A Herdeira escrita por Nany Nogueira


Capítulo 16
A espera




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A espera de Anita se fez em dias e de dias em meses. As inúmeras buscas por Heitor foram infrutíferas. O povo de Seráfia se comoveu com o desaparecimento do rei e em todos os lugares ele passou a ser procurado, sem sucesso.

Anita observava a barriga de grávida no espelho, já estava no sétimo mês. Surpreendeu-se com enjoos e tonturas um mês após o desaparecimento do marido e logo teve o diagnóstico do médico real. A notícia enterneceu o seu coração já tão dolorido. Empenhou-se no enxoval e na arrumação do quarto do herdeiro real. Desviou a atenção do seu tormento e a concentrou no seu bebê.

Doralice embarcou para Seráfia assim que soube da gravidez da filha. Anita contou à mãe no terceiro mês de gestação, apenas. Ela ajudou Anita com as roupas de gestante e as suas novas necessidades de grávida, com cardápio balanceado e também satisfazendo os desejos dela de futura mamãe.

Dora percebia que a filha só falava do bebê e procurava pensar só nele como uma forma de enterrar a própria dor. Certo dia indagou:

— Quando eu esperava você e seus irmãos, era muito bom saber que seu pai estava ao meu lado. Ele colocava a mão na minha barriga para sentir o bebê chutar, imaginávamos como o pequeno seria, se pareceria mais comigo ou com ele, cogitávamos vários nomes até chegarmos naquele perfeito. Você não sente falta do Heitor nesse momento?

— Que pergunta, mãe.

— Às vezes é bom exteriorizar o que sentimos, quando não colocamos para fora, a dor é maior.

Uma lágrima brotou do olho direito de Anita, mas ela a secou rapidamente, dizendo:

— Ele escolheu ir embora, não há nada o que eu possa fazer quanto a isso! Posso apenas cuidar desse filho, que é só meu! – retirando-se do quarto, apressada.

Mais um mês se passou e o momento do parto se aproximava cada vez mais. Anita estava ansiosa e fazia muitas perguntas a Doralice, que as respondia pacientemente.

Numa manhã nublada de sábado, o mundo de Anita, que já cambaleava desde o sumiço de Heitor, ruiu. Ela acordou ouvindo gritos do lado de fora do Palácio. Correu para a sacada e viu a multidão, que gritava:

— Mentirosa! Assassina! Prostituta! Fora!

Ela nada entendeu. Viu Doralice entrar no quarto.

— Mãe, o que está acontecendo? A quem eles estão xingando? A mim?

— Minha filha, eu não queria ser a portadora de más notícias, mas precisamos conversar.

As duas entraram e se sentaram na cama da jovem. Dora começou:

— Já li os jornais de hoje. Alguém descobriu o contrato do casamento de fachada feito por você e pelo Heitor. Mais que isso, tirou cópias e distribuiu ao povo. Os jornalistas a acusam de muitas coisas. Dizem que você deu fim a Heitor para ficar com o poder e que engravidou de algum serviçal, já que não mantinha relações íntimas com ele. O povo comprou a história deles e querem a sua deposição.

— Até ontem o povo me amava!

Rei Augusto entrou no quarto e ouviu, dizendo:

— O povo é como um barco a vela no mar e reage de acordo com as correntes de água e a direção e velocidade do vento. Num dia somos amados e no outro odiados com bastante rapidez.

Anita começou a chorar, sendo abraçada por Doralice. Augusto prosseguiu:

— Rainha Anita, sugiro que se retire com vossa mãe para o castelo de campo. Maria Cesárea e meu filho esperarão por vocês lá, serão muito bem recebidas. O parto de vosso filho se aproxima e aqui não é um lugar seguro para o nascimento.

— Eu não vou fugir, não fiz nada de errado. Tudo que escreveram são calúnias. Eu jamais faria mal a Heitor e o bebê que espero é dele, tenho certeza, nunca me relacionei com nenhum outro homem na vida – rebateu Anita.

— Sei que as acusações são injustas e é legítima a vossa vontade de provar inocência, porém, não é o momento. Tive minha filha Aurora perdida no Brasil pela ação de inimigos, não desejo o mesmo a vossa majestade.

— Acredita que podem fazer mal ao meu bebê?

— Vossa alteza viu a guerra de décadas que se instalou em Seráfia quando Jesuíno renunciou ao trono em meu favor, viu que sequestraram vosso pai para forçar o seu casamento com o herdeiro do norte. O povo aqui pode ser pacífico quando contente, mas bastante bélico e imprevisível quando descontente.

Anita levou as mãos à barriga, como querendo proteger o seu bebê. Doralice incentivou:

— Rei Augusto tem razão. Você precisa de paz e sossego para ter seu filho. Melhor que a gente vá para o campo. Nomeei Rei Augusto regente. Vai ser até bom, é o tempo que os ânimos se acalmam e então você retorna para provar a sua inocência e legitimar seu filho como herdeiro.

— Como farei isso? Heitor está morto! – caindo em pranto.

— Desaparecido é a palavra certa. Não há corpo – remediou Augusto.

— Se ele estiver vivo, já deve saber da minha gravidez e se não retornou nem pelo filho, de todo jeito está morto em meu coração.

— Não tire conclusões precipitadas, não sabemos realmente o que aconteceu – aconselhou Augusto.

Dora e Anita arrumaram as suas malas e foram conduzidas em segurança, saindo pelos fundos, ao Palácio de Campo.

Mais um mês se passou e a hora do parto chegou. Anita estava muito aflita, sendo consolada por Doralice. Maria Cesárea prontificou-se a fazer o parto. Temiam chamar uma parteira ou um médico com a revolta generalizada que se instalou entre o povo contra a Rainha Anita e seu bebê, tido por bastardo.

O parto foi complicado, Anita parecia temer colocar o bebê no mundo. Maria Cesárea rezava, Doralice incentivava a filha:

— Coragem, Anita! Você é minha filha! Nunca fiz fricote para botar um menino no mundo!

— O que vai ser do meu bebê quando nascer? Dentro de mim ele está seguro – dizia Anita, choramingando.

— Ele não está seguro! Já está na hora dele sair! Se você não colocar ele pra fora agora, ele vai morrer dentro de você! – falou Dora já irritada.

Anita se esforçou para fazer mais força, mas se sentia muito fraca, tudo ficou escuro, iria desmaiar. Dora pediu vinagre e colocou nas narinas da filha, deu uns tapinhas no rosto dela:

— Acorda, Anita! Seu filho quer nascer! Você vai decepcioná-lo na primeira oportunidade que ele precisa de você? Ser mãe é um ato de coragem, desde o parto. Seja mulher, faça força!

Anita começou a reagir e aos poucos foi se sentindo mais forte. Já amava seu bebê mais que qualquer coisa no mundo. Ele precisava dela, sua mãe tinha razão. Pouco depois um choro forte ecoou no quarto.

Maria Cesárea anunciou:

— É uma menina linda!

Cortou o cordão umbilical, limpou-a na bacia com água morna, enrolou numa manta e entregou-a para Anita.

A mãe ficou emocionada ao ver a filha e não conteve as lágrimas.

— Ela é a cara do Heitor – constatou Anita.

— Ela é clarinha como você e posso ver traços seus nela também – disse Dora, encantada com a primeira neta.

— Como ela vai se chamar? – perguntou Maria Cesárea – Temos que fazer o primeiro batismo real, com a medalhinha da casa real, como manda a tradição.

Anita constatou:

— A tradição manda o pai fazer isso, mas nem sei se um dia ela terá a oportunidade de conhecer o pai dela.

Dora sugeriu:

— Dê a sua medalhinha a ela e faça você mesma o batismo.

— A minha medalhinha é da casa real dos Avignon de Toledo e ela seria D’ávila pelo pai.

— Depois resolvemos isso com Augusto – sugeriu Maria Cesárea.

— É, minha filha – concordou Dora.

Anita tirou a sua corrente do pescoço e colocando no pescoço da filha recém-nascida disse:

— Eu te batizo princesa Vitória Avignon de Toledo... D’ávila – dando um beijo na testa da filha.

— Que nome lindo! – elogiou Maria Cesárea.

— Concordo. Combina muito com ela, que já nasceu vitoriosa – disse Dora.

A paz reinou poucos dias no castelo de campo. Numa manhã ensolarada do primeiro dia daquela semana, ouviu-se um estrondo vindo do hall de entrada. A porta principal havia sido colocada abaixo pelos revoltosos. Certamente a notícia do nascimento da “bastarda” havia se espalhado no reino.

Anita levantou-se rapidamente da cama, na qual ainda repousava em resguardo e pegou a sua filha do berço, precisava fugir com ela, protegê-la.


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Notas finais do capítulo

Não consegui colar a foto da bebê no texto. Aqui está o link:
https://www.anareis.com.br/wp-content/uploads/2013/10/AnaReis_FotografiaBebe_SaoJosedosCampos_0017.jpg



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