Meu querido sonâmbulo 2 escrita por Cellis


Capítulo 29
Meu querido egoísmo


Notas iniciais do capítulo

Demorei (um pouquinho só, né?) e ainda cheguei com um capítulo que eu tenho certeza que vai fazer alguns de vocês quererem me atirar pedras, no mínimo kkkkkkkkkkk.

Boa leitura!



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13:22 p.m. - Exatos vinte e um minutos antes da mensagem enviada do celular descartável de Kim Namjoon diretamente para Kim Taehyung. 

 

Namjoon estava cansado de andar e as suas pernas já lhe imploravam por algum descanso — afinal, para quem já tinha vivido a aventura naquele mesmo dia de ter que fugir da polícia numa rodovia afastada da cidade e tudo mais, o Kim tinha lá os seus motivos para se sentir exausto — porém, caminhar com as suas próprias pernas era a única opção naquele momento, já que ele corria o sério risco de acabar sendo reconhecido em qualquer outro tipo de meio de transporte. Yoongi ia na frente, ambos sempre andando a passos apressados, de cabeça baixa e trocando pouquíssimas palavras em alguns momentos específicos e necessários, até que o Min começou a se afastar cada vez mais da região central da cidade. Os pedestres ao redor dos dois foram se tornando cada vez mais escassos e, com o passar do tempo, os carros também. O barulho da típica agitação de Seul foi ficando para trás, assim como o asfalto e o calçamento sob os pés de Namjoon. 

Ele queria perguntar, mas, normalmente, o Kim Namjoon que Yoongi conhecia e de quem jamais desconfiaria, não perguntaria. O fugitivo da polícia era — ou costumava ser, pelo menos — o tipo de pessoa que não questionava aquelas pessoas nas quais depositava a sua confiança, sendo o Min, obviamente, uma delas. Por isso, se não tivesse bastante cuidado e acabasse fazendo alguma pergunta ou tomasse uma atitude estupidamente atípica, com certeza atrairia a desconfiança de Yoongi; e foi com esse pensamento em mente que ele se manteve calado, mesmo que não tivesse a menor ideia de para aonde estava sendo guiado. 

Até que, debaixo do sol quente e rodeado por um barulho muito longínquo do que soava como uma estação de trem, Namjoon avistou diante de si um parque de diversões abandonado. Nunca tinha visitado um lugar como aquele antes e, ao se deparar com o estado deplorável do mesmo, se surpreendeu por existir um ambiente como aquele tão próximo da desenvolvida e tecnológica Seul — aquilo o fazia lembrar do parque Okpo Land, o qual não se lembrava se já havia visitado antes, mas que sabia da existência através de artigos na internet e contos populares de terror e que, hoje, era conhecido mundialmente pela sua má fama e aparência bizarra. No letreiro de ferro enferrujado e retorcido pelo passar dos anos e que, antigamente, deveria brilhar para dar as boas-vindas aos entusiasmados visitantes do parque, estava escrito o nome The Magic Land; um contraste um tanto irônico com a aparência do local. Não se tratava de nada muito grande, não possuindo muitos brinquedos além de uma pequena montanha-russa de madeira — a qual já havia perdido algumas tábuas — um carrossel quebrado, um suporte com grandes xícaras giratórias e uma casa mal-assombrada. Haviam mais alguns outros, alguns já não mais identificáveis, mas alguns também tinham sido retirados e vendidos para parques vizinhos depois da falência do lugar. 

— Você nem lembra desse lugar, não é? — Yoongi foi o primeiro a quebrar o silêncio, diminuindo o passo e passando a caminhar de forma mais relaxada conforme adentrava o parque. — Nós costumávamos vir aqui quase todas as sextas-feiras depois da aula, pelo menos antes do seu acidente. 

— Como? — Namjoon questionou, realmente confuso. — Digo, aqui parece ser um pouco longe de Daegu. 

O Kim só estava, na verdade, tentando parecer o mais natural possível para Yoongi. Ele realmente estava curioso sobre ter estado ali ou não no seu passado, mas aquilo não importava realmente naquele momento. 

— Você consegue ouvir os barulhos de trem? — o Min indagou e olhou ao redor dos dois, mesmo que não fosse possível enxergar nada além de uma rua deserta e uma floresta densa que havia crescido do outro lado do parque depois do seu abandono. — Era assim que a gente vinha. As linhas são um pouco escassas hoje, mas, antigamente, saía um trem de Daegu com destino a essa estação aqui do lado a cada meia hora. 

— Parece divertido. — o Kim comentou por alto, sem realmente querer dizer aquilo. — É uma pena que eu não consigo me lembrar. 

— Não, Namjoon. Não é uma pena. — o mais velho negou com firmeza e, só então, parou de caminhar e se virou para trás, na direção de Namjoon. — O que aconteceu com você foi um crime.  

Naquele momento, Yoongi parecia envolto por uma áurea negra de ódio; a qual, por algum motivo, Namjoon parecia cego demais antigamente para enxergar, por mais que a mesma sempre estivesse por ali. Ainda assim, ele precisava continuar se fazendo de desentendido se quisesse seguir com o seu plano sem falhas. 

— Eu sei. — rebateu, também sério. Porém, logo em seguida, deixou os ombros caírem num falso ato de conformação. — Mas é que como o motorista fugiu e nunca foi identificado, eu... 

— Não é que ele não tenha sido identificado. Eles foram. — o Min foi rápido em interrompê-lo. Respirou fundo e deu um par de passos na direção do Kim, parecendo realmente estar tendo dificuldades de contar aquilo. — Desculpe, Namjoon-ah, mas a sua família mentiu para você todo esse tempo. Eu não queria fazer isso, mas eles acharam que seria melhor e... Bem, agora você precisa saber de toda a verdade. 

— Como assim? Que verdade? — Namjoon fingiu surpresa e um princípio de abalo emocional. — Espera... Isso tem alguma coisa a ver com os assassinatos dos quais eu estou sendo acusado? 

Aquela era a deixa perfeita. Se Namjoon conseguisse convencer Yoongi a contar tudo aquilo que ele estava chamando de verdade, incluindo sobre os assassinatos de Kim Seokjin e Jung Hoseok e como tinha os tinha planejado, o ataque ao juiz Song e a escolha da sua próxima vítima, o Kim passaria todas aquelas informações para Taehyung o mais rápido possível e, assim, aquele seria o fim dos dias de perversidade do Min. Era a sua chance de ouro e, por isso, o sonâmbulo tratou de agarrá-la com unhas e dentes. 

Ou, pelo menos, era o que ele achava. 

Por um breve momento, Yoongi permaneceu em silêncio e apenas pendeu a cabeça para o seu lado direito, mas logo se endireitou e voltou a encarar Namjoon com o seu típico olhar cansado e postura caída. Contou absolutamente tudo para o Kim — ou, pelo menos, tudo o que pertencia ao seu ponto de vista dos acontecimentos. Revelou a Namjoon sobre o bullying que ambos costumavam sofrer na escola, apontou os dois responsáveis por isso, o que tinham feito e como haviam se safado facilmente ilesos da culpa pelo atropelamento do Kim. De fato, a grande maioria da sua história batia com o que Shinhye já tinha contado ao sonâmbulo, porém, havia todo um sentimento de ódio e rancor provindos do Min que dava um tom diferente a tudo aquilo; como se Yoongi tivesse sido obrigado a fazer o que fez.  

Mesmo que já soubesse de tudo, Namjoon não conseguia evitar de se sentir completamente perplexo conforme Yoongi prosseguia com os seus discursos e explicações. Talvez, até então, uma pequena e inocente parte do Kim se recusasse a acreditar que o seu único amigo fosse realmente capaz de cometer todas aquelas atrocidades que Shinhye relatara, mas essa mesma parte de si estava sendo completamente esmagada e desacreditada naquele momento. Min Yoongi, o seu melhor amigo, a pessoa com quem tinha dividido o mesmo teto durante anos e a mesma que os seus pais tinham acolhido com tanto carinho, era um assassino frio e que não demonstrava nenhum tipo de remorso pelo o que tinha feito — pelo contrário: parecia extremamente disposto a continuar, por mais arriscado que aquilo pudesse ser para si próprio. Contou tudo para Namjoon com certa naturalidade, mas ainda lhe faltava um detalhe pequeno, porém igualmente crucial. 

— Então... foi você quem fez tudo daquilo do que estão me acusando? Você realmente matou e tentou matar aquelas pessoas? — o Kim indagou num misto do seu choque de realidade verdadeiro com um falso espanto ao saber das ações do amigo. — Mas... e eu? Como eu fui parar nas cenas do crime?  

Yoongi respirou fundo e fitou o Kim, permanecendo em silêncio por alguns segundos. Em seguida, se endireitou de pé — pois tinha se sentado no que sobrara de um banco de madeira ao lado do carrossel — parecendo tranquilo demais para quem estava sendo questionado sobre aquele tipo de coisa. 

— Você parece com fome. — comentou. — Eu passei os últimos dias aqui, evitando ao máximo de voltar para casa, então tenho lámen e mais alguns mantimentos guardados na casa mal-assombrada. Eu vou trazer alguma coisa para a gente comer e depois explico o restante da história, está bem?  

— Eu posso ir com você, hyung. — Namjoon se prontificou, porém, logo foi impedido pelo Min.  

O mais velho riu de canto de uma forma um tanto irônica.  

— Essas casas mal-assombradas não são para alguém como você, Namjoon-ah. — disse, parecendo relaxado. — Espere aqui, eu volto logo.  

Assim, Namjoon se viu prestes a ficar sozinho e aquela seria a oportunidade perfeita para entrar em contato com Taehyung, porém, ele não tinha exatamente o que contar. 

— Espera. — o Kim deu um passo para frente de um modo um pouco impulsivo, se recompondo logo em seguida. — Nós vamos passar a noite aqui?  

Ao ouvir aquilo, o sorrisinho de canto e irônico de Yoongi transformou-se em um enorme sorriso obscuro, o que imediatamente provocou um arrepio assustado em Namjoon. 

— Não, nós temos um programa melhor para essa noite. — o mais velho respondeu de forma macabra, combinando perfeitamente com o ambiente que os rodeava. — Sabe o promotor que tentou colocar você atrás das grades?  

— Lee Jihoon? — o Kim questionou e o outro fez que sim com a cabeça. — O que tem ele? 

— Eu só precisei de uma única noite para descobrir onde ele mora, acredita? — riu. — E hoje à noite nós vamos até lá acertar as contas com ele. 

Depois disso, nada mais foi dito e Yoongi deixou para trás um Namjoon cada vez mais em choque, indo em direção à casa mal-assombrada que era a última atração do parque. Contudo, mesmo surpreso, o Kim só esperou que Yoongi sumisse do seu campo de visão para sacar do bolso interno do casaco o celular que Taehyung havia lhe dado, só então ligando o mesmo. Com pressa, ele foi até um dos únicos dois números salvos na lista de contatos e digitou a mensagem que o Kim mais novo tanto esperava do outro lado da linha. 

[13:43 p.m.] KN: A próxima pessoa que o Yoongi pretende atacar é o Promotor Lee. Ele vai segui-lo até em casa hoje à noite. 

A resposta demorou um par de minutos para chegar, porém, veio simples e direta. 

[13:45 p.m.] KT: Ótimo. Continue me mantendo informado. 

Um pouco nervoso diante de toda aquela situação e tendo que deixar o seu lado pacato e conformado de lado, o Kim se perguntava o que deveria fazer daquele momento em diante. Como poderia ajudar ainda mais? Bem, ao menos, ele estava fingindo bem e Yoongi parecia disposto a lhe contar o restante da história; o que, inclusive, era o que Namjoon mais queria saber naquele momento. 

Como diabos Yoongi tinha o feito chegar até as cenas dos crimes? 

O Kim apertou o celular com as mãos, o suficiente para que as pontas dos seus dedos ficassem brancas pela falta de circulação.  

— Shinhye...  

O nome escapou pelos seus lábios de uma forma um tanto surpresa, como se ele finalmente tivesse se dado conta de algo: deveria avisá-la? Taehyung tinha sido bastante específico ao proibi-lo de entrar em contato com a irmã mais velha, afinal, estava nítido como ela precisava de um descanso na última vez que os dois tinham se encontrado — contudo, ainda assim, o Kim não conseguia evitar que uma enorme vontade de, ao menos, saber como ela estava naquele momento não tomasse conta de si.  

Fitou a tela apagada do celular. 

— Desculpe, Taehyung. — murmurou de forma um tanto culpada. 

Ele desbloqueou a tela do aparelho com um único toque, processo esse facilitado pela falta de senha do celular, e logo abriu uma aba de mensagens cujo destinatário era o outro contato restante da sua lista: o número de Kim Shinhye.  

— Namjoon-ah!  

Ao ouvir o seu nome sendo chamado de longe, Namjoon se assustou e, automaticamente, escondeu de volta no casaco o tal celular. Quando ergueu a cabeça novamente, viu a figura de Yoongi vindo de longe na sua direção segurando dois potes, ambos com uma fumaça quente saindo dos mesmos. Os recipientes em si estavam tão quentes quanto, mas as mãos sempre gélidas do Min não se importavam com isso e ele andava sem pressa, até que finalmente alcançou Namjoon e lhe entregou um dos recipientes com lámen recém-preparado dentro.  

— Obrigado. — o Kim agradeceu um tanto desconfortável, ainda se perguntando se Yoongi, de algum modo, poderia tê-lo visto segurando o celular. 

Contudo, o Min se sentou de forma relaxada no mesmo banco de antes ao lado do carrossel e, parecendo entretido com o que fazia, começou a assoprar a tigela com macarrão dentro. Comeu a primeira porção sem sinalizar nada. Quando o viu fazer aquilo, o Kim soltou o ar que estava prendendo até então nos pulmões e, só então, voltou sua atenção para a sua própria comida. 

Comeu, também, a sua primeira porção.  

— Mas me conte, Namjoon–ah... — Yoongi iniciou sem fitar o Kim, pausando para terminar de mastigar. Pigarreou. — Como foi mesmo que você escapou da polícia? 

Diante do questionamento tão repentino, o Kim por pouco não se engasgou com o macarrão quente. Com certa dificuldade, ele engoliu o restante de comida que ainda estava em sua boca e fitou o pote ainda cheio, tentando permanecer calmo.  

— Eu pedi para ir ao banheiro enquanto estava sendo transportado para o presídio, disse que não conseguia mais segurar. Eles pararam, tiraram a minha algema por um minuto e eu escapei pela janela dos fundos do banheiro de um posto de gasolina na rodovia. — Namjoon repetiu com cautela a explicação que tinha ensaiado com Taehyung e colocou mais um pouco de macarrão na boca. 

Yoongi balançou a cabeça de forma positiva, acompanhando com atenção a história. 

— E como você chegou até mim? — o Min questionou novamente, ainda assim parecendo tranquilo. Em nenhum momento, porém, ele fitou Namjoon. — Digo, é uma distância considerável da rodovia até o meu trabalho.  

— Sorte, eu diria. — o Kim afirmou e deu de ombros, transmitindo a exata confiança que almejava naquele momento. — Consegui uma carona com um senhor que, por um milagre, não parecia ter visto o meu rosto nos jornais antes. 

— Ah, verdade? — o mais velho perguntou de forma um tanto ampla e despreocupada. — Eu pensei que a pessoa que tinha trazido você tinha sido a mesma que lhe deu o celular.  

Silêncio absoluto. Por um momento, Namjoon realmente acreditou que estava indo bem ao seguir fielmente o roteiro que Taehyung havia preparado para si.  

Engoliu em seco.  

— Que celular? — o Kim perguntou, confuso.  

— O que você acabou de esconder na sua roupa. — Yoongi respondeu e, finalmente, fitou Namjoon diretamente. Nos seus olhos havia uma escuridão que o mais novo jamais tinha visto antes e que, automaticamente, lhe intimidou. — Sinceramente, eu tenho para mim que foi essa mesma pessoa que, inclusive, lhe ensinou a mentir tão bem. Foi um trabalho muito bem feito, eu devo confessar que nem teria percebido se não fossem por alguns pequenos detalhes.  

— Que detalhes, hyung? — Namjoon continuou se fazendo de desentendido, ainda que, naquela altura do campeonato, estivesse assustado pela expressão macabra exposta na face pálida do Min. — Do que você está falando?  

— Foi engraçado o modo como você automaticamente ligou o seu atropelamento aos assassinatos. Foi bem ali que eu percebi, sabe? — o mais velho explicava parecendo estranhamente relaxado. Fitou o Kim e riu. — Até então, você vinha disfarçando muito bem, Namjoon–ah, mas você nunca foi tão inteligente assim. Aí eu vi você com o celular na mão agora... A polícia deveria ter ficado com ele, não? A menos que esse não seja o seu celular e alguém tenha lhe dado ele. 

A cabeça do Min estava pendida para o lado e, unido àquele cenário abandonado de terror, ele parecia realmente assustador.  

— Yoongi, não é isso que você está... 

— Pensando? — o outro o interrompeu e, novamente, riu de forma irônica. — Eu não estou pensando nada, Kim Namjoon. Eu só não sou o idiota que você estava esperando que eu fosse. 

Sem saber como reagir e tendo pleno conhecimento da personalidade repleta de traços psicopatas de Min Yoongi, Namjoon se colocou de pé num único salto alerta, mas a ação ansiosa acabou resultando numa tontura atípica e bem diferente de uma queda de pressão regular.  

Sentindo as mãos enfraquecerem, Namjoon deixou a tigela que tinha nas mãos se espatifar no chão.  

— Macarrão saboroso, não é mesmo? — o Min questionou de forma um tanto retórica e colocou a sua própria tigela de lado, sobre o banco. Encarou o mais novo. — Eu finalmente aprendi a colocar um temperinho especial para que o meu lámen parasse de ter gosto daquelas sopas infelizes de arroz. Você quer saber o que é, Namjoon–ah? — levantou-se e, pacientemente, caminhou até o Kim. Parou a poucos passos do mesmo, que já não sentia mais que tinha o controle do próprio corpo. — Sonífero

— Você...   

Infelizmente, Namjoon não conseguiu terminar a sua fala já embolada. Dopado, ele foi perdendo a força de seus membros gradativamente, até não conseguir mais falar ou ficar de pé. Primeiro, caiu de joelhos, mas estava dando tudo de si para vencer aqueles efeitos e o peso absurdo do seu corpo; conquistando, assim, mais alguns minutos de consciência. 

— Vamos ver com quem você estava falando... Apesar de eu já ter um palpite, claro. — Yoongi comentou e, sem nenhuma cerimônia, se abaixou ao lado do corpo ajoelhado e fraco de Namjoon. 

Enquanto assobiava alguma música aleatória, Yoongi tirou de dentro do casaco que Namjoon usava o tal celular que o mais novo havia escondido sem nenhuma dificuldade — o Kim até tentou lutar, mas seu corpo inteiro já estava tão grogue que o máximo que ele conseguiu fazer foi erguer a mão direita, que logo voltou a cair para baixo. O Min desbloqueou o aparelho, outra tarefa extremamente descomplicada já que o mesmo não possuía nenhuma senha, e a primeira coisa que encontrou exposta na tela do celular foi uma conversa em branco aberta e com destino a KS

— Kim Shinhye. — o mais baixo concluiu rapidamente, já que aquelas só podiam ser as iniciais da terapeuta. Riu. — Você deve estar com saudades dela, não é mesmo? Eu vi como parecia desesperado quando os policiais levaram você para longe dela ontem.  

— Você... — Namjoon iniciou, mas a sua fala estava bastante arrastada. Teve que se esforçar para conseguir falar e, ao mesmo tempo, continuar de joelhos. — Estava lá? 

— Claro que sim, oras. — Yoongi não tardou a responder e, em seguida, colocou a mão esquerda sobre o ombro do Kim, que não conseguiu se esquivar por mais que quisesse. — Eu sempre estive com você, Namjoon-ah. E só eu, mais ninguém. 

— Você é doente. — o mais novo sussurrou, o que automaticamente desfez o sorriso estampado no rosto do outro.  

— Doente? — o Min rangeu entre os dentes. Colocou-se de pé, furioso. — Doente?! Eu fiz o que eu fiz por você, Kim Namjoon! Por você, seu bastardo ingrato! O que aconteceu com você no passado foi uma injustiça desumana, mas eu sempre estive aqui para consertar isso... Eu matei aqueles dois para vingar você

A pele sempre pálida de Min Yoongi estava, agora, vermelha de ódio. O homem salivava em excesso de tão transtornado e, por isso, algumas gotículas escapavam com certa visibilidade conforme ele bradava aquelas palavras para Namjoon.  

— Foi por você. — foi uma das últimas frases que o Kim conseguiu proferir antes que as suas vistas escurecessem de vez e o seu corpo fosse vencido pelo sonífero que Yoongi pusera na sua comida. — Você fez o que fez por você, Min Yoongi. Porque você é um egoísta que...  

O corpo de Namjoon se chocando contra o chão, mesmo que de uma altura reduzida já que ele estivera de joelhos durante aquele tempo todo, produziu um barulho oco e seco e sequer permitiu que o Kim terminasse a sua fala. Desacordado, ele caiu deitado de lado no chão de pó de pedra e, só ao vê-lo assim, Yoongi teve a atitude de respirar fundo e tentar se acalmar. 

— Egoísta? Você realmente me acha um egoísta, Namjoon–ah? — o mais velho sussurrou enquanto voltava a se agachar ao lado do corpo, agora inconsciente, de Namjoon. — Então está bem. Eu não iria fazer isso agora, porém, já que você acha que eu fiz tudo isso por mim e não por você, eu irei realmente fazer algo por mim dessa vez. 

Com as mãos levemente trêmulas devido ao estresse que tinha acabado de passar, Min Yoongi voltou a desbloquear o aparelho celular em suas mãos. Primeiro, ele checou a mensagem que Namjoon havia enviado para Taehyung e, como esperado, o Kim tinha avisado ao policial sobre os planos de Yoongi para aquela noite — os seus antigos planos. Em seguida, com um único objetivo em mente e pensando no modo como todas as atenções policiais estariam voltadas para o Promotor Lee naquela noite, o Min voltou à conversa ainda em branco com Shinhye.  

Começou a digitar. 

— Como você geralmente digita, Namjoon-ah? — questionou o corpo desacordado ao seu lado de forma um tanto divertida. — Eu sei disso, sabia? Se eu fosse um egoísta de verdade, você realmente acha que eu saberia até o modo como você digita? 

[14:01 p.m.] KN: Shinhye-ssi, sou eu, Namjoon. Será que nós podemos nos encontrar hoje à noite? Acho que consigo despistar o Yoongi hyung. Responda, por favor, pois eu realmente tenho algo muito importante para lhe mostrar e que pode mudar muita coisa. Mas eu imploro que não conte a ninguém sobre isso, seria muito perigoso envolver mais alguém nesse caos todo. 

A resposta não tardou a chegar, exatamente como Yoongi esperava.  

— Olha só, ela está desconfiada... Bem, ela não é de um todo burra, isso eu reconheço. — o Min continuou a balbuciar em voz alta. — Yah, Namjoon–ah, o que você diria para ela em um momento como esse para convencê-la de que não sou eu do outro lado da linha tentando atraí-la para uma armadilha? 

Como obviamente não obteve nenhuma resposta do Kim, Yoongi precisou colocar a cabeça para funcionar para conseguir pensar exatamente como o amigo. O que ele poderia ter dito a Shinhye que seria algo tipicamente dito por Kim Namjoon? 

— Levando em consideração o gato assustado, porém, cheio de princípios que você é... — pensou em voz alta e, ao finalmente chegar em uma resolução, riu. — Você prometeu que não a machucaria, não foi? Eu sei que você sempre teve medo de si mesmo porque, na verdade, você não sabe quem é de verdade... Então, você com toda certeza teve medo de machucá-la e, por isso, prometeu que não o faria em voz alta como uma espécie de ameaça ao seu próprio subconsciente. — satisfeito, o Min se aproximou um pouco mais do corpo caído de Namjoon e terminou com um sussurro. — Está vendo como eu não sou um egoísta, Namjoon–ah? Eu sou, na verdade, a única pessoa que lhe conhece de verdade e por completo. 

Voltou-se para o celular, orgulhoso de si próprio.  

[14:03 p.m.] KN: Assim como eu prometi que jamais a machucaria, eu nunca mentiria para você também. 

[14:03 p.m.] Kim Shinhye: Onde nós devemos nos encontrar? 

A resposta praticamente instantânea fez Yoongi alargar ainda mais o seu sorriso sinistro — o qual tinha o seu potencial aumentado devido ao cenário macabro que os rodeava. 

— Então é isso, hoje à noite eu farei algo por mim mesmo pela primeira vez. — comentou por alto e, um tanto contente, voltou a se colocar de pé. — Vamos, Namjoon–ah, eu preciso preparar você para nós podermos mostrar para essa terapeuta infeliz como é dar uma volta no trem fantasma

Dito isso, o Min saiu saltitante pelo parque abandonado em direção à casa assombrada, onde tinha guardado os apetrechos que precisaria para fazer Namjoon voltar à consciência — porém, essa consciência era aquela que apenas Yoongi desejava


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Nessa reta final da fanfic, algumas perguntas ainda precisam ser respondidas, mas isso acontecerá muito em breve! E a Shinhye, será que ela vai mesmo encontrar o "Namjoon"?

Enfim, eu agradeço pela paciência em me esperarem e pelo carinho de sempre que venho recebendo nos comentários! Sério, vocês são uns anjinhos ♥

Até breve!



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