Um Segredo Entre Nós escrita por Emma


Capítulo 9
Quando o segredo foi revelado


Notas iniciais do capítulo

Olá meninas, tudo bem? Espero que sim, porque temos muitas emoções pela frente huahua Esse capítulo em especial foi bem difícil de escrever, eu tô com ele pronto há uns 3/4 dias e não tinha postado ainda pq toda hora eu relia pra tentar melhorar algo ou reforçar uma fala deles. É um cap baseado muito na perspectiva do Robin, então se sentirem a Regina muito “seca” é pq é como ele tá sentindo tudo. Eles estão passando por muita coisa e vão tomar atitudes bem extremas. Enfim, deixo vcs com a leitura

Ah, muito obrigada pelos novos favoritos e pelos comentários que sempre recebo, vcs são incríveis! O texto no início do capítulo eu achei na net uns anos atrás e eu não sei quem é o autor, se souberem me digam que dou as devidas referências



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E tem sempre algo que te pega, te desorienta, te despedaça, te espeta, te machuca. Amor é como um espinho nas sandálias, quando a gente está quase se esquecendo que ele existe, pisa no ponto em que o espinho está."

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Foi como levar um choque, a princípio Robin não tinha feito caso que o chamado era para ela, todavia, ao ouvir o som da voz daquela criança chamando-a novamente ele soltou-a instantemente. E, quando a garotinha, acompanhada por um homem, se aproximou, se lançando no abraço dela, ele tremeu, sentiu o chão diante dele balançar e sentiu muito que não tivesse algo onde se apoiar.

“Mamãe!? Não. Não!”

O gosto amargo atingiu seu paladar ao ver a cena, engolir se tornou uma tarefa muito difícil e quando o homem se juntou ao abraço delas, beijando muito perto de sua boca, seu estômago revirou ao mesmo tempo em que seu coração se estilhaçava em incontáveis partes. 

Seu maior desejo era encontrá-la, porém nunca passou por sua cabeça que ela pudesse ter seguido em frente, que tivesse se casado e principalmente, que tivesse uma família... Como poderia? Ele estupidamente acreditou que de algum modo ela tinha sofrido por ele tanto quanto ele por ela. Mas era óbvio que não! A prova estava diante dos seus olhos e ele teve que segurar bravamente as lágrimas, pois era tudo que ele gostaria de ter tido com ela. 

E como estava doendo presenciar aquilo! Tanto que chegou a sentir fisicamente um incômodo aperto no peito, enquanto ela o encarava com um misto de sentimentos em cada traço, tinha pesar e um pedido desculpas desenhados ali. Tinham outras coisas também, só que ele estava perdido demais para perceber naquele momento e do que realmente se tratava.

Quando o homem se afastou, o olhou e sorriu. Locksley até tentou, mas tinha certeza que o movimento dos seus lábios não poderia ser considerado um sorriso também. Regina continuava com a menina nos braços e... caramba! Ela era... linda. Uma mini cópia de sua bela mãe, com exceção dos olhos, azuis num tom que lhe pareceram estranhamente familiar. E então ele se lembrou do porque. A garotinha do show, era ela. 

Oh Deus! Como ele pode não ter percebido? Ela era igual Regina. Pensou no que Zelena disse, rindo amargamente por dentro. A pequena o fitou, com uma expressão curiosa no olhar. Robin  nunca se sentiu tão alheio em um lugar como estava se sentindo ali. A situação era no mínimo estranha, dolorosamente estranha.

— Tudo certo por aqui monamour? – o homem perguntou e Robin estremeceu. Até mesmo ouvir outro cara chamando-a de sua era tóxico para seus ouvidos.

— Sim... – a voz dela vacilou.

— Nós viemos te buscar para almoçar mamãe – descendo do colo da morena, ela se pôs diante dele o observando atentamente, buscando por alguma coisa – quem é você? Tenho a sensação de que já vi você moço.

— Ele é...  – Regina ainda estava respondendo a garotinha quando ele não resistiu, ignorando a pequenina e perguntando ainda descrente o que estava preso em sua garganta:

— Você... – Robin a encarava com um olhar ferido e triste – você casou?

Antes que ela pudesse responder, Daniel a abraçou por trás, beijando seu ombro,  sem saber que ao fazê-lo, estava jogando mais sal nas feridas abertas de Robin.

— Ohh ainda não, Regina é muito difícil, mas eu espero que ela me diga sim um dia – respondeu sorrindo, totalmente alheio ao que se passava entre ele e sua namorada, que não tinha desviado os olhos dele. As duas esferas castanhas estavam cheias de pesar, elas tinham um pedido silêncio desenhado ali e ele simplesmente ignorou. Do que adiantava? Ele não queria pena. O que ele queria estava longe de ser possível.

Locksley balançou a cabeça, curvando um pouco os lábios para cima, tentando compartilhar da visível alegria do outro homem, mas como? Robin não imaginava que pudesse sentir mais dor, entretanto, quando, o jovem senhor apertou-a ainda mais em seus braços e lhe deu um selinho, sentiu a sensação de levar um soco no diafragma e perder o ar, quase como se hiperventilasse. Era uma cruel facada do destino bem no meio de um coração já muito machucado.

Regina permanecia muito inquieta e aflita, isso foi algo que ele não deixou de notar. Talvez fosse a necessidade de simplesmente se ver longe dele e continuar com seu conto de fadas. O que lhe restava? Não iria continuar se martirizando assistindo aquilo, certo? Ele só deveria se despedir e voltar para sua triste e solitária vida, agora tendo certeza de que sua única esperança de um final feliz, havia encontrado sua felicidade longe dele. 

Perdê-la tinha sido um duro golpe, todavia, as suposições de que talvez ela ainda o esperasse, que ainda sentisse qualquer coisa que fosse o mantiveram vivo, o mantiveram esperançoso mesmo em meio ao limbo cinza eterno em que parecia viver, agora entretanto, seria pior. Teria que conviver com o luto de tê-la perdido uma segunda vez, com as lembranças de vê-la nos braços de outro homem, com quem compartilhava uma criança.

Robin buscou os olhos cor de chocolate de Regina, eram um reflexo dos seus próprios, cheios de lágrimas não derramadas, ele certamente não estava preparado para o que viu e sentiu aquela manhã quando saiu de hotel. Não estava preparado para a alegria inenarrável que se apossou dele quando a viu misturado com a tormenta que crescia em seu peito ao perceber que mesmo ao seu alcance, ela não era mais sua, nem nunca mais seria.

— Bem... – engoliu a seco, tentando estabilizar a voz que saia fraca – meus parabéns pela sua família, eu – o que ele deveria dizer? Que puta situação de merda! Ele só queria ir embora e tentar apagar de sua mente o que acabara de presenciar, pois estava doendo, doendo como nada antes tinha doído – eu acho que já vou indo. 

Regina abriu a boca, hesitando a primeira vez e quando ele ia se virar ouviu: 

— Robin, espera... – quando ele se virou para ela, não aguentou mais, uma lágrima solitária escorregou e seu coração sangrava, não tinha dúvidas. Regina sentiu seu próprio coração apertar mais um pouco ao vê-lo daquela forma. Aquela situação estava acabando com ela também – Nós precisamos conversar.

— Acho que nós não temos mais nada para falar Regina, eu... – suspirou em busca de alento – eu entendi – ele ergueu o braço, passando a mão contra sua face e ao fazê-lo a manga de sua camisa desceu um pouco, revelando algo que chamou a atenção de outra pessoinha.

A garotinha se colocou-se na ponta dos pés, concentrada na figura a sua frente, analisando-o já a bastante tempo, então, observando mais atentamente e finalmente se recordando:

— Eu já sei quem é ele mamãe! – Regina se virou para ela de supetão – O moço com a tatuagem de leão. Você também lembra tio Dani? Nós o vimos no show – Daniel acenou com um sorriso vago, muito perdido sobre o que acontecia ali.

A advogada, que tinha desviado sua atenção para a filha, voltou a encará-lo, desejando com todo seu coração que ele não tivesse ouvido o chamado de Louise, porém, ao ver sua expressão mudar de desolado para alarmado, percebeu que ele tinha escutado sim. E teve certeza quando a primeira coisa que saiu de sua boca foi uma indagação:

— Espera... Ele – apontou para Daniel – não é o pai da sua criança? – Locksley sentiu todos os pelos de seu corpo erguerem-se em alerta, enquanto a fitava com os lábios entreabertos e as sobrancelhas franzidas, em claro sinal de confusão.

— É sobre isso que tenho que falar com você – ela pediu se remexendo já bastante ansiosa.

— Como assim é sobre isso? Regina... – Robin olhou profunda e desesperadamente dentro dos seus olhos – quem é o pai da sua filha?

 

* * *

 

Daniel passou a observar o embate entre eles, alternando o olhar de um para o outro, finalmente percebendo quem realmente era aquele homem e o que estava de fato para acontecer ali.

“Merde”

“Shit!”

“Holy shit!”

— Quem é o pai dela Regina? – insistiu novamente, uma vez que ela se manteve calada, já não tão paciente.

— Por favor Robin, vamos conversar.

— Eu não quero conversar, só quero que você responda a droga da minha pergunta – ele não tinha pedido, agora era uma exigência. Seu tom se mantinha baixo, mas podia sentir uma inquietação dentro de si que crescia e lhe deixava aflito.

— O tio Daniel não é o meu papai, mas eu gosto muuuito dele. O meu papai mora bem longe e por isso ele nunca veio me ver. Nós estamos procurando ele e eu e mamãe achamos que ele tem uma tatuagem de leão igual a sua. Será que você é o meu papai moço?

Robin encarou a menina, que o olhava com uma um interrogação desenhada no seu doce rostinho, a testa estava franzida e na boquinha um esboço de um sorriso esperançoso. Ela não poderia ter mais que 5 anos. Ele sorriu pra ela, mas tremeu por dentro. Ela não seria sua, seria? Ele buscou desesperadamente os olhos de Regina. Ela não teria tido coragem de fazer algo assim com ele, teria? Regina desviou o olhar, encarando a filha, que já estava diante dele, então ele se inclinou um pouco, direcionando sua atenção para a pequena:

 - Quantos anos você tem? – pediu, olhando dentro dos olhinhos dela e sentindo uma estranha conexão. Talvez fosse por a menina ser filha de Regina, o grande amor da sua vida. Todavia, seu coração batendo acelerado, tão forte quanto o ressoar de um tambor, lhe dizia que não era esse o motivo. E a resposta dela poderia mudar sua vida para sempre.

Regina olhava a cena se desenrolar diante dela em transe.

 Aquilo estava mesmo acontecendo? 

Robin desviou os olhos da criança e a encarou rapidamente. Viu que a respiração estava mais pesada e seu rosto estava banhado pelo rastro de lágrimas, ela não conseguia falar. O outro cara, parecia ter entendido que algo muito profundo se passava entre eles e se manteve em silêncio. 

Cada segundo que seguia sentia a ansiedade o consumir, estava aflito demais e quando ia pedir novamente por uma resposta, sentiu a mão da garotinha puxar a sua e ouviu a sua vozinha suave falar:

— Eu fiz 5 anos no verão.

Robin manteve o olhar por alguns segundos nela, ofegando e finalmente descobrindo o porque os olhos azuis lhe pareceram tão familiares. Cinco anos... A criança tinha cinco anos, não era preciso fazer muitos cálculos, ela era sua... sua filha.

— Oh Deus... Oh Deus! Regina!? – exclamou chocado, tapando a boca sentindo um tsunami de emoções o atingir violentamente, tão forte que teve a sensação de estar se afogando. Seu corpo se curvou com o impacto da revelação e ele se afastou alguns passos para trás, como se realmente tivesse sido atingido.

Buscou a face de Mills, ela sustentou seu olhar por um tempo, nenhum dos dois pronunciou nada, até que ela se sentiu envergonhada o suficiente e abaixou a cabeça. Daniel então se aproximou e colocou a mão na base das costas dela, confortando-a.

Olhando mais uma vez para a menina que tinha uma expressão confusa, passou a palma da mão pelo rosto pressionando-as rudemente algumas vezes, descendo pelos cabelos e desalinhando-os, tentando absorver o baque daquela notícia. 

“Não, não pode ser! Regina não pode ter feito isso comigo!”  - repetia como um mantra em sua mente.

Louise foi até a mãe, lhe questionando:

— Falei algo de errado mamãe? Não estou entendendo nadinha. Ele perguntou quantos anos eu tinha e eu respondi. Talvez ele seja o moço com a tatuagem de leão errada.

— Girafinha – Regina se ajoelhou, ficando da altura da filha e passando o dedo delicadamente no franzimento que surgiu em sua testa – eu juro que vou te explicar tudo mais tarde. Agora eu preciso ter uma conversa com meu amigo aqui – a advogada respirou fundo, encarando Daniel – será que você pode levá-la para dar uma volta por alguns minutos por favor?

— Claro amor, eu... – buscou algo que pudesse lhe passar conforto, mas não sabia o que seria adequado para um momento como aquele, então lhe deu a única certeza que tinha – aconteça o que acontecer, eu sempre estarei com você. Com vocês.

— Obrigada Dani – sorriu, apertando sua mão e lhe dando um beijo na bochecha.

— Vamos mocinha – sorrindo feliz, ela tomou a mão do homem, porém, antes que se movessem além, Robin falou:

— Espera – Regina o viu se virar e lentamente finalizar os passos que restavam entre ele e a menina, ajoelhando-se diante dela, fitando cada pequeno detalhe, absorvendo tudo o que podia. Ele abriu a boca maravilhado, tapando-a em seguida com a mão, como se estivesse sufocando, até enfim se recompor o suficiente para falar – posso saber seu nome? – sua voz era quase um sussurro.

Louise buscou o olhar da mãe, pedindo permissão, Regina acenou concordando e ela respondeu:

— Louise – respondeu e sorriu em seguida. Locksley viu aparecerem covinhas como as suas e Deus... sentiu seu coração dar um salto, como poderia um sorriso lhe desestruturar assim? Louise... Regina tinha lhe dado seu nome do meio. Engoliu um riso amargo. Quão cruel ele ainda descobriria que ela podia ser?

— É um lindo nome. Você é muito linda na verdade.

— Obrigada – a simpática garotinha, enrubesceu pelo elogio e jogou a cabecinha sobre o ombro, fitando-o – e o seu? 

— Eu me chamo Robin.

— Foi bom conhecê-lo Robin – ela estendeu a mãozinha e ele apertou de volta. Olhando-a de cima abaixo mais uma vez, fascinado com a beleza e doçura daquele pequeno ser – posso ver sua tatuagem melhor?

— Ehh... claro – desabotoou a camisa e lhe estendeu o braço. A menina passou os dedos, um tanto admirada pelo desenho – é o brasão da minha família.

— É bem bonito Robin, não sei o que é um brasão, mas eu gosto de leões. E de girafas também. Olha só minha mochila – ela se virou um pouco, mostrando o objeto em suas costas.

Locksley riu. O que era aquilo queimando em seu coração? Ele era metade alegria e metade desespero. Era tão surreal que podia jurar estar sonhando.

— Eu adorei conhecer você – estava se segurando para não chorar – você é muito linda Louise – involuntariamente subiu uma mão, colocando uma mecha que tinha saído da trança e descansava na testa, atrás da orelha. Como havia feito tantas vezes no passado com sua mãe e ela corou igual ela.

— Minha mamãe me diz sempre que pareço com ela, que somos iguaizinhas. Só não meus olhos, esses eu puxei do papai – ela tagarelava sem parar e Robin só sabia admirá-la – Ah! E as covinhas também – a menina apontou para as bochechas e não teve mais como, seu peito parecia uma represa que tinha rebentado e lágrimas escorreram por seus dois olhos, aquilo era apenas mais uma confirmação do que ele já tinha constatado – não chora Robin – as mãozinhas involuntariamente subiram por suas bochechas, deixando que os dedos pequenos enxugassem seu rosto. O toque delicado despertando algo que ele jamais sentiu em toda sua vida. Ela olhou para sua mãe que também chorava e então olhou para Daniel – porque todo mundo está chorando tio Dani?

— Meu bem, é difícil de explicar. 

— Vocês adultos são estranhos, vou perguntar para tia Emma, ela sempre sabe me explicar tudo – voltando a encara-lo continuou – eu preciso ir agora Robin. Não chora mais não  bom? Vai ficar tudo bem – sorriu dando um beijo na bochecha dele.

Respirou fundo para conter-se, tocando onde ela tinha apenas beijado seu rosto, querendo reter dentro de si aquela sensação para sempre. Com muito esforço ele desenhou um sorriso nos lábios e respondeu:

— Eu prometo que vou tentar Louise. Posso te dar um abraço? – ela acenou e ele foi em frente. Envolvendo os braços ao redor dela, sentindo toda delicadeza daquele ser tão pequeno e inocente. E metade seu. Sua filha... Aquilo era uma benção com certeza. Estava tão feliz pela descoberta, mas ao mesmo tempo com tanta raiva de Regina. Era injusto. O que ela tinha lhe tirado, era algo que ele não tinha certeza se poderia perdoar.

Quando Louise se afastou,  percebeu que não estava preparado para não tê-la em seus braços, todavia, achou melhor liberá-la, a pobre garota não entenderia o que ele estava sentindo e não queria assustá-la. Se despedindo outra vez, viu o outro homem tomá-la pela mão e guiá-la até a saída do prédio, deixando-o a sós com a morena.

Jamais saberia explicar o sentimento que tomou seu coração quando a viu saindo, era como beber do céu, alcançar o ápice da satisfação em um sonho e ser abruptamente acordado, sentido escorrer pelos dedos aquela sensação tão maravilhosa. Não teria imaginado aquilo nem nos seus sonhos mais inusitados, entretanto, agora ele se descobria pai de alguém. Tinha uma parte dele viva em outro ser, de repente, ele já não sentiu aquela vontade tão grande de minutos atrás de desaparecer, de que sua vida se resumia a nada. Agora ele queria ficar, queria ser, ser o pai dela.

 

* * *

 

Quando ele se colocou de pé, a morena viu sua expressão mudar. Enquanto Robin acompanhava Louise sair, parecia em transe, perdido em pensamentos e estampava nos lábios um sorriso esperançoso que nem tinha percebido. Ela notou porque as covinhas se evidenciaram sutilmente, todavia, ao se virar em sua direção, a curva bonita de sua boca morreu e o olhar que ele lhe deu indicava o quanto a conversa a seguir seria difícil.

Eles se olharam em silêncio, Robin destilava tudo o que sentia através dos olhos azuis que agora estavam semicerrados. Lhe recordava o mar agitado em ondas monstruosas durante uma tempestade. Regina ao mesmo tempo em que sempre tinha se preparado para aquilo, percebeu que nunca imaginou que seria tão pega de surpresa daquela maneira. 

Não tinha a menor ideia do que começar a falar. Ela tinha um plano em sua mente, vinha ensaiando e mentalizando como seria quando ele estivesse diante dos seus olhos e agora que estava ali, ela se viu totalmente a mercê do improviso. E Mills nunca tinha sido boa nisso. Era sistemática demais e se odiou por não conseguir simplesmente abrir a boca e falar.

Robin continuava a encarando, incrédulo e muito zangado. Zangado talvez fosse eufemismo. Sua respiração estava pesada, os nós dos dedos estavam brancos tamanha força que ele apertava os punhos. Além do vinco que sempre se destacando bem na fronte. No mínimo ele estava furioso. 

— Robin – fungou, limpando o rosto e mantendo seu olhar no dele – não era para ser assim.

— Com certeza não era pra ser assim – o loiro soltou uma risada amarga.

— Eu ia te contar, juro que ia.

— E quando seria? Quando a menina fizesse 18 anos? – seu tom estava coberto de sarcasmo.

— Não Robin, eu estava procurando você, mas você estava meio fora dos radares. Kilian estava tentando, porém, ninguém sabia nada a seu respeito. Pretendia fazê-lo no próximo mês quando entrasse de férias.

Locksley balançou a cabeça contrariado e não acreditando no que ela falava:

— Por que? – começou a andar de um lado para o outro – Por que Regina? Por que você fez uma coisa dessas comigo? – jogou a cabeça para trás, passando a mão pelos cabelos, puxando-os e quase os arrancando da cabeça.

— Sinto muito, realmente sinto, mas preciso que me ouça agora – seu estômago começou a revirar e ela jurou que vomitaria seu café da manhã. Tudo o que menos precisava era de uma crise de ansiedade.

— Não Regina, você não sente – os olhos dele estavam profundamente fixos nos seus e cheios de acusação – você só diz isso porque eu descobri. Se sentisse não teria tentado fugir de mim, pelo contrário, teria dito que queria conversar comigo assim que ficamos sozinhos.

Engolindo a seco, desviou o olhar, culpada. Porém,  ela só tentou fugir porque estava com medo. Medo da reação, do julgamento e do que sentiu assim que colocou seus olhos nele.

— É tão verdade que você não consegue nem olhar nos meus olhos... Você não tinha esse direito! Não deveria ter me privado de saber que tenho uma filha! – um dedo acusador voou em sua face. Ele tinha se aproximado e se imposto sobre ela, sua respiração era rasa e se ela não o conhecesse,  não saberia que ele estava controlando sua raiva com toda sua força. 

Ela recuou, sentindo sufocada pela presença dele, mas não de uma forma boa como sempre acontecia, a áurea entre eles estava muita densa e pesada, quando ela começou a se afastar para conseguir respirar um pouco melhor ouviu:

— Isso, faz o que você parece saber fazer de melhor, fuja...

— Robin! – ela protestou colocando as mãos na cintura. Sabia que tinha cometido um erro enorme, porém, não tinha o direito de acusá-la. Não quando ele tinha sido o primeiro a se afastar – você fala como se não tivesse fugido de mim antes.

— Fugido de você? Você tem noção do que está dizendo? – cruzou os braços enquanto fitava-a – Procurei pelo seu nome nas universidades americanas por 1 ano... Eu fui um idiota por não me tocar que seria óbvio que você viria para a França.

— Por que você faria isso se me deixou sozinha quando eu mais precisei de você?! – a advogada indagou balançando a cabeça, cética.

— Porque eu te amava Regina! – ele queria dizer “ainda amo”, todavia, tudo o que estava sentindo naquele momento ofuscava o amor em seu peito por ela – Viver sem você foi um tormento!

— Então por que nunca apareceu quando eu marquei aquele encontro? – pediu com desespero brotando de seus olhos – Eu pretendia te contar tudo ali.

— Que encontro? – suas sobrancelhas se franziram, duvidosas – Você nunca marcou nenhum encontro comigo!

— Claro que marquei! – ela tirou as mãos da cintura e as abaixou rapidamente – Eu estava muito magoada com sua traição, mas tinha chegado à conclusão de que eu tinha ao menos que te contar sobre o bebê, ainda que não ficássemos juntos. Te liguei, você não atendeu, deixei um mensagem com um endereço, você nunca apareceu, pelo contrário, me mandou um recado muito especial... Você –  seu indicador voou na face do loiro – aponta o dedo na minha cara, mas é um covarde da pior espécie!

— Do que você está falando? – Robin ergueu as mãos na altura da cabeça, pedindo por um esclarecimento – Nunca recebi nenhuma mensagem sua, eu estava desesperado por perdão, você acha mesmo que se tivesse me mandando mensagem eu não teria ido?

— Você não foi Robin! Você agiu como um garotinho mimado mandando sua mãe no lugar para me dispensar – seus olhos castanhos estavam cheios de dor e ressentimento  –  Achei que eu merecia mais respeito de alguém que dizia me amar!

— O que? Minha mãe? Você poderia fazer sentido por favor!

— Você não precisa se fazer de sonso Robin, apenas me diga a verdade.

— Que verdade Regina? Que nós temos uma filha que você escondeu de mim por cinco anos, CIN-CO ANOS... Você estava criando-a com outro cara, dando a ele algo que deveria ser meu! Você acha isso justo?  Estou com tanta raiva, que poderia quebrar esse prédio inteiro! Como você pôde?!

Ele deu um soco na parede de vidro a sua frente, balançando o punho em seguida, com certeza tinha doído. Contudo, Robin nem apareceu se importar. O segurança se aproximou e perguntou se ela precisava de ajuda. A advogada o dispensou e disse que estava tudo sobre controle. Locksley aproveitou o tempo para se afastar alguns metros,  respirar profundamente algumas vezes e tentar se acalmar. 

O que ele não daria por uma dose de uísque agora...

Regina se aproximou com cuidado, incerta sobre como reabordar algo tão delicado. Aquilo era um problema muito grande. Não deveria ter sido daquela forma...

— Ao contrário do que você pensa, Daniel não está nas nossas vidas há tanto tempo. Louise o adora porque ele é bom para ela. Quando ele apareceu tudo o que ela queria era um pai e... bem, ele estava disposto a ser isso para ela – terminou reticente.

— Você acha que dizer isso alivia o que estou sentindo? – Robin lhe enviou um olhar gelado que fez com que ela tremesse – Eu perdi 5 anos da vida dela, não sei absolutamente nada além do nome! – gesticulou inconformado – Regina, depois de crescer sentindo na pele o que é ser obrigado a viver por um código de normas horríveis  e ver que família pra eles se resume a status – ele suspirou continuando – jurei que quando eu tivesse um filho, eu faria de tudo para que ele nunca, nunca, jamais, sentisse nem mesmo parcela do eu senti, pelo contrário, faria com que minha criança se sentisse amada pelo que era. E agora, eu não sei nem o que ela sabe sobre mim... o que você disse a Louise a meu respeito?

— Que você morava longe, não sabia sobre ela e por isso não podia vim visitá-la – respondeu receosa, pois sabia que aquilo era um resposta horrível. Ele a encarou, a raiva de outrora voltando com força e ele balançou a cabeça, contrariado.

— Porra ReginaBloody hell! – vociferou apontando o dedo para ela outra vez – Você não teve um pingo de consideração por mim, nem para falar qualquer coisa boa a meu respeito para a menina enquanto eu sofria por você todo esse tempo!

— O que você queria que eu dissesse? – ela empurrou o peito dele chateada com todas as acusações. Ao contrário do que ele pensava, ela nunca tinha falado mal dele e estava sim arrependida, mas falar sobre aquilo com ele em carne e osso materializado a sua frente, era reviver tudo o que tinha sentindo anos atrás e não pôde extravasar – Que o pai dela era um canalha que me enganou? Ou um covarde que teve medo de abrir mão da boa vida para ficar comigo? Ou talvez que ele tinha engravidado outra mulher e seguiu com o casamento para ser honroso? Essa me parece a opção mais “razoável” para se dizer a uma criança não? Hã, vamos lá, me diga? – cuspiu a última frase encarando-o com fogo nos olhos, misturado ao brilho de lágrimas não derramadas.

— Nenhuma dessas opções, pois nenhuma é verdadeira! Eu não tinha intenção de me casar com Marian e muito menos te abandonaria, foi você quem sumiu!

— Robin, eu fui embora porque você não veio falar comigo, aquilo era resposta suficiente. Você mandou sua mãe sabendo que ela me odiava! Você nem respondeu a última mensagem que te mandei implorando para que viesse falar comigo. Eu não tive escolha – uma das lágrimas que ela tinha tanto tentado esconder acabou escapando sorrateira e ela a limpou rudemente.

— Você não me deu oportunidade de ter uma conversa Regina! Não atendeu nenhuma ligação.

— Vamos voltar a isso? Claro que dei! E você não me ligou nenhuma vez – reafirmou, muita certa do que falava.

— Liguei sim! Depois que saiu o anúncio do meu falso noivado, eu percebi que te dar um tempo para pensar tinha sido um erro e foi quando mandei mensagem, liguei e não dava em nada, parecia até que tinha me bloqueado. Então não, não me deu chance alguma!

— Eu te liguei, você não atendeu, então mandei uma mensagem pedindo para nos encontrarmos naquela cafeteria que amávamos – ele a olhava intrigado – por que você mandou sua mãe e Marian? 

— Regina... – o rosto dele enrugou em confusão – repito, nunca recebi nenhuma mensagem sua.

— Elas jamais saberiam o local e a hora se você não tivesse dito – devolveu ferida – Eu entendi o recado, então cuidei da minha vida sozinha.

— Eu... isso... não entendo – disse cismado – Você está mentindo é isso! Você está tentando jogar isso para cima de mim para encobrir o fato de ter omitido Louise!

— O que? – indignou-se – Olha... Acho que você deveria voltar para sua casa de luxo, para seu patrimônio milionário e seja lá o que mais existir na sua vida e fingir que, sei lá, nós não existimos.

Robin olhou para o teto, mordendo o lábio inferior e suspirando até conseguir se acalmar. Depois soltou uma risada sarcástica e a respondeu:

— Você não cansa de me surpreender, nunca imaginei que fosse uma mentirosa, você supõe tanto sobre mim e nada é verdade. Eu não tive um filho com Marian porque ela armou tudo. Não te deixei sozinha, fui até seu dormitório e Emma – ele parou sua fala por alguns segundos, se lembrando de algo – agora faz sentido. 

— O que faz sentido?

— Nada! – balançou a cabeça continuando – depois fui até sua casa e seu pai não me deixou vê-la. Mas você já deve saber disso – do que ele estava falando? Ele nunca foi atrás dela, a não ser que... Não! — Então não, não vou fingir que não tenho uma filha agora que sei que ela existe e saiba de uma coisa Regina – ele se aproximou até ficar a um fio de distância e pela primeira vez, Mills não gostou do fogo ardendo em seus olhos azuis que agora estavam escuros e possessos de mágoa – não só não irei esquecer, como também farei de tudo para tirá-la de você. Quero que sinta a dor que eu senti ao descobrir que ela é minha, mas não a tenho. Escute minhas palavras Mills, vou tirá-la dos seus braços, nem que seja a última coisa que eu faça!

.

.

.

Então ele virou-se, marchou até a saída e partiu sem olhar para trás. Deixando-a com o coração batendo acelerado, a boca aberta tamanho o choque do que acabara de ouvir  e a alma aflita pela mera possibilidade de perder o que tinha de mais precioso, sua filhinha.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Estou muito ansiosa pelo feedback desse capítulo em especial.
Dark Robin is here
Logo estou de volta, beijos



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