Yu Yu Hakusho: A Relíquia Perdida escrita por Ocarina, LuisaPoison


Capítulo 9
Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

@Ocarina aqui

Muito feliz por postar esse capítulo, porque é o meu favorito até então ♥

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785745/chapter/9

 Invadir o hospital foi mais fácil do que Kurama havia imaginado. Durante a conversa no dia anterior, Yue havia lhe revelado o nome da maternidade onde supostamente tinha nascido, sem imaginar o que o kitsune planejava fazer com aquela informação.

Utilizando-se de diversas artimanhas capazes de confundir ou despistar os funcionários, Kurama invadiu o hospital para vasculhar o banco de dados que lhe daria acesso às informações de todos os pacientes que já foram atendidos nos diversos setores médicos ali presentes. No entanto, não havia registro algum do nascimento de Yue no sistema do local, tampouco o de sua mãe como possível gestante.

Incomodado com o rumo que aquela história tomava, ele teve que se esforçar para não deixar suas preocupações transparecerem diante da garota quando retornou para casa. Durante os dias seguintes, enquanto esperava que Koenma concluísse a sua investigação, Kurama se empenhou para fazer com que Yue se sentisse confortável em sua casa. Aos poucos, um se acostumou com a presença do outro, gerando uma rotina estável para ambos. 

Por vezes, como forma de agradecimento por tudo que o kitsune estava fazendo por ela, Yue ajudava nos afazeres da casa, cozinhando e a arrumando na medida do possível, ainda que Kurama tentasse lhe convencer de que aquilo não era necessário.

De repente, num fim de tarde qualquer, ao receber o chamado do líder espiritual, Kurama despistou Yue, deixando-a sozinha para ir de encontro a Yusuke e os outros. Esperançoso, chegou ao templo de Genkai ansioso por boas notícias, mas ao escutar o que Koenma tinha a lhe dizer, suas expectativas se estilhaçaram em mil pedaços, como cacos de vidro quebrados no chão.

— Desculpem a demora, mas eu queria garantir que a minha investigação fosse a mais completa possível. 

— E o que descobriu? — Kuwabara perguntou ao líder espiritual.

— Eu vasculhei cada arquivo do Reikai, sem exceção, mas não encontrei o que estávamos procurando. Não existe registro algum do local de nascimento de Yue! 

— O que isso quer dizer, afinal? — Yusuke perguntou.

— Não sei. Isso é muito estranho, e não me lembro de já ter visto outro caso igual a esse. 

— Existe alguma chance do Reikai ter esquecido de colocar essa informação nos relatórios? — Kuwabara questionou — Poderia acontecer com qualquer um, não?

— Duvido muito. Não é querer me gabar, mas a nossa organização é impecável. Isso seria impossível. Podemos perguntar à própria Yue onde foi que ela nasceu e investigar o local mais a fundo. 

— Eu já fiz isso — Kurama respondeu atraindo a atenção de todos — Curiosamente também não existe registro algum na maternidade que Yue me garantiu ter nascido.

— Como não?! — Yusuke indagou ainda mais perplexo.

— Isso não faz sentido! — nervoso, o líder espiritual pressionou as têmporas — Ela não pode ter simplesmente ter vindo do além! 

— Koenma, eu estava aqui pensando…— Kurama sugeriu tentando compreender a situação —…existe alguma chance de Yue ter sido adotada? Se ela foi abandonada pelos pais biológicos, o Reikai poderia ter perdido essa informação, ou não? 

— Na verdade, até mesmo crianças abandonadas tem o seu nascimento documentado pelo Reikai, mesmo que não tenham sido registradas oficialmente pelos pais. Abandonadas ou não, nós temos controle sobre absolutamente tudo que acontece no Mundo dos Humanos.

— Mas quem disse que estou falando do Mundo dos Humanos? — Kurama  o questionou com seriedade, fazendo com que Koenma arregalasse os olhos ao compreender aonde ele queria chegar.

— Do que está falando, então?! — ao perceber a palidez estampada no rosto do líder espiritual, Kuwabara perguntou ainda sem entender a insinuação. 

Surpreso, Yusuke se aproximou, respondendo antes que o kitsune o fizesse.

— Makai. 

~*~*~

Enquanto retornava para a sua casa, Kurama procurava as palavras certas para abordar aquele assunto com Yue. Preocupado, não tinha ideia de como ela reagiria às suas suposições, mas não havia outra forma de descobrirem a verdade senão confrontando os próprios pais da garota.

Ao chegar em casa, porém, o kitsune se deteve ao encontrar Yue adormecida no sofá da sala de estar. Silencioso, entrou no apartamento com cuidado para não acordá-la. Embora soubesse que o assunto fosse de urgência, não teve coragem de despertá-la de seu sono e, de certa forma, agradeceu mentalmente por poder adiar aquele momento. Hesitante, há tempos que Kurama não se sentia tão apreensivo. 

Sentado na poltrona ao lado, ele permaneceu pensativo, apenas observando-a. Tão comum, tão humana...No entanto, se sentiu na obrigação de acordá-la quando, de repente, percebeu que o seu semblante se alterava durante o sonho. Ofegante, Yue gemia assustada dentro de um agitado pesadelo. 

— Não! — ela sussurrou revirando-se no sofá — Me deixem em paz...!

— Yue, acorda! — Kurama a sacudiu com cuidado — Eu estou aqui.

Num pulo, Yue despertou apavorada, afastando-se o máximo possível do toque do kitsune

— Está tudo bem. Sou só eu — Kurama voltou a se aproximar tentando tranquilizá-la — Você estava sonhando. 

— Ai que susto...— ela levou a mão ao peito, enquanto recuperava o fôlego.

— Estava sonhando com o ataque daquele dia? Com aquela kamaitachi?

— Não. Na verdade, ando tendo sonhos confusos. Algumas vezes é com relação ao ataque, mas outras...

— “Mas outras” o quê? — Kurama insistiu ao perceber a apreensão de Yue.

— Não sei. Parece que estou perdida em um lugar estranho. Um lugar com céu púrpura e ossos espalhados pelo chão. É frio, sombrio e assustador. E então, eles vêm atrás de mim... — ela estremeceu com a lembrança. 

— Por que não me contou que estava tendo esses pesadelos? Eu podia ter ajudado. 

— Eu não queria incomodar. E além do mais, são apenas sonhos. Não querem dizer nada. Eu só fiquei perturbada com aquele ataque e agora já tô até ficando paranóica com isso.

Desviando o olhar, Kurama não respondeu, deixando Yue intrigada. 

— O quê foi? 

— Yue, talvez esses sonhos não sejam apenas sonhos. Talvez signifiquem alguma memória, ou mesmo algum tipo de conexão com a sua origem.

— Como assim “origem”?

Kurama suspirou, esfregando os olhos antes de continuar.

— Acho que esse lugar dos seus sonhos é o Makai. Você pode ter alguma lembrança de lá. 

— Mas se eu nunca estive nesse lugar, como é possível me lembrar dele?

— Talvez você tenha estado no Makai e nem ao menos saiba.

— Não estou entendendo aonde você quer chegar, Kurama. 

— É possível que você não seja do Mundo dos Humanos. Que tenha vindo do Makai.

— O quê?! — ela indagou incomodada — Já te contei a minha vida toda. Te contei sobre meus pais, parentes distantes, estudos...tudo! O que você está sugerindo é impossível.

— Você me contou apenas o que te contaram, Yue. E o que te contaram não é necessariamente a verdade. 

Perplexa, ela se levantou de onde estava, e com um ar ofendido se voltou a Kurama, irritada como nunca havia se mostrado diante do kitsune.

— Você enlouqueceu? Tá sugerindo que meus pais mentiram pra mim? Como pode dizer isso?!

— Calma, Yue. Não estou afirmando nada, é só um palpite — ele se aproximou dela — Sei que é difícil pensar nessa possibilidade, mas...

— Você não sabe de nada! Você é tão...tão...— indignada com a situação, Yue perdeu a fala, fazendo com que a sua irritação se transformasse em tristeza —...tão cruel! Por que está fazendo isso comigo?

Ao ver as lágrimas se desprenderem dos olhos de Yue, esquivando-se dos braços relutantes da garota, Kurama se aproximou ao sentir o peso da culpa. Levantou então o rosto de Yue, a obrigando a encará-lo diretamente.

— Me desculpa, mas acredite que não tinha intenção de machucá-la. 

— E como acha que eu ficaria depois de você inventar toda essa história? — ela recuou — Achou que eu levaria numa boa?!

— É claro que não. Sabia que não seria fácil, e por isso estou aqui. Você não está sozinha. Mas eu não inventei nada, Yue.

— Para de insistir nisso! Eu não tenho relação nenhuma com o Makai. Não sou um monstro como eles. Não sou como você! 

O silêncio proveniente da tensão gerada pelas palavras de Yue pesou sobre os dois, fazendo com que no mesmo instante Kurama desviasse o olhar. Arrependida pelo tom ofensivo de suas palavras, a garota voltou a choramingar.

— D-desculpe. Não quis te comparar a eles. Sou uma idiota! — ela soluçou envergonhada recriminando a si mesma — Eu só...

Relutante, Yue se calou de repente.

— “Só” o quê? — o kitsune insistiu.

— Eu só estou com medo. Muito.

— Entendo. A verdade pode ser assustadora, mas ainda assim é melhor do que se acomodar com uma mentira.

Cabisbaixa, Yue assentiu em silêncio. 

— Desculpe por ter surtado, mas é tão difícil de assimilar tudo isso. Sei que você não é o tipo de pessoa que faria uma suposição dessas por motivos rasos. Acredita mesmo que posso ter vindo do Makai, não é?

— Sim. Eu tenho quase certeza.

— Isso é loucura...— ela sussurrou para si mesma, enxugando o rosto molhado — E como podemos confirmar a sua suspeita?

— Podemos falar com os seus pais. Confrontá-los sobre o assunto para ver se descobrimos algo.

— Eu não sei se consigo. Não estou preparada para ouví-los admitir que não sou filha deles. 

— Yue, eles são nossa única alternativa. Além disso, você é filha deles é nunca deixará de ser. Assim como sou de Shiori Minamino. Confia em mim, vai ficar tudo bem.

Quebrando a barreira que ainda permanecia entre os dois, Kurama novamente se aproximou, colocando a mão no ombro de Yue em um gesto de apoio e cumplicidade.

Mesmo relutante, a garota então acatou a sugestão do kitsune e, em seguida, juntos viajaram para o interior, a caminho da cidade natal de Yue, onde os seus pais  residiam.

~*~*~

A viagem, apesar de não ser tão longa, parecia interminável devido ao silêncio que preenchia o espaço entre os dois jovens dentro do carro. Durante todo o percurso, nada foi dito entre eles e palavras voltaram a ser trocadas somente quando chegaram ao destino final.

Felizes pela visita surpresa, os pais de Yue os receberam com alegria, sem imaginar a conversa que se seguiria. Como era esperado, ao serem abordados sobre o assunto, os mais velhos se assustaram com o relato de Yue sobre a perseguição que havia sofrido, e quando questionados sobre a origem da filha, admitiram a adoção. Ao revelar a sua própria esterilidade, a mãe de Yue lhes contou o quanto ficou feliz quando a segurou nos braços pela primeira vez, realizando o sonho da maternidade. 

Aproveitando a oportunidade, Kurama perguntou aos pais da garota onde a encontraram e como conseguiram adotá-la.

— Um estranho veio até nós — contou o pai de Yue ao perceber que a mãe da garota já não se encontrava em condições de responder — Ele a deixou conosco. 

— Um estranho? — indagou Kurama.

— Sim. Havíamos acabado de descobrir que Naoko não poderia engravidar e estávamos desesperados para adotar uma criança. Porém, os processos eram extremamente burocráticos e não nos enquadrávamos em todos os requisitos necessários. Ele sabia que queríamos ter um filho. Não veio a nós por acaso. E nós, sabíamos que não encontraríamos outra chance como aquela. Por isso, aceitamos a sua proposta de ficar com Yue. Desde que a vi pela primeira vez, percebi que era especial...ela nos conquistou.

Yue estremeceu, derramando-se em lágrimas. 

— E quem era esse homem? 

— Não sabemos. Ele não nos disse seu nome, tampouco nos falou de onde era. Apenas nos disse para jamais revelar esse segredo, senão nos arrependeríamos amargamente. Tinha um tom de ameaça em sua voz. Desde que ele foi embora, nunca mais o vimos.

Percebendo que não conseguiria extrair mais nenhuma informação do casal, Kurama se retirou da sala de estar, deixando que a família conversasse em total privacidade. De longe, pode escutar os pedidos de desculpas dos pais e os choros dos três se misturando numa melodia uníssona. Paciente, o kitsune deu a eles o tempo necessário para que pudessem se recompor, de modo que, quando Yue foi procurá-lo, a noite já se anunciava no céu

— Minha mãe sugeriu que passássemos a noite aqui, mas eu disse a ela que não precisava. 

— Como vocês ficaram depois de tudo isso?

— Nós estamos bem. Eu entendo o lado deles. Não tiveram outra escolha a não ser guardar segredo. Mas isso está me preocupando. Não sei se ficarão em segurança depois de terem nos contado toda a verdade.

— Não se preocupe com isso. Koenma garantirá a segurança da sua família. Ele enviará vigias do mundo espiritual pra cá. Ninguém fará nada com eles. 

Aliviada, Yue relaxou os ombros e, em seguida, foi de encontro aos seus pais para despedir-se deles com um longo e terno abraço. Durante o retorno para a casa de Kurama, o silêncio novamente pairava entre os dois. Por um lado, o kitsune não tinha intenções de invadir o espaço da garota naquele momento tão difícil, e por outro, Yue escondia-se por detrás de seu cabelo, para que Kurama não pudesse vê-la chorar. 

Distraída enquanto tentava assimilar tudo aquilo, ela nem ao menos se deu conta de que o seu acompanhante já havia estacionado na vaga do apartamento. Somente quando ele retirou o cinto que usava, que ela despertou de seu estupor.

— Você está bem? — ele perguntou, voltando-se a ela.

— Não. Mas eu vou ficar. Só preciso de um tempo — ela respondeu cabisbaixa — Mas quer saber de uma coisa? Você tinha razão. Por mais dolorosa que seja, saber a verdade me deixa aliviada. Agora tudo começa a fazer sentido. O ataque...os meus sonhos. Apesar de não saber o que querem comigo, agora sinto que estamos chegando a algum lugar. 

— Não sabemos ainda. Eu juro que vou descobrir. Custe o que custar — Kurama retrucou com firmeza.

— De qualquer forma, não importa qual seja o motivo deles. Não deixarei que façam mal a mim ou a quem eu amo. Se for preciso, eu mesma vou enfrentá-los! 

— Você é bem mais forte do que pensei —  Kurama se inclinou em sua direção esboçando um semblante orgulhoso — Não é todo mundo que aguentaria um dia tão difícil como esse. Me surpreendeu.

Envergonhada, Yue o encarou sentindo o seu rosto pegar fogo pela proximidade. No entanto, sem se deixar intimidar pela sensação estranha que agitava o seu estômago, retribuiu o elogio com um discreto sorriso. 

— Na verdade, só estou firme agora graças ao seu apoio. Obrigada, por tudo que fez por mim. Você é a melhor pessoa que já cruzou o meu caminho.

Hipnotizada enquanto o observava em cada detalhe, Yue sentia o seu coração se acelerar num ritmo que nunca antes havia experimentado. Kurama, por sua vez, ainda se fixava nos olhos marejados da garota, com uma expressão neutra e indecifrável. Em silêncio, por alguns momentos ambos permaneceram naquele estado, como se apenas estivessem apreciando a presença um do outro. 

— Melhor entrarmos em casa — de repente, Kurama rompeu a quietude em que se encontravam — Já está tarde. É perigoso você ficar aqui fora. 

Com os batimentos cardíacos ainda descompassados, Yue se desvencilhou da hipnose que o kitsune lhe causava e, ao lado dele, retornou para a segurança de seu novo lar, confusa pela explosão de sentimentos que se misturavam dentro de si.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Yu Yu Hakusho: A Relíquia Perdida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.