O Chamado do Oceano escrita por Luana Cajui


Capítulo 3
Pelo fim do Trabalho em Grupo!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785849/chapter/3

"Os sinais podem vir de diversas maneiras, como pelo meio de sonho, por seus guias ou até mesmo por meio do caos e da destruição, mas em suma maioria eles são  sutis, podendo vir com a agitação dos pássaros no céu para indicar uma tempestade, uma súbita mudança no vento para anunciar a mudança da maré e um mar recuado para anunciar um tsunami."

—Um furacão acaba de passar pela sala e você quer que eu vá pra escola como se nada tivesse acontecido? -perguntou Kátya indignada do banco de trás.

Halag ignorou a sobrinha, virando a chave e ligando o motor do veículo, a ruiva permaneceu em silêncio enquanto manobrava o carro da vaga.

—Tia por Ragnar, aquela bagunça na sala não foi só um ventinho não e você sabe disso.

—Deve ter sido alguma travessura de algum guia ou algum saci, eles adoram fazer esse tipo de bagunça. -Cleuza tentou acalmar as duas russas, afinal aquele tipo de situação era bem corriqueira naquela pequena parte do país. O sobrenatural era tão comum que até  mesmo os mais céticos não teriam uma explicação lógica para as coisas que aconteciam naquela cidade.

Halag e Kátya olharam para a brasileira no banco do carona com expressões de descrença, Halag por menos tempo do que Kátya.

—Aquele que você quebrou a garrafa deve ter voltado para te atormentar, Halag. -expôs a mulher no banco do carona, para a motorista

—Seu cu! -xingou a ruiva.

Em qualquer outra situação Kátya teria achado graça na discussão que se iniciava entre as duas mas não naquele momento, com o clima tenso do jeito que estava.
Halag era alguém que tinha bastante estima pela aparência física, andava sempre com os cabelos impecáveis e com as mais belas roupas (belas, não caras.), algumas pessoas taxavam Halag por uma narcisista arrogante e que só se importa com a aparência externa por causa disso, mas isso era um erro, já que para as Ivanov e para algumas, se não muitas russas, ninguém vai se importar se você é bela por dentro e não demonstrar isso por fora, no entanto o estado de sua tia naquele momento era deplorável, seus fios ruivos estavam desgrenhados e ela usava uma camisola da Hello Kitty bem velha, seria cômico se não fosse a expressão deplorável no rosto dela.

Os minutos seguintes passaram lentamente para Kátya que tinha desistido de discutir com a mula teimosa que era sua tia, preferindo deixar essa importante missão para Cleuza, já que era a única que conseguia meter um pouco de juízo no cérebro de pedra de Halag.

A russa se prestou em apenas observar o casal nos bancos da frente discutir, Cleuza insistia para que Halag deixasse Kátya em casa, porém a mais velha parecia irredutível, argumentando que ela teria que fazer uma limpeza e defumação dentro de casa e segundo ela "Kátya era muito jovem e instável e as energias dela só fariam atrair coisas como portegaist, como tinha feito naquela manhã que resultou na bagunça da sala."

Kátya xingou é claro, não ia deixar que colocassem a culpa nela pelo acontecido, mas assim que o xingamento em russo saiu de sua boca as duas mulheres olharam para ela com expressões zangada que a fez se calar rapidinho até chegar na escola.

Já era 7h10 quando Kátya saltou do carro para fugir da DR que Halag e Cleuza tinham iniciado, podendo ouvir sua tia a xingando de longe quando ela atravessou a rua e sem querer esbarrou em uma figura.

—OLHA POR ONDE ANDA! - gritou Halag para a sobrinha.

—Desculpa, eu não vi você. -disseram duas vozes juntas.

Kátya ajeitou a mochila em seu ombro, quando percebeu com quem ela havia esbarrando, era uma das meninas da sua sala, a mesma que a havia ajudado no dia do Festival, qual era mesmo o nome dela? Awamura? Não, era Kawamura .

As duas ficaram se encarando por alguns instantes não sabendo exatamente o que dizer uma pra outra, era um silêncio um pouco constrangedor que foi quebrado por um berro.

—VAI FICAR PLANTADA AI KÁTYA?! ENTRE LOGO.

Silêncio...

—Sua mãe? -perguntou Kawamura num tom amigável de voz.

—Tia...

—Ah...então acho melhor a gente entrar logo, se não daqui a pouco ela vai descer do carro.

Kátya concordou com a cabeça, lembrando da vez que sua tia a havia agredido com uma almofada ao se atrasar pra chegar em casa.

As duas garotas correram na direção do portão da escola, mas este já estava trancado o que só significava uma coisa.

—Vamos ter que entrar pela coordenação. -constatou Kátya com desânimo

—Sera que ainda da pra pegar carona com a sua tia? -perguntou a outra garota fazendo Kátya rir sem humor algum.

As duas garotas muito relutantes, correram juntas para a entrada da secretaria onde também ficava a entrada para a coordenação.

Já na entrada do prédio, ali estava uma das funcionárias da secretária carregando uma prancheta nos braços e uma expressão de sono no rosto. Ela olhou para as duas garotas a sua frente e arqueou uma das sobrancelhas.

—Atrasadas de novo.

Não foi uma pergunta e sim uma afirmação, afinal ela já estava bem familiarizada com o rosto daquelas adolescentes.

—Estão com as carte...?

Já preparadas para a pergunta corriqueira que a mulher já fazia quase todos os dias, as duas prontamente tiraram suas carterinhas escolares de seus bolsos e as mostraram como se fossem detetives de um seriado americano onde os policiais não diziam nada e apenas erguiam seus distintivos.

A mulher bufou, pegou as carterinhas e abriu a porta de entrada e apontou para os bancos.

—Esperem aqui, vocês já chegaram atrasadas mais de três dias seguidos e o diretor vai querer ter uma bela conversa com vocês três.

Kátya e Tainá adentraram o corredor.

—"Vocês três"? -perguntou Tainá.

A mulher apontou para mais uma jovem que estava sentada num canto mais afastado da porta, ela também havia se atrasado e carregava uma expressão não muito animada no rosto, ela deu um leve aceno de mão as outras garotas e logo voltou a sua atenção as suas unhas que pareciam bem interessantes no momento.

Tainá e Katya se sentaram no banco, deixando as mochilas de lado e juntas as três  suspiraram.

Chegar atrasadas era algo que acontecia bastante na vida daquelas três quando iam para escola, no caso de Tainá bom ela não podia confiar muito no horário dos ônibus  afinal alguns motoritas sempre tinham um certo receio em passar perto da reserva por causa das inúmeras histórias de assombrações que remetiam aquele lugar e por isso eles se achavam no direito de ir à 10km por hora ou então desviavam o caminho e iam por outra estrada, de qualquer jeito era bem comum ela chegar atrasada por causa isso, no caso de Aqualtune já era um tanto quanto mais diferente, sabe ela sempre acordava com seus pais de manhã bem cedo, quando se tem um restaurante ou mesmo um quiosque, o preparo de alimentos deve começar antes mesmo do estabelecimento abrir, por isso ela sempre se arrumava muito cedo e ia para o "Sereia Negra" ajudar os pais na preparação de tudo e segundo Newtom "Se algo puder dar errado, vai dar errado" e contratempos eram bem comuns quando se trabalha com comida, por isso Aqualtune nunca saia do Quiosque até que tivesse certeza que tudo ia funcionar a todo vapor sem mais nenhum contratempo, já no caso de Kátya bom as vezes ela chegava atrasada, não tinha nenhum motivo relevante, as vezes ela andava mais devagar em alguns dias do que em outros e acabava se atrasando ou então ela acabava dormindo demais ou até mesmo acabava demorando para tomar café o que resultava em é claro, atrasos.

E agora as três estavam ali, sentadinhas no banco da coordenação, vendo professores chegarem para trabalhar, alunos pedindo canetas emprestadas que provavelmente  não seriam devolvidas enquanto esperavam o carrasco da escola vulgo o "Diretor de TPM" que ocupava o maior cargo na escola, o senhor "Morais Navarro" para levarem uma bela de uma lição de moral.

Morais Navarro ou como muitos o chamavam em segredo, "Navarro, o carrasco", era o ser mais insuportável e cruél que aquela escola já teve como diretor em seus 60 anos de idade e ninguém gostava ou mesmo entendia como aquele ser desprezível tinha conseguido ganhar um cargo tão alto no "Imperatriz Leopoldina" mas ele estava ali e fazia o possível para FUDER com a vida de estudantes e professores.

Quando as portas da direção de abriram, elas sabiam que estavam com problemas assim que Navarro saiu de sua sala. Naquela manhã ele parecia particularmente de mau humor, tinha uma carranca estampada em sua cara que com certeza ao invés de espantar espíritos malignos ela os atraía.

—As três pra dentro. -ditou ele de maneira firme.

Kátya, Tainá e Aqualtune entraram na sala com um certo temor e o clima que estava carregado naquele dia pareceu piorar chegando ao ponto de ser sufocante, as três se sentaram nos bancos que ficavam na frente da mesa do diretor, já Navarro se limitou a se sentar em sua cadeira e observar as três com um olhar cortante.

—Quais são as desculpas dessa vez? -perguntou com o cólera contido em sua voz.

Nenhuma das meninas abriu a boca para falar nada. Ao ver que não seria respondido, o homem atingiu a mesa com o punho.

—Vão me responder ou vou ter que ligar para os pais de cada uma? -O homem passou os olhos por cada uma das alunas, indo de Aqualtune para Kátya e por fim Tainá, mas seu olhar se tornou mais duro ao analisa-lá. -Não me é surpreendente vê-las na minha sala logo cedo, a irresponsabilidade  de vocês de chegarem atrasadas todos os dias já não é mais uma surpresa tão grande, agora chegarem nesse estado deplorável é demais.

O homem cruzou os braços e passou a fuzilar Tainá com seus olhos castanhos.

—Tainá Kawamura, eu me pergunto como sua mãe permite que você saia de casa em um estado tão deplorável. -ele começou a falar com um certo tom venenoso. -Seus cabelos estão desgrenhados e suponho ser por causa da água do mar, já que tudo em você cheira a sal isso sem falar na blusa do uniforme virada do avesso, tem uma alga perto do seu pescoço e seu cabelo já está tão duro que nem se mexe mais.

Aqualtune e Kátya olharam para Tainá disfarçadamente e puderam contrastar a realidade com o que o homem narrava e sabiam que ele tinha a tendência de aumentar tudo, os cabelos de Tainá estavam mesmo um pouco desalinhados e bem imóveis por causa do sal mas não algo que faria o cabelo estar uma bagunça pelo contrário eles estavam até que bem arrumados para alguém que veio correndo ao ver de Kátya, as suas roupas por outro lado estavam muito bem alinhadas e limpas com a exceção é claro da camiseta que só estava amassada e não virada do avesso.

—Para alguém que vive em uma cidade eu esperava que você fosse alguém mais civilizada e menos selvagem, ainda mais por seu pai ser Japonês e um dos melhores professores da UFEV.

Por um instante, tudo pareceu parar no tempo, Tainá olhou para o diretor com um brilho sombrio em seus olhos como se quissesse arrancar a cabeça daquele homem e ela realmente quase se levantou para dar na cara daquele desgraçado mas foi contida por Kátya que havia segurado seu punho para que ele não voasse na cara daquele filho duma puta.

Era isso que ele queria, queria que Tainá se exaltasse e ai ele teria a desculpa perfeita para expulsa-lá "de sua escola" de uma vez por todas.

Vendo que Tainá não iria cair em sua artimanha, Navarro voltou sua atenção para a loira sentada a sua frente.

—Kátya Ivanov, eu sinceramente não esperava esse tipo de comportamento quando a admiti na escola no final do ano passado. -a postura do homem pareceu relaxar por alguns instantes já a de Kátya se tornou dura. - Sua tia me disse que você tinha ótimas referência escolares e até mesmo me entregou todo o seu histórico traduzido e simplificado para que assim eu pudesse arranjar uma vaga para você e eu consegui, eu só não contava com a sua falta de pontualidade e de foco, suas notas caíram e você até que estava indo bem a uns meses com a quantidade de atrasos, mas justo hoje o dia em que não poderia se atrasar você chegar atrasada e isso é um problema que eu não posso mais tolerar, nem mesmo se sua tia me implorar eu vou continuar a fazer vista grossa, se suas notas não subirem e você continuar se atrasando irei expulsa-lá sem mais ou menos.

—Você não poder fazer isso.-disse ela com expressões duras e severas.

—Poder é o que eu mais tenho nessa escola e o certo é "pode" minha querida, está aqui à um ano e não consegue conjugar uma palavra tão simples? Talvez você deveria voltar para a Rússia, está claro que aqui não é o seu lugar, não consegue nem mesmo se adaptar ao idioma.

Foi a vez de Kátya de se irritar, seu rosto se tornou vermelho de raiva e se não fosse por Tainá e Aqualtune ela já teria jogado uma cadeira na cara daquele homem medíocre, mas o pior ainda estava por vir, o homem se desligou da russa e se focou na garota negra ao seu lado.

—Aqualtune, que raios de nome é esse? Seus pais a odeiam por acaso? -Zombou ele olhando para a garota com certo nojo em sua voz. -Essa já é a décima vez que você chegou atrasada este mês e não estamos nem mesmo no dia 15, o que passa pela sua cabeça de chegar sempre s 07h15, os portões fecham as 06h50 e não as 07h15, é tão difícil assim pra alguém do seu tipo entender isso?

—Como é? - perguntou Aqualtune arqueando uma das sombrancelhas. - O senhor só pode estar tirando com a nossa cara.

Navarro não gostou do tom de voz de Aqualtune e muito menos da maneira que ela havia falado.

—Não sei por qual razão você acha que estou para brincadeiras, ainda mais no dia de hoje, mas pra você isso não deve ser algo que se possa entender rapidamente,não? A escola tem horários, e esses horários devem ser respeitados você queira ou não e isso que vou falar agora vale para as três, se quisserem permanecer nesse escola eu aconselho as três a pararem de agir de maneira tão incivilizada e tratem de chegar na hora ou então digam adeus a suas vagas na minha escola e se preocupem em tentar encontrar outras e se mais uma vez vocês chegarem atrasadas considerem feriado pois não quero ver se quer a sombra de vocês depois das 07h00 da manhã, estamos entendidos? -Silêncio-  Ótimo agora se não se importam eu tenho mais o que fazer do que ficar ocupando meu tempo tentando educar três moças, estão dispensadas.

Navarro descruzou os braço e se levantou da sua cadeira indo até um armário de arquivos já as meninas elas nem se mexeram e notando isso o diretor se virou para elas novamente.

—Não estou ouvindo o som dos sapatos de vocês no chão, querem um convite formal para se retirarem dessa sala ou vou ter que pedir para um professor vir buscá-las?

Sem mais nenhuma palavra daquele homem, as três garotas se levantaram de modo mecânico e sairam da sala em fila e estranhamente com os passos sincronizados até estarem do lado de fora da direção com a coordenadora e alguns alunos atrasados as encarando, ninguém disse nada por uns instantes até que o trio de ouro se pronunciou:

"Babaca filho da puta!" -disseram as três numa perfeita sincronia.

A coordenadora deu um leve aceno com a cabeça como se concordasse.

—Vocês ouviram tudo, né? -perguntou Tainá encarando os outros estudantes que estavam nos bancos.

Todos assentiram mas ninguém falou nada.

—Booa Sorti, vão precissar.-disse Kátya pegando sua mochila e caminhando para o Pátio, logo sendo seguida por Tainá e Aqualtune.

Assim que entraram no pátio elas foram bombardeadas pelo barulho intenso de vozes altas que ocupavam o lugar e puderam ver as panelas formadas pelo lugar, alguns alunos estavam medindo o perímetro e gritavam para outros nas mesas para que anotassem em seus cadernos, isso era uma clara prova de que os grupos que ficaram encarregados da decoração já tinha começado a trabalhar e a planejar a decoração.

—Até que enfim, pensei que não ia mais vir hoje! -Uma garota próxima aos banheiros caminhou até o grupo e passou por Aqualtune e Kátya e abraçou Tainá bem forte em seus braços.-Eu pensei que o Carrasco ia te prender por mais tempo, mas de qualquer jeito já perdemos a escolha de grupos pro trabalho.

Um gemido triplo pode ser ouvido do trio que havia acabado de sair da coordenação.

—Diz que a gente ficou com comidas típicas, por favor. -implorou Aqualtune olhando a garota mais baixa.

A garota que estava abraçada a Tainá se afastou e encarou as outras duas meio sem graça.

—Não...

—Densidade demográficra? Fauna e Frora? -perguntou Kátya preucupada e de certa forma ansiosa.

—Também não.

—Ah não Helena - Tainá segurou os ombros da amiga para faze-la encara-lá nos olhos. -Pelo amor, diz que a gente não ficou com a chegada de 1500, tudo passou a dar errado quando esses caras chegaram aqui!

—É, diz que não foi esse tema, por favor! -disseram as outras garotas juntas, acompanhando o desespero de Tainá.

A agora então nomeada Helena, encarou o trio um silêncio por alguns segundos.

—Então né gente -começou ela a explicar. -As professoras estavam com um pouco de pressa,sabe? E como já é quase 08h00 elas preferiram não incluir vocês em nenhum grupo ou seja vocês ficaram de fora...surpresa.

As três ficaram em silêncio olhando Helena chocadas.

—Ta de brincadeira né, Helena? -perguntou Tainá.

—Queria estar, mas não, as professoras resolveram não colocar vocês em nenhum grupo, foi mau.

—Mas e você? Ficou em qual grupo?

Helena virou o rosto para o lado, parecia nervosa.

—Eu queria ficar no grupo que tivesse a maior nota então eu fiquei me escondendo das professoras pra elas não me colocaram em nenhum grupo que não tivesse a Tainá.

—Ou seja as quatro vão ficar sem nota... - Constatou Aqualtune.

—E o Carrasco vai ter nossas cabeças na guilhotina... -completou Katya

—Prontas para serem servidas numa bandeja de prata.. -finalizou Tainá.

O silêncio por parte de Helena significou algo, afinal a careta que a garota fazia dizia : "É então a gente se fudeu."

O quarteto caminhou em silêncio até a sala, passando por estudantes apressados com pilhas de livros e outros materiais até finalmente estarem na sala do primeiro ano D no segundo andar.

As coisas dentro de sala de aula estavam corridas, os grupos já haviam separado suas carteiras em circulos e o meio da sala estava vazio restando apenas um carteira e a mesa dos professores a estarem desocupadas. As professora Juliana de filosofia estava ajudando a orientar algum grupo enquanto o professor Enrique de História se concentrava e fazer as anotações na louça com um giz.

Kátya foi a primeira a bater na porta, chamando assim a atenção de todos para o quarteto ali na porta.

O primeiro a se pronunciar foi o Enrique que teve toda sua atenção voltada a Helena.

—Cansou de fugir, Helena?

—Fugir? Quem tava fugindo? De quê? -perguntou a garota se fazendo de sonsa para logo em seguida sorrir. - Eu que não ia ficar nos grupos com nota baixa.

—Seu pai vai adorar saber disso sabe? Que a filha dela fica fugindo das escolhas dos grupos e acabar ficando sem nota por causa disso.

—Se você contar, vou fazer questão de queimar tua imagem com meu pai, afinal eu sei que se quer dar uns pega nele.

Ao dizer essas palavras em voz alta a sala inteira acabou ficando em silêncio podendo ouvir claramente o que ela disse. Helena viu o rosto do professor se tornar carmin, mas não sabia identificar se era de raiva ou de vergonha e felizmente ninguém comentou nada.

A professora Juliana vendo o repentino desconforto do colega mandou as meninas pegarem quatro cadeiras e se sentarem na frente da mesa dos professores.

—Mas a Helena falou que todos os grupos já tinham sido formados. -disse Aqualtune um pouco desconfiada.

—E já tinham sido formados mesmo -concordou a professora se sentando numa cadeira enquanto as meninas se acomodavam na frente de sua mesa com algumas cadeiras roubadas.

"Ei essa cadeira é da Gabi!" -reclamou uma das garotas para Tainá.

"Não to vendo ela sentada e muito menos o nome dela escrito aqui, então ela é minha!"

Tainá foi a última a se acomodar na frente de professora Juliana, para logo em seguida o professor Enrique se sentar ao lado dela.

—No entanto resolvemos criar mais um grupo para que não precisassemos distribuir as três- Enrique encarou Helena-...as quatro em grupo aleatórios, então pegamos um tema um tanto quanto esquecido.

—É, e estamos fazendo isso pela costas do Navarro -sussurou a professora para as quatro. -Ele já era contra esse tipo de atividade quando estávamos ainda plenejando e nem pensar que ele iria querer que adicionassemos mais um tema.

As alunas olhavam atentamente para os professores em completo silêncio afim de ouvir qualquer informação importante que viria dos mais velhos.

—No entanto como a professora de filosofia de vocês é mais teimosa que o próprio Carrasco, ela fez questão de discursar o quão importante era esse tema e que vocês fariam um excelente trabalho com um tema tão amplo e com certeza ficariam com a maior nota da escola.- Enrique olhou para Juliana de canto, com uma expressão preocupada no rosto.- Ela até mesmo apostou que se vocês não tirassem nota máxima ela iria pedir demissão.

—O que!? -as meninas e a sala de aula inteira gritou ao ouvir a fala do professor.

—Agora vocês resolvem me ouvir?! Quando eu estava explicando a distribuição de grupos ninguém calava a boca!

—Professora Juliana, a senhora fumou maconha no café da manhã, por um acaso? -Taína perguntou para a professora séria. -Não se faz esse tipo de aposta, muito menos com o Carrasco do Navarro, ele não vai esquecer e muito menos deixar passar, ele vai te cobrar.

—E foi por isso que eu quero que vocês fiquem com esse tema, ele é excelente para vocês e a chance de vocês tirarem um belo e lindo "10" é garantida. -disse a professora com um sorriso gigante no rosto, só ela sorria ali, até mesmo Enrique olhava para ela sério.

—Pelo amor de Ragnar, quual que é o tema? -perguntou Kátya prestes a dar aquela leve surtada.

—Ah é bem simples - a professora abriu uma de suas pastas e retirou de lá uma pasta com os grupos se seus temas.A mulher coçou a garganta antes de pronunciar - A Origem mitológica por trás de Estrela Velha, Baía das Conchas e Vale da Lua.

—_________________________________________

"A Origem mitológica por trás de Estrela velha, Baía das Conchas e Vale da Lua."

—Mano, odeio minha vida - disse Helena jogada de qualquer jeito na cadeira.

—Por onde a gente vai começar isso daí? -perguntou Aqualtune

—Vou peder a única professora que não se impota de explicarr as coisas umas mil vezes pa eu -resmungou Kátya do mesmo jeito que Helena, toda jogada na cadeira.

—Isso vai dar um trabalhão, afinal essa cidade é o que? Mais velha do que a chegada dos portugueses na Bahia. - Tainá resmungou, enquanto abria a mochila e pegava seu caderno para começar a anotar tudo.

—Vamos começar por onde gente? - Aqualtune perguntou de novo, desta vez virada para Tainá.

—Bom vamos começar primeiro com os integrantes do grupo, sim?

Tainá arrancou uma das folhas de seu caderno e o apoiou na mesa, escreveu algo nela e logo a entregou para as outras garotas.

Tema:  "A Origem mitológica por trás de Estrela velha, Baía das Conchas e Vale da Lua.

Integrantes do Grupo 7:

Tainá Icamiaba Kawamura

Aqualtune Zacimba Adiche

Kátya Ivanov

Helena Figueiro

A russa observou a folha de papel em suas mãos, lendo o nome das outras garotas.

—"Icamiaba"? -perguntou ela com uma sombrancelha arqueada a Tainá.

—A Etnia da minha família por parte de mãe. -respondeu a morena.

Kátya assentiu devagar, fazendo uma nota mental para pesquisar o que "Icamiaba" queria dizer exatamente, afinal a resposta de Tainá não tinha saciado a sua curiosidade apesar dela não estar mentindo.

—Foi o Icamiaba que te surpreendeu? -perguntou Helena á russa -Eu pensei que você iria perguntar sobre os nomes da Aqua.

—Eu não querria ser mais indelicada ainda.

Aqualtune riu das duas garotas brancas enquanto ela se ajeitava na cadeira.

—Você deve estar com isso na cabeça desde que o Navarro ficou de deboche pra cima de mim mais cedo. -contastou Aqualtune e Kátya não negou, estava sim curiosa por causa disso mas não queria ofender a outra garota afinal as três já haviam ouvido  insultos demais naquela manhã por causa do diretor e ela não queria agravar a situação.

—Desculpa. -falou a loira.

—Não tem problema, meu nome não é algo que me envergonha, é algo que eu devo carregar com orgulho, afinal meus pais não me deram nomes com esse nivel para eu me sentir ofendida por que um homem branco que se acha superior por eu não ter um nome ridiculamente comum como "Maria".

—Algo me diz que as "Marias" por ai vão se sentir ofendidas -brincou Helena devolvendo a folha para que Tainá passasse a limpo numa outra folha no caderno.

—Algo me diz que eu não me importo. -concluiu a garota se ajeitando melhor em sua cadeira e apoiando os braços na mesa. -Odeio dizer isso mas o emprego da professora Juliana está em risco então vamos logo ver por onde a gente vai começar esse trabalho.

—Bom, creio eu que vocês vivem aqui a muito mais tempo , então por que não me dizem vocês.

Kátya olhou para as outras três garotas e em silêncio esperou por uma resposta.

—Bom, digamos que os mais antigos das cidades tenham historias bem diferentes a contar sobre como essa pequena parte do litoral passou a abrigar tanta gente. - Tainá começou a explicar. -Mas com certeza os relatos mais fiéis são os da minha família, elas vivem nessas terras a mais de mil anos.

Aqualtune riu da afirmação de Tainá que por sua vez a olhou um pouco irritada.

—Eu não confiaria nos relatos da Tainá, não gente, sem querer ofender mas não da pra saber se "seu povo" está mesmo aqui a tanto tempo, mais de mil anos é tempo pra caralho.

Helena sorriu sem graça para Kátya e lhe olhou de um jeito estranho, "Eu não acredito que você disse isso.",mas para a russa foi um olhar de: "Olha só o que você fez!".

—Bom com certeza não dá pra dizer que seu povo é milenar nessas terras, vocês foram praticamente trazidos a força pra esse lado do mar. -Tainá resolveu alfinetar a provocação feita pela garota de cabelos chocolate.

Aqualtune não disse nada por uns instantes mas quando fez menção de responder a fala da outra adolescente, Helena foi mais rápida.

—Eu ouvi boatos de que há barcos vikings pela costa, será que não séria legal colocar isso no trabalho? Sabe, como cada povo chegou aqui? Começamos pelas historias da família da Tainá, depois pelos vikings e por ai a chegada do...

—Povo do céu noturno -completou Tainá a fala da amiga, ela e Helena cruzaram olhares e afirmaram com a cabeça.

—"Povo do céu noturno"? -perguntou Kátya e Aqualtune em uníssono.

—É como os nativos começaram a chamar vocês quando chegaram, minha avó conta que quando os primeiros chegaram eles tinham a pele tão escura que quando a luz batia em suas peles pareciam que havia estrelas por ela toda.

—Tão vendo? Seria incrivel se a gente colocasse tudo isso no trabalho. -afirmou Helena tentando conseguir o apoio de Kátya.

A russa a olhou por alguns segundos confusa até que ela se ligou no olhar de: "Me ajuda aqui, faz favor?" que a garota de cabelos castanhos lançava.

—Serria como montarr uma colchão de retalho! -disse a russa com um pouco exasperação. -A gente começa com os "mitos" indigentes e depois a historria e a gente vai "costurrando" até chegar nos Africanos, os Vikings e depois os Portugueses e por fim de como as cidades chegaram onde chegaram hoje em dia.

Kátya esperou que sua fala fizesse algum efeito nas outras duas por isso ela e Helena ficaram em silêncio por alguns instantes antes de receber a respostas das outras duas.

—É uma boa Ideia. -concordou Aqualtune com um sorriso.

Tainá assentiu sorrindo antes de acrescentar:

—E também vai dar pra gente explorar mais sobre a história da cidades mesmo que só mais um pouco.

Helena suspirou, só percebendo agora que havia prendido a respiração antes de receber uma resposta das outras duas. A garota de cabelos castanhos conhecia Tainá desde pequena e conhecia bem o gênio que a garota tinha, ela detestava ser contestada sob absolutamente tudo que envolvia sua família em especial a familia por parte de mãe ou seja todas as mulheres da tribo que vivia na reserva que segundo Tainá, ele tinha muito orgulho de tudo que sua familia representava e de todo o conhecimento que se tinha.

—Certo então a gente vai ter que criar meio que uma linha de tempo pra fazermos o trabalho, como se fossemos contar uma grande...hã aventura - Tainá começou a anotar algumas coisas na folha de rascunho. -Certo mas em que formato a gente vai fazer isso?

—Cartolina? -perguntou Helena

—Muito quinta série. -respondeu Aqualtune.

—Desenho? Eu desenhar muto bem -sugeriu a Russa

—Desenho é uma boa, mas não pra fazer o trabalho inteiro, sua mão vai cair. -contrapôs Taina.

—E que tal slide? PowerPoint tá ai pra facilitar a nossa vida, né não ? -Aqualtune sugeriu anotando algo na folha de Tainá com um lápis. -A Kátya  poderia fazer a parte de desenho de um jeito mais explicativo, sabe? A gente colocar alguns textos e junta com os desenhos dela.

—Ai vai ficar igual a qualquer outro trabalho que o pessoal vai fazer, vai ser como Cartaz virtual e vai ficar sem graça.

Após a fala de Tainá as meninas comecariam uma leve discussão que Kátya não conseguia acompanhar muito bem, mas após alguns instantes indecisa a russa começaria a falar.

—Por que não fazemos como em uma repostagem? -perguntou ela.- Estava assistindo TV nsses dias e era um repostagem sobre a imigração Japonesa, tinha entrevistas, desenhos como meio de se explicar e o melhor, nenhuma imagem parrada na tela esperando que algo a ler em voz alta.

Kátya ficou em silêncio por alguns instantes para ver a reação das outras garotas, primeiro ela olhou para Helena que tinha os olhos brilhando em empolgação, depois ela olhou para Aqualtune e logo em seguida para Tainá e ambas tinham uma expressão um pouco confusa no rosto.

—A gente ia precisar de uma edição bem profissa pra dar certo. -falou Aqualtune à loira, mas antes que Kátya pudesse responder Helena deu um pulo de empolgação na sua cadeira.

—Eu faço! -disse ela às outras. -Eu sei editar vídeo muito bem, na verdade sou melhor que muito profissional por ai.

—É verdade -concordou Tainá. -Lembra do vídeo da peça de teatro da "Bruxa da Lua"? Foi a Helena que editou.

Vendo a cara de perdida de Kátya, Tainá comecou a explicar o ocorrido a ela.

—A Bruxa da Lua foi a  peça de teatro desastrosa que aconteceu no meio do  ano passado, onde tudo que podia dar errado aconteceu no dia, tanto que a professora da biblioteca teve que cancelar a peça. -Ela começou a explicar.- Mas a Helena era dos bastidores e tinha gravado todos os ensaios então ela fez umas edições muito loucas e modificou o cenário, ficou muito louco, foi o "A bruxa da Lua" moderno que deu bem certo.

—O vídeo ta no meu canal inclusive, passa lá e se inscreve e deixa seu like.

—Helena para de mendigar -pediu Aqualtune. -Eu era a bruxa do rio e acabei ficando sem nota por que cancelaram a peça.

Tainá revirou os olhos e voltou sua atenção a Kátya.

—A sua ideia está de pé então, vamos fazer a reportagem mais épica que esta cidade já viu, fechou garotas?

—Fechou! -disseram as outras três juntas.

Tainá anotou mais algumas coisas nas folhas de caderno, dividindo o trabalho em três grupos.

• Origem indígena e os primeiros Habitantes.
•A chegada nos Africanos a costa.
•A intervenção Eslava e a queda dos Portugueses.

—_________________________________________

Já era 09h20 e o sinal para o intervalo tinha acabado de tocar para o aborrecimento de Kátya.

—Mano, deveriam jogar esses livros na cabeça das pessoas que escreveram, não tem nada do assunto aqui. -Aqualtune reclamou enquanto fechava o quinto livro de história que ela revirava.

As outras garotas pareciam estar na mesma situação que ela afinal pelas suas caras de desgosto elas também não deveriam ter encontrado nada de útil.

—Aqui tambiem não ter nada.

—Eu dei um Google e também não encontrei nada, só anúncios turísticos e pontos assombrados famosos. -Ralhou Helena enquanto se levantava da cadeira.

Tainá não respondeu a fala das colegas, pois estava procurando algo na mochila.

—Taiana! -chamou Kátya.

A morena ergueu o olhar e encarou as outras.

—Ah foi mau. -se desculpou. - eu também não encontrei nada, mas isso não me surpreende, essa parte da costa é tão esquecida quanto os personagens dos cavaleiros dos zodíaco.

As garotas olharam para Tainá enquanto as três caminhavam para a saída.

—O que? É verdade, a gente é mais esquecido nos livros de historia do que político ao cumprir as promessas após eleição.

Ela respondeu caminhando até Helena que havia parado para esperá-la na porta e quando ela finalmente tinha chegado, as quatro começaram a caminhar até as escadas do pátio, mas quando chegaram no térreo, Kátya percebeu as outras duas caminharem na direção do portão que dava para os fundos da escola, confusa a loira cutucou Aqualtune e apontou para as outras duas.

—Oh! -gritou Aqualtune para as outras duas. - Sêis tão indo aonde?

—Pensei que iamus continue a pesquisa -complementou a loira.

Tainá e Helena se encararam por alguns instantes antes de responder.

—Vamos ao Ginásio. -responderam as duas em uníssono.

—Pra quê?

Tainá olhou as outras duas com uma expressão tediosa no rosto, ela levou as mãos ao cabelo e ergueu as mexas para cima e então as soltou e o natural seria ele voltar para baixo mas o cabelo dela estava tão cheio de sal que ele ficou muito rigido e acabou que ficava na mesma posição que tinha sido colocado.

—Aaaaah.

—Eu deveria ter perguntado antes, mas vocês vão querer vir com a gente? -perguntou Tainá abaixando a mecha.

Foi a vez de Aqualtune e Kátya se encararam.

—Eu não estar com fome e você? -perguntou.

—Eu também não.

Ambas concordaram e voltaram a encarar as outras  duas:

—Vamos. -disseram elas.

As três caminharam juntas para a parte de trás da escola onde havia um muro que saparava o Imperatriz Leopoldina do Ginásio Poliesportivo Daiane dos Santos. Uma parte desse muro era coberta por densos arbustos e trepadeiras que escondiam um buraco baixo que dava acesso a parte de trás do Ginásio, muito bem escondida por mais arbustos, Tainá havia descoberto tal abertura a um bom tempo quando encontrou um filhote de gato por ali numa aula de educação física quando ela fugia de uma bola na Queimada de desde então Tainá vem usando ele para atravessar sempre que precisava usar os banheiros dos vestiários.

—Se o Navarro descobre isso ele surta -brincou Aqualtune rindo enquanto ela engatinhava para passar para o outro lado.

—Ah ele sabe sim -garantiu Tainá. - mas ele só não cobriu o buraco ainda por que não quer.

Kátya encarou Tainá enquanto ela dizia aquilo, vendo que no fundo ela sabia sim o motivo do Navarro não ter coberto o buraco mas que não queria revelar.

—Então vamos logo? -perguntou Helena ajudando Aqualtune a se levantar.

—Bora.

Tainá foi guiando as garotas pelo ginásio, passando pelas quadras até chegar a área das piscinas onde um pequena turminha de crianças e adolescentes faziam aulas com duas instruturas. O grupo passou sorrateiramente pelo lugar até que finalmente elas entraram no vestiario feminino e passaram por  corredor com uma parede de troféus observada atentamente por Kátya  que ficava em frente a uma parede cheia de armários.

Do bolso da blusa, Tainá retirou uma chave e abriu o armario 77, onde se tinha algumas mudas de roupas, chinelos de dedo e é claro, shampoo, condicionador e cremes, ela separou algumas peças, trancou o armário e caminhou para a área dos chuveiros junto as outras garotas que se sentaram nos bancos enquanto Tainá se banhava em um box aleatório.

—Como você tem acesso a isso aqui? -perguntou Aqualtune observando ao redor. -Eu pensava que só o pessoal das equipes de natação tinham acesso a esse lugar.

—Mas eu sou da equipe de natação. -respondeu Tainá falando mais alto que o barulho da água.

—Eu nunca te vi. -afirmou Aqualtune pegando seu celular no bolso da calça.

Helena se acomodou perto do box, sentada em um banquinho de plástico e passou o shampoo para Tainá por debaixo da porta.

—Eu não nado aqui, só treino -afirmou ela. -Eu sou de outra modalidade, natação em águas abertas e também faço parte da equipe de mergulho esportivo.

—É por isso que você ter tanta foto na parrede?

—Que parede, gente?

—A gente acabou de passar por ela -afirmou Helena. -Aquela cheia de troféus e medalhas.

# AqualtuneNovoMemedoPikachu

—Gente eu tô cega. -afirmou ela rindo.

Kátya sorriu e ergueu um pouco a voz

—E por issu que chega atrásada todo a dia? Você treinar toda a manhã?

O cheiro forte do shampoo de babosa e lavanda foi se espelhando pelo ar do vestiario, fazendo as garotas respirarem mais fundo para sentir aquele cheiro bom.

—Bom, podemos dizer que sim...? Na verdade eu vou ver a minha avó todas as manhãs.

—Sua avó mora longe? por que sinceramente você não mora tão longe assim da escola, nenhuma de nós eu acho. - questionou Aqualtune enquanto respondia algumas mensagens no whatsapp.

—Ela mora no Vale da Lua.

Houve um breve momento de silêncio por parte das jovens ali reunidas, Tainá entregou o frasco de shampoo para Helena que lhe entregou o do condicionador.

— A reserva indígena? -perguntou a loira.

—Lá mesmo. -afirmou Tainá. -Eu pego o ônibus toda manhã para subir pra lá.

O cheiro do condicionador foi tomando conta do lugar junto com o silêncio, mas não demorou muito para que Tainá saísse do box enrolada em uma toalha e fosse até os bancos pra começar a se trocar.

—Se você não se importar em responder,por que vai pra lá todos os dias então? Quero dizer, não que você não possa visitar a sua avó, mas por que tão cedo?

As palavras de Aqualtune entraram fundo da cabeça de Tainá a fazendo ficar perdida por alguns momentos antes que ela pudesse finalmente responder.

—Eu pego o ônibus todos os dias pro Vale desde que eu tenho sete anos, eu tinha...eu tenho às vezes fortes enchaquecas que só consigo tranquilizar quando minha avó começou um tratamento natural com ervas e a água da mar, foi lá com a minha avó que eu aprendi a nadar e a mergulhar e desde os meus sete anos minhas dores vem diminuindo e tem cada vez um espaço maior de tempo entre cada crise. -Tainá suspirou quando se sentou no banco para secar os cabelos com uma toalha. -Além disso, a minha avó já não é tão jovem, já deve estar beirando a casa dos setenta anos, já não vai a tantos lugares quanto antes, teve três filhos e três netos, já ajudou a colocar no mundo mais de 100 crianças, não é como se ela fosse viver para sempre, as vezes eu gostaria que fosse assim, mas não é. Ela já nem mergulha mais comigo e a cada dia parece que ela fica mais fraca.

Os olhos de Tainá se encheram de lágrimas por alguns instantes, algo que não passou despercebido por Helena que se sentou ao seu lado e a abraçou.

—É só uma questão de tempo até que ela deixe o mundo físico, então eu pretendo aprender tudo que posso antes que ela se vá.

Houve mais alguns minutos de silêncio entre as garotas, Aqualtune não sabia o que falar e Kátya não era muito boa consolando os outros então ela preferiu se calar, mas vendo que o silêncio não seria desfeito tão facilmente, ela se levantou de onde estava sentada e foi até Tainá pegando o creme de pentear que estava no banco.

—Bom, então isso diz que sua avó te ensinou a ser a campeã que você é hoje em dia, então não fique tão cabisbaixa, aposto que ela deve ter orgulho de ter te ensinado tão bem.

Um esboço de sorriso surgiu no rosto de Tainá e apontou para uma foto que se tinha do outro lado do corredor onde ficava os armários, lá se tinha a foto de Helena e Tainá vestidas com maiôs e com toalhas ao redor dos ombros, Tainá e Helena exibiam um troféu de mergulho e estavam ao lado de uma senhora de pele cor de canela como a dela e de cabelos muito, muito brancos, as duas sorriam orgulhosas para a foto.

—É eu acho que sim, mergulhei quase 10 metros nesse dia. -contou Tainá, deixando que a Russa espalhasse o creme sobre seus cabelos. -A Helena mergulhou um pouco mais mas esqueceu de soltar o balão.

—Ah qual foi? - brigou a castanha. - Eu fiquei atrás de você o tempo todo, nem vem com essa que tu mereceu vencer.

—Uma verdadeira Sereia -comentou Aqualtune entregando a escova de cabelos à Kátya.

A russa concordou com Aqualtune.

—Se estivesse na rua com um cabelo deste tamanho e com essas habilidades todos achariam que eres uma Russalka.

O triu riu, menos Helena que parecia um pouco desconfortavel com o assunto mencionado.

—Então, acho melhor a gente voltar logo, se não o próprio Navarro vai vir nos buscar, lembra da última vez, Tainá? -lembrou Helena já ajeitando as roupas de sal na bolsa de Tainá que já estava perfeitamente vestida.

—Ah minhas deusas, me lembre desse dia não. - Kátya deu alguns passos para trás e Tainá se levantou no banco, seu cabelo já estava perfeitamente escovado. -Nossa ficou muito bom, obrigada.

Katya sorriu.

—De nada.

Assim que Tainá termina de guarda as coisas em sua bolsinha e armario o grupo volta pra área das piscina e são avistadas por uma das instrutoras que ao invés de brigar ela acenou para Tainá e Helena que acenaram devolta e voltaram correndo para a parte da escola.

—Tainá vai se sujar de novo. -lembrou Aqualtune.

—Vou nada -a morena esticou a toalha molhada na terra e atravessou devolta pro Imperatriz Leopoldina e assim as outras garotas também fizeram a tempo de não chegarem atrasadas na sala de aula.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!