A Herdeira escrita por Nany Nogueira


Capítulo 17
A captura




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Anita corria desesperada, com a filha nos braços enrolada numa grossa manta, pelos bosques do Castelo de campo. Ouvia o som de patas velozes de cavalos. Precisava se esconder, mas não sabia onde. Lágrimas escorriam de seus olhos, cujas pupilas já estavam dilatadas de pavor. Até que esbarrou em alguém e sentiu que o seu coração poderia sair pela boca naquele momento.

Tratava-se de uma senhora de idade e aparência peculiar. Para Anita parecia uma bruxa. Ela já tinha ouvido falar dessas mulheres que vivem nos bosques e fazem poções e rituais de bruxaria. Diziam até que sacrificavam criancinhas. Sentiu o sangue fugir de suas faces. A senhora falou:

— Não é de mim que deve sentir medo, Rainha Anita! Eu sei que sua filha é a legítima herdeira da casa real, tanto do Norte quanto do Sul, ela tem o sangue das duas Seráfias e, por isso, nasceu vitoriosa! É a princesa da paz, da união dos povos e da prosperidade do reino unificado.

— Eu não sei como a senhora sabe todas essas coisas, mas, ela já nasceu e não há paz, pelo contrário, há guerra! Querem matar o meu bebê, a tomam por bastarda sem ser – contou Anita em prantos.

— Essa menina é protegida pelos irmãos de luz, nenhum mal a atingirá. Eles me mandaram aqui para que eu seja a guardiã dessa criança – estendendo os braços para que Anita lhe entregasse a pequena.

— Eu não vou me separar da minha pequena, nunca!

— Não irá mesmo, é temporário, majestade!

Anita apertou ainda a mais a filha em seus braços. Sentindo o pavor da mãe, a bebê começou a chorar alto. A mãe a ninou para que se calasse, mas em vão. Os passos de cavalos se faziam ouvir cada vez mais perto.

— Então leve a mim junto com ela para sua casa – pediu Anita para a senhora.

— Não posso, mandaram-me proteger apenas a menina. Vossa Alteza ainda tem provas pelas quais precisa passar, só assim provará a sua inocência e manterá de pé o reino que um dia será de vossa filha.

A senhora tomou Vitória dos braços de Anita com rapidez, sem dar tempo à reação materna e desapareceu no bosque como por um encanto. Os cavalos alcançaram o local no qual Anita se encontrava. Homens desceram dos animais e capturaram com facilidade a Rainha, amarrando-a e colocando-a na garupa do cavalo de um deles.

Anita foi jogada num calabouço e se surpreendeu ao encontrar lá Doralice e Maria Cesárea.

Dora abraçou a filha e perguntou, aflita:

— O que fizeram à Vitória?

— Uma senhora no Bosque a levou – respondeu Anita, atônita.

— Que senhora?

— Eu não sei.

Dora percebeu o estado de atordoamento da filha e nada mais perguntou, apenas a abraçou, dizendo:

— Vamos recuperá-la, minha filha, eu te prometo!

No dia seguinte, um homem grande e com expressão fria entrou na cela, informando ter sido designado pelos revoltosos para conversar com a Rainha. Trazia um papel em mãos e disse:

— O negócio é o seguinte, Alteza, se quiser ver a sua mãezinha e Maria Cesárea saírem vivas daqui, basta assinar esse termo de abdicação do trono em favor do povo. Caso contrário, amanhã, pela manhã, você, sua mãe e Maria Cesárea serão decapitadas em praça pública. Depois, iremos atrás de sua bastarda. Assinado o termo, amanhã podem embarcar para o Brasil no primeiro navio e nunca mais voltar! Está em suas mãos, Majestade – jogando o termo em cima dela, sentada no chão da cela.

Anita ia pegar o termo com as mãos trêmulas, mas Doralice foi mais rápida e o rasgou, dizendo:

— Minha filha não vai assinar nada, ela é a legítima governante de Seráfia e a minha neta é a legítima herdeira. Vocês não sabem onde está a pequena. Podem nos matar e o trono ainda será dela!

— Ela é bastarda!

— Provem!

— O povo acredita nisso e é o que importa! Preparem-se para perder as cabeças amanhã ao amanhecer – disse ele, batendo a grade com força.

Maria Cesárea chorava:

— Será mesmo o nosso fim?

— Rei Augusto vai tirá-la daqui, Maria Cesárea – falou Doralice.

— Mesmo que eu consiga sair, e vocês?

— Enquanto não formos executadas, sempre haverá algo a se fazer! – disse Dora.

Os primeiros raios de sol começaram a surgir, iluminando aos poucos a cela. Nenhuma das 3 mulheres havia conseguido dormir naquela noite.

O carcereiro abriu a cela e 2 carrascos entraram, agarrando Doralice e Anita pelos braços. O carcereiro anunciou à Maria Cesárea:

— Você está livre! Seu marido intercedeu por você. Sorte sua!

— Mais respeito, Maria Cesárea ainda é uma nobre e merece ser tratada por Alteza! – interveio Doralice.

— A monarquia acaba com a decapitação de vocês – rebateu o carcereiro, gargalhando.

Anita e Doralice foram levadas à Praça Pública e colocadas de frente para as respectivas guilhotinas. O líder dos revoltosos começou um discurso:

— Temos aqui a traidora da Pátria e sua mãe, também sua cúmplice! Ambas, portanto, traidoras do povo de Seráfia! Essa mulher angelical deu fim à vida do próprio marido, obrigou o pobre, de forma vexatória e humilhante a qualquer homem, a um casamento branco, deitou-se com um servo e concebeu uma bastarda a quem queria legar o trono, enganando a todos nós, que esperámos uma criança com o sangue das duas casas reais, que iria unificar o reino!

Anita gritou:

— Eu juro por Deus que minha filha é de meu marido. O casamento começou branco, mas acabou sendo consumado, nos apaixonamos! O povo me conhece, sempre esteve comigo, tem que acreditar e confiar em mim agora!

O líder rebateu:

— Acreditar em vossa majestade, como? Há provas que falam por si só! O contrato do casamento branco firmado por ambos – levantando uma cópia do mesmo para o povo – o desaparecimento de seu marido, dado por morto! O nascimento de uma criança sem pai! Sua palavra não tem valor nenhum, Alteza! Não passa de uma mulher leviana! – disse com uma risada sarcástica.

O povo começou a gritar:

— Morte às traidoras!

Os carrascos se aproximaram. Até que um grito foi ouvido no meio da multidão:

— Parem agora! Estão cometendo um grande erro!

Doralice e Anita avistaram Felipe no meio da multidão.

Dora gritou:

— Felipe, fuja daqui, vão te pegar também. Você precisa viver por nosso filho pequeno!

Ele abriu um sorriso e disse:

— Hoje ninguém morre aqui! Eu trouxe a testemunha que corrobora tudo o que Rainha Anita acabou de falar, que prova a inocência dela!

Um homem encapuzado se aproximou de Felipe e todos voltaram o olhar para ele.


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Notas finais do capítulo

Felipe: https://rd1.com.br/wp-content/uploads/2020/11/20201104-captura-de-tela-2020-11-03-as-16.47.40.png



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