Ocean Eyes escrita por HawthorneMark


Capítulo 3
Capítulo 2 - Olhos de oceano




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A campainha tocou duas vezes. Ouvi vozes no andar de baixo e barulho de malas sendo arrastadas soleira adentro. Terminei de arrumar minha cama rapidamente, esticando o lençol e jogando os travesseiros com fronhas novas e limpas por cima. Antes que pudesse chegar até a porta do meu quarto, a voz do meu pai ecoou pela casa. 

“Rafael, o Mark está aqui!” 

Era sábado, e eu sinceramente queria muito estar com meus amigos. As provas finais no colégio militar estavam chegando e perder a oportunidade de estudar em grupo com meus amigos era frustrante. Respirei fundo, esbocei meu melhor sorriso e segui em direção as escadas que levavam para o andar debaixo. Desci lentamente degrau por degrau. Eu já sabia o que esperar. Mark é um cara com seus vinte e oito anos de idade hoje. Quando meu pai havia mostrado as fotos de sua viagem, Mark tinha vinte e quatro anos. Era um cara branco, com quase um metro e noventa e cabelos bem loiros e espetados. Os olhos azuis eram sua marca registrada e chamavam atenção de longe. Pelo menos na foto foi o que pareceu, quando a vi pela primeira vez. 
Terminei de descer os degraus, nem um pouco entusiasmado. Eles estavam todos ali no hall de entrada da casa, esperando para que eu também (como morador da casa) desse as boas vindas ao estrangeiro. Meu olhar imediatamente encontrou o olhar de Mark. Meu estômago se revirou por um leve momento e fiquei nervoso. O homem que estava parado ali na minha frente era completamente diferente do da foto. Exceto pelos olhos. Os olhos extremamente azuis, de um tom bem claro. Depois de anos, Mark havia mudado radicalmente. O homem de vinte e quatro anos da foto havia se tornado um homem de vinte e oito anos muito mais bonito e empoderado. Seu corpo estava mais forte, ombros largos e coluna ereta. Seu cabelo estava um pouco maior do que no da foto, com um penteado bem estiloso, num degradê baixo nas laterias. O cabelo de um loiro bem escuro, a pele bem branca, dando contraste aos lindos olhos. 

Bom dia, Rafael”. Disse Mark, me estendendo a mão e esboçando um sorriso branco e lindo, como se fosse um ator de cinema. 

Bom dia, Mark”. Eu respondi, rápido demais. Meu nervosismo parecia berrar em sua cara.

Segurei a mão dele com firmeza e a apertei. Ele havia me cumprimentado em inglês, pois não sabia muita coisa em português. Cumprimentei-o em inglês também, pois havia aprendido há alguns anos a falar. Meu pai sempre gostou de línguas e como havia um cargo no governo na parte de relações internacionais, ele acabou que por me ensinar desde criança. Assim que terminei de cumprimenta-lo, soltei sua mão e me afastei um pouco, me sentindo ainda abalado. Eu não sabia lidar com esse sentimento muito bem. Admirar a beleza masculina era errado aos olhos de Deus e meu pai sempre me disse que isso era coisa de "veado". Olhei ao redor, um pouco nervoso, pra ver se algum deles haviam notado meu nervosismo. Minha mãe e meu pai conversavam novamente com Mark. Respirei fundo. Eles não haviam notado e isso me deu um profundo alívio. Antes que voltassem suas atenções a mim, rapidamente pedi licença e peguei as malas de Mark. Elas estavam pesadas, porém não o suficiente para que eu não conseguisse carrega-las sozinho. Andei em direção a escada e quando estava prestes a subi–la, uma mão pousou em meu ombro direito e apertou delicadamente. Novamente meu estômago revirou e meu coração acelerou. Mark estava logo atrás de mim e isso fez com que meu corpo se arrepia-se com o seu toque. 

Deixe me ajudar com uma pelo menos, elas estão pesadas”. Ele disse, pegando uma das malas da minha mão e fazendo um movimento com a cabeça para que eu continuasse e mostrasse o caminho do quarto para ele. 

Continuei subindo os degraus, porém sem prestar real atenção para onde estava indo. Aquelas reações a Mark estavam me consumindo. Que merda está acontecendo comigo? Pensei, exasperado. Isso era completamente errado. Fui do “não estou afim de recebe-lo" para o “fiquei nervoso e estupefato com a beleza dele”.  Há muitos meninos bonitos no colégio e eu nunca havia sentido isso antes. Seria a surpresa por esperar uma pessoa (o Mark da foto) e receber outra completamente diferente? Minha cabeça estava zunindo e só percebi que havia chegado na porta do quarto quando Mark me tirou dos meus pensamentos. 

É este o quarto onde ficarei?” 

“Sim, sim...”. Eu disse, esboçando um sorriso um tanto constrangido. As palmas das minhas mãos suavam. 

Ele me olhou, sorriu e riu. Provavelmente havia compreendido meu embaraço, ou apenas estava sendo simpático. 

Me desculpe, Mark, não costumo receber visitas com frequência e estou preocupado com as provas do meu colégio, as provas antes das férias de verão …" 

Antes que eu pudesse continuar, ele pegou a mala da minha mão e, ao fazer isso as nossas mãos se tocaram brevemente.  A sensação do frio na barriga voltou e eu suspirei fundo.  Olhei para trás nervosamente, para ver se meu pai ou minha mãe não estavam perto e então abri a porta do quarto. 

“Prometo que não tomarei tanto seu tempo, Rafael. Obrigado por ter trazido a mala para mim, foi muita gentiliza da sua parte”. Disse Mark, sua voz um tanto grave e suave ao mesmo tempo.  

Abri a porta do quarto, para que ele pudesse arrastar as malas para dentro e então entrei logo atrás. O quarto de visitas não era usado havia alguns anos. Estava tudo limpo, é claro. Minha mãe sempre garantia que tudo estivesse sempre alinhado, para momentos como esse de receber visita. 

Bom, não precisa me agradecer e você não está tomando meu tempo de forma alguma.”. Tentei não sorrir enquanto falava, mas olhar pra ele e não sorrir era impossível. Ele sempre tinha esse ar risonho e sério ao mesmo tempo, parecia que conseguia ver alguma coisa em mim que eu mesmo não conseguia ver. “Deixei toalhas limpas para você no banheiro e gostaria de dizer que estou a disposição para o que precisar. Minha prova final é nessa segunda-feira e depois disso estarei de férias, então posso te mostrar os lugares ou te dar um tour pela cidade”. 

Ele assentiu com a cabeça e então achei a deixa para me retirar do quarto. Ele soltou mais um obrigado enquanto eu saía. Corri em direção ao meu quarto, entrei e me recostei ali na porta do quarto mesmo, deslizando lentamente até o chão. Eu estava completamente perplexo com minha própria reação. Não conseguia entender o que estava acontecendo. O pensamento sobre a beleza masculina de Mark, o coração acelerado, o estômago revirando. Os olhos azuis da cor do oceano, um azul lindo e límpido eram hipnotizantes. Isso tudo eram pensamentos impuros, impróprios. Um homem jamais deveria pensar isso de outro.  

 

 Mark havia chegado logo pela manhã, era por volta de nove horas. As horas pareceram voar e quando me dei conta, já era hora do almoço. Desci as escadas, com o coração ainda batendo forte no peito, com certo receio de dar de cara com Mark novamente. Para o meu alívio, ele não havia descido para o almoço. 

“Ele deve ter tomado banho e dormido”. Meu pai disse para a minha mãe. Os dois estavam em algum tipo de conversa antes de eu chegar e me sentar a mesa. 

“Com certeza, uma longa viagem do Texas até o Brasil não deve ser nada fácil”. Minha mãe disse, levando os pratos que estavam na pia até a mesa e começando a organiza-la. 

Me levantei para poder ajuda-la, porém ela me impediu com um sorriso maternal, colocando uma das mãos em meu ombro direito, me impedindo de levantar. Retribuí o sorriso e então olhei para o lado e meu pai me encarava, sério. Desviei meu olhar do dele rapidamente e então havia me dado conta do que estava tentando fazer. Nenhum homem deve jamais fazer o serviço de casa, isso é tarefa de mulher! Essa frase invadiu minha mente assim que vi a cara dele de seriedade, me fazendo lembrar de um dia que meu pai chegou do trabalho e me viu ajudando minha mãe na cozinha. Ele havia ficado furioso. Minha mãe é bem religiosa, porém não divide 100% da mesma opinião que a maioria dos religiosos, e para não contrariar meu pai, acabava não omitindo nenhum tipo de comentário ou até mesmo suas opiniões próprias, já que mulher não deveria fazê-lo. Foi assim desde criança, desde que nasci. Já ouvi muitos boatos sobre como era antes. Questionei minha mãe sobre algumas histórias que havia ouvido, sobre como as mulheres eram empoderadas e tinham opiniões e lutavam pelos seus direitos. Ela apenas sorriu, um sorriso que não esbanjava nenhuma felicidade. Não deixe que seu pai saiba que está ouvindo tais histórias. Essas foram suas únicas palavras. 

Permaneci em silêncio enquanto minha servia o almoço. 

“O que achou do Mark, meu filho?”  

Meu pai quebrou o silêncio, depois de alguns minutos. 

“Ah... eu... achei ele legal”. Droga, eu havia gaguejado. “Não tive muito tempo para conversar com ele, quem sabe mais tarde?” 

Meu pai assentiu com a cabeça, enquanto pegava um pedaço da carne assada que estava em seu prato e levava a boca, mastigando lentamente. Engoli em seco, esperando que ele não tivesse notado meu nervosismo. 

“Afinal de contas, o que ele veio fazer no Brasil mesmo?” Perguntei, tentando desesperadamente pensar que estava tudo bem e que meu pai não havia notado nada. 

“Bom...”. Meu pai começou a falar e interrompeu ara limpar a boca com o guardanapo. “Ele veio para férias e com algumas intenções de saber como é o Brasil de hoje, como nossa política está trazendo bons frutos ao nosso país. Ele é escritor de um jornal importante lá fora.” 

Maneei com a cabeça. Peguei um pouco da comida com o garfo e levei a boca. A essa altura, minha mãe já havia se sentado a mesa para almoçar com a gente. 

“E como exatamente o senhor conheceu ele mesmo?” 

“Pensei já ter contado essa história”. Meu pai respondeu com um tom impaciente. 

“Sim, o senhor já contou, é que eu não me recordo muito bem”. 

“Não se recorda ou não da a mínima para o que eu falo?” 

Meu pai bateu com força as duas mãos que seguravam os talheres na mesa. Ele havia ficado irritado. Fui pego de surpresa por um momento. Não havia pensado que uma simples pergunta poderia tira-lo do sério. Não na mesa de jantar. Não com um hospede no andar de cima que poderia ouvir seu descontrole. A surpresa passou repentinamente, até porque não era surpresa nenhuma mais. Papai era descontrolado desde sempre. Era por isso que minha mãe evitava perguntas. Era por isso que ela sempre me dizia para não o incomodar. Ela dizia que o trabalho o deixava nesse estado de nervos. Mas como uma pessoa que trabalha com relações internacionais e está sempre tentando manter um bom relacionamento entre os governos poderia ser tão instável assim, dentro da própria casa, com a própria família? 
Não respondi à pergunta dele. Apenas abaixei a cabeça e continuei comendo, ou tentando comer pelo menos. A comida parecia extremamente seca e teve certa dificuldade para descer na minha garganta. Esperei que todos tivessem terminado o almoço e então me levantei da mesa, e me retirei com um com licença tímido e corri para meu quarto. 

 

                      *                   *                           * 

 

O som de alguém batendo na porta me tirou a atenção do livro que estava lendo. A princípio não respondi.  O som veio de novo e então, preguiçosamente, sai de cima da cama, deixando o livro de lado e me levantei. 

“Já estou indo”. Gritei. 

Corri em direção a porta e a abri. Congelei no momento em que vi quem estava do outro lado. 

Aqueles olhos da cor do oceano. Era como se fossem essas imagens de praias que vemos nas revistas de agência de viagem. Como as águas do mar do caribe, ou de Cancún, ou até mesmo na Tailândia. Mark estava parado, me encarando com curiosidade. Suas sobrancelhas arqueadas, demonstrando que talvez estivesse desconfortável com a forma como eu encarava. 

Ãn deveria eu voltar mais tarde ou …". Ele começou a dizer e eu o interrompi imediatamente. 

Não, claro que não.” Me afastei da porta, dando espaço para que ele pudesse passar e então fiz o gesto com minha mão, para que ele entrasse. 

Assim que Mark entrou no meu quarto, eu fechei a porta e ofereci uma cadeira para que ele pudesse se sentar. Aceitando e agradecendo, ele se sentou e ficou olhando ao redor. Por sorte, meu quarto estava bem arrumado. Era bem espaçoso, com uma cama de casal enorme no centro e prateleiras e mais prateleiras de livros. Havia minha mesa de estudos com meu computador, alguns cadernos e livros e o meu guarda-roupas, que era um tanto grande, apesar de não haver tantas roupas sim. 

Você tem um belo quarto, devo admitir”. Mark começou a dizer, girando na cadeira e eventualmente voltando seu olhar pra mim. 

Agradeci com um aceno da cabeça. Ele parou de girar na cadeira e então me encarou novamente. Seus olhos azuis pareciam ver dentro de mim, dentro da minha alma. E o sorriso que acompanhava aqueles olhos? Pelo que pareceram longos minutos, fiquei encarando Mark, sua barba loira estava bem cheia, seus lábios finos quase eram totalmente escondidos pelo seu bigode. O frio na minha barriga apareceu novamente, um nervosismo que eu quase não conseguia controlar.  

Bom, eu gostaria de dar uma volta na cidade, talvez algum bar, algum clube de dança. Gostaria de me acompanhar?”. Ele disse, entusiasmado. 

Tentando não acabar com o entusiasmo dele, tentei negar da melhor forma possível o convite. 

Não tenho idade ainda para clubes e bares, Mark. Ainda tenho dezessete anos. Em algumas semanas completarei dezoito e aí poderei frequentar esses locais”. 

Ele franziu a cara, numa espécie de careta pra descontrair. 

Oops, me desculpe, esqueci que ainda é menor de idade...” Ele se levantou da cadeira, olhou o relógio de pulso e olhou para mim. “Bom, ainda são seis horas da tarde, acha que poderíamos então só andar por aí? Tomar um sorvete e você me mostrar o que vocês daqui dessa cidade fazem pra se divertir?” 

Uma parte de mim queria expulsa-lo do meu quarto, voltar pra cama e continuar lendo, mas a maior parte de mim não quis pensar nas consequências daquilo. Eu não conseguia negar aqueles sentimentos quando ele estava perto. Muito menos quando meus pais não estavam perto. Mark sorria o tempo todo para mim, parecendo saber que eu sentia alguma coisa por ele. Mas aquilo tudo era perigoso. Ele sabia o que faziam com pessoas que demonstravam afeto por outra pessoa do mesmo sexo. Respirei fundo e me controlei. Vamos apenas sair pra conversar, nada mais. Fiquei repetindo essa frase pra mim o tempo todo enquanto balançava minha cabeça de forma positiva, aceitando o convite que ele havia me feito. 


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Notas finais do capítulo

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