Meu querido sonâmbulo 2 escrita por Cellis


Capítulo 23
Minhas queridas condições


Notas iniciais do capítulo

Eu prometi que não faria vocês esperarem muito, mofando no limbo da curiosidade, mas isso foi há mais de uma semana atrás rsssssssss. Desculpa, meus amores, mas eu realmente empaquei nesse capítulo e não tenho nem uma desculpa melhor pra dar kkkkkk. Pelo menos eu, particularmente, gostei do resultado final e ainda consegui trazer ele um pouquinho maior do que o normal, então espero ser perdoada.

Boa leitura!



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Duas horas após a confusão no comício... 

 

Era como se a mente de Kim Shinhye estivesse lutando contra o restante do seu corpo para conseguir, finalmente, acordá-la de uma vez. O seu cérebro, que começava a recobrar consciência naquele momento e, consequentemente, a se lembrar de toda a agitação e pressão que havia sofrido antes de desligar quase que completamente, ordenava que os seus músculos se movessem, mas nenhum deles parecia obedecer — estavam todos exaustos demais e apenas clamando por algum descanso, por mais breve que fosse. Mas nem mesmo a sua própria mente, seus músculos cansados ou o que quer que fosse, seria capaz de impedir Shinhye de vencer aquela pequena batalha contra si mesma para acordar. Porque para quem havia desafiado um psicopata assassino — pois, naquele momento, já estava mais do que provado para si que Yoongi tinha todos os seus fios de cabelo envolvidos em ambos os assassinatos dos quais Namjoon era considerado o principal suspeito — enfrentar o próprio corpo não seria um problema sem fronteiras. 

Com um pouco de esforço, ela abriu os olhos. A região atrás de ambas as suas pálpebras doía, como se as mesmas estivessem realmente incomodadas com toda aquela luz branca que a rodeava. Seus músculos pareciam pesados, talvez um tanto anestesiados, e algo pinicava a parte superior da sua mão direita; uma agulha, no caso, mas bem diferente daquela que havia espetado a sua mão esquerda há um par de horas caóticas atrás. Ainda um tanto desnorteada e dolorida, Shinhye pendeu a cabeça para o lado e, quando percebeu que aquela agulha estava conectada a algo, percorreu com os olhos o mesmo caminho que um pequeno tubo transparente fazia para ligá-la a uma bolsa de soro.  

Assim, a sua primeira constatação fora, obviamente, a de que estava internada em um hospital naquele momento. O quarto desnecessariamente branco e o cheiro de limpeza profunda não permitiam que ela pensasse em nada diferente. 

— Noona, você está acordada?  

A voz grave e notavelmente ansiosa, apesar de ainda soar um tanto distante aos ouvidos mal acostumados com o ambiente de Shinhye, era extremamente familiar e reconhecível para a terapeuta sob quaisquer circunstâncias; afinal de contas, ela já a escutava há basicamente duas décadas e esteve presente durante todas as transições da mesma. Por isso, quando ela virou a cabeça para o lado direito, não se surpreendeu em nada ao se deparar com um Taehyung bem próximo de si e que parecia bastante preocupado. Percebeu, então, que o Kim mais novo fez menção de segurar a sua mão quando notou que a irmã havia despertado, mas hesitou ao olhá-la melhor, o que fez a própria Shinhye direcionar um olhar intrigado na direção da sua mão direita. 

Encontrou, ali, uma espécie de bandagem envolvendo completamente a estrutura da sua mão, deixando de fora apenas os seus dedos, o que a fez franzir o cenho. Estava confusa e um tanto atordoada, sem se lembrar ao certo de tudo o que tinha acontecido para que ela acabasse indo parar ali, em uma cama de hospital. 

— O que é isso? — a Kim indagou com a voz rouca, já que fazia algum tempo que as suas cordas vocais não trabalhavam. Os olhos do mais novo acompanharam os dela, pousando de modo um tanto desconfortável sobre a mão enfaixada da irmã. — O que diabos aconteceu? 

A cabeça de Shinhye latejou e, em seguida, ela começou a ter pequenos vislumbres do que havia acontecido antes de apagar de vez. Estava em um local lotado de pessoas que gritavam a plenos pulmões palavras de apoio e havia, acima do seu campo de visão, um homem muito bem vestido e articulado discursando sobre um palanque para aquela multidão. De repente, barulhos altos foram ouvidos, uma confusão se generalizou e... 

Min Yoongi. 

Um tanto abruptamente, Shinhye se lembrou de tudo com a maior riqueza de detalhes possível. O olhar psicótico e repleto de ódio de Yoongi, seu coração batendo tão rápido sob o seu peito que ela podia ouvir o ressoar das batidas do mesmo e, por fim, a agulha cravada na sua mão. 

— Cianeto... — ela sussurrou, um tanto em choque.  

Respirou fundo um par de vezes, como se inconscientemente quisesse se certificar de que estava viva. Tirando o cansaço, tudo parecia bem, o que só podia significar uma única coisa. 

— Ele não injetou nada em você. — Taehyung acabou por concluir o pensamento da irmã em voz alta, o que atraiu a atenção da terapeuta para si. 

De repente, o mais novo parecia mais ríspido e os seus ombros estavam tensionados, como se ele não estivesse nem um pouco satisfeito em tocar naquele assunto. Por conhecer tão bem o irmão, a Kim não esperava nenhuma reação diferente dele e, por isso, acabou deixando aquilo de lado por um momento. 

— Então ele é bem mais esperto do que eu imaginava. — a terapeuta concluiu, séria.  

Estava claro como a luz do dia que Min Yoongi a odiava e, por um momento, ele teve a melhor chance da sua vida de tirá-la do seu caminho — afinal, o Min já estava com a faca apontada para o bolo, faltava apenas cortá-lo — mas ele optou por não o fazer. Mesmo no calor do momento e com todo aquele ódio transbordando pelos seus olhos, ele foi inteligente e racional o suficiente para optar pela menos pior das escolhas naquele momento. Os seus planos de atacar o juiz tinham sido frustrados e ele certamente não conseguiria mais encostar no homem naquela noite; além disso, estava cercado por seguranças, câmeras e mais algumas outras pessoas que já podiam ter visto o seu rosto. Se matasse Shinhye naquele momento, diante de toda aquela plateia apavorada e do possível próximo prefeito de Seul, jamais conseguiria sair ileso daquela situação. E se, por algum milagre, conseguisse escapar na hora, sabia que seria caçado até no inferno pela elite da polícia coreana. 

Como esperado de um psicopata, Min Yoongi era mais sadicamente inteligente do que alguém considerado normal.  

De repente, Taehyung emitiu uma única risada nasalada e sarcástica, o que fez com que Shinhye direcionasse um olhar confuso na sua direção. 

— E você se lançou na frente de uma seringa recheada de cianeto só para provar isso? — o policial perguntou em um misto de descrença e ironia. 

— O que? — a Kim mais velha rebateu quase que instantaneamente. — O que você quer dizer com isso?  

Ao ser questionado, Taehyung sacudiu a cabeça e respirou fundo. Apesar da mistura um tanto caótica de sentimentos que pulsavam dentro de si naquele momento, ele sabia que aquela não era a melhor hora para confrontar ou fazer qualquer coisa do tipo com a sua irmã. Ela estava visivelmente debilitada e, por isso, ele optou por perguntar a única coisa que realmente lhe interessava naquele momento. 

— Foi o Namjoon, não foi? — ele perguntou fitando os nós dos próprios dedos, sem olhá-la diretamente. 

Apesar de um tanto surpresa com a pergunta, Shinhye entendia o lado do irmão. Taehyung não havia convivido com Namjoon como ela e, por isso, tinha lá os seus direitos de desconfiar do rapaz. 

— É claro que não. — a terapeuta afirmou, séria.  

—  Mas tem a ver com ele, não tem? — o mais novo insistiu. — Porque se não tivesse, você não estaria lá.  

— Eu vou repetir a minha pergunta anterior. — a Kim rebateu e, daquele momento em diante, a sua voz assumia um tom bem mais ríspido. — O que exatamente você quer dizer com isso, Kim Taehyung?  

— Que você está cega! — Taehyung respondeu com um desabafo frustrado. Suspirou pesadamente e, já de pé, fitou a irmã. — Por que você quer tanto ajudar esse tal de Kim Namjoon? Como você pode não ver o que isso está fazendo com você? Pelos céus, você quase morreu! 

— E onde você estava no meio disso tudo? — a terapeuta retrucou, acabando por se deixar levar pelo calor do momento. Sua cabeça ainda estava um pouco dolorida e, sendo sincera, a última coisa da qual ela precisava era ter Taehyung a questionando daquele jeito no meio daquele caos. — Você sabe quantas vezes eu liguei para você antes do comício? Você sabe por que eu liguei justamente para você, Taehyung? 

A voz de Shinhye, antes rouca pelo desuso, agora soava magoada e um tanto ressentida. No fundo, ela sabia que muito provavelmente Taehyung não havia ignorado as suas ligações de propósito, mas estar tão cansada no meio de uma discussão tão repentina e calorosa acabava distorcendo o seu raciocínio.  

— Quinze. — o Kim mais novo murmurou. Seus ombros estavam caídos e, mesmo estando de pé ao lado da cama da irmã, ele não a olhava diretamente. — Você me ligou quinze vezes e, em nenhuma delas, eu atendi ao telefone. E, logo depois disso, você quase morreu. 

Por fim, Shinhye finalmente percebeu o quão dura tinha sido com o irmão e no mesmo momento se arrependeu de tê-lo feito, algo que não acontecia com tanta frequência. Por mais que ela e o irmão pensassem, agissem e interpretassem certas coisas de modos completamente distintos, a Kim tinha para si mesma que cuidar dele sempre deveria ser a sua maior prioridade. Desentendimentos como aquele eram normais entre os dois, porém, Shinhye sempre acabava arrumando um jeito de entender o pensamento do irmão no fim das contas. 

Taehyung sentia quando ela não o fazia. 

— Desculpa. — a Kim mais velha disse, se permitindo abaixar as suas defesas por um momento. — Eu ainda estou um pouco confusa, mas não deveria ter dito o que disse. 

— Você me ligou porque, o que quer que tenha descoberto, só confiava em mim para contar. — o policial continuou, como se estivesse raciocinando em voz alta. — Justamente eu, que estava do outro lado da linha ignorando as suas ligações por uma reunião. Uma reunião para traçar um plano de busca a Kim Namjoon.  

— O que? — a terapeuta questionou, surpresa com o que tinha ouvido. Assumiu um tom de voz um tanto preocupado. — Vocês vão mesmo persegui-lo assim? 

— Você não percebe o que está acontecendo aqui, noona? — o mais novo rebateu com outra pergunta, parecendo realmente cansado. Ergueu os olhos para fitar a irmã. — Nós estamos em lados opostos dessa guerra. 

A frase impactou Shinhye de um jeito profundamente desesperador, muito mais do que ela esperava. Pela primeira vez em todo aquele tempo de luta, ela finalmente se deu conta de algo no qual ainda vinha inocentemente acreditando: Taehyung jamais ajudaria Namjoon, pois o seu trabalho era justamente capturá-lo. 

Ela não podia contar com o próprio irmão. 

Ainda se sentindo assombrada pelo que Taehyung acabara de constatar, a Kim abriu e fechou a boca um par de vezes, sem realmente saber o que dizer. Um silêncio agonizante tomou conta do quarto quando, de repente, a porta de correr do mesmo foi escancarada sem nenhum aviso prévio. 

Um par de seguranças, outro de comissários, um assistente e, por fim, o próprio Song Donghae entraram no quarto de Shinhye sem se darem ao trabalho de se anunciarem. A corja de desconhecidos parou próximo à porta, todos imóveis como se sequer estivessem ali, enquanto apenas o juiz caminhou até a beirada da cama da Kim. Ele não parecia estar com nenhuma pressa, além do nítido e um tanto natural ar de superioridade que exalava. Taehyung cumprimentou o homem com uma reverência respeitável, ao passo que a irmã praticamente não se mexeu.  

— O que significa tudo isso? — a Kim perguntou primeiro, não muito satisfeita com aquela invasão repentina. 

— Espera um minuto. — a voz masculina se fez presente antes do seu dono, chamando a atenção de todos os presentes. 

Infelizmente, Shinhye já sabia de quem se tratava sem sequer precisar ter o desgosto de encará-lo. Um par de segundos depois, Lee Jihoon entrou pela porta ainda escancarada do quarto e caminhou até o lado do juiz, parando ali como um fiel escudeiro.  

Exibiu um sorriso um tanto vitorioso, misturando satisfação e egocentrismo.  

— Vocês não podiam começar sem mim, não é mesmo? 

 

*** 

 

— Então, concluindo, a pessoa que tentou assassinar um juiz de extrema importância em vários âmbitos e que, por um acaso, também é o principal candidato a assumir a prefeitura de Seul no ano que vem, saiu ilesa depois disso tudo? — Shinhye questionou depois de ouvir da boca do próprio Jihoon sobre o que tinha acontecido depois do seu desmaio. Na sua voz havia um misto de descrença e sarcasmo, até que ela se voltou diretamente para Song Donghae, que estava sentado no sofá para acompanhantes ao lado da sua cama. — É uma bela equipe de segurança que o senhor tem, candidato.  

Ninguém no recinto ousou dizer uma única palavra, apesar de algumas expressões de espanto pela audácia da fala da Kim e mais algumas outras um tanto inconformadas terem dado as caras no momento; incluindo a do próprio Taehyung, que ainda repudiava o modo como a irmã não diferenciava pessoas tão importantes como o Juiz Song do restante das pessoas. 

De modo resumido, o que acontecera a Shinhye fora, na verdade, um desmaio por exaustão. Seu corpo estava cansado demais e, diante daquela descarga tão intensa de adrenalina que corria em suas veias enquanto ela se perguntava se morreria ou não naquela noite pelas mãos de Min Yoongi, os seus músculos simplesmente cederam. Pelo o que ela havia escutado do médico de plantão que viera checar seus sinais vitais e tudo mais depois de acordada, a Kim fora diagnosticada com um quadro avançado de desidratação, uma anemia leve e, por fim, a exaustão muscular. O médico confessou que ficara surpreso ao ler os exames dela, porém, o seu maior espanto fora saber que a própria também era médica — o que ela tinha feito ou deixado de fazer, no caso, para chegar naquele estado sendo uma profissional da saúde, era uma enorme e intrigante incógnita.  

Bem, ao menos nem uma única gota de cianeto chegou a ser injetada na sua mão, caso contrário, nenhum daqueles problemas de saúde importariam naquele momento. A seringa com cianeto, na verdade, foi coletada por um dos seguranças do Juiz Song após a confusão e antes que Shinhye fosse enviada ao hospital, já tendo sido mandada para um laboratório especializado, o qual já havia retornado com a análise química do material; veneno, no caso. Àquela altura do campeonato, o juiz sabia que alguém havia tentado o envenenar até a morte, mas aquela constatação só aumentava ainda mais as suas dúvidas: quem, por que e, principalmente, quem era aquela mulher que havia impedido aquilo tudo? 

— Eu reconheço que a minha equipe de segurança falhou. — Song Donghae finalmente se pronunciou. Sua voz muito mais grave e rouca do que a de Taehyung inundou o quarto de hospital, fazendo parecer como se ele estivesse repreendendo alguém. Fitou Shinhye, ainda sentado. — Eles se preocuparam apenas em me proteger quando, na verdade, alguém bem ao meu lado estava precisando de ajuda para salvar a minha vida. 

— Primeiro de tudo, eu quero deixar bem claro que eu não pulei na frente daquela seringa para salvar a sua vida. O fato de você estar vivo e bem agora, Sr. Song, não se deve a nenhum ato heroico da minha parte. — a terapeuta afirmou com clareza e sem rodeios. Primeiramente, detestava o modo como aquele homem havia invadido o seu quarto acompanhado de toda uma comitiva de desconhecidos, sendo o único infeliz rosto familiar o de Lee Jihoon. Segundo, ela não estava mentindo quando dizia não ter feito aquilo por ele. — E, além disso, os seus seguranças não fizeram nada porque você ordenou. 

Novamente, Shinhye levantou um ponto um tanto ousado, mas que ninguém teve a coragem de contestar. Mesmo no meio daquela confusão e com os nervos à flor da pele, ela tinha escutado um tanto ao longe a voz do juiz ordenando que os homens engravatados que o cercavam permanecessem ali, protegendo somente a ele. Por isso, se Yoongi tivesse injetado todo aquele cianeto na mão de Shinhye, a sua morte não deixaria de cair na conta do Song, por mais que ele acobertasse aquela história para a impressa e demais canais de notícias. 

E ela sabia que ele não dava a mínima para aquilo. 

O homem abriu um botão do paletó italiano e a encarou.  

— Então por que você pulou no palanque daquele jeito? — Donghae questionou não parecendo muito preocupado com a acusação que Shinhye acabara de fazer contra si. — Foi por causa de Kim Namjoon?  

A Kim tentou ao máximo esconder o fato de que havia sido pega completamente de surpresa naquele momento, pois jamais esperava que o juiz já soubesse sobre toda a situação envolvendo Namjoon — na verdade, ela não fazia a menor ideia do que ele sabia ou não. Com o canto do olho, ela fitou Taehyung, que estava de pé ao lado da sua cama como um segurança particular, mas o mais novo automaticamente lhe lançou um olhar que respondia exatamente aquilo que ela precisava saber: ele não tinha contado nada a ninguém. Após aquela comunicação silenciosa, ela voltou a sua atenção para Donghae novamente, agora já imaginando como o homem tinha chegado àquela conclusão. 

— Você realmente se lembra dele ou só acabou de receber um relatório completo do Promotor Lee? — Shinhye indagou afiada, o que fez o próprio Taehyung ao seu lado arregalar os olhos. 

Donghae, por outro lado, ergueu o canto direito da boca num breve sorriso irônico. 

— Ambas as opções. — o juiz respondeu com certa simplicidade em sua voz. — Mas você deve entender, Kim Shinhye-ssi, que eu já fui juiz em julgamentos demais nessa vida para me lembrar com exatidão de cada um que encontrei nesse caminho.  

— Nem mesmo de alguém que recebeu um veredito tão injusto e manipulado? Alguém que sequer estava presente no tribunal na hora da leitura da sentença, pois estava ocupado demais lutando pela própria vida em um hospital? — ela insistiu e, finalmente, percebeu pela mudança de semblante do juiz que havia atingido exatamente onde queria. — Creio eu que alguém com tamanha falha de memória não seria a pessoa mais indicada para ser o próximo prefeito de Seul.  

Ao ouvir aquilo, o homem estalou o pescoço em um movimento irritado e, em seguida, se colocou de pé. Deus alguns passos não muito apressados na direção da cama onde Shinhye estava, mas logo viu uma figura alta e imponente surgir em seu campo de visão. Taehyung, sem dizer sequer uma única palavra, deu um passo para frente como quem avisava silenciosamente ao candidato que não deveria passar dos limites. Afinal, por mais que não concordasse com as falas e ações da sua irmã mais velha, jamais permitiria que alguém encostasse um dedo em um único fio de cabelo sequer dela. 

Fosse juiz, prefeito ou o próprio presidente da república. 

E era justamente por isso, inclusive, que aquele ataque de Min Yoongi ainda estava atravessado em sua garganta. 

Song Donghae fitou o Kim mais novo, mas não se importou muito com a presença do mesmo ali. Voltou-se para Shinhye.  

— O que ele quer? Algum tipo de vingança? — o homem perguntou, sério. — Primeiro Kim Seokjin, depois Jung Hoseok e, agora, eu? Se esse realmente for o caso, você deveria alertá-lo que tentar me matar não será nada bom para ele. 

— Kim Namjoon não é a pessoa por trás desses assassinatos. — a mulher afirmou.  

De trás do juiz, uma risada sarcástica e nada discreta foi ouvida.  

— Não é o que apontam as evidências. — Lee Jihoon pontuou, descaradamente se intrometendo na conversa. 

Pois bem, se ele queria a atenção de Shinhye, agora ele a teria. 

— E o que as evidências apontam, então? Que o Namjoon tocou em uma das vítimas depois que ela já havia sido ferida? Isso não configura assassinato, Lee Jihoon, e você sabe muito bem disso. — disse, o que automaticamente fez desaparecer o sorriso do rosto do promotor. — Você está perseguindo o Namjoon por causa do seu próprio ego, quer incriminá-lo a todo custo para se sair bem nesse caso, mas qualquer advogado de quinta categoria conseguiria desbancar essa sua evidência em um tribunal. A menos que o Juiz Song venha a ser o juiz do caso, claro. 

— Kim Shinhye. — Taehyung sussurrou ao seu lado, a repreendendo, mas aquilo não afetou em nada a obstinação da terapeuta.  

— O que foi? Eu só estou dizendo a verdade. — ela rebateu. — E a verdade é que vocês seguem de mãos atadas nesse caso, agora contando ainda com a pressão da impressa. Vocês não podem provar que o Namjoon matou ninguém e, para piorar, não fazem ideia de quem atacou o juiz.  

— Mas você sabe, não sabe? — Jihoon acusou, levantando-se. Irritado, ele caminhou até parar poucos passos atrás de Donghae. — E eu posso muito bem prendê-la por obstrução à justiça se você não disser quem foi.  

— E que diferença faz se vocês souberem agora? — a Kim retrucou, o que fez o promotor franzir o cenho. — A essa altura do campeonato, o verdadeiro culpado já se desfez de todas as possíveis provas contra si, então tudo o que lhes resta é o meu testemunho. Mas de que isso vale, no fim das contas? 

Os questionamentos de Shinhye aumentavam o clima de tensão no quarto, porém, todos sabiam que cada pergunta daquela era extremamente pertinente — só não desistiriam tão facilmente, no caso.  

— Você está certa, Kim Shinhye. Tudo o que você diz é válido e faz sentido. — foi a vez do juiz se pronunciar, parecendo estranhamente calmo. — Contudo, você só se esqueceu de uma coisa: eu tenho poder suficiente para perseguir o Namjoon até o inferno se for preciso e, quando eu finalmente o encontrar, vou me certificar de que todo mundo acredite que ele é um psicopata assassino extremamente perigoso, independente do que a justiça diga. Ele pode até ser inocentado no tribunal, o que será pouco provável diante da pressão que a mídia fará sobre esse caso, mas ele jamais viverá uma vida normal novamente. É isso que você quer? 

Felizmente, Shinhye sempre pudera usufruir de uma qualidade particular sua e igualmente útil, a qual consistia em raciocinar rápido o suficiente para tirar proveito de situações como aquela. Ela poderia ter se deixado intimidar pelas ameaças do Juiz Song, se aterrorizado e, no fim das contas, entregado todo o jogo exatamente como o homem queria — porém, o que ela fazia em momentos como aquele era o extremo oposto. 

Ela tinha ideias. 

— Não, não é o que eu quero. Na verdade, o que eu quero é que todos saíam ganhando com essa situação. — respondeu firmemente, o que pegou Song Donghae de surpresa. — Que o Namjoon seja deixado em paz, que o verdadeiro culpado seja pego e, até mesmo, que Lee Jihoon leve todo o crédito nesse caso e que você, como candidato, faça uma ótima campanha em cima disso tudo. Seria o ideal, não?  

— E você acha que pode fazer isso tudo acontecer. — o Song rebateu. — Acertei? 

— Eu tenho certeza de que posso. Mas não sozinha, infelizmente. — a Kim respondeu. — Eu tenho um plano para fazer tudo isso acontecer, mas também tenho algumas condições para colocá-lo em prática. 

Era isso. Estava cansada de lutar sozinha, ou, no mínimo, de ser apoiada por pessoas com ótimas intenções, mas que não podiam fazer realmente muito para ajudá-la. Shinhye sabia que estava mergulhando em águas que detestava, repletas de ganância, ambições e jogos de poder, mas não tinha outra saída. Seria questão de tempo para que o Juiz Song cumprisse todas as ameaças que prometera, então de que exatamente valeria todo o seu esforço? Como ficaria Namjoon no meio de toda aquela história? 

Pois bem, para quem estava envolvida até o último fio de cabelo naquele caos, ela agora tinha para si que arrastar duas figuras tão importantes publicamente como Lee Jihoon e Song Donghae lhe daria a força da qual ela precisava para vencer aquela correnteza. Sabia que não conseguiria se livrar deles, então, ela optou pela menos pior das escolhas naquele momento: usá-los

— E você acha mesmo que nós negociaríamos com você? — foi o Lee quem quebrou o silêncio, complementando sua fala com uma risada sarcástica. 

Mas aquilo não afetou em nada Shinhye, que manteve os olhos no juiz.  

— Eu agradeço a sua disposição, Promotor Lee, mas lembre-se de que não é mais você quem dá as ordens nesse caso. — Song Donghae afirmou, o que estilhaçou completamente a confiança do Lee. Antes que o mesmo pudesse protestar, ele se voltou para Shinhye. — E então, Kim Shinhye? Quais seriam as suas condições? 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? A Shinhye nem toda doente sossega kkkkkk a nossa querida terapeuta vai, daqui para frente, nadar com os tubarões!
E para onde foi Min Yoongi? O que aconteceu com o Namjoon? Que diabo de plano é esse? Calma, no próximo eu respondo a todas essas perguntas! Vocês só precisam esperar até lá rsssss.

Enfim, até breve ♥



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