Winx e a Fada sem Asas escrita por Maddu Duarte


Capítulo 6
Capítulo 6 - Estudo sobre a Solidão


Notas iniciais do capítulo

Aqui é assim: você lê coisa triste com música mais triste ainda.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785868/chapter/6

Estudo sobre a Solidão é uma música de Tuono.

— Ariane... Você sabe que há mais magia do que pensa, não sabe? Há mais do que bruxas e fadas, também há pessoas como eu. 

— Magos falsos. Pessoas do reino das runas — respondeu o que lhe foi ensinado. Ele assentiu. 

— Magos prisioneiros. Feiticeiros das circunstâncias. Não quero que me entenda, minha pequena Aria... Quero que saiba que... Não sou o monstro que pregam. Eu não sou... — Sua voz chorosa o dominou. A garota colocou a palma da mão sobre sua face, limpando uma única lágrima que teve a coragem de sair, enquanto ele afastava o cabelo do rosto dela.

As runas eram benção e maldição. Tatuagens marcadas com mais puro ferro de vulcões de dominó, da chama do dragão, aqueles que sobreviviam a elas, ganhavam os poderes dos Deuses. 

Ela havia ouvido sobre Dominó. Ouvido sobre como as bruxas ancestrais destruíram tudo por vingança, raiva, fúria. E ali estava ele, filho das runas, pedindo-a para acreditar que o amor existia e que a magia também. 

Que a magia não era nada além de uma interferência na vida deles.

— Quando eu vim ao mundo, eles decidiram que eu deveria ser testado. Me marcaram, em todo o corpo, em toda a circunstância — contou, e Ariane passou os dedos pelas queimaduras agora negras na pele do jovem rapaz. — Não venho de uma geração de magos, meu reino nunca foi conhecido por sua capacidade de salvar vidas. Mas não queríamos criar monstros. Foi quando eles apareceram... 

Eles mataram. 

Eles destruíram.

Eles levaram tudo.

Tudo dele; tudo dela.

— E, depois disso, te chamaram de filho — ela o interrompeu.

— Prometeram que me dariam liberdade. 

— E te trancafiaram em uma falsa casa. 

— Você me entende — disse, e foi a sua vez de tocar na mão dela, jovem, inocente, sonhadora. Já havia tocado em nuvens, tinha a mesma sensação. A mesma sensação do calor familiar da mãe, gritando para não levá—lo. 

— Como souberam que você era apto a ter as runas? — perguntou. Eram tantas perguntas. Os livros antigos diziam que todos eram marcados no nascimento, mas Andy insistia que não. Nunca forçaram nada a ninguém.

— Minha família era pobre... Eu queria ser... Mais! Achava que estava apaixonado pela filha do rei e queria ser digno. Me joguei em lava, deixei que elas dominassem cada essência e sai vivo. Tive sorte. Os Deuses me perdoaram. Quando os guardas da companhia da luz chegaram e me viram... As cicatrizes... Achavam que eu podia ser útil, mas ela... Ela era apenas uma inútil. Apenas uma bruxa. 

— E o que fizeram com ela? — As palavras pareciam entalar. Mas precisava ouvir. Precisava sentir. 

— A mataram. Não era apta a ser rainha, tinha sangue nosso nas mãos. Precisavam repovoar... E ela não tinha o dom de ficar calada... Era como você, viva. — E Ariane sentiu seu peito murchar. Tudo que menos queria era ser amada por lembranças. — Mas não era você. Sou aproveitador da vida, é claro. Mas sei que, no fundo, nasci na morte. E você também. Agora, qual a sua história?

— Eu... — começou, sentindo o culto tomar conta de suas lembranças. O bloqueio não descoberto a impedia de saber ao certo como havia parado em Alfea, como havia virado filha de Faragonda oh como havia sido fada, quando sua natureza gritava bruxa. — Não lembro. Faragonda disse que houve uma guerra, ela me achou ainda criança. Me trouxe para cá e é tudo que sei até então. 

— Você e eu... Separados de nossas famílias pelo egoísmo e juntos pelo amor, não é hipócrita que tenham movido mundos e fundos para nós destruírem e, por isso, tenham nos feito ficar juntos? 

— Eu te amo — ela suspirou.  — Não sei o que aconteceu com minha família, não sei se estão vivos ou... Quero que estejam, Andy. Quero que estejam. Mas se não estiverem... Quero que seja a minha.

— Você está bloqueada. Eu sinto isso. Como consegue ser tão real... se tudo que lembra é falso?

Ela levantou a sobrancelha, indagada. Ele apenas continuou: a contou sobre bloqueios mágicos e naturais, como o TEPT. Ariane não entendia sobre o mundo, nunca havia saído de Magix, mas Andy sempre a contava suas aventuras. Nunca enganava-a. Nunca mentia. Era real. Era verdadeiro. Era como ela. Uma vítima das circunstâncias. 

— Preciso ir embora. 

— Não pode me abandonar! — gritou, desesperada. Ele era seu lar, sua casa.

— Então, venha comigo. Eles vão me matar, Aria. Eles vão me matar. 

— Ninguém vai te fazer mal aqui...

— Não sou o anjo que pensa... 

— Eu também não, Andy. Eu também não.

*

Até que ela o descobriu. 

E ela gritou que ele era um assassino. E o jeito que ele a olhou, implorando para que não acreditasse. Andrew era muitas coisas, mas não era ruim. 

Pois se eram iguais, isso não significava que Ariane era ruim também? Não, ela não poderia ser ruim. Ela era uma fada, ela era boa, ela era... Bruxa, as palavras repetiam em sua mente. Ela era o que eles queriam que ela fosse. Ou, pelo menos, ela seria. 

Olhou as outras fadas na sala, todas prisioneiras de suas próprias conclusões. Queria poder ser sincera e gritar todos os crimes que Faragonda construiu: como matou seus pais, como matou a princesa de Andy, como destruiu seu país na caça as bruxas por Dominó. Era fácil para a princesa dizer que eles eram os certos, não foi ela que perdeu para sempre o direito de ter uma família, uma mãe, uma vida. Pessoas como ela. 

As bruxas não deixam de ser bruxas enquanto a história não deixar de ser contada pelos privilegiados. 

A Luz trouxe escuridão para diversos povos, em nome de salvar outros. Trancafiaram aqueles que chamaram de inimigos em abrigos e lugares de gelo frio. Tudo pela chama do dragão. 

— Não sabe de sua história, fadinha — disse em tom aspero para Bloom. — Como espera saber da minha? 

— Não espero. Espero apenas que seu amigo não mate o que sobrou de nós.

— Sou sua última esperança, mas se quiser, eu mesma começo a matança. 

— Ariane! — a voz de Faragonda resurgiu, forte, firme, leal aos seus ideais.

— O que é?! Não é o que esperam de mim? Mas não era isso que você esperava dele? Você mentiu! Mentiu para mim e mente para elas o tempo todo. Você me disse que estava me protegendo enquanto roubava meus poderes e me usava como experimento social.  

— Eu te chamei de filha. 

— Porque não podia me chamar de prisioneira! Você queria uma vilã, você ganhou uma vilã. Eu vou ajudar vocês, mas, escutem: se alguém aqui tentar machucar o meu marido, eu garantirei que a morte seja seu último desejo. 

E a palavra marido fez o chão tremer.  

— Você não ousaria fazer tal coisa. 

— Casei por amor. 

— Casou por influência! Ele fez sua mente contra mim, sua própria mãe. 

— Você não é minha mãe! — gritou, e as prateleiras de vidros de quebraram, a luz rachou e as paredes cobraram em vibrações o valor do som. — Você matou a minha mãe. Mas você não contou isso as suas preciosas fadas, contou?

As meninas ali presente trocaram olhares, surpresas pela revelação. Não, ela não tinha. Faragonda era um poço de segredo, a companhia da Luz foi um poço de segredos, até a sala secreta bania para sempre bruxos e bruxas, nunca fadas. Nunca os seres iluminados e puros, mas e Ariane? Ela, que foi filha da destruição e era marcada pelo fogo do dragão com uma runa de amor, se encaixaria naquelas paredes frias?

— Eu errei com você, Ariane. Eu sinto muito sobre seus pais... Eu sinto muito sobre seu país, eu errei com toda a comunidade mágica, mas eu precisava... eu precisava para proteger pessoas e quando eu te vi, você era só uma criança naquela guerra... eu soube que precisava te proteger. 

— Matou mil crianças e salvou uma. Que perfeito equilíbrio, sua hipócrita — relembrou Aria. — Vocês dizem que salvaram a dimensão, mas estão erradas — disse, olhando para o que sobrou das Winxs —, tudo que fizeram, tudo pelo qual lutaram até agora, tudo pelo que batalharam... foi somente para cobrir os erros dela. Os erros deles. Vocês não salvaram a dimensão, mantiveram o que restou dela após as pessoas que seguem a destruir. 

— Eu sinto muito — Flora, a primeira a dar um passoa a frente, começou. 

— Você tem muito o que sentir. — A fala soou descompasada, sem ódio, como se, por algum instante, um relampeio de memórias atacasse a si. Sua pixie, sua família, sua ligação. A dor da chama do dragão atingindo sua pele pela primeira vez. Poderia ter sido tudo diferente. Porém, a história nunca foi feita pelos que pensavam no que poderia ter sido feito. E ela faria história. — Andy atacará em breve, se eu estou de pé, ele também estará. Enquanto estiverem prontas para morrer protegendo assassinas — falou enquanto apontava para Faragonda —, eu estarei pronta para deixar vocês se matarem. Se querem lutar... Deixem que ele venha.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Winx e a Fada sem Asas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.