Um Segredo Entre Nós escrita por Emma


Capítulo 10
Quando você recebeu uma proposta


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora pessoal. Mas vem aí dois capítulos pra vcs. Relevem os erros e sem delongas eis aí o capítulo



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Oh, vamos lá amor frágil, dure só mais um ano, adicione um pouco de sal, nós nunca estivemos nessa situação...

 Mando meu amor destruir tudo, corte todos os laços e me deixe cair”

Skinny love - Birdy


Robin saiu apressado daquele lugar, estava tão possesso de raiva que sua visão estava embaçada e só voltou a si quando a buzina de um carro soou alto em seu ouvido. Quase tinha sido atropelado e nem tinha percebido. O motorista o xingou em francês e falou outras coisas que ele não entendeu. Ele só continuou a caminhar sem rumo pela cidade, enquanto seu coração ardia em conflito com a enxurrada de sentimentos brigando dentro dele.

Ele tinha uma filha, ele tinha uma filha com Regina. Uma criança que ela tinha escondido dele por cinco anos e se não fosse por hoje quem sabe quanto tempo mais. Era impossível digerir aquilo. Podia sentir a raiva evaporando por seus poros, entrando em contradição com o sentimento doce que tentava invadir seu ser ao lembrar do sorriso da menina.

Louise...

O nome dela gritava como um eco infinito em sua cabeça e sua memória o traiu, o reportando à uma lembrança que jurava nem ter arquivada em sua mente.

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Seis anos atrás...

Robin estava estudando, com uma cópia impressa de uma tese, sentado com as costas apoiadas na cabeceira de sua cama king size, no quarto da irmandade. Regina estava ao seu lado, com um livro de direito penal em mãos, estudando para uma prova. Ela estava deitada de bruços, com uma camiseta e cueca boxer suas, deixando as pernas a mostra. Ele sorriu, permitindo seus olhos navegarem pelo corpo dela, se distraindo completamente da leitura em suas mãos.

A intenção de Regina era dar um pulo rápido para vê-lo, dar um oi e depois voltar ao seu dormitório, mas então ele a beijou uma, duas e na terceira, começou a distribuir mais beijos pelo seu pescoço até convencê-la a ficar. Afirmando que tinha mais de uma semana que eles não se viam e tinha saudades. Quando ela deu por si já estava arrancando as roupas dele, enquanto ele a prensava contra a porta.

 Fizeram sexo rápido e desenfreado ali mesmo, contra a superfície de madeira, ainda meio vestidos. Em seguida Robin se desfez do que ainda vestiam e a levou para a cama, agora amando-a em um ritmo mais lento, entretanto não menos gostoso. Quando se sentiram saciados tomaram um banho juntos e se acomodaram para estudarem. Robin a pediu para dormir ali e foi assim que ela acabou vestida com suas roupas.

Ainda admirando-a, não resistiu e deslizou uma das mãos pela perna dela, em uma carícia calma e delicada, chamando sua atenção. Sua garota bonita se virou, os cabelos longos espalhando-se pela coberta, um sorriso lindo que logo se perdeu na mordida que ela deu no lábio inferior. Suspirou. Caramba! Ela era perfeita e encarando-o daquele modo, com aqueles óculos de leitura, se sentiu ainda mais atraído.

— Você prometeu que ia me deixar estudar – ela quebrou o silêncio, ainda segurando seu olhar.

— Você quem me distraiu primeiro – se levantou engatinhando pela cama – Como posso prestar atenção em uma tese chata tendo você aqui com essas pernas maravilhosas a mostra?! – quando a alcançou, pairou seu corpo sobre o dela, selando seus lábios em seguida..

— Você é impossível Locksley! – sorriu mordiscando de leve seu colo, pressionando seu quadril contra o dela e Regina enlaçou seu pescoço.

— Eu tenho uma prova amanhã – avisou, mas sem um pingo de convicção em sua voz.

— Eu também tenho – continuou a beijá-la até que ambos estivessem sem fôlego.

— Então vamos estudar – sorriu – no final de semana a gente se ama mais pouquinho – pediu dengosa, passando a mão pelos seus cabelos.

— Um pouquinho nada! – protestou saindo de cima dela e se jogando ao seu lado – Eu vou alugar um quarto em um hotel afastado em Baltimore ou Chesapeak Beach e nós não vamos sair de lá para nada.

— Adorei a ideia – Regina o encarou com um olhar cheio de malícia. Então, levantou-se da cama e andou até sua estante de livros, pegando um belo exemplar de uma coleção antiga e cara, daquelas edições especiais de colecionador. Folheando-o ela leu a dedicatória, enquanto voltava a cama, sentando-se no colo dele – “para Robin Louis Locksley, com amor, vovô Louis.”

Antes que ela perguntasse, ele se antecipou:

— Esses livros eram do meu avô, uma coleção que ele ganhou de presente do meu bisavô enquanto estudava direito. Ele deixou para mim, antes de morrer – ela apertou sua mão lhe dando apoio. A morte do avô era algo que ainda doía em seu namorado.

— Eu adoro seu nome do meio. Principalmente a versão feminina dele.

— Minha mãe me deu esse nome em homenagem a ele. Você sabe o que significa?

— Não – ela o fitou com curiosidade – qual significado?

— Combatente vitorioso. Soa um pouco egocêntrico visto que Robin significa “aquele que tem fama” no original germânico. Eu já deveria prever as intenções da minha mães desde o início.

— Como assim? – indagou curiosa.

— Ela sempre quis que me tornasse alguém importante na realeza. Nós descendemos de uma longa linhagem de nobres. Mas eu nunca usaria uma coroa. A não ser que me casasse com uma princesa herdeira do trono.

— Porém... você acabou escolhendo alguém totalmente sem títulos e de classe inferior a sua – ela deu um meio sorriso.

— Regina – embalando seu rosto, ele beijou delicadamente sua testa – eu não me importo com nada disso. Meu coração escolheu te amar e ele não poderia ser mais assertivo.

— Você é perfeito sabia?! – sorriu. Agora era ela quem segurava o rosto dele, sussurrando sobre seus lábios – meu príncipe sem coroa, com o coração mais nobre que eu já vi – se entregaram em um beijo doce e repleto de sentimento.

— Eu prefiro a versão que o vovô me contava sobre meu nome, devum nosso ancestral, um duque guerreiro, que deixou tudo por amor e por isso ficou famoso. Abandonou tudo, sua vida de riquezas e seguiu seu coração. Então ele começou a roubar dos ricos e dar aos pobres. Essa era a versão dele de Robin Hood. Por isso ele pediu a minha mãe que eu me chamasse Robin. Louis ela colocou em homanagem a ele.

— É perfeito e combina muito com você. Eu adoro porque é uma variação francesa e é muito charmoso. Se um dia eu tiver uma filha, eu gostaria que ela se chamasse Louise.

— Nós.

— Nós o que? – perguntou com um sorriso confuso não entendendo sua colocação.

— Se um dia nós tivermos uma filha – o loiro sorriu e Regina sustentou aquele inebriante olhar azul como o céu da primavera francesa em uma manhã de abril. O comentário fez seu coração queimar e ela nada disse, apenas se inclinou e o beijou, voltando sua atenção para o livro. Aquilo tinha sido o mais próximo que ele já falará sobre o futuro deles e Regina tinha gostado muito de imaginar como poderia ser.

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Por que? Porque sua mente o traía desse jeito? Ele estava furioso com Regina, ele queria fazê-la sofrer tanto quanto ele estava sofrendo agora, a última vez que se sentiu exatamente assim foi quando largou tudo e se mudou para Nottingham. Ele só... ele não podia acreditar. Regina tinha sido tão egoísta. Ela lhe roubou muito.

Louise... O nome continuava a martelar em sua mente como o ressoar estridente do sino da igreja ao meio dia. O que ele tinha feito para merecer aquela penitência? Sabia que tinha errado, mas não justificava que ela tivesse escondido uma filha dele. Por que Regina tinha sido tão cruel? Por que? Por que? Se indagava enquanto quase arrancava os cabelos loiros da cabeça.

Fechou os olhos e nem mesmo a lembrança do belo e doce olhar da menina dissiparam a névoa entorno dele. Pelo contrário. Ele só conseguia ver Regina sendo beijada por seu namorado e sua filha, acolhida e abraçada, por outro cara durante a noite.

Uma mistura de ciúmes, ira e injustiça cavaram raizes profundas dentro dele. Coisas que ele não queria sentir. Entretanto, parecia impossível não senti-las penetrando fundo em seu coração e gerando dúvidas perigosas, dúvidas que o guiavam por caminhos dentro de si que Robin nunca imaginou existirem.

Parando em meio a uma área verde que acreditou ser um parque público, percebeu que estava perdido. E realmente estava. Muito mais interna que externamente. Esfregando a mão pelo rosto, sentou em um banco que tinha avistado alguns segundos antes. Robin começou a encarar um ponto aleatório a sua frente, sua mente ainda navegando em águas perigosas e escuras, enquanto lágrimas se formavam em seus olhos.

Ele estava ferido. Tão profundamente machucado e dilacerado. Seu coração tinha sido partido ao meio quando imaginou que Regina estava casada e tendo uma família com outro homem. Todavia, quando soube que a garotinha era sua, sentiu como se alguém o tivesse arrancado do peito e o amassado tão fortemente até que virasse pó diante dos seus olhos.

Tudo o que sentia era tão intenso. Uma dor crua e extenuante. Uma mistura de raiva, tristeza e decepção. Toda sua alma estava agitada, aflita, angustiada. Tudo o que ele conseguia pensar e desejar era fazê-la pagar por deixá-lo assim. Era errado. Mas no momento, ele não se importava nem um pouco.

Quando seu telefone tocou pela quarta vez ele decidiu ver de quem se tratava. Passou a mão pelo rosto novamente e se deu conta que estava tomado pelas lágrimas. Ele estava tão absorto em seus sentimentos que nem as percebeu cair.

A foto de Zelena estampou a tela do celular e Robin suspirou, hesitando por dois segundos antes de aceitar a chamada. Não tinha ninguém, só uma cadeira vazia, mas antes que ele pudesse processar sua amiga ruiva se sentou de supetão na cadeira distraída com algo em um prato, desatando a falar em seguida:

— Bom dia! E aí bonitão? Colocou os advogados ricos e engomadinhos para chupar dedo? – Locksley não respondeu nada, as lágrimas tinham secado sua garganta sem que se desse conta e o silêncio chamou a atenção da mulher que quando o encarou cuspiu tudo o que tinha na boca – MEU DEUS ROBIN! Você está chorando?! O que aconteceu? Foi tão ruim assim? – Zelena arrumou sua postura, ficando imediatamente em alerta. O loiro puxou profundamente a respiração e pigarreou para limpar a garganta.

— Eu a encontrei – ele fez uma careta e a ruiva não precisou de muito tempo para entender de quem ele falava – “Bloody shit” — pensou arregalando os grandes olhos azuis. Dando tempo a Robin para continuar antes de falar qualquer coisa – ela era uma das advogadas da firma contratada pela senhorita Blanchard.

Zelena sorriu internamente pensando no quanto o destino podia ser uma vadia as vezes...

— Eu imaginei que quando você a encontrasse me diria isso sorrindo e não com o rosto banhado de lágrimas... O que diabos aconteceu?

Robin, que estava com o olhar perdido, a encarou, seu rosto estampava o quanto estava sofrendo. Porém, o que a assustou foi ver que, além da dor desenhada em cada traço seu, seus olhos, sempre tão alegres e compreensivos, fervilhavam mágoa por trás das lágrimas.

— Eu... – vacilou – eu acabei de descobrir que tenho uma filha Zelena.

“Puta merda” – a ruiva pensou enquanto suas orbes celestes cresceram a ponto da sobrancelha quase tocar o início de sua cabeleira alaranjada.

* * *

 

Regina o viu marchar violentamente para fora do prédio, a ameaça ainda pairando sobre ela como uma nuvem carregada anunciando a chegada de uma tempestade. Olhou para todos os lados, como se de algum lugar uma saída para aquela situação fosse aparecer como um passe de mágica. Um portal qualquer, que pudesse transportá-las em um uma outra realidade, como nas histórias que contava à Lou Lou antes de dormir.

Mas, na vida real, aquilo não acontecia, então saiu rumo a via de escape que parecia mais aceitável no momento: o banheiro. Para fazer a única coisa que ela poderia: chorar.

Passou pela porta, fechando-a e escorando-se contra a mesma. Se permitiu soltar um grito sufocado pelas mãos que tapavam a boca enquanto suas costas deslizavam até que estivesse sentada no chão, quebrando em seguida. Regina chorou, chorou e chorou. As lágrimas só pareciam vir e ela simplesmente não conseguia evitá-las.

Lembrou-se de Robin olhando-a com tanta decepção e mágoa, ameaçando-a com tamanha convicção e ainda sim não conseguia odiá-lo. Estava apavorada, claro. Todavia, o efeito de vê-lo outra vez, a tinha bagunçado por inteiro. O poder que aquele homem tinha sobre ela involuntariamente era impressionante. Uma enxurrada de todo tipo de emoções tinha virado seu mundo de ponta cabeça.

A sensação era como ser tomada por uma espécie de tsunami, que a atingiu em cheio, totalmente de surpresa e sem misericórdia, acabando com qualquer fundamento diante dela. Ela só conseguia ver Louise sendo arrastada para longe e sua impotência em mantê-la ao seu lado.

Quais eram suas chances contra a família dele? Ele era um Locksley. Além da influência, aquela família poderia facilmente comprar qualquer juiz. Principalmente se Eleanor interferisse. A mera menção ao nome da mulher a fez estremecer, ao mesmo tempo em que a reportou para minutos atrás quando ele lhe afirmou não saber da mensagem enviada, que não tinha tido um filho e que havia ido até sua casa e seu pai não o deixou vê-la.

Seria verdade? Seu pai teria tido coragem de lhe ocultar algo assim? Não. Ele não teria feito aquilo. Henry fora testemunha de todo o sofrimento, das noites em que ela chorou no colo de sua mãe até pegar no sono, dos dias que ela passava sentada na poltrona que tinha vista para o jardim na esperança que ele aparecesse, até que finalmente decidiu se mudar. Por que teria lhe escondido que ele tinha ido procurá-la? Se Robin realmente tivesse ido até sua casa, ele teria lhe contado, não teria?

Mills se viu de repente duvidando de tudo. Só tinha uma pessoa que poderia esclarecer aquilo e ela ligaria para ele, contudo, agora não tinha condições nenhuma. Tudo o que ela queria era chorar até esvair a dor em seu peito. Estava cansada de sempre esconder tudo o que sentia, de ser forte, de suportar tudo, ela faria isso mais tarde, agora ela só queria colocar para fora tudo que estava fazendo seu coração doer.

Nem saberia dizer quanto tempo passou ali chorando, até que sentiu um desespero enorme a consumir, junto a necessidade de ter sua filha em seus braços e nunca mais soltá-la. Quando pensou em mandar uma mensagem à Daniel, sentiu um toque na porta seguido por um chamado:

— Mamãe? Você tá aqui? – Lou Lou perguntou já empurrando a porta. Regina tentou se recompor um pouco, mas não tinha muito o que fazer. Estava um desastre e sua filha certamente perceberia. Se afastou dando passagem a menina que a encarou com enternecida e se ajoelhou, sentando-se como pôde em seu colo e se enfiando em seu abraço – mamãe não chora por favor, eu aqui com você! Vai ficar tudo bem  – Louise certamente não tinha noção do que aquelas palavras significavam, porém trouxeram uma ligeira sensação de paz ao coração aflito de sua mãe.

Regina a apertou naquele abraço, com todo amor que pode, Deus! Como ela amava aquele serzinho. Perdê-la significaria sua própria morte. Louise era seu tudo, se ela vivia, vivia para vê-la feliz e realizada. Se trabalhava com afinco e esforço, era por ela, para que tivesse um bom futuro. Todos os sacrifícios que tinha feito e as coisas que tinha aberto mão de sua juventude, valiam a pena quando olhava nos olhos azuis (como os dele) de sua garotinha. Não podia aceitar que a levassem para longe. Não mesmo! Faria o possível e o impossível, lutaria e levaria esse caso até a última estância se fosse preciso, e se não conseguisse por meios legais, fugiria. Ninguém tiraria sua filha, não permitiria!

 

* * *

 

— O QUE? – soltou de uma vez tamanho a supresa – como assim uma filha? Meu Deus Robin eu... eu não estou conseguindo processar bem. Quando você diz uma filha está se referindo a uma criança?

O loiro ignorou a brincadeira e suspirou cansado, estava exausto na verdade, suas energias tinham sido sugadas em um nível surpreendente. Fungou, puxando um suspiro profundo:

— Quando Regina foi embora, ela estava grávida e não me disse nada... Depois da audiência, eu corri até ela como um tolo esperançoso e então vejo Regina sendo abraçada pela menina e beijada por outro cara. Eu quase a beijei antes de vê-los... Eu estava tão feliz, tão extasiado de tê-la diante dos meus olhos outra vez, que a única coisa que pensei foi em beijá-la e nunca mais deixá-la escapar – ele franziu todo o rosto, como se alguém tivesse apertado um ponto dolorido em seu corpo. Zelena se compadeceu de tal maneira. Seu amigo estava destruído e sofrendo muito. Sua vontade de esganar a tal Regina só crescia.

— Oh darling, eu sinto tanto – ele apertou os olhos com os dedos na intenção de não chorar, mas, suas lágrimas tinham vontade própria e voltaram a cair.

— Zelena – continuou mesmo chorando – a... a menininha no show do Coldplay, era ela, minha – hesitou, pois era um termo novo para ele – minha filha.

A ruiva tinha uma vaga memória da criança a qual ele falava. Porém, se lembrava que havia até mesmo sugerido que poderia ser sua filha. Se ela soubesse que seus palpites eram tão assertivos aquele dia tinha jogado na loteria. Pensou sarcasticamente.

— Meu Deus! Querido, o que você está pensando em fazer? O que ela te falou?

— Mentiras e mais mentiras, mas não importa, por que vou tirá-la de Regina, quero que ela sofra como estou sofrendo agora. O que ela fez comigo... Não posso perdoar – Robin encarou Zelena e ela engoliu a seco. Todas as vezes em que ele falava sobre sua ex namorada, sua expressão era nostálgica e apaixonada, um sorriso jovem e delicioso nascia em seus lábios e aquilo era lindo de ver. Dessa vez, era totalmente o oposto...

— Me escute por favor. Você está com a cabeça quente, não faça uma besteira, eu tenho o dia livre e vou pegar o próximo voo para Paris. Vá para seu hotel e me espere lá. Estamos de acordo? – Robin apenas acenou, muito perdido em seus pensamentos. Zelena não estava muito confiante que ele seguiria suas instruções, todavia, encerrou a chamada se despedindo e dizendo que o veria muito em breve, torcendo para achar um voo livre nos próximos 30 minutos e para que seu amigo não fizesse uma estupidez.

 

* * *

 

Para variar, chovia em Londres aquela tarde. A cidade sempre tão cinza e elegante, estava agitada mesmo com toda a chuva que caía. Pessoas com seus sobretudos impermeáveis e guarda chuvas cruzando as ruas e tentando não serem banhadas pelos táxis pretos padronizados que andavam para lá e para cá. Eleanor observava do alto, indiferente, enquanto apreciava seu chá quente, no conforto do seu escritório.

Já havia passado das seis da tarde. Sua secretária tinha ido embora depois de servir o chá. Ela ficaria meia hora a mais afim de finalizar a leitura de um processo novo. Quando a porta se abriu sem aviso prévio ela nem olhou, acreditou que a jovem havia esquecido de lhe informar algo e por isso havia voltado. Quando a foto de uma menina voou sobre sua mesa muito rudemente ela levantou o olhar para a pessoa pronta para repreendê-la. Surpreendendo-se com quem seus olhos contemplaram, mas não demonstrando:

— O que foi querido? Cansou de brincar de defensor dos pobres? Ou está com dificuldades e veio pedir ajuda para a mamãe? – debochou olhando-o de cima abaixo, mantendo sua postura.

Robin riu amargo, torcendo a boca.

— Você é impressionante!

— Ah, então você chega na minha sala, depois de cinco anos, jogando as coisas em cima da minha mesa como um bruto sem educação e eu que sou impressionante? Pensei que havia te educado melhor – torceu o canto da boca com desgosto – Quem é a garota?

Robin não pensou muito:

— Minha filha – Eleanor, que estava de costas, se girou um pouco e ele pode ver seu perfil, esperando a continuação – com Regina – ela deu uma olhada rápida na foto, engolindo a seco discretamente – Mas se você não está surpresa é porque com certeza já sabia. Não é mesmo? Diferente de mim que acabei de descobrir. Como você soube?

— Do que você está falando garoto? Por que eu saberia de algo que diz respeito aquela garota?

— EU QUERO A VERDADE ELEANOR! – esbravejou – Cansei de ser feito de palhaço! Por que você sabia dessa criança e eu não?

A senhora Locksley deu a volta na mesa e sentou-se em sua cadeira, bebendo outro gole de seu chá e encarando Robin em todo o processo. Com a expressão inabalável de sempre.

— Já faz tanto tempo, eu pensei que aquela garota tinha se livrado do problema... Mas pelo visto, não, o problema cresceu e muito!

— Você não respondeu minha pergunta Eleanor...

— Robin, eu não ia deixar você acabar com sua vida se casando com aquela garota e renunciando ao casamento com Marian! A rainha não tem filhos, a coroa seria dela, você poderia ser rei, mas não, você preferiu “renunciar tudo por amor” – mudou o tom de voz, imitando a do filho, revirando os olhos em seguida – eu simplesmente removi os obstáculos no caminho. Ainda sim, você jogou todo meu esforço pelo ralo – deu um suspiro frustrado.

— O que você fez? – pediu com um toque de desespero, como se pudesse voltar no tempo e mudar o que já tinha acontecido  – O que disse a Regina?

— Eu simplesmente ofereci dinheiro para que abortasse o bebê, porque convenhamos, tudo o que ela queria era seu dinheiro, então facilitei as coisas – o sangue de Robin ferveu. Como um ser humano podia ser tão cruel? Afinal, era de um possível neto seu que ela havia se referido – entretanto, aquela menina insistiu em se fazer de santa injustiçada e não aceitou a proposta. Então disse para que ela sumisse da sua vida, pois ninguém atrapalharia meus planos. Aliás, você fez não é mesmo?! – acrescentou com sarcasmo.

— Como você soube da gravidez dela se nem eu mesmo sabia?

— Ela marcou um encontro com você, através de uma mensagem, eu li, peguei o endereço e apaguei a mensagem depois. Levei Marian comigo e foi ali que surgiu a história do bebê. Depois eu vi que ela tinha deixado cair um papel. Era o exame que atestava a gravidez. A única coisa que tive que fazer depois foi conseguir alguém para bloquear chamadas e mensagens de vocês nos celulares um do outro – deu de ombros.

Robin ouvia o relato chocado e inconformado em como aquela mulher, sua própria mãe, tinha interferido tão cruelmente em sua vida. E o preço ele estava pagando. Um preço muito caro. Cinco anos longe da vida de Louise. A raiva dentro dele só crescia.

— Eu... eu quero vomitar depois de ouvir tudo isso. Você se escutou? Eu sou seu filho, como você teve coragem de arruinar  minha vida por um capricho seu!?

— Eu estava salvando você de uma golpista seu ingrato! E o que você fez? Foi embora como um rebelde inconsequente! – exclamou elegantemente – Você tem noção de quanto tempo foi necessário para eu voltar a tomar chá com a rainha? Nossa relação nunca mais foi a mesma – exalou um suspiro dramaticamente sôfrego – Se não advogássemos para eles, tenho certeza que eu nem entraria mais no palácio. Tudo por sua culpa! Nós temos uma dinastia Robin, que você manchou! – apontou o indicador para ele de maneira acusadora.

— Eu não me importo nem um pouco com seus chás com a rainha ou com sua dinastia nobre! Você me roubou a oportunidade de conhecer minha filha!

— Eu estava tentando salvar seu futuro garoto mal agradecido!

— VOCÊ NÃO TINHA ESSE DIREITO ELEANOR! Não tinha! Eu quem deveria ter me preocupado com isso. Eu já era adulto o suficiente para assumir as consequências das minhas escolhas! Inclusive, a possibilidade de minha namorada ser uma golpista – passou as mãos pelo rosto frustrado demais, exausto daquele dia infernal, enquanto tudo fazia um pouco mais de sentido – falei tantas coisas para Regina, quando percebo que nós dois fomos na verdade peões nas suas mãos. Eu ainda estou magoado, ainda quero Louise, mas você... você me prejudicou demais! – Robin a fitou ferido, seus olhos já lacrimejando.

Eleanor o analisou sagazmente, seu filho era sempre tão transparente, sorriu internamente. Sempre tão manipulável, como o pai... A oportunidade estava ali, porque não agarrá-la?

— Eu sei que você está magoado, mas já é um adulto, já passou da hora de entender que tudo o que faço é para seu bem – ele tinha andado até a parede de vidro a qual ela havia observado a rua um tempo antes, com um braço escorando contra a mesma, olhando o horizonte. Eleanor o seguiu, se aproximando até conseguir acariciar seus cabelos. Robin não mexeu um músculo com o contato – se você quer a guarda da menina eu posso dar a você... – ele a olhou desconfiado, sem dizer uma palavra, apenas a mantendo o olhar – não se engane, se você veio até mim foi porque sabia que só eu poderia te ajudar. Você veio aqui com essa motivação, não se engane, você é meu filho afinal de contas – ela piscou e Robin engoliu a seco – você, meu querido Robin, melhor do qualquer um, sabe que juiz nenhum te daria a guarda dessa menina, não é tão fácil tirar uma criança de uma mãe. Contudo, se a garota é o que queres, eu a consigo... – o loiro a ouvia atentamente – só tenha em mente que exijo uma condição, muito simples: que acabe com essa historinha de ajudar os pobres e volte a trabalhar comigo. Além é claro, de se desculpar formalmente com a família real. Quem sabe ainda não conseguimos um bom casamento para você... Então? – pediu em expectativa, acreditando veementemente que conseguiria aquilo que desejava.

 

 

“Vamos amor frágil, o que houve aqui? Sugue a esperança de um seio pequeno, a carga de mágoas está repleta, então vá embora aos poucos... porque eu vou me desatar de todos os seus laços...”

“Quem amará você? Quem irá lutar?”

Skinny Love – Birdy


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Notas finais do capítulo

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