussão sem propósito.

― Oh, não.

― O que foi, Felicity?

― Ele vai surtar.

― O quê?

― Eu te disse que ele estava reprimindo, e agora não consegue mais. Oliver vai surtar.

― Agora? Aqui?

Eu podia ouvir a conversa de Kara e Felicity como algo distante, e era como se falassem de outra pessoa ou situação. Mas elas estavam certas, minha cabeça latejava e eu precisava gritar com alguém. Dei um encontrão em Tommy ao passar entre ele e Caitlin e sair para o pátio da delegacia.

― Vai atrás dele! ― Ainda ouvi Kara falar para meu amigo, que me seguiu de perto.

― Hey! ― gritei, subindo na primeira cadeira disponível. ― Silêncio! ― Como se um tiro tivesse sido dado no local, todos pararam de falar e olharam para mim. ― Finalmente fecharam a matraca!

― Quem é você, cara? ― um dos homens perguntou emburrado, que por sua pasta e terno supus ser um dos advogados, que assim como Caitlin, tinha vindo liberar alguém.

― Estamos presos aqui e ninguém nos diz nada! ― Outra pessoa falou.

― E eu ouvi aquele detetive ali dizer "antraz" pelo menos duas vezes. ― A mulher apontou para um ponto atrás de mim, e encarei Tommy, que agora encolhia os ombros.

― Vocês querem saber quem eu sou? ― continuei a gritar. ― Eu sou o cara cuja esposa está naquela sala dando luz à minha filha. Então enquanto as duas pessoas mais importantes da minha vida estão em um momento tão complicado, ninguém aqui para de gritar!

― Você está gritando ― Sara, que tinha se aproximando, observou.

― E eu vou continuar gritando se todo mundo aqui não tomar senso e calar a porra da boca! ― Não estava funcionando, pois depois do silêncio inicial, o caos estava mais descontrolado do que nunca.

― Ok, já chega. Os três comigo na sala do capitão agora. ― Diggle chamou atenção para si, indicando que eu, Tommy e Sara o seguíssemos.

Quando entramos, ele massageava as têmporas, encostado na mesa, murmurando como aquele tinha sido o pior dia possível para o Capitão Lance não estar presente e ter deixado ele no comando.

― O que quer, tenente, eu preciso voltar lá.

― Eu espero que por "voltar lá" você queira dizer voltar para onde sua esposa está em trabalho de parto e não para gritar com aquelas dezenas de estranhos que não tem nada a ver com isso ― me repreendeu.

― Eles estão enlouquecendo a Felicity! ― me defendi.

― E como você acha que ela está se sentindo lá, com dor e sem você? ― questionou. ― Ok, eu sei que você está assustado e tudo isso é um caos, mas precisa colocar a cabeça no lugar, sentar do lado da sua esposa e aguentar todos os apertos na mão, xingamentos de dor e tensão. Sua única função agora é dizer pra ela que tudo vai ficar bem, que ela e Mia vão ficar bem, entendeu?

― Sim, senhor. ― Impossível ir contra aquela lógica, ele estava mais do que certo.

― E você, Merlyn, precisa parar de assustar os civis, e principalmente, pare de falar sobre antraz.

― Até porque pode ser sarin ― Sara falou baixinho para ele, que arregalou os olhos.

― Pode ser sarin? Sarin não tinha que ser um gás ou coisa assim? Meu Deus, isso vai matar todo mundo aqui nos próximos minutos!

― Sara, pare de assustá-lo! Não é sarin e não vai ser nada tóxico. Precisamos manter o isolamento, então enquanto isso, você está no comando. Kara tem uma lista de todos aqui dentro, coordene para não haja mais conflitos. A sala da cópia vira uma sala de detenção para qualquer um que tentar acabar com a ordem. ― A loira balançou a cabeça em concordância, saindo da sala. ― Você, Tommy, vai procurar nas câmeras de segurança sobre quando esse pacote chegou, identificar quem o trouxe e ligar para o laboratório para tentar agilizar a análise, fale sobre toda a situação. Ah, e tente manter alguma postura e fique longe de Felicity, posso apostar que você a está deixando ainda mais aterrorizada.

― Mas é minha afilhada, e...

― É uma ordem, detetive. Agora.

― Sim, senhor. ― Ele também assentiu e saiu da sala.

― Você, Oliver, já sabe o que fazer e agora vem comigo.

― Por que passou o comando pra Sara, onde você vai, tenente?

― Fazer o parto da sua filha.

― O quê? ― Parei de andar atrás dele, o questionando chocado, mas diante do seu olhar urgente, apenas o segui a passos rápidos.

― Okay, eis o que vamos fazer. ― Já entrou na sala de repouso com sua pose de autoridade, chamando atenção de todos para si. ― Kara, preciso que fique com a Sara, ela está no comando da delegacia e vai precisar da sua ajuda. ― A loira concordou com a cabeça, ficando em pé. ― E chama o Barry aqui e pede pra ele trazer luvas, compressas, pinças, tesoura e lençóis, tudo estéril. Eu sei que devagar e sempre é o jeitinho dele, mas pede pra, pelo menos dessa vez, ele correr.

― Pode deixar, tenente.

― Ah, só mais uma coisa, Kara. Eu sei que vou te colocar numa missão impossível agora, mas por favor, faça o possível para manter o detetive Merlyn trabalhando e longe dessa sala.

― Estava fácil até essa última coisa ― falou antes de sair.

― Senhorita Snow, pode me ajudar a montar um lugar mais adequado?

― Claro.

Enquanto os dois arrumavam um espaço no fundo da sala, sentei ao lado de Felicity, segurando sua mão.

― Eu oficialmente amo John Diggle.

― Ele é o máximo, não é? ― Beijei as costas da sua mão, foi quando outra contração veio. ― Aguenta, meu amor, estou aqui com você ― murmurei a puxando para um abraço e quase sendo esmagado por seu aperto em minhas costelas.

― Você voltou ― sussurrou quando a dor diminuiu, a bochecha colada no meu peito.

― Desculpa a crise, eu só fiquei…

― Desesperado, com medo?

― Um pouco de cada e mais um monte de coisa.

― Graças a Deus, peixinho. ― A afastei um pouco pelos ombros, para olhá-la nos olhos.

― Como assim "graças a Deus"?

― Eu pensei que ia ser a mãe surtada sozinha. Óbvio que eu sei como você ama e se importa com a Mia, mas sua calma constante era irritante.

― Então você não se chateou porque eu saí?

― Meu amor, você aguentou todos os meus surtos por meses, claro que tem direito a ter alguns. Achei que se recuperou até bem rápido.

― Foi o John. ― Dei de ombros.

― Eu amo mesmo John Diggle.

Mia nasceu algumas poucas horas depois disso. Linda, saudável, perfeita, chorando como se soubesse o mundo ruim que estava entrando. Felicity estava cansada, mas tão logo a pegou no colo, seu sorriso abriu e ela murmurou baixinho para o bebê um "conseguimos". E eu olhando as duas como um bobo, me sentia o homem mais completo e feliz do mundo.

~

― Hey, pequenininha. ― Se havia alguma sensação melhor do que segurar seu bebê no colo, eu não conhecia, e nem queria. Era a melhor do mundo. ― Você é muito linda, já te disseram isso? Eu sei que eu já disse, e é verdade.

Mia abriu os olhos e me encarava fixamente talvez reconhecendo minha voz, seu rostinho me deixando mais encantado a cada minuto que continuava a olhar pra ele. Era tudo tão pequeno e perfeito, a boquinha e as bochechas rosadas, o nariz minúsculo, os olhinhos tão azuis.

― Papai ama tanto você e vai cuidar de você. ― Cabeças de bebês sempre foram tão cheirosas assim ou a da minha filha era a mais especial de todas? Segunda opção, com certeza. ― Se for preciso, eu movo o mundo por você, eu te dou o mundo. Eu prometo que sempre vou tentar fazer o certo por você, filha, e eu sei que um dia, você vai impressionar todo mundo com o quão incrível você será, pequenininha. ― Ela começou a fazer barulhinhos com a boca, como se me entendesse e respondesse. ― Como eu sei disso? Sua mãe é Felicity Smoak. Você já nasceu com essa vantagem da maioria.

― Para de ser assim e me fazer chorar, acabei de parir um bebê, meus hormônios ainda não entenderam o que está acontecendo. ― Me virei surpreso pra Felicity, quem eu achava que estava dormindo e que agora enxugava algumas lágrimas com as costas da mão.

― Olha, Mia, mamãe quer carinho. ― Ergui o bebê até perto do meu rosto, para falar com ela como se contasse um segredo.

― Olha pra você, é como se tivesse nascido para ser pai, Mia tem essa vantagem também. ― Sorri quando quase quis chorar. Havia sido um dia muito emocional e essa era literalmente a coisa mais legal que alguém já disse pra mim. ― Bebê, bebê, bebê. ― Pediu movimentando os dedos e as palmas estendidas na minha direção. Coloquei Mia em deu colo. ― Sonhei com essa cena uma vez. A realidade é um milhão de vezes melhor.

― Eu te amo.

― Também te amo ― declarou de volta, aceitando meu beijo rápido. ― E amo que Mia tenha você como pai.

― Amo que você seja a mãe.

― E eu amo ser o tio Tommy!

Meu amigo entrou sem nem pedir licença, conseguindo uma careta de estranheza de nós dois pelo curativo em sua testa. Nossos amigos vinham logo atrás, Caitlin, Kara, Sara, Diggle, Barry, Curtis e Roy.

― O que aconteceu com a sua testa? ― Apontei para o local, franzindo as sobrancelhas.

― Ele levou pontos com aquela queda, dá pra acreditar? ― Tommy desviou por alguns centímetros de levar um tapa no machucado, quando Caitlin gargalhou ao passar por ele em direção à Felicity.

Acontece que nem Kara e sua super habilidade de manter a delegacia funcionando conseguiram impedir Tommy de entrar na sala logo que ouviu um choro de bebê. Mas para o bem do meu amigo, ele deveria ter ficado longe, pois não sei se foi a emoção, o sangue ou qualquer outra coisa, mas o homem acabou por desmaiar, metade das atenções sendo voltadas para socorrê-lo.

Só que eu estava tão distraído com minha filha e esposa que ainda não tinha notado que ele havia batido a cabeça. E como o fim isolamento era a notícia que ele veio nos dar, não tive como ver quase ninguém depois, até agora.

― Ei, Mia, é a tia Caity. ― Se abaixou à altura do bebê, pegando em sua mãozinha, para então, com ajuda de Felicity, a pegar no colo.

― Você está bem, mano? ― perguntei ao meu amigo apontando para um lugar na minha testa que espelhava o local onde ele estava machucado. Tommy torceu o lábio como se fosse chorar, fazendo sua melhor cara de sofredor.

― Ele está bem agora, mas fez um drama enorme na emergência para levar pontos, tadinho. ― Kara o olhou compadecida, fazendo carinho em seu ombro. ― Mas quem ganhou um pirulito da enfermeira? ― falou com a voz infantil, e todos começamos a rir, mas ele fechou a cara, chateado.

― Não tem graça.

― Eu fiz um vídeo, envio depois no grupo. ― Sara balançou o celular no ar, o que só fez a gente rir mais.

― Ainda está doendo ― se queixou. ― Mas tudo bem, fiquem rindo e fingindo que eu não fui a pessoa que mais sentiu dor hoje. ― Fez drama.

― Sério, cara? ― Felicity o questionou divertida.

― Não ligo pra vocês, só quero ver minha princesinha, sem toda a coisa nojenta a envolvendo. Me dá ela! ― ordenou a Caitlin, que a protegeu nos braços, virando de costas. ― Me dá!

― Ela tem a cabeça muito vulnerável por causa do crânio não inteiramente formado, você não vai segurá-la.

― Ollie!

― Lissy! ― apelaram para nós dois.

― Só não derrubem minha filha ― Felicity falou sem paciência alguma para entrar na discussão.

― E parem de gritar, estão em um hospital. ― Diggle chegou até nós, enquanto a atenção dos outros foi atraída para Mia. ― Como você está, Felicity?

― Estou ótima, obrigada por tudo que fez hoje, Dig.

― Primeiro você casou a gente, então trouxe nosso bebê ao mundo. Valeu, tenente.

― Imagina, você não é só meu amigo. Somos família, Oliver. ― Dispensei sua mão estendida para lhe dar um abraço.

― Eu vou dizer uma coisa pra vocês, como pai dos gêmeos adoráveis que vocês já conhecem bem… ― Tomou uma respiração profunda, e eu segurei a mão de Felicity. ― Os próximos dias vão ser difíceis, muito difíceis, mas vocês serão bons pais, eu posso ver isso. Tenham paciência que as coisas vão se ajustar, e mesmo que nunca mais tenham um segundo sem preocupação pelo resto da vida, vocês vão ficar bem.

― Obrigado, tenente.

― É, muito obrigada, Diggle.

Roy nos informou que Thea também já estava a caminho com nossas mães, e eu estava ansioso para apresentar minha pequena para as avós, já prevendo que teríamos mais uma versão da discussão de Tommy e Caitlin, mas estava tudo bem.

Se eu achava que meu casamento teve muita emoção, eu não sabia o que nos aguardava para o dia do nascimento da minha filha.

Não teria passado sem nossos amigos, que agora eram mais família do que nunca. O jeito como Sara e Kara manejaram muito bem a situação na delegacia, Tommy adiantou o fim do isolamento, Caitlin e Barry ajudaram John no parto. Havia sido o dia mais intenso da minha vida, mas eu também tinha a esperança que tudo ia mesmo ficar bem.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, a mais nova membra do esquadrão chegou!!
Só um comentário: posso babar também em Oliver pai?
Espero que tenham gostado.

Recentemente, comecei a postar uma nova história, que atualizo todas as segundas, inclusive, amanhã já tem postagem nova. A quem interessar, entrem no meu perfil e deem uma olhadinha em Breeding Love.

Nos vemos pelos reviews... Se estão curtindo, favoritem, recomendem!!
Até mais.. Bjs*



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