Meu querido sonâmbulo 2 escrita por Cellis


Capítulo 34
Meu querido colo


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos nós, depois de praticamente cinco meses de sumiço! Pelo amor, eu não sei nem como pedir desculpas por isso, então vou pedir apenas compreensão. Eu sei que não devia ter deixado essa história (e principalmente vocês, os melhores leitores do mundo) de lado assim, mas eu estava exausta. Eu fui ingênua quando achei que todo esse caos que nós estamos vivendo não afetaria o meu psicológico, porque chegou um momento que tudo isso me afetou sim. Estamos todos exaustos, principalmente de fingir que não estamos. Peço um milhão de desculpas pelo sumiço, mas eu não conseguiria escrever nada no mínimo decente como estava, e é por isso que também peço um pouquinho de compreensão. Eu precisava demais desse tempo só para mim e, agora mais forte e com os pensamentos mais organizados, estou conseguindo voltar aqui aos poucos!
E não pensem que eu não morri de saudades, porque todo dia eu morria um pouquinho. Vocês me ajudam demais a me manter firme e forte, sério! Espero que estejam todos bem e saudáveis, de verdade.
Enfim, vamos para o capítulo! Sei que já faz muito tempo e talvez vocês não lembrem direito do que tem acontecido na história, desculpa, a culpa é toda minha por isso kkkkkkk. Mas eu preparei esse capítulo com todo o carinho do mundo, então espero que esteja a altura do que vocês tanto esperaram!
Aos poucos, estamos caminhando para o final da história. Mas tudo tem seu tempo, então bora lá para esse capítulo primeiro!

Boa leitura.



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Quarenta e cinco minutos.  

Já haviam se passado exatos quarenta e cinco minutos desde que polícia viera ao hospital, fizera toda aquela cena e, finalmente, Lee Jihoon tinha conseguido o que tanto queria: pôr suas mãos ardilosas em Kim Namjoon, em quem ele provavelmente descontaria todas as suas frustrações e raiva envolvendo aquele maldito caso — na verdade, àquela altura do campeonato, os dois já deveriam estar alcançando o principal tribunal de Seul, onde seria hospedado o julgamento de Namjoon a partir daquele dia. Contudo, sendo sincero consigo mesmo, Taehyung já não mais se importava nem um pouco com aquilo, porque aqueles quarenta e cinco minutos tinham passado como o inferno de tão lentos para ele. O jovem, agora um ex—policial, criara expectativas altas e, talvez, irreais demais quando ouviu de Namjoon palavras positivas sobre o estado de sua irmã; as primeiras que ele tinha escutado desde que a terapeuta do sono fora internada, inconsciente.  

“Ela está lutando.” 

Ao ouvir aquilo, Taehyung não tinha mais olhos ou ouvidos para mais nada e nem ninguém, muito menos para aquele circo que Jihoon havia montado no hospital para apreender Namjoon. Correu para dentro do quarto da irmã enquanto ignorava toda a movimentação que ainda ocorria do lado de fora, mas acabou por encontrá-la exatamente como estava quando o Kim mais novo a deixara — inconsciente

As bochechas da Kim, as quais costumavam estar sempre mais bronzeadas ou coradas de sol por conta das caminhadas matinais que Shinhye tinha o costume de dar — pelo menos antes de toda aquela confusão envolvendo Namjoon começar a tomar grande parte do seu tempo e energia — estavam pálidas e sem vida. Os lábios também, esses tinham perdido seu típico tom rosado e, agora, chegavam a racharem de tão secos. A passos lentos e um tanto acanhados, Taehyung se aproximou da irmã mais velha, que ainda dormia imóvel sobre aquela cama indiferente de hospital, e sentiu uma tristeza repentina lhe alcançar e arrancar do seu ser toda aquela esperança momentânea que tinha brotado dentro de si há poucos instantes. 

Era desumano o quanto a sua fé, que já não era muita, tinha sucumbido com a mesma velocidade com a qual Namjoon a instigara. 

— Ele disse que você estava lutando... — murmurou e, assim como Namjoon tinha feito há pouco, segurou com cuidado a mão direita da irmã por entre as suas. Ela estava gelada, o que fez com que Taehyung instintivamente tentasse aquecê-la. — Noona, você pode lutar por mim também? 

A voz falha tinha um tom infantil, como uma criança que pede aos pais para não ser deixada para trás no seu primeiro dia de aula no colégio, sozinha em um ambiente desconhecido. Taehyung não gostava de ser assim, mas, ao mesmo tempo, estava cansado de tudo aquilo, inclusive da imagem dura e inabalável que tinha construído ao seu redor — afinal de contas, para onde exatamente aquilo tinha o levado? Inconscientemente, ele esperou que Shinhye fosse demonstrar o menor sinal de vida possível através dos seus dedos longos e gélidos. Um momento interminável se passou, mas sua irmã não segurou de volta a sua mão. Nenhum resquício de aperto ou movimento, nada que denunciasse que ela estivesse realmente ali, o ouvindo.  

Ainda assim, o Kim mais novo permaneceu ao seu lado, lutando para que ela, por sua vez, pudesse fazer o mesmo; porém, em dado momento, o cansaço físico também começou a lhe alcançar. Não se lembrava da última vez que tinha dormido mais do que duas horas em uma noite — talvez isso tivesse acontecido em algum momento até mesmo antes daquele dia no parque de diversões, mas ele realmente não se lembrava do quando. E não pretendia fazê-lo até que sua irmã acordasse, por isso, Taehyung se obrigou a soltar a mão da mais velha por um momento em busca da máquina de café que ficava no final do corredor, felizmente naquele mesmo andar.  

— Eu já volto. — sussurrou calmamente enquanto fitava Shinhye por cima do ombro, já com a mão na maçaneta da porta do quarto.  

E, assim, ele caminhou até o maquinário no fim do corredor, o qual felizmente estava vazio. Com movimentos bastante robotizados e sem vida, o Kim inseriu uma moeda na parte superior da máquina, escolheu o tipo de café que queria — o mais forte e amargo possível — e esperou alguns segundos para que o mesmo ficasse pronto. Uma ação rápida e um tanto mundana, algo que ele tinha o costume de fazer na própria delegacia onde trabalhava, mas que resultou na pior passagem de tempo daqueles últimos quarenta e cinco minutos.  

De repente, o silêncio daquele corredor de hospital, ainda mais por se tratar de uma ala que abrigava pacientes em estado grave de saúde, foi interrompido pela correria de uma enfermeira, a qual logo mais veio acompanhada por mais uma e, ainda, um par de médicos; todos apressados e nitidamente apreensivos. Os quatro passaram correndo por Taehyung e os ouvidos atentos do rapaz captaram vários termos médicos desconexos para si, até que uma única frase solta no ar fez mais sentido do que deveria para o Kim e sua laicidade médica: a paciente com um coágulo no cérebro. Não havia um contexto claro ou maiores explicações, mas aquelas palavras, unidas ao fato de que aquelas pessoas de branco tinham sumido do seu campo de visão justamente ao tomar a curva que dava para o quarto de Shinhye, atingiram Taehyung feito a bala que ele tinha disparado e acertado em Yoongi. 

O pequeno copo de café recém-preparado foi ao chão, esparramando o líquido escuro e extremamente quente pelo piso branco típico de um hospital. O dono da bebida, por sua vez, correu tão rápido que mal conseguia sentir seus pés tocando o solo sob si, o que assustou as poucas pessoas que estavam ao seu redor — era relativamente normal ver médicos e enfermeiros correndo por aquele andar, mas nem tanto quanto se tratava de pessoas comuns. 

Taehyung não era, de modo algum, uma pessoa religiosa, mas usou daqueles curtos segundos que o separavam da irmã para rezar para que não encontrasse, de fato, a cena que sua mente ansiosa já estava formando dentro de si.  

O que, obviamente, não aconteceu. 

A porta do quarto de Kim Shinhye estava escancarada, diferente de como Taehyung havia a deixado. De dentro do cômodo, antes de sequer adentrar no mesmo, o Kim mais novo ouvia vozes altas, sérias e emboladas umas nas outras, como se as pessoas que estivessem lá dentro corressem contra o tempo. Ofegante — não pela curta corrida, mas sim pelo desespero — ele parou sob a soleira da porta e automaticamente se deparou com a equipe médica que tinha acabado de passar apressada por ele, com adição de mais uma enfermeira, a qual já estava no quarto antes e quem tinha solicitado a ajuda médica. Porém, acima de todo aquele cenário aterrorizante para o Kim, estava o barulho ensurdecedor de um dos aparelhos ligados ao corpo imóvel de Shinhye. O mesmo emitia um som alto e constante, exatamente como o par de linhas retas que estavam sendo exibidas no seu monitor. Infelizmente, Taehyung já tinha atendido a chamadas emergenciais demais pelas ruas de Seul para não saber o que aquilo significava. 

Uma parada cardíaca. 

— Noona! — seu corpo finalmente despertou do estado de choque inicial e ele gritou, já avançando para dentro do quarto.  

Contudo, ao notar a sua presença, uma das enfermeiras veio para contê-lo e afastá-lo da equipe médica, que precisava manter sua total atenção no caso gravíssimo de Shinhye.  

— Senhor, por favor, o senhor precisa se afastar. Os sinais vitais da paciente estão em queda e os médicos precisam... 

— É a minha irmã naquela cama! Como você pode me pedir para me afastar da minha irmã?! — o Kim mais novo gritou a plenos pulmões. De algum modo, aquela enfermeira franzina conseguia segurá-lo em seu lugar, apesar de não conseguir controlar em nada o seu temperamento desesperado. — Noona! 

— Senhor, por favor! Você precisa nos ajudar a salvar a vida da sua irmã. — a mulher disse num tom de voz que misturava firmeza e, ao mesmo tempo, algum tipo de súplica, o que automaticamente inibiu os movimentos bruscos e descontrolados de Taehyung. 

O homem parou, seus ombros caíram e seus sentidos ficaram turvos por um momento. O barulho das batidas descompensadas do seu coração se misturava com aquele zumbido maldito do aparelho de monitoramento cardíaco e, com a respiração pesada, ele sentiu seus olhos arderem e começarem a ser tomados por lágrimas. Deu um passo para trás, perdendo o equilíbrio por um momento.  

— Por favor, lute. — sussurrou com a voz cortada e quase inaudível. — Não lute pelo Namjoon, não lute por mim... Lute por você também, noona

Taehyung já não conseguia enxergar muito à sua frente devido à visão embaçada pelas lágrimas, mas ainda conseguiu ver um dos médicos se aproximando de sua irmã com um aparelho de ressuscitação cardíaca, o desfibrilador. O procedimento padrão foi adotado, as pás conectadas ao corpo imóvel da terapeuta e o restante da equipe médica foi afastada de si por causa da corrente elétrica. Tentando reverter aquele quadro de parada cardíaca, houve a primeira descarga, alguns segundos de observação e, logo em seguida, a constatação de que nenhum efeito tinha sido surtido. Assim, assistindo àquela dança tenebrosa entre massagens cardíacas e um par de descargas elétricas, o Kim se obrigava a não perder de vez suas forças — e seu resquício de esperanças também.  

Shinhye não merecida nada sequer próximo daquilo. Por um momento de nervoso extremo, a mente de Taehyung viajou o suficiente — numa tentativa um tanto inútil de tirá-lo dali — para pensar o quanto a irmã mais velha odiaria morrer daquele jeito. Ela sempre dizia que, se fosse para morrer, que caísse dura de uma só vez no chão, pois ter que sofrer antes de fazê-lo seria o fim da picada; literalmente, no caso. Portanto, ela não podia morrer daquele jeito, tanto por ele quanto por si própria. 

Foi quando que, contrariando às expectativas da equipe médica, a qual já tinha chegado ao último choque possível que um ser humano aguentaria naquelas condições, o peito de Shinhye se inflou e ela acordou num movimento bastante brusco em busca, apenas, de ar. Tentando captar para si todo o oxigênio possível naquele ambiente, ela emitiu um som chiado e desesperador, o que assustou a todos os presentes, inclusive o próprio Taehyung. Era como se a Kim estivesse se recuperando de um afogamento, e os olhos arregalados davam ainda mais vida aquele cenário. Toda a equipe médica se espantou, pois ninguém realmente esperava que Shinhye pudesse voltar à vida e especialmente daquele modo tão abrupto, porém, felizmente, todos foram rápidos o suficiente para realizar os procedimentos necessários para mantê-la assim, respirando e aparentemente consciente.  

Taehyung piscou um par de vezes, sem realmente acreditar no que via. Sentia uma mistura caótica de sentimentos conforme aqueles profissionais de saúde cutucavam sua irmã daqui e faziam outros procedimentos e coletas dali. Surpresa, choque... felicidade. Como num passe de mágica, suas lágrimas desesperadas haviam se tornado lágrimas de alívio e alegria genuína, tão pura como nunca havia sentido antes em todos os seus anos de vida.  

Sua irmã estava viva e acordada. 

Contudo, as pernas do Kim mais novo ainda se recusavam a se mover diante daquela situação. No meio de todos aqueles sentimentos, estava o pânico em nada daquilo ser real. Talvez, se ele desse um passo adiante, aquele sonho se desmanchasse e ele acabasse acordando recostado naquela poltrona desconfortável e fria do hospital; isso depois de ter, mais uma vez, cochilado ao lado do corpo imóvel de Shinhye. Sua respiração estava acelerada. Sua irmã mais velha estava ali, bem diante de si e com os olhos castanhos e arredondados abertos, mas Taehyung estava com medo de ir até ela. O pavor em perdê-la era tanto e tinha se acumulado de tal maneira ao longo daqueles dias que, de repente, o Kim mais novo duvidou se o que via era, de fato, a realidade — se Shinhye realmente tinha acordado como parecia. Poderia parecer bobagem para qualquer um que visse a situação de fora, mas Taehyung estava preso naquele misto desorientado de sentimentos, sendo que não havia sequer um único no meio com o qual ele sabia realmente lidar. 

Foi nesse momento que, enquanto uma enfermeira retirava o balão de oxigênio de Shinhye após se certificar duplamente de que ela estava, de fato, conseguindo respirar bem sem a ajuda do mesmo, que a cabeça da Kim mais velha pendeu gentilmente para o lado no travesseiro. Pela primeira vez em todos aqueles dias, horas e minutos agonizantes, os olhares dos irmãos finalmente se cruzaram. Os olhos de Taehyung estavam fundos, abalados pelo cansaço e pela indecisão, mas ainda assim demonstravam um brilho tímido de felicidade ao fundo. Enquanto isso, os de Shinhye estavam escuros e um pouco dormentes por terem ficado tanto tempo fechados, mas havia um alívio inconfundível refletido nos mesmos: os de não ter deixado Taehyung sozinho.  Quando um dos médicos terminou a verificação dos seus sinais vitais e se pôs a discutir o caso da paciente com o outro médico presente no quarto, Shinhye aproveitou a brecha para colocar em teste a habilidade do irmão em fazer leitura labial — em silêncio, ela disse: 

“Obrigada por não me deixar desistir de lutar.” 

E ainda, para finalizar, mesmo cansada e nitidamente fraca, Kim Shinhye sorriu para o irmão. A aparência de Taehyung era tão péssima quanto a dela, já que ele tinha os ombros caídos e a face inchada pelo choro recente, mas nada daquilo o impediu de sorrir de volta. Ele estava muito mais aliviado em saber que, ao menos, sua irmã tinha o escutado durante todo aquele tempo. Ela realmente estava ali, viva e acordada.  

Ela sempre estivera ali. 

“Obrigado por ter lutado.” 

Ele devolveu em silêncio, aproveitando que os dois tinham aprendido a técnica de leitura labial juntos na academia de polícia.  

E aquele diálogo silencioso, porém igualmente significativo, era tudo que os irmãos Kim precisavam naquele momento. 

 

*** 

 

— Já que você não me ouve, você pode, por favor, respeitar as ordens do médico? — o Kim mais novo resmungou pela enésima vez. Ainda assim, mesmo contrariado, ele ajeitava os travesseiros da irmã conforme ela se sentava na cama. — Ele disse que você precisa de repouso absoluto, noona. 

— Repouso? — Shinhye questionou e ergueu uma sobrancelha. — Não foi isso tudo o que eu fiz nos últimos dois dias? Repousar

Pois Kim Shinhye já estava mais do que ótima de saúde dada a volta da sua habilidade de rebater aos outros — inclusive, se dependesse somente daquilo para receber a sua alta hospitalar, ela já estaria até em casa naquele momento. Já fazia algumas horas que a Kim mais velha tinha acordado. Apesar da maneira brusca como o tinha feito, ainda estava um pouco desnorteada e enfraquecida logo após o fazê-lo. Assim, os médicos conversaram com ela, explicaram sobre o seu estado de saúde e, logo após, a levaram para uma bateria completa de exames. Ela também já tinha se alimentado — de sopa, no caso, já que as comidas sólidas voltariam aos poucos a fazerem parte da sua dieta — e, agora, estava sob os cuidados do irmão mais novo enquanto ambos esperavam pelos resultados dos seus exames. Os dois ainda não tinham tido, de fato, algum tempo a sós para conversar, mas não era como se Taehyung estivesse preocupado com aquilo naquele momento. Sua irmã estava bem ali diante de si e já tinha até mesmo resmungado, o que comprovava que nada daquilo era um sonho.  

De repente, toda a angústia dos últimos dias tinha valido a pena e agora podia se dissipar pelo ar, deixando-o em paz para cuidar da irmã mais velha como ela merecia e, naquele momento, precisava

— Então... — ela iniciou e o fitou, séria. — Você vai fazer a caridade de explicar para esta recém-acordada de um coma como tudo aconteceu até que eu viesse parar aqui?  

Apesar de não ser para Taehyung, aquela conversa era de extrema importância para Shinhye. Suas memórias ainda estavam um pouco confusas e ela não teria nenhum resquício de paz até entender por completo tudo o que tinha acontecido e o que, de fato, estava acontecendo naquele momento; e Taehyung sabia muito bem disso. Por isso, mesmo achando que aquela ainda não era a melhor hora para que Shinhye revivesse todos aqueles momentos de horror, ele sabia que o melhor para ela seria que ele apenas lhe dissesse o que ela queria saber. Sem mentiras, sem omissões; depois de tudo o que enfrentara sozinha e de ter sobrevivido, sua irmã merecia a verdade. 

— Desde que parte? — o Kim mais novo perguntou de forma simples, o que pegou a irmã de surpresa. Shinhye não esperava que ele fosse ser tão cooperativo, mas agradeceu internamente pelo irmão apenas entendê-la daquele modo.  

Assim, a terapeuta precisou forçar um pouco a memória para tentar reorganizar os últimos acontecimentos dos quais se lembrava. Havia uma faixa enorme ao redor da sua cabeça que, dando algumas voltas na mesma, protegia o machucado inchado que havia se formado após o choque contra um pedregulho. Uma enfermeira lhe dissera que um coágulo de sangue havia se formado dentro da sua cabeça devido à pancada e, de fato, ela sentia que uma região específica latejava de dor vez ou outra. 

— O Namjoon realmente não matou ninguém. Pelo contrário, ele tentou trazer de volta à vida tanto o Hoseok quanto o Seokjin. — foi a primeira coisa da qual Shinhye se lembrou daquela noite no parque de diversões. De repente, seu coração diminuiu pela metade de tamanho. Ela precisava saber onde estava Namjoon e, principalmente, como ele estava, mas tinha decidido levar aquela conversa com o irmão na velocidade e cautela que a mesma demandava. Tanto ela quanto Taehyung mereciam aquele momento. — O Yoongi achou que eu não ia sair viva daquele parque, então ele acabou me contando toda a verdade.  

De repente, pensando consigo mesmo, Taehyung se questionou se não deveria ter atirado em algum ponto mais vital do Min.  

Sacudiu a cabeça e voltou-se para a irmã.  

— Até onde você se lembra? — perguntou, calmo.  

Shinhye forçou a memória mais uma vez.  

— Eu cheguei no parque e encontrei o Namjoon, mas ele estava dormindo. Esse tempo todo, o Yoongi usava de hipnose para controlá-lo enquanto ele estava, na verdade, dopado. — a revelação fez com que Taehyung franzisse o cenho, completamente confuso diante daquelas informações. Porém, ele apenas se manteve em silêncio por um momento e esperou que a irmã continuasse. — De algum modo, nós acabamos nos envolvendo em uma luta corporal. Eu derrubei o Yoongi primeiro, mas acabei me descuidando por alguns segundos e ele se aproveitou disso para me atingir. Ele me deu... uma rasteira

A pergunta de Shinhye era genuína, já que daquele momento em diante as suas memórias não lhe pareciam muito confiáveis. Ela sabia o que tinha escutado da boca do próprio Min Yoongi, mas alguns momentos ainda estavam confusos demais em sua cabeça. Ela só se lembrava de uma dor intensa, da visão turva e de um líquido quente tomando-lhe o pescoço.  

— Aparentemente, você caiu e bateu a cabeça em uma pedra. E a pancada foi séria. — o Kim mais novo reforçou.  

— Espera. — Shinhye o interrompeu, parecendo se lembrar de algo importante. — Eu ouvi um tiro! Sim, eu ouvi um tiro naquela noite... Por acaso foi você que...  

— Eu atirei no Yoongi. — Taehyung respondeu, sem nenhuma cerimônia. Respirou fundo. — Um único tiro no ombro. E, sendo sincero, eu estou começando a me arrepender de ter atirado só no ombro dele. 

— Mas e você? — a mais velha questionou, preocupada. — A corregedoria não deve ter gostado nada de saber disso.  

Mais uma vez, Taehyung puxou uma quantidade de ar considerável para dentro dos seus pulmões. Depois de ponderar sobre a situação, tomou uma decisão.  

— Nós podemos falar sobre isso depois? — ainda não era a hora de sua irmã saber sobre a sua renúncia. — Era a vida da minha irmã que estava em perigo naquele momento e não tem corregedoria nenhuma nesse mundo capaz de me impedir de fazer o que eu fiz.  

De repente, aquelas palavras fizeram Shinhye perceber que ela ainda não tinha feito algo de extrema importância desde que acordara. Em silêncio, a Kim mais velha se ajeitou na cama e se aproximou do irmão, erguendo o braço na sua direção e tocando gentilmente o seu rosto. Ele estava sentado junto dela na cama, o que facilitou a ação. Tanto o seu olhar quanto o carinho que ela depositava na bochecha do irmão eram extremamente calmos e ternos, como as ações de uma mãe zelosa.  

— Obrigada. — ela disse, fitando-o. — Eu deveria ter dito isso muito antes, talvez anos mais cedo, mas eu sou realmente grata em ter você ao meu lado, Kim Taehyung.  

Taehyung não estava acostumado com aquele tipo de intimidade com a irmã — na verdade, nem se lembrava de quando tinha sido a última vez na qual os dois tinham se abraçado, por exemplo — mas aquele carinho tinha sido a coisa mais reconfortante que lhe acontecera nos últimos anos. O Kim mais novo não tinha nenhuma memória de sua mãe e aquelas com o seu pai não eram das mais agradáveis, por isso, a única pessoa que ainda era capaz de lhe despertas sentimentos tranquilos e ternos como os que sentia naquele momento era a sua irmã. Seus olhos marejaram, o que ele tentou esconder com uma atitude impulsiva, mas que espelhava um desejo que ele tinha guardado dentro de si há muito tempo: enterrando a cabeça no colo da irmã mais velha

Shinhye se surpreendeu com a ação, mas não se moveu. O abraço apertado à sua cintura a fez lembrar de quando Taehyung era apenas uma criança chorona e que, vez ou outra, vinha correndo para o seu colo quando arrumava problemas na rua ou sentia saudades da mãe que muito mal conhecera. Assim, ela levou a mão que estava ligada a uma bolsa de soro até os cabelos compridos dele e os acariciou, sorrindo.  

Tinha lutado por ele. Estava viva por causa dele. 

De repente, Taehyung fungou como quem queria se recompor, mas não se moveu. Estava disposto a aproveitar a irmã um pouco mais e assim o faria. Ainda abraçado ao colo dela, ele questionou: 

— Você não vai me perguntar o que aconteceu com o Namjoon?  


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Deu para lembrar de tudo ou vocês tiveram que voltar alguns capítulos para passar ódio de novo? Me contem kkkkkk.
Esse momento dos irmãos Kim foi muito especial de escrever para mim, então espero de verdade que vocês tenham gostado. E perdoem mais uma vez o meu sumiço, por favor!
Prometo voltar assim que conseguir. Custe o que custar, nós vamos até o final dessa história juntos!

Até breve ♥



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