Meu querido sonâmbulo 2 escrita por Cellis


Capítulo 28
Meu querido encontro


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos nós, exatos vinte dias depois da última atualização! Quem acompanha a minha outra fanfic já sabe que eu estou passando por um enooooorme e insuportável bloqueio criativo, principalmente por causa de alguns estresses do dia a dia, então por isso eu preferi esperar até que eu conseguisse escrever algo com a qualidade que vocês merecem para postar aqui! Eu sei que vocês são uns anjinhos que entendem os meus perrengues, mas eu acho necessário dar essa explicação sim.
Enfim, espero que gostem do capítulo, pois eu abri o Word hoje de tarde e saí escrevendo que nem uma louca até o meio da madrugada kkkkk.

Boa leitura!



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De acordo com a legislação sul-coreana, qualquer pessoa formada em direito deve, antes de ser considerada apta para exercer cargos públicos — em especial aqueles que estarão atuando em julgamentos criminais, como juízes, promotores e defensores públicos — fazer um treinamento de, no mínimo, seis meses em uma academia de polícia, podendo esse tempo variar de acordo com o cargo pretendido. Tratam-se de treinamentos especiais e diferentes dos que os oficiais de polícia ainda em fase de aprendizagem realmente recebem, porém, de acordo com a mesma lei que institui esse treinamento, o mesmo serve para que essas pessoas possam ter uma visão mais ampla e técnica dos casos, evidências e suspeitos com os quais estarão lidando no futuro. Nenhum deles sai da academia como um detetive ou policial graduado, porém, assim são formados profissionais extremamente mais capazes de conduzir um julgamento do que apenas advogados inexperientes — e isso já foi mais do que comprovado tanto com estudos sociais, quanto no dia a dia dos tribunais coreanos. 

Ainda no começo da sua vida adulta, Lee Jihoon iniciou o seu treinamento em uma das mais famosas academias de polícia de Seul sem muitas dificuldades. Filho de uma advogada e um desembargador, sendo ambos pessoas extremamente respeitadas e influentes em Daegu, o Lee desde muito jovem fora criado com todo o conforto e facilitações que lhe eram possíveis, o que logo o colocou como um advogado formado e, num futuro bem próximo, o tornaria promotor com menos de vinte e cinco anos. Para ele, aquele treinamento na academia não passava de uma formalidade, algo que ele tiraria de letra com a sua inteligência notável e o nome influente herdado dos pais.  

Mas apenas para ele. 

A vida da grande maioria dos estudantes que haviam ingressado na academia na mesma época que Jihoon se tornou um verdadeiro inferno com a sua presença, fossem eles seus colegas de classe ou, até mesmo, alunos que só estavam ali para se formarem policiais — o que era justamente o caso dos jovens irmãos mais conhecidos pelos olhos curiosos do campus, Kim Shinhye e Kim Taehyung. Para cada um deles, Jihoon havia encontrado um motivo diferente para implicar com a presença de ambos os Kim, assim como ele fazia com o restante dos estudantes: quanto a Taehyung, o que mais lhe incomodava era o modo com o qual o garoto se destacava em toda as aulas e atividades práticas como o melhor de todas as turmas, mas sempre acabava indo muito mal nas aulas e provas teóricas; já quanto a Shinhye, o curioso fato de que ela nunca havia se importado com a presença do Lee. Shinhye, claramente, não aparentava querer estar ali e não ligava para nada que acontecesse ou ouvisse ao seu redor, apesar de sempre ir muito bem em todas as disciplinas.  

Jihoon não conseguia simplesmente conviver com aquilo. 

A aspirante à policial era extremamente arrogante, o que feria o ego do Lee. Na primeira abordagem que ele tentou fazer à garota, ela sequer ergueu a cabeça do livro que estava lendo para dispensá-lo, o que rapidamente o enfureceu. Só havia dois tipos de alunos dentro daquele campus, sendo eles os que odiavam Jihoon e deixavam aquilo bem claro, ou aqueles que o paparicavam por causa do seu sobrenome respeitado, mas Shinhye simplesmente não se encaixava em nenhuma das duas categorias. Com o tempo, alguns meses depois do início do treinamento dos calouros daquele semestre, o Lee finalmente se deu conta, depois de muito observar o casal de irmãos, que só havia uma única capaz de abalar a sempre inexpressiva Shinhye: Kim Taehyung

E foi assim que as desavenças entre os três começaram. Sempre que podia, Jihoon dava um jeito de sorrateiramente sabotar Taehyung, fosse apontando erros na sua performance ou realmente colocando as mãos na massa para que as coisas dessem errado para o Kim mais novo, o que fez com que ele conseguisse conquistar o ódio de Shinhye — bem, finalmente ela havia prestado atenção nele, o jovem que fazia questão de que o universo girasse ao seu redor. Taehyung, por sua vez, detestava ter que viver sendo defendido pela sua irmã mais velha. Suas notas eram péssimas, o que fazia com que ele sempre acabasse sendo julgado por aquilo, por melhor que saísse nas atividades práticas; por isso, ele nunca tinha o direito de levantar a voz e reclamar de algo. Toda aquela situação acabou desgastando ainda mais a relação dos irmãos Kim, tendo Jihoon como o principal culpado por aquilo naquela época. 

Certa vez, já bem próximo do último exame que avaliaria a capacidade dos estudantes de se tornarem policiais de fato, um instrutor de tiro permitiu que Jihoon assiste à aula prática da turma 506, a turma dos irmãos Kim, depois de muita insistência e algumas insinuações um tanto ameaçadoras por parte do futuro promotor. No meio da aula, porém, Shinhye flagrou o Lee tentando sabotar a arma do seu irmão mais novo, e aquilo acabou sendo a gota d’água para a mulher. 

— O que diabos você pensa que está fazendo?! — ela gritou no meio de todos os presentes, que logo se voltaram para ela e, consequentemente, para a direção na qual ela estava olhando. — Isso é uma arma, seu idiota! Você quer o que dessa vez, que o meu irmão acabe atirando em alguém aqui? 

No canto da sala de tiros, Jihoon segurava a arma que continha a etiqueta com a identificação numérica de Taehyung. Com todos os olhos voltados para si, ele colocou o objeto de volta no seu devido apoio e sorriu descaradamente. 

— Eu só estava limpando para ele, oras. — respondeu e deu de ombros. — Vocês estão no período de descanso, então eu resolvi ajudar. 

Lee Jihoon era aquele tipo de pessoa. Ele sabia que sempre teria alguém atrás de si o protegendo e consertando as suas burradas, por isso, sempre se dava ao luxo de protagonizar aquele tipo de cena.  

— Ajudar? — a Kim mais velha perguntou de forma sarcástica e avançou na direção de Jihoon, o suficiente para colocar em estado de alerta os instrutores que conduziam a aula. Todos se colocaram de pé, mas nenhum deles acabou tomando a iniciativa de apartar o possível conflito; já que até eles odiavam o Lee, obviamente. Shinhye parou a pouquíssimos passos de distância do outro. — Você só quer ajudar a si mesmo, Lee Jihoon. Porque você tem pais ricos e influentes, você acha que isso lhe dá o direito de fazer da vida de todo mundo aqui dentro um verdadeiro inferno, não é? — perguntou e o garoto engoliu o sorriso. — Você sabe qual acaba sendo o destino de gente como você no mundo lá fora? 

— O sucesso. — ele respondeu, confiante. 

— O fracasso. — ela rebateu, o que automaticamente o silenciou. — Você acha mesmo que é a única pessoa no mundo com um sobrenome influente? Prepare-se, Lee Jihoon, porque um dia você vai encontrar alguém que tenha muito mais poder do que você... E sabe o que essa pessoa vai fazer? Ela vai descartá-lo como nós fazemos com as cápsulas usadas depois de um treino de tiro.  

— Já chega. — um dos instrutores finalmente brandou, intrometendo-se entre os dois jovens. — Lee Jihoon, você já assistiu tudo o que queria por aqui?  

O mais novo o fitou e, ainda remoendo a ira que Shinhye havia despertado em si, ergueu uma sobrancelha na direção do instrutor.  

— Você está me expulsando? — questionou, sério. 

O homem engoliu em seco. 

— Não precisa. Eu saio. — Shinhye se pronunciou. Para quem já não queria estar naquela sala, ela não estava fazendo nenhum esforço e, de bônus, alfinetava o ego do Lee novamente. Antes de sair, voltou-se para o, até então, advogado, e falou num tom de voz bem baixo. — É uma pena, Jihoon. Eu realmente queria estar lá no dia da sua queda, pois eu seria a primeira a aplaudi-la de pé. 

Dito isso, Shinhye deu as costas para Jihoon e eles nunca mais se viram depois daquele episódio, pois logo depois a mulher acabou tomando a decisão de abandonar a academia de polícia — pelo irmão, claro, pois continuava não dando a mínima para aquele advogado arrogante e egocêntrico. Os dias passaram e Taehyung foi, com muito esforço e noites sem dormir enfiado num mar de livros, o último classificado da sua turma para se tornar policial efetivamente, assim como o treinamento de Jihoon logo chegou ao fim. Eles não se esbarraram mais, até a volta do Lee como o promotor do caso de Namjoon, no qual Shinhye estava envolvida até a ponta do seu último fio de cabelo. 

Jihoon sabia disso. 

Quando pôs os pés na delegacia naquela tarde, todos os olhos daqueles que sabiam o que estava acontecendo se voltaram para Taehyung — em sua grande maioria arregalados e extremamente surpresos com a tranquilidade que o Oficial Kim exalava a cada passo que dava em direção ao interior do lugar. Em algum momento enquanto ele passava pela sua mesa, um dos oficiais subordinados ao Kim o parou com um assobio discreto. Eles já trabalhavam juntos há algum tempo e, por terem a mesma idade, se davam bem; ou, pelo menos, era um dos poucos dentro daquela delegacia para quem Taehyung demonstrava mais do que um par de expressões faciais. 

— Taehyung–ah. — o Policial Jung o chamou num sussurro nada discreto, o que fez com que Taehyung interrompesse as suas passadas. Jung correu até ele. — Aquele promotor nariz em pé está esperando você na sala do delegado. O Juiz Song veio junto, nenhum dos dois está com a cara muito boa. O que foi que você aprontou? 

— Estão todos na sala do delegado? — o Kim perguntou e o Jung fez que sim com um aceno nervoso de cabeça. Em seguida, Taehyung ergueu o canto da boca num breve sorriso satisfeito. — Que bom, era exatamente isso que eu queria. 

— O que? — o policial retrucou, perplexo, mas não obteve nenhuma resposta. 

Assim como fazia antes, Taehyung retomou a sua caminhada tranquila e igualmente confiante, porém agora com um destino certo em mente. Teve que atravessar todo o ambiente da delegacia até chegar nos fundos da mesma, onde ficava a confortável sala do Delegado Yang, e deu duas batidas de leve na porta de madeira assim que a alcançou. De dentro do cômodo, ouviu-se a voz sempre rouca e arrastada do delegado, que permitiu que a pessoa do outro lado da porta entrasse. 

Quando Taehyung o fez, todos os olhos se voltaram para si, em especial o par cheio de revolta de Lee Jihoon. A sala do Delegado Yang tinha couro falsificado em quase todos os móveis e objetos decorativos, o que fazia com que o ambiente cheirasse a plástico barato e perfume de grife naquele exato momento. 

— Onde diabos você se meteu? — Jihoon foi o primeiro a se pronunciar. Nervoso, ele já estava de pé e parou de andar de um lado para o outro assim que a figura nada simpática de Taehyung surgiu no seu campo de visão. Caminhou até o policial com um indicador erguido na sua direção. — Cadê o Namjoon? 

Taehyung respirou fundo e fitou de volta o promotor.  

— Não era ele exatamente que nós estávamos caçando, não é mesmo? — questionou, sério. Fitou de relance o Juiz Song, que estava sentado no sofá de couro do delegado com a sua típica. — Vocês não cumpriram o acordo.  

Ao ouvir aquilo, Jihoon riu do modo mais sarcástico possível. 

— E o que fez você acreditar que eu realmente cumpriria a palavra que eu dei para você e a sua irmã?  — sussurrou entre os dentes. 

— Exatamente. — Taehyung respondeu e, ao contrário do promotor, aumentou o tom de voz para que todos os presentes o ouvissem com clareza. — Porém, mesmo assim, eu estou disposto a ajudá-lo nessa investigação, já que os seus métodos claramente não estão o levando a lugar nenhum. 

— Ajudar? — o Lee bufou. — E quem aqui precisa da sua... 

— Diga. — a voz ríspida e tão grave quanto a do próprio Taehyung interrompeu o promotor, que se calou a contra gosto. O Juiz Song se levantou, abotoando o paletó, e fitou Taehyung de forma objetiva. — Mas é melhor você me dizer algo extremamente útil, Kim Taehyung, pois eu estou cansado de desperdiçar o meu tempo nessa brincadeira de gato e rato. 

Com um ar um tanto vitorioso, Taehyung fitou Jihoon uma última vez. Ali estava a queda que Shinhye havia previsto há tantos anos atrás. Infelizmente, ela não estava ali para vê-la e aplaudi-la de pé como tanto queria, mas o seu irmão mais novo não deixava de ser um ótimo representante. 

Voltou-se para o juiz. 

— Eu sei qual será o próximo passo de Min Yoongi. — o Kim afirmou com certeza em sua voz, o que fez com que o juiz erguesse uma sobrancelha. 

Sem dizer nada, o policial sacou do bolso traseiro da sua calça o seu celular, desbloqueou o mesmo e virou a tela na altura dos olhos de Song Donghae. Na tela do aparelho, havia uma mensagem de um contato salvo apenas como KN

[13:43 p.m.] KN: A próxima pessoa que o Yoongi pretende atacar é o Promotor Lee. Ele vai segui-lo até em casa hoje à noite. 

Aquela era uma mensagem de Kim Namjoon recebida há pouco mais de dez minutos, exatamente como os dois haviam combinado que se comunicariam.  

— Você tem certeza disso? — o juiz questionou, sério.  

Nem tão no fundo assim, Song Donghae estava muito mais inclinado a confiar na determinação de Taehyung do que nas promessas intermináveis — e que, até então, não haviam mostrado nenhum resultado — de Lee Jihoon, e ambos os envolvidos sabiam disso.  

De mãos atadas, Jihoon sequer teve o que dizer em sua defesa. 

Exalando determinação, Taehyung fitou o juiz.  

— Tenho certeza absoluta. 

 

*** 

 

Passado o horário de almoço, quando Jungkook insistiu que ficaria para lavar os pratos — que, na verdade, se tratava apenas de uma louça de isopor, já que eles haviam comprado comida fora novamente — Shinhye decidiu que já havia passado da hora de despachá-lo para bem longe do seu querido apartamento. Não que ela não fosse grata pela ajuda que ele havia lhe dado, ficando ao lado dela desde a noite passada e a mantendo entretida durante todo aquele tempo para que, ao menos, ela não esquecesse completamente de si mesma de novo apenas para morrer de preocupação pelo o que estaria acontecendo a muitos e muitos quilômetros de distância dali, mas ele ainda era Jeon Jungkook, o namorado que havia recebido do bom e do melhor de si para, no fim das contas, trai-la da forma mais descarada possível: levando a amante na sua cafeteria favorita. 

Além disso, conhecendo o Jeon como bem conhecia, Shinhye sabia que ele tinha começado comprando um café da manhã e, logo mais, estaria abrindo espaço no seu armário para colocar os seus moletons escuros e botinas caramelo. Ela não acreditava que ele o fazia por mal, porém, Jungkook tinha essa péssima mania de logo ir se aconchegando na primeira almofada que lhe fosse oferecida — inclusive, ele também tinha uma noção bastante precária do conceito de espaço pessoal. 

— Você tem certeza de que vai ficar bem sozinha? — o mais novo perguntou enquanto Shinhye lhe entregava a sua mochila, um pedido delicado e silencioso para que ele fosse logo embora. 

— Como eu estava antes de você aparecer, Jungkook? — a mulher questionou e levou uma mão até a cintura, séria. 

O Jeon pensou por um segundo e, em seguida, a encarou com o cenho da testa franzido. 

— Péssima? — respondeu num tom de pergunta, como se estivesse tentando adivinhar a resposta. 

— Sozinha, Jeon! — a Kim o corrigiu, frustrada. — Eu vivia muito bem sozinha antes de nós nos conhecermos e, agora, posso continuar fazendo o mesmo depois que você for embora. 

— Mas você não me parece tão bem agora. — o mais novo murmurou, sem jeito. — Digo, eu sei que eu muito provavelmente não tenho nada a ver com isso, pois você não teria ficado tão mal com o nosso término, mas tem alguma coisa a chateando ao ponto de você... 

— Eu estou bem, Jungkook. De verdade. — a terapeuta o interrompeu, agora soando bem mais sincera do que antes. Respirou fundo e encarou o ex-namorado. — Olha, eu só estou passando por um momento um tanto conturbado, mas em breve tudo estará resolvido e eu poderei voltar a ser a Shinhye sem coração e que não se abala por nada que você sempre conheceu, está bem? 

Ao ouvir aquilo, o Jeon a fitou de volta, também parecendo mais sério dessa vez. 

— Você não deveria dizer isso sobre si mesma, sabia? — comentou, o que a fez franzir o cenho. — Acredite em mim, Shinhye, quando eu digo que o seu problema não é não ter coração. Na verdade, você tem um coração tão grande, que não sabe direito o que fazer com o mesmo. 

Por mais incrível que aquilo pudesse parecer, a afirmação de Jungkook soara tão inesperada aos ouvidos de Shinhye, mas, ao mesmo tempo, tão reconfortante e acolhedora, que a Kim não pode evitar que um breve sorriso agradecido tomasse conta dos seus lábios. Quem sabe, num futuro relativamente distante, Jeon Jungkook não servisse para ocupar o cargo de um amigo ouvinte e prestativo? Naquele momento, a terapeuta sentiu que era possível sim que eles se dessem bem depois que Jungkook ralasse mais um pouco para deletar a história da traição da mente de Shinhye. 

Ou, talvez, ralasse bastante. Mas aquilo também não vinha ao caso naquele momento. 

Por enquanto, o mais importante era expulsá-lo dali. 

— Vai embora, garoto. — ela disse rindo e ele, por sua vez, entendeu a ordem e a acompanhou em uma risada leve. 

— Já que você insiste, eu vou mesmo. — ele afirmou já indo em direção à porta, porém, parou quando alcançou a mesma. Virou-se para trás e se deparou com Shinhye, que vinha logo atrás de si para trancar a porta assim que o Jeon fosse embora. — Fica bem e se cuida, está bem? Eu sei que você consegue fazer isso sozinha. 

Shinhye bufou de uma forma um tanto forçada e o encarou, já abrindo a porta para o mais novo.  

— Mande lembranças minha para a... Como era mesmo o nome dela? — a terapeuta pareceu pensativa apenas para provocar Jungkook, já que ela lembrava o nome da loira da cafeteria de cor e salteado. — Ah, Bomin! Mande lembranças minhas para a Bomin, está bem? 

Jungkook riu e, mentalmente, chamou a ex-namorada de infantil. Na verdade, ele e Bomin já haviam terminado há alguns dias e, com uma mão na frente e outra atrás, ele havia engolido o orgulho e voltado para a casa dos pais — mas não quis dizer nada daquilo para Shinhye. Além de a mulher já aparentar ter problemas demais por si só, ele não queria que ela acabasse pensando que ele só viera visitá-la em seu apartamento para tentar voltar a morar lá, reatar o namoro ou algo do tipo. O Jeon realmente só tinha o intuito de se desculpar pela falha de caráter e, no fundo, queria se certificar de que Shinhye estava indo bem após o término; o que ela realmente estava, já que os seus problemas claramente não tinham nada a ver com Jungkook. Assim, o mais novo se despediu brevemente da terapeuta e saiu porta afora do seu apartamento com a consciência um pouco mais tranquila, porém, lamentando mentalmente por ter que voltar para uma casa onde todos o julgavam diariamente pela sua escolha de profissão. 

Shinhye acionou o alarme da fechadura eletrônica assim que fechou a porta e, finalmente, pode respirar fundo e se sentir à vontade novamente dentro da sua própria casa. Caminhou até o sofá e lá se sentou, sem saber exatamente o que fazer a partir daquele momento. Talvez devesse tomar um banho para tentar relaxar, já que não tinha notícias do irmão há algumas boas horas e, naquele momento, estava completamente no escuro quanto a como o seu plano estava se saindo — o que, particularmente, a deixava ainda mais preocupada e ansiosa. 

De repente, ouviu o seu celular emitir um barulho tímido de notificação sobre a mesinha de centro da sala. Há pouco menos de uma hora havia recebido uma ligação de Lee Haechan e, só então, descobrira como o aparelho eletrônico tinha retornado para as suas mãos: quando o assistente finalmente conseguiu chegar ao centro do comício de Song Dongahe, já era tarde demais. Ele tinha feito exatamente aquilo que Shinhye lhe pedira, porém, jamais imaginou que fosse encontrar a chefe desacordada e sendo colocada em uma ambulância ao se aproximar de toda uma confusão de pessoas próximo ao palanque. Desesperado e sem saber ao certo o que tinha acontecido, fora o assistente quem a acompanhara até o hospital na ambulância e permanecera o tempo todo como o seu guardião legal, ou pelo menos até que Taehyung aparecesse. O Kim mais novo, apesar de muito alterado devido ao estado da irmã, percebeu o nítido cansaço estampado no rosto de Haechan e disse ao assistente para ir para casa, prometendo que ligaria mais tarde para avisar sobre o estado de saúde de Shinhye — algo que ele acabou se esquecendo de fazer, por isso o Lee havia ligado diretamente para a chefe naquela manhã. Assim, Haechan entregou o celular da terapeuta nas mãos de Taehyung, o que permitiu que ela conseguisse voltar para casa naquela madrugada conturbada. 

Porém, naquele momento, não era Haechan quem fazia com que o celular de Shinhye vibrasse, mas sim um número desconhecido que ela não tinha como contato salvo em sua agenda. Curiosa, ela abriu a mensagem. 

[14:01 p.m.] Número desconhecido: Shinhye-ssi, sou eu, Namjoon. Será que nós podemos nos encontrar hoje à noite? Acho que consigo despistar o Yoongi hyung. Responda, por favor, pois eu realmente tenho algo muito importante para lhe mostrar e que pode mudar muita coisa. Mas eu imploro que não conte a ninguém sobre isso, seria muito perigoso envolver mais alguém nesse caos todo. 

Espantada pelo contato, Shinhye deu um pulo inconsciente do sofá e segurou firme o celular, o suficiente para tornar as pontas dos seus dedos esbranquiçadas. Apesar de um tanto animada por finalmente estar recebendo um sinal de vida de Namjoon, ela não fazia ideia se era mesmo ele do outro lado da tela. 

Hesitou. 

[14:01 p.m.] Kim Shinhye: Como eu posso ter certeza de que você é mesmo o Kim Namjoon? 

A resposta tardou um pouco a chegar, porém, havia a possibilidade de Namjoon precisar estar digitando entre um momento e outro de distração de Yoongi.  

[14:03 p.m.] Número desconhecido: Assim como eu prometi que jamais a machucaria, eu nunca mentiria para você também. 

Era ele, ela tinha certeza. Somente Namjoon diria algo como aquilo, até porque, apenas eles dois tinham vivido aquele momento em específico para que o Kim pudesse estar repetindo aquelas palavras naquele momento. 

A terapeuta respirou fundo, se acalmando. 

[14:03 p.m.] Kim Shinhye: Onde nós devemos nos encontrar? 

Assim como na resposta anterior, um par de segundos se passou até que, finalmente, uma mensagem chegasse com uma localização marcada em um mapa para Shinhye. Ela não conhecia o lugar, mas não havia nada que um bom GPS não pudesse fazer pela Kim para que, ao menos, ela pudesse ver Namjoon com os seus próprios olhos para se certificar de que ele estava bem.  

O que a Kim não sabia era que, mesmo que ela tivesse obrigado Taehyung a salvar o seu contato no celular que ele deveria dar para Namjoon, o seu irmão mais novo tinha feito o Kim prometer que não ligaria ou mandaria mensagem para Shinhye sob hipótese alguma. 

E Kim Namjoon não era do tipo de pessoa que quebrava as suas promessas.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Várias emoções nesse capítulo, teve até um pouquinho do passado do Jihoon com os irmãos Kim! E o plano dos Kim está dando... certo?
Enfim, prometo voltar aqui o mais rápido que conseguir, até porque estamos na reta final dessa história! Não irei me forçar também, quando gostar do que escrever, trago aqui e compartilho com vocês, está bem?
Muito obrigada pela paciência e pelo carinho!

Até breve ♥



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