Winx e a Fada sem Asas escrita por Maddu Duarte


Capítulo 5
Capítulo 5 - dói como o inferno


Notas iniciais do capítulo

eu traduzi o título porque ficou bem mais legal assim
sou dessas



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Música: Hurts Like Hell (Fleurie)

 

Tantos acasos passam por um caso? Quantos casos se comprometem por um acaso? Perguntas que nunca responderia. Naquele noite, Aria chorou o que qualquer menina choraria, mesmo não sendo mais tão menina assim. É porque o amor doía. 

Doía como o inferno. 

Caminhou a passos curtos, com os olhares em volta dela — como sempre estiveram —, até a sala da diretoria. Não chegou a bater, apenas a tomar ar e olhar às pixieis que esperavam ansiosas na saída. Se era uma reunião sobre ela, bem, era melhor se meter. 

Não costumava ser egocentrista, mas sabia que era sobre ela. 

— Você não pode entrar! — brandou a pequenina de cabelos rosados, com a chave na mão, tentando impedir Aria com seu minusculo corpo. 

— Ah é? 

— É! 

Soltou uma leve risada, amarga e dolorosa, como tudo tem sido nos últimos dias. Alfea guardava segredos negros, mas também guardava dias de sol e chuva. Nem sempre a chuva era ruim, por mais que ela aguasse sentimentos conflitantes e os dessem espaço para crescer — e, na maioria das vezes, eles cresciam muito. Deixando pedaços de raízes e galhos por todos os membros do nosso corpo. Nos prendendo em um corpo-tronco infernal. 

— Por isso, pedimos que se afaste! — anunciou uma pequenina loira, com maria chiquinhas e tom irritante. A bebê, se é que existia uma pixie naquele mundo que não soubesse a história do caos e da criação, se escondeu atrás do corpo das que restaram. — Agora! 

— Eu sinto falta... — lamentou Aria, travando sua boca logo antes de completar aquela frase. Muitas coisas para pensar, muitas coisas para esquecer. Do que lembrar quando a verdade dói e as mentiras se esgotam? — Sinto falta de você.

E não era de Andy que ela falava. 

Era de uma tão pequena quanto aquelas. Mas, essa história, deixamos para contar outro dia. De alguma forma, Lockett sentiu verdades naquela palavra, a dor traiçoeira de quem já teve muito a perder e por isso não pede chaves para abrir portas — as arromba —, preparando o corpo para o combate, a pequena não teve chance quando Aria preparou a mão e abriu a porta em um levantar de dedos, entrando na sala cheia de fadas e da própria diretora como se fosse furacão. 

Sua presença era como vento forte, pronto para arrancar as asas daqueles que ousassem se aventurar nela. Talvez, por ter convivido tanto consigo mesma, tenha perdido as suas. 

— Uma reunião? Sem mim? Oh... — falou —, estou ofendida. — E elevando as sobrancelhas, a expressão quase se tornava realista. O sorriso sarcástico em sua boca deixava escorrer o veneno que corria por suas veias. 

Bruxa! Era o que gritavam em sua infância. Ah, se eles soubessem como essas palavras a motivaram... a destruir tudo e qualquer coisa. 

Queriam que ela fosse a garota má? 

Pois bem. 

Ariane foi a garota má. 

*

— Ariane, chega! — Faragonda gritou, aproximando-se da filha, cercada de ventos negros que dominavam da ponta dos pés aos fios de cabelos. — Volte para o seu quarto e saiba que você nunca mais verá esse rapaz. Você está proibida, escutou?! 

 Não! — gritou, deixando que os ventos tomassem ainda mais velocidade. As flores, antes vermelhas, morriam aos poucos, a água que guardavam se elevavam um trisco acima do que deveria e a cabeça da jovem doía. — Você me prometeu que não iria machucá-lo. 

— Ele estará em um lugar melhor. 

— É o que todos dizem antes de matar alguém! — berrou, irritada. Como pôde ser tão enganada? Como conseguiram a culpar por tanto tempo? 

Estava se sentindo inútil, descartável, uma péssima pessoa. O pior é que aquele último sentimento não a assustava, pelo contrário, quanto mais forte os ventos ficavam, quanto mais forte as vidraças de Alfea voavam, quanto mais fraca a barreira encantada dos professores se rachava... mais ela sentia que era de sua natureza combater. Se a tivesse treinado direito, seria tão diferente? 

— Ariane, escute: estamos o levando para a paz. Você sabia que ele quebrou regras, matou pessoas? Ele não te contou, não foi? Aquele jovem é um criminoso. Não permita que as palavras dele afetem você. 

As lágrimas caiam da jovem bruxa eram tão reais quanto seus problemas. Porque ele disse que a  amaria até o sol deixar de amanhecer. Até a lua parar de reluzir. Até os problemas sumirem. E os problemas nunca somem. 

— Você prometeu... — decepcionou-se. 

— Ele assassinou inocentes, Ariane. 

— Vocês também — revelou. 

Seus pais. 

Sua família. 

Seu planeta.

Todo destruído pelas mãos das trupes das luzes. Cada bruxa assassinada em nome da princesa de Dominó que havia sido morta ou dada como desaparecida. Boa ou má, cada feiticeira fora roubada de seu habitat, torturada e decapitada. Queimada. Afugentada. 

Quem eles eram para julgarem sua natureza? 

A que mentira recorreriam para salvar seu exército? 

— Ariane.... salvamos você. 

— Não, vocês me pouparam — discordou, com a cabeça e com o coração, ainda sem entender o motivo. Olhou para o lugar que chamou de casa, era rosa, estava negro, o sol não brilhava como antes, talvez, ele tenha parado de amá-la. — Vão se arrepender disso — prometeu. 

Concentrando toda sua energia, desapareceu. Levando consigo apenas o colar de Andy, as lágrimas do parceiro e a certeza de que não havia mais lar para qual voltar.

*

— Não esperávamos ver você acordada tão cedo... — Bloom comentou. Bloom, princesa de Dominó. 

Aquela culpada pela caça as bruxas. 

Aquela culpada pelo seu presente. 

— É, parecia muito cansada ontem a noite — Layla, ou Aisha, completou. — Achamos que seria melhor marcar uma estratégia e depois repassar contigo. 

— Ora, que gentileza — zombou —, mas eu recuso coisas assim vindas de mentirosos. — E seu olhar voltou à Faragonda, imóvel e apreensiva, com um conhecimento finito da matéria. A daria uma bronca ou se culparia? 

A verdade dói. 

Mas quantas mentiras você consegue montar antes do castelo de cartas desmoronar?

— Ariane... 

— Aria — corrigiu. 

— Estamos tentando parar o que você começou. Se não deseja ajudar... — iniciou o sermão, porém, logo fora interrompida.

— Eu quero. Na verdade, creio que sou a única que possa. 

— Como? — Flora, aquela que era quase um reflexo magro de si, indagou. 

Olhou alguns segundos para a fada das flores. Fora sortuda ou poupada, tal como ela no seu passado? Andy teria pensado antes de realizar tal chacina? 

— Andy voltará em breve. Ao contrário de uns ou outros, ele não mata inocentes — fixou sua fala em Faragonda, ciente dos males ocasionados pela mulher no passado —, suas amigas o atacaram, certo? Então, ele se livrou delas. 

— Bem, seu amigo que não mata inocentes, matou mais de 15 alunas! Todas inocentes — Bloom revoltou-se, disposta a comprar a briga por aquilo que considerava sua segunda, ou terceira, casa. 

Apenas uma risada seca ecoou pelo local. 

— Para quem carrega tanto sangue em mãos, ter sido poupada foi a prova que ele não aprendeu tantos truques quanto eu pensei — a voz de Aria era fria como o gelo. Farpas entrariam no coração de Bloom se fosse possível, a garota não perguntou o que ela quis dizer com isso, apenas olhou para Faragonda, esperando respostas. Confiavam demais. 

Por isso, estavam destinadas a morrer. 

— Ariane... a história não precisa se repetir. Nós todos cometemos erros, mas também acertamos. Você pode escolher em que lado estará da guerra. 

— Ela pode o quê?! — Bloom esbravejou, indignada. Sendo silenciada com a palma da mão da jovem bruxa, começou a mexer os braços, faltava-lhe ar. 

— Apenas pare de brincadeira e fale o que sabe. 

— Ele quer vingança. 

E ele terá. Ocultou. 

— Vingança? Ele já não teve tudo que queria? As runas dominam as margens, você escapou de seu lar, aquele menino teve tudo e... 

— Vocês mataram nossos pais! — gritou, como se toda a indignação, toda a fúria, todos os ventos e brisas se unissem, gritou como nunca gritara antes. — Mataram nossos pais, nos deram vidas miseráveis e prometeram que isso seria suficiente? Não é. A história contada pelos vencedores não será a que permanecerá. 

Observou o silêncio dos aflitos e acusados, imóveis. 

— Vocês querem detê-lo? — perguntou — Pois me sigam. Caso contrário, só irão perder tempo e suas vidas. 

— E se eu não quiser? — Bloom falou, droga, Aria. Como desfez o feitiço de silêncio tão fácil assim? 

— Então morra sabendo que nem ao menos tentou. 

O amor doía como o inferno. 

Mas a decepção... a decepção machucava feito os céus 

em queda.

 

 


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