A Origem da Energia - As Crianças do Caos escrita por OrigamiBR


Capítulo 8
Caminho do Fantasma


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco, e esse capítulo ia sair maior ainda, mas decidi por postar assim já pra poder adiantar o resto



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O contraste com a cidade portuária de partida era evidente, ainda mais pelo clima: um ambiente úmido e quente os revigorava da imensidão fria que ficou para trás. As névoas dissiparam assim que vislumbraram o continente. O sol da manhã raiava entre as nuvens, dando um aspecto de novo à pequena cidade de Cosy.

Desembarcaram e viram toda a extensão da cidade: uma companhia de navios, que cuidava das docas; lojas e estandes de venda de mercadorias, em sua maioria comidas e especiarias de Arteris; e algumas poucas casas, dos prováveis moradores. Não havia um planejamento adequado no posicionamento, sendo todas as lojas localizadas num arco vindo do porto. As casas formavam o começo de um círculo oposto que partida das lojas, como se fosse as duas metades de uma circunferência invertidas, porém só era até aí o padrão, pois algumas outras casas formavam tortuosas ruas dentro da área residencial. Ao colocarem os pés na fina e compacta areia que cobria o pavimento, sentiram uma Energia familiar.

Da multidão que assolava a feira, surgiu uma pessoa que lhe ajudara tanto quanto o instrutor com cara de samurai, o Jim. Ela também os ensinara como executar o Primeiro Nível, ao se perder junto com seu grupo na Ilha Crescente. A mulher não muito alta, de cabelos castanhos e pele bem morena, próximo da cor de suas mechas arregalou os olhos em clara surpresa, sua armadura completa de batalha refletindo a luz do sol e balançando sua característica espada-seta na cintura.

Os três se aproximaram dela, um pouco receosos, mas assim que ela deu um sorriso leve, prosseguiram a conversar: Lillian Ares Luthor, a Solar, informou sobre o que acontecera durante o período que não estavam por lá.

 “Assim que descobriram que Alucard estava morto, a resistência não perdeu tempo e invadiu as ruínas do castelo. Houve uma disputa sanguenta com a Mão do Monarca sobrevivente, mas mesmo eles sendo poderosos, estavam em menor número e feridos. Os restantes foram banidos para a Grande Anêmona. A resistência, comandada por Alator Straga, tomou o governo e tentou fazer um reino democrático.

Não deu certo, pois as cidades eram muito descentralizadas, e apenas alguém do mesmo nível de poder de Alucard conseguiria controlar essas diferenças. O sistema ruiu em menos de 2 meses, e várias delas viraram independentes, sem responder a nenhuma autoridade senão a sua.

Mesmo assim, o continente ficou em paz por mais de um ano, sem agressões ou disputas de poder. Só que algo pôs as sementes do conflito novamente em pauta: a linhagem Dorman estava viva. Com medo de voltar ao estado de tirania e perderem a independência, todos os caçadores disponíveis foram atrás dos filhos de Alucard, para eliminar tudo que remetia àquela época de opressão. Infelizmente, outros se aproveitaram disso, pilhando casas e vilas com a desculpa de ‘conseguir recursos’ para a jornada.

Jim, que estava no comando do Círculo da Batalha, formou uma equipe para ‘caçar’ os caçadores, enquanto observava e tentava procurar soluções para o rasgo dimensional provocado pelo transporte que Erwin, o Ancião, fez com os Heróis da Profecia: ele não fez todas as precauções necessárias, morreu pouco tempo depois, e o portal ficou aberto, se movendo misteriosamente para o meio do oceano. Até o momento, ele só descobriu que o portal reage com algo que acontece tanto em Universo como aqui, em Ryokun.”

— E vocês, como vieram parar aqui? – soou a voz de Lillian, depois de um tempo. Eles estavam numa taverna aberta perto do porto, com alguns marinheiros tomando suas bebidas e descansando da viagem ao continente frio.

— É uma história meio longa – disse Vergil, sem graça – Mas se quiser escutar...

— Acabei de terminar um trabalho, e considerando que vocês são de outro mundo, vai valer a pena saber – Vergil e Cole arregalaram os olhos em surpresa – Jim já me falou sobre vocês.

Os dois garotos começaram o relato da jornada depois do contrato conjunto até Alucard Dorman, e depois da volta à Ryokun, omitindo o fato de Niéle ser uma Filha de Alucard, já que não sabiam se ela estava no grupo de caçada ou no grupo de “caçada aos caçadores”. Lillian pareceu pensativa, mas felizmente não perguntou nada da garota. Já sem luz do sol assim que terminaram, eles aproveitaram para conseguir quartos na estalagem. A noite foi tranquila, apesar de Vergil ainda ter a sensação que aquela assassina não tardaria a tentar encontra-lo de novo, e por causa disso, acabou dormindo mal. Na manhã seguinte, eles se encontraram novamente com a cavaleira.

Com os olhos ainda um pouco fundos e bocejando, Vergil deu uma esticada no corpo, que pelo menos estava descansado. Depois de comer e se juntar aos outros, olhou para os lados e viu Cole dando um aceno para Lillian:

— É isso. Valeu pelas informações, Lillian – disse Cole, ajustando a bainha das espadas.

— Por que fala como se fossemos nos despedir? – disse a mulher, olhando estranho para o garoto, mas com um sorriso enigmático.

— Err... Porque você tem missões? – respondeu Cole, dando de ombros e fazendo um sorriso amarelo. Em resposta à afirmação, a cavaleira deu uma gargalhada.

— Agradeço a consideração, mas isso é maior do que eu ou você... Não deu tempo de terminar a conversa ontem, mas há uns 2 dias surgiu uma Herdeira de Alucard.

— Uma o que?! – exclamou Vergil, e ele se sentiu estranhamente protetivo de Niéle. Mesmo assim, nem a garota ou a mulher mudaram a expressão.

— Sim, Geardyne Lyn Dorman, a primogênita da dinastia... Ela apareceu subitamente em Profectum, ou Alucard Dorman, o antigo lugar do castelo, anunciando aos quatro ventos que veio para vingar o pai.

— Droga! Isso vai atrapalhar demais – resmungou Cole.

— Pois é. Por isso, vou ajudar vocês nisso: a linhagem Dorman fez muito por Ryokun, é verdade, mas ninguém mais quer voltar àquele período de tirania e opressão. E considerando que vocês são uma parte dos Heróis da Profecia, é bem capaz que ela esteja procurando por vocês.

“Acredite em mim: muitos dos cidadãos são extremamente gratos por vocês os terem livrado do domínio de Alucard, e farão muito para ajudar.”

— Tudo bem então: aceitaremos sua ajuda, Lillian – disse Vergil, apertando a mão da mulher.

— E pretendo fazer tudo para apoiar – respondeu ela, confirmando.

Com o comando do grupo, ela correu na frente, os cabelos laranja esvoaçando enquanto o tintilar da armadura ficava para trás. Os quatro saíram de Cosy depois de pegarem suprimentos de viagem e acampamento, com os outros três tendo mudado suas roupas para trajes mais confortáveis com o calor. Vergil passou a usar uma roupa de lutador bem familiar, com mangas brancas bem longas e uma gola bem baixa, mantendo suas braçadeiras e perneiras; Cole pegou uma calça e camisa de couro leve, com braçadeiras de couro e botas rústicas; Niéle trocou as roupas modernas por uma camisa mais justa de mangas abertas sem decote, e uma calça folgada, ambas de algodão e cor cinza.

A noite chegou rápido, com eles tendo percorrido vários quilômetros. Pela recomendação da Solar, permaneceriam em acampamento pela noite, um pouco distante das estradas. Encontraram formações rochosas despontando do solo, parecendo uma lixa de madeira na camada de terra. A cidade ficou para trás numa pequena faixa iluminada no horizonte, dando para cobrir com o dedo indicador. A lua seguia majestosa no ar, com todo seu tamanho enchendo o ambiente de uma iluminação suave prateada. O local que escolheram possuía uma pequena lagoa, abastecida pelo córrego que era afluente do rio Dragós, o principal corpo d’água do continente. Lá, na margem, fizeram uma pequena fogueira e manufaturaram os utensílios para a noite com algumas árvores da redondeza, pedra e teia da Aranha-Esqueleto.

Escutaram grunhidos do Lince-Prata, mas o mesmo não se atreveu a avançar perto do fogo. Com Vergil de vigília, os outros foram dormir. Apoiou-se com os braços, sentado no chão, e olhou para a lua. Ela refletia no espelho de água, com pequenas ondas pelo vento suave que permeava a lagoa. A temperatura era agradável e tudo contribuía ao sono, mas estava se mantendo alerta sentindo toda a vibração sonora do ambiente e lembrando ainda da assassina. Foi por isso que notou quando uma pequena Energia se aproximou da área da lagoa, tão imperceptível que poderia ser confundido por um animal, mas seu olhar acostumado à escuridão viu o movimento de algo bem maior que um coelho. Sem esboçar reação, mas apreensivo do que era, ficou atento à figura. De repente, ela sumiu de sua Percepção, e foi aí que sentiu o vácuo de Energia no ambiente. Dessa vez não esperou: com um salto silencioso, mas poderoso, se lançou ao ar, interceptando o inimigo no meio da queda. Sua impulsão foi forte o suficiente para superar a cinética do impacto e ainda jogá-los para o outro lado da lagoa. Ambos se levantaram bem rápido, encarando as formas bruxuleantes, iluminadas apenas pela luz do luar.

Materializou um bastão rubro na mão e golpeou com uma estocada. O ataque foi defletido com uma adaga, soltando faíscas ao mesmo tempo em que o oponente aproximava a distância que os separava. Ele foi seguindo o assalto com um apresamento no pescoço e com um arremesso ao chão. Vergil, pouco antes do impacto, se contorceu e deu uma cambalhota, cortando o impulso e evitando danos da derrubada. O oponente o seguiu imediatamente quando ele ficou de pé. O garoto grunhiu, mas conseguiu segurar os braços do inimigo. Foi aí que descobriu que era a assassina que havia lhe atacado previamente em Arteris, os cabelos ruivos entrando em evidência pelo reflexo da lua. Surpreso, mas não distraído, o lutador chutou lateralmente, visando as costelas dela. Esta seguiu o ataque rapidamente com um chute também, combatendo forças com o impacto de sua própria perna. A disputa não durou muito tempo: ele deixou-se levar pela força que ela fazia e girou o corpo ao contrário para atacar com o calcanhar. O ataque a acertou bem na têmpora, atordoando-a. Quis aproveitar a chance, mas a ruiva deixou cair algo no chão, que explodiu num flash e liberou fumaça, cobrindo sua visão e percepção. A fumaça dispersou rápida pelo vento, mas não havia mais sinal da assassina.

Mais uma vez, o garoto não conseguiu dormir, mesmo estando na última ronda. Seu coração estava muito acelerado, tanto pela adrenalina como pelo nervosismo. A manhã não tardou a chegar, mas ele se sentia exausto. Partiram imediatamente após o sol nascer, iluminando a pequena superfície vítrea da lagoa com raios brancos e bem fortes.

— Vergil, está tudo bem? – perguntou Niéle, preocupada.

— Não... Não estou bem – respondeu o garoto, cambaleante – É a segunda vez que essa assassina vem atrás de mim. Ela tá nos seguindo desde Esquife...

— Você sabe que podia ter pedido ajuda, né? – disse Cole, censurando-o.

— Hah... – suspirou o amigo, cansado – Eu não tive a chance. Era isso ou vocês serem pegos no fogo cruzado...

— Já disse que você tem a mania feia de tentar fazer tudo sozinho... Sabia que isso – e pegou uma de suas espadas – É pra cortar quem vier nos ameaçar?

— Eu sei, mas--

— Cole, num combate, um segundo de distração pode ser fatal – Lillian interviu na conversa, tomando o lado do lutador – Não deve ter sido nada fácil pra ele agir assim...

— Você ficaria surpresa – comentou Cole, baixinho.

Passados alguns minutos, eles caminharam cuidadosamente, até que Vergil lembrou-se de algo que queria saber.

— Err, Lillian. Você disse que era uma instrutora também, né?

— Sim, já fui. Agora é Jim quem cuida dos novos recrutas, mas já disciplinei alunos avançados – respondeu a mulher com uma risada leve.

— Nós usamos palavras de comando mais gerais, como Caelesti, Terrenus e Astral. Bem, no caso, eu – disse o garoto, quando viu Cole brincando com a sua Energia – Só que antes eu era um Sensitivo de Combinação, e agora não tenho elemento algum.

— Ah, traumas da Energia. Acabam acontecendo com qualquer um, não se preocupe. Se você agora é mesmo um Sensitivo Puro, então você só tem que encontrar uma palavra que represente algo mais profundo pra você.

— Tipo o que? Não consigo pensar em nenhuma...

— Uma dica que eu costumava dar pros alunos era usar animais, como pássaros, tigres, tubarões, e por aí vai.

— Então acho que tenho um em mente – disse Vergil, dando um sorriso – Obrigado, Lillian.

— De nada. Sempre é bom ajudar – respondeu a mulher, sorrindo e tomando a dianteira.

O trajeto que acharam era conhecido, percorrido por inúmeras caravanas. Pela situação do mundo, Vergil acreditava que os habitantes estariam medrosos ou mesmo muito calados, mas parecia muito pior, já que quase nenhuma carroça trafegava pela estrada nem o semblante dos comerciantes era calmo. Todos andavam com no mínimo três seguranças mercenários de armadura pesada e armas grandes, temendo perigos que o lutador não tinha ideia. Niéle se remexeu desconfortável, pois qualquer um deles poderia achar que ela era uma Herdeira de Alucard.

Ao passarem nas cercanias da vila Jagra, viram soldados oriundos do Círculo da Batalha nas entradas da mesma. Porém, não havia o conhecido brasão de Alucard gravado em suas vestimentas. Ao invés dele, encontraram um símbolo totalmente diferente: enquanto o do tirano era um círculo partido em quatro partes iguais, com as divisórias excedendo o comprimento do próprio e de cor verde, a nova era formada por um olho fendido e de cor roxa, com três pontas, parecendo espinhos, apontando para ele, todos na parte de baixo.

Vendo o tal emblema, Niéle conteve um assombro, que passou despercebido por todos, menos o lutador. Entendendo rapidamente do que se tratava, recomendou a Lillian a se apressarem. Atravessaram uma densa floresta após um trecho, que tiveram de despistar uns bandidos através de uma demonstração de força ao derrubar uma árvore que estava empoleirados com um soco. Com a perspicácia de Cole, encontraram um caminho que puderam passar, sem chegar próximo a um posto avançado dos soldados do emblema do olho. Constataram um número muito grande deles guarnecidos nas poucas vilas do trajeto, o que era estranho. A tensão tomava conta do mundo.

Chegou a noite e passou sem incidentes. O ar frio e úmido da mata baixou bastante a temperatura, e a súbita queda de pressão fez com que chovesse durante a noite. Arrumaram uma tenda às pressas, e por isso dormiram poucas horas. O dia amanheceu ainda na chuva, mas Vergil (após ter acordado em meio a uma poça de água, já que dormiu profundamente quando a chuva estava no auge) criou um escudo largo e côncavo acima das cabeças deles, como um guarda-chuva gigante e vermelho sem cabo. Todo o mato ficou com uma coloração vítrea e viva, retificando a beleza natural do ambiente que os cercava. E foi em meio a esse ambiente acolhedor que chegaram ao ponto dito que encontrariam a Herdeira: o antigo castelo de Alucard.

A construção imponente, feita de pedras claras rajadas de vermelho, com alguns outros blocos esverdeados no interior, já não existia mais. O local estava abandonado há algum tempo, mas mesmo assim nenhum deles deixou de se surpreender com a ruína que se estendia diante deles. Pedaços dos aposentos estavam cobertos de musgo e plantas, com mato a crescer sem restrições. As árvores que ficavam nas vizinhanças agora avançavam, ocupando o espaço que antes era bem cuidado com suas copas espaçadas. A colina de leve elevação escondia outra parte, que Vergil se lembrava bem: foi ali que ele teve sua disputa final contra Alucard, pela grande e aberta área em meio aos escombros.

— Não parece ter ninguém aqui – comentou Lillian, olhando para os lados – Estranho...

— Energias exóticas se aglomeraram... – disse Niéle, ajoelhando e tocando levemente o chão, olhando o lugar. As lembranças ruins vieram à tona, mas o toque acolhedor da mão de Vergil no seu ombro a tranquilizou.

— Não consigo sentir nada – disse Cole, olhando para os lados e se esforçando com a Percepção, as mãos repousando nas armas – Mas tô com a mesma sensação...

Vergil acenou com a cabeça em confirmação, e fechou os olhos. Ao reabri-los, estavam faiscando, de íris azul-metálica e fagulhas vermelhas. Com sua visão aprimorada, viu as correntes de Energia pelo lugar. E constatou, ao olhar para frente, a fonte da sensação estranha que estavam sentindo: um Sensitivo bem poderoso, quase tão forte quanto Níéle. Caminhou calmamente assim que sentiu o olhar do lutador lhe acompanhando.

Um homem alto, loiro, de rosto belo e feições delicadas. Seus cabelos eram longos, e caíam por cima da capa azul nas costas. Trajava uma armadura de placas bem leves, e diferente da armadura de Lillian, a sua era bem adornada e repleta de detalhes feitos em ouro, bem ajustada ao seu corpo magro. Parecia mais um traje cerimonial do que feita para o combate. Nas costas havia uma lança de ponta arpoada, um pouco longa demais para ser usada em combate terreno. Ele sorriu para os visitantes, e estes imediatamente ficaram em postura de combate.

— Quanta hostilidade... – disse o homem, de voz melodiosa e atraente – Vim meramente cumprimentar vocês que chegaram tão longe...

— O que você quer conosco? – bradou Cole, puxando uma das espadas e deixando-a na frente do rosto.

— Poderia perguntar o mesmo de vocês, mas não tenho tempo para isso – e deu uma risada contida – Como não recuaram diante de minha presença, assumo que são os Heróis da Profecia. Ou pelo menos parte deles...

— E o que tem haver isso? – comentou Vergil, preparado para qualquer emboscada.

— Minha lady, Geardyne, está aguardando os Heróis no castelo das Escarpas Vulcânicas... Não recomendo demorar...

Antes que qualquer um deles fizesse algo, o homem virou-se de costas e desapareceu num brilho chamejante. Os garotos se entreolharam, e viram que Lillian e Niéle estavam fazendo o mesmo.

— Acho que deveríamos ir... – disse Vergil, mas sem nenhum semblante de confiança.

— Você acredita mesmo naquele almofadinha? – questionou Cole, incrédulo.

— Não mesmo, mas se alguém poderoso daquele viesse aqui somente para nos atacar, teria sido até bem fácil pra ele...

— Nem acredito, Vergil: não era você aquele que nunca desistia? Que sempre avançava, não importava a situação? Caramba, foi você quem enfrentou Alucard, praticamente sozinho!

— Não foi sozinho, mas--

— Eu acredito em você, Vergil – disse Niéle, olhando diretamente para seus olhos. Envergonhado, ele desviou o olhar.

— Hah, não sei o que se abateu em mim. Deve ser o sono... – dando dois tapas na lateral do rosto, ele olhou para Lillian e perguntou – O que acha, Lillian?

A mulher ia começar a falar, mas levantou a espada para enfrentar uma forma que se agigantou diante deles. Os garotos se viraram, observando a silhueta da enorme serpente que aparecera na sua cidade, em Universo. Só que diferente de lá, ela parecia muito maior e mais forte. Se antes ela tomava o espaço de duas casas lado a lado, agora ela parecia ser maior que um prédio de 5 andares.

— Monai! – gritou a mulher, mostrando os dentes quase num rosnado.

Como se respondesse, a serpente silvou alto e abriu a bocarra, numa imitação rudimentar de um sorriso. Os músculos poderosos, cobertos pelas escamas vermelhas, se mexeram. Nisso, todo o tempo ficou mais lento para Vergil, suas reações estando muito mais rápidas. Viu Lillian começar a se mover em direção à cobra, Cole no meio do caminho de sacar as espadas, enquanto uma névoa azulada surgia ao redor de suas mãos, mas Niéle estava paralisada, com o olhar aterrorizado. A víbora estava com a bocarra aberta, e parecia que ia atingir todos eles. Sem pensar direito, bateu a mão no chão, fazendo elevar uma parede vermelha translúcida, que bloqueou o cuspe incolor assim que a velocidade voltou ao normal. O solo chiou quando o ácido caiu e fumaçou, obscurecendo um pouco a visão.

Cole golpeou de cima para baixo, e imediatamente dispersou a névoa, com duas lâminas congeladas que voaram e se estilhaçaram ao atingir o rosto da cobra. Ela virou de lado, sem conseguir ver por um momento, mas assim que recobrou a visão, um pé estava a centímetros do seu rosto.

Lupus Contumelia!— como o uivo de um lobo, o chute de Vergil explodiu no contato, atirando a cabeça da serpente para o lado. Diferentemente de antes, o impacto pareceu ser maior, deixando-a mais aturdida.

— Perflo Foro!— gritou Lillian, e uma parcela do chão explodiu, levantando uma nuvem de poeira. A cobra navegou rapidamente, mas não encontrou mais nenhum deles ali.

Poucos metros à frente, os quatro estava no meio da floresta, ofegantes. A cobra vermelha olhava ao redor, procurando pelos inimigos, mas desistiu e rastejou para longe dali. Lillian e Niéle se sentaram na areia escura, enquanto Cole e Vergil se escoraram em duas árvores.

— P-Por que Monai está aqui? – disse Lillian, mais nervosa que cansada.

— Q-Quem? – perguntou Vergil, sem entender muito, enquanto olhava entre as folhagens.

— Monai... – sussurrou Níéle, se forçando a falar. Ainda tremia um pouco – Um dos Sete Lendários... Uma das maiores criaturas que vagueiam por Ryokun, cujo único objetivo é disseminar o caos.

— Isso – confirmou a mulher, olhando para os dois de forma professoral – Monai, Luison, Teju Jaguá, Mboi, Jareté, Kurupi e Ao Ao. Todos eles representam o lado Yang da balança do equilíbrio, e são extremamente poderosos.

— Já encontramos com essa cobrona antes... – comentou Cole, caminhando mais pra perto – Lá em Universo, ela atacou nosso bairro e matou muita gente. Sorte que eu e Vergil estávamos lá pra conter...

— Pera, vocês enfrentaram Monai antes?! E estão inteiros? – exclamou Lillian, perplexa – Um Lendário precisa de pelo menos um pelotão inteiro de 12 Sensitivos pra poder afugentá-lo, quanto mais querer conter...

Cole deu de ombros, mas foi Vergil quem respondeu.

— Estávamos só nós por lá. Não sei se ele estava enfraquecido porque Universo tem menos Energia que Ryokun, ou se estávamos realmente mais fortes por lá, mas conseguimos pará-lo por um tempo.

— Sinceramente é bem difícil de imaginar, mas o que falas faz sentido... De todo jeito não é bom ficarmos por aqui: ele pode pegar nosso cheiro ou sentir nossa Energia.

— Vamos... – concordou Niéle, ainda estremecida.

À medida que se afastaram das ruínas do castelo, o temperamento de Niéle foi melhorando exponencialmente, com ela voltando a conversar mais com os outros. Passaram ao largo das ruínas, com o trecho tomando muito mais tempo do que o esperado. Monai poderia estar patrulhando os arredores, e como o castelo tinha uma linha de visão bem ampla, a floresta vicinal era bem recuada, por mais que tenha crescido no tempo que permaneceu sem cuidado. Durante esse tempo, Lillian foi explicando sobre a mitologia de Ryokun, e tanto Vergil como Cole não deixaram de notar várias semelhanças com os mitos tupi-guarani, que haviam estudado no seu ensino médio. Tupã, Tau, Iara e Porã eram os quatro deuses maiores, assim como Angra, Caupé, Jovái, dentre outros, representando os deuses menores. Também enquanto caminhavam, Niéle, tomada pela euforia de ter escapado do Lendário e estar longe do castelo, deixou escapar que era uma Herdeira de Alucard. Lillian já achava estranha a presença da menina no grupo, considerando que ambos eram Heróis da Profecia e ela não parecia ser uma. Assim que fez toda a associação, a instrutora admitiu suas desconfianças, mas que não teria sentido perseguir o problema: Niéle não fazia nada que fosse contra a vontade da Energia e parecia ser sincera em querer ajudar. Deixando Vergil mais relaxado, o grupo foi caminhando em direção ao novo local que iriam encontrar a Herdeira.

Tudo o que haviam visto até agora era parecido com qualquer clima possível e visual. Mas as Escarpas Vulcânicas era uma coisa à parte: lembrava uma ferida na terra, uma injúria ainda não cicatrizada, com o sangue exposto a iluminar toda a redondeza. A cava descia vários metros, terminando em placas pedregosas e pedaços de chão com grama chamuscada em meio a veios e rios de lava. Se estendia dois quilômetros de largura e vários de comprimento, com uma placa marrom de rochas e de tamanho colossal, cobrindo todo o resto dela. Assim que chegaram, sentiram a massiva Energia do local e a maior ainda Energia da herdeira. Era uma força opressora e intimidadora, pesada e carregada, tentando subjugar seus sentidos para que abandonassem ou se submetessem ao comando dela, como uma grande mão autoritária os forçando para curvar-se ao domínio de Geardyne Dorman.

— Então... É isso. – comentou Vergil, suando um pouco – É como se estivesse frente a frente com Alucard, mas está muito pior. Sinto como se a Energia dela fosse me esmagar a qualquer momento.

— Será que não é mais seguro contornar? – indagou Cole, surpreso por ninguém ter dado a opção.

— A entrada das Escarpas é por aqui, de onde viemos. – explicou Lillian, franzindo o rosto – Mais à frente, a passagem se fecha, se tornando uma caverna e continua até o subterrâneo. Duvido que ela esteja esperando por nós na ala aberta e garanto que será perda de forças se atacarmos a abóboda da cratera para chegar mais rápido.

“As Escarpas Vulcânicas são repletas de forças caóticas e desconhecidas, mas que são fontes de descoberta e Energia. Faz sentido que a herdeira tenha usado o local para se estabelecer, apesar da falta de sensatez. Diz que foi aqui que Tau olhou para o mundo.”

— O QUE?! – exclamou Vergil, muito alto – Um deus fez isso só olhando?!

— É o que diz a lenda – discorreu Niéle, ainda tentando aguentar a opressão – A Energia dos deuses é tão intensa que seus meros sentidos são capazes de moldar o mundo.

— Mas vamos nos preocupar com a herdeira – disse Cole, olhando logo à frente – Consigo sentir não somente ela, mas inúmeras outras presenças...

Pisaram na primeira “ilha”, amassando a grama por baixo dos pés. Ela não se moveu nem um pouco, sugerindo que era firmemente colada ao chão em meio à lava. Um a um, eles foram saltando nas plataformas de pedra, sempre pisando com cautela. Andaram algumas pedras quando um vulto tomou forma bem à frente de Vergil, que estava na retaguarda. Fumaça verde emanava dos braços e pernas da mulher que havia lhe abordado antes no lago e ainda no continente de Arteris, na cidade de Esquife. Ela estava com uma espada de lâmina reta de um único gume, com um guarda mão quadrado e empunhadura preta apontada para ele. O aço reluzia com cor verde-escura.

— Vergil Gadson, lutador, eu tenho um pedido. – sua voz era um pouco fina, porém impactante.

— Fale – respondeu sombriamente.

— O desafio para um Ultima Duellum.

— O que?

— Um Combate Final.

— Por que eu faria isso? – disse, tentando passar uma imagem de confiança, mas em seu íntimo havia um medo crescente, uma hesitação que não tardaria a se mostrar.

— É a única forma de parar com os ataques.

“Como falhei duas vezes em lhe eliminar, o código dos Assassinos me dá a última alternativa: devo lhe desafiar para o Ultima Duellum e matá-lo em combate direto. Caso não consiga, então eu estou morta para a Ordem.”

— Por que você achava que iremos acatar com isso? – disse Cole, segurando a katana com força. Lillian pôs a mão no braço dele, impedindo de qualquer ato futuro, e alertou com um olhar.

— Só assim eles conseguem manter a honra, Cole. Caso contrário, ela será caçada pelo Clã para limpar as evidências. Não sou familiar com o código dos Assassinos, mas já aconteceu no passado, com o assassinato de Yulie Raspman.

— E o que impede ela de ser apenas uma mercenária contratada por Geardyne? Não, eu vou ajudar meu amigo...

Nesse momento, o garoto escutou um barulho de estalo, e viu que Niéle apertava seu cajado com muita força, com as juntas dos dedos ficando brancas. Mordia o lábio com tanta violência que notou uma gota de sangue escorrer pelo canto da boca. Sabia que ela se importava com Vergil, e que nada parecia impedi-la de demonstrar isso, mas vê-la daquele jeito, se segurando e se ferindo para não ir ajuda-lo, despertou uma empatia que não sentira desde que ela revelou ser uma Herdeira.

Relutante, o espadachim deixou a mão cair ao lado do corpo. Estava preocupado com o amigo, e por mais que tivesse confiança que ele pudesse vencer no combate direto, não havia garantias que a inimiga não teria preparado armadilhas ou chamado sua equipe de suporte para cuidar da situação. Olhou para o lado e viu Lillian sentar cruzando as pernas, mas mantendo o olhar fixo nos dois. Era a primeira vez que via a assassina, mas ela emanava a aura de quem já viu a morte várias vezes.

Assim, os dois que se encaravam saltaram para uma outra placa, um pouco distante da vista, mas ainda larga o suficiente para terem espaço de movimentação. Era vagamente circular, e feita de pedra pura e chamuscada, sem rachaduras. Cem metros separavam os dois. Por mais que estivesse inseguro com relação à suas habilidades, havia sido capaz de lidar com a inimiga antes. Então, Vergil ajustou seus braços e pernas, e ambos começaram a emitir uma luz vermelha, precedida de uma fumaça fluida e reluzente, que estalava ocasionalmente. Era como se houvesse ativado o Primeiro Nível apenas nas extremidades do corpo. Sua inimiga preparou a espada, deixando na posição para estocada, recuada pouco atrás da cabeça e flexionou as poderosas pernas.

Até o vulcão parecia parar diante da tensão que estava. E então aconteceu: um impacto violento espalhou todo o ar para os lados, jogando cinzas e faíscas para cima deles. Os dois disputavam forças com suas armas: de um lado Vergil com uma espada curva conjurada, semelhante à de Cole, e do outro a ninja com a espada reta liberando faíscas do contato. Por um momento, eles estavam equilibrados, mas a mulher agiu primeiro jogando uma bomba de fumaça no chão. Prevendo alguma ação assim, o lutador fingiu ceder à força e se afastou bem a tempo de escutar o reboar da espada batendo na pedra. Mantendo a concentração, formou uma lança faiscante na mão e disparou como um caçador. A ninja desviou do longo projétil, mas a mira não havia sido nela: com outra em mãos, Vergil a fincou perto de seus pés, saltando logo em seguida.

Sua inimiga foi astuta: o interceptou no ar com duas adagas especiais, enroladas no papel explosivo. Ele cruzou os braços e formou o escudo grande triangular para se defender, mas o impacto das bombas ainda o jogou para o limite da arena. Aproveitando o momento, ele correu circularmente e atacou com ambas as palmas nela. Sem esperar o golpe, ela recebeu e foi lançada para longe. Levantou-se rápido, enquanto via o lutador atirando mais uma das lanças no chão, pouco atrás de si. Parecia que tinha um plano que envolvia a área. Fez uma pose com os dedos da mão, e se tornou a névoa verde que havia utilizado antes para se movimentar, percorrendo a distância que os separava instantaneamente. Mas o lutador era rápido e efetuou uma pirueta para trás, evitando a perfuração da ninja-to.

Lupus Contumelia!— no momento que as palavras de poder foram ditas, sua perna direita foi envolvida por sua Energia vermelha, de forma muito mais intensa e violenta que no começo da luta. O impacto foi intenso e feroz como um predador: mesmo usando a mudança para névoa, a ninja ainda recebeu todo o dano, sendo jogada para cima pela diagonal. Vergil se impulsionou, levantando poeira e formando uma pequena rachadura no local onde estava momentos antes. No ar, moveu sua perna novamente, visando atirá-la para baixo e prendê-la na ilha, mas a oponente reagiu no ar, acertando uma joelhada no abdômen do lutador. Curvou-se ao impacto, e só conseguiu evitar o corte da espada pois conseguira conjurar uma fraca proteção momentos antes de ser atacado.

Caiu ruidosamente no chão, rachando-o e formando um buraco com a forma de seu corpo. Levantou fracamente e foi imobilizado pela ninja, que o prendeu com um dos braços, com o outro armado de uma faca. Prestes a ser degolado, Vergil expandiu sua Energia, ativando o Primeiro Nível. Dessa vez, o fluido de Energia estava com um alcance maior, quase parecendo fogo, já que era rubro e fustigava com violência. Apoiando uma das mãos no chão e com as pernas bem abertas, a assassina parou a aceleração de fuga arrastando no piso e foi aí que entendeu que ele não estava mais em suas mãos.

Arregalou os olhos frente a isso, mas retomou a postura, fazendo uma pose diferente na mão, seguida de outra e mais outra, numa incrível sucessão. Quando terminou em menos de um segundo, seu corpo estava translúcido: mantinha a mesma forma de ser humano, mas era quase transparente e totalmente verde. Com um grito, ela também ativou o Primeiro Nível, emanando o fluido de poder que parecia a mesma névoa que se transformava. Toda essa mudança a fazia parecer um fantasma, um ser etéreo, uma alma preparada para ceifar a essência de seu inimigo.

— Incrível... – exclamou Vergil, incapaz de conter a surpresa.

Spiritus Forma...— disse ela, a voz soltando um eco estranho, como se fosse as vozes dos mortos – O Caminho do Fantasma...

Mesmo depois da fala, ela surgiu instantaneamente atrás dele, estocando com a espada. O lutador desviou e golpeou com uma rasteira, mas acertou apenas o ar. Saltou para trás numa acrobacia, mas a ninja já o esperava. Dessa vez não conseguiu desviar, recebendo um corte horizontal no peitoral. Por pura perícia, havia sido superficial. Encostou no chão e concentrou Energia na mão direita. Subitamente, sentiu sua força se esvaindo, e constatou que a inimiga estava drenando sua Energia pelo corte aberto. Era possível ver o fluxo vermelho se tornar verde no ar, enquanto percorria o caminho até a oponente. E foi nesse momento que Vergil fincou a lança final no chão. Com as quatro lanças nos quadrantes do campo, o lutador esticou o braço em direção a ela.

LUPUS EXSILIUM!!!

As lanças haviam sido colocadas para extrair Energia do ambiente e iam ser usadas para o plano de Vergil. Como a inimiga o forçou a partir para a ofensiva, elas viraram pontos de condução, com ele como foco. Energia do ambiente ficou visível e foi se juntando na palma de sua mão, incrementando e aumentando uma esfera que lá se formava. Percebendo o que havia feito, a ninja voou em sua direção, desviando quando viu que Vergil iria disparar o ataque. Mas o flash que se seguiu ocultou onde ele estava. Virou a cabeça para os lados, procurando-o. Só percebeu onde estava tarde demais: com o braço totalmente vermelho e transbordando Energia, Vergil apontou a mão e emitiu um feixe de luz vermelha intenso e de largo calibre, que a cobriu por completo.

Quando parou a emissão, a ninja estava estática. Estava de carne e osso, mas ilesa, apenas fumaçando um pouco. Se ajoelhou, surpresa e sem entender o que havia acontecido. O lutador caminhou até ela, mas ela falou antes:

— E-eu... Perdi... – sussurrou a mulher, e sua voz parecia sem vida. Puxou uma das facas e mirou em si, mas foi interrompida pelo garoto, que golpeou para longe a arma.

— Não faça isso.

— Mas eu perdi o Ultima Duellum. Preciso manter minha hon--

Vergil deu um olhar tão ameaçador e intimidante que ela hesitou por sua vida que estava prestes a tirar.

— Se os Assassinos da Floresta renegaram você, então eu vou acolhê-la. Preciso de aliados para enfrentar a herdeira, e você é mais do que capaz disso. Me ajude e eu vou barrar qualquer tentativa de assassinato.

— Mas... Por que? – questionou a mulher, com os olhos incrédulos.

— Pude notar isso ao lutar com você: estava tentando acabar de uma única vez e o mais rápido possível, para que pudesse se ver livre deste fardo. Você também não concorda com as regras que vive, o que deixa a transparecer no jeito que luta, hesitando em dar os golpes fatais. Quer fazer parte de algo maior, de algo para mudar o mundo, e por isso aceitou o trabalho.

Se antes a ninja estava com os olhos abertos, dessa vez o olhar ficou esbugalhado. Como era possível que ele pudesse saber tanto de si se era a melhor em esconder suas intenções e rastros? Se era a mais indicada pelos mentores para executar tarefas desse tipo? Sacudiu a cabeça como se estivesse tentando afastar um sonho, uma emoção reprimida, que tinha desde sua infância. Levantou-se muito lentamente, e viu os outros companheiros dele a cercando, preparados para atacar. Resolveu aceitar seu destino, já que o lutador era muito mais forte do que imaginava e ainda parecia estar escondendo sua força. Ajoelhou diante dele e disse, com voz solene:

— Minha lâmina é sua, milorde. – respondeu a ninja.

— Não precisa disso... Apenas sermos amigos já basta. – disse Vergil, coçando a cabeça.

— Milorde?

— Viu o que eu disse? Sem formalidades. Primeiro, qual seu nome?

— Kai Satsumi, mi--. Amigo.

— E eu sou Vergil Gadson, mas você já sabe disso – disse com um sorriso. – Esses são meus ami--

Subitamente, Cole correu e segurou Vergil pelo colarinho. Niéle estava logo atrás, aliviada, mas também indignada. Apenas Lillian estava parada, com um sorriso no rosto. Kai não se mexera desde então, aturdida com a situação.

— Por que, Vergil? – perguntou Cole rispidamente – Por que você vai levar a assassina conosco?

— Olha, Cole: estamos precisando de aliados para enfrentar a herdeira, e ela é uma aliada. Se visse como eu vi, ela estava tentando acabar tudo num movimento só.

— É, eu vi, tapado, mas isso não quer dizer nada.

— Cole... – disse Lillian, intervendo na conversa. – Não é apenas nós do Círculo da Batalha que estamos insatisfeitos com o que está acontecendo com o mundo. Mesmo os estados independentes de Ryokun estão ruindo por falta de liderança e objetivo, e a herdeira de Alucard não está ajudando nada para consertar isso. Ela não quer saber de nada a não ser destruir e acabar com tudo. Entendo sua indignação por ver que Vergil quer recrutar a assassina, mas eles preferem manter a honra acima de tudo, e se jurou lealdade a ele, então é sincera no que fala.

O garoto ficou emburrado, mas assentiu. Olhou para Niéle, e ela pareceu respirar um pouco tranquila, apesar de ter uma pontada de... Ciúmes? Virou-se para a ninja, e disse, com olhar determinado.

— Você é nossa aliada por enquanto, mas vou ficar de olho em você.

Ficar de olho em duas pessoas que poderiam lhe matar era exaustivo, mas ele iria fazê-lo mesmo assim. Não sabia o que passava na cabeça do lutador, mas confiava no seu julgamento.

A ninja adotou um ar divertido em si, e confirmou, virando a cabeça e balançando os longos cabelos ruivos. Por um momento, o garoto ficou admirado, mas voltou à expressão normal. Ela, depois, tirou o pano que cobria o rosto, revelando uma face muito bela, com pele branca e lisa. Seus olhos prateados resplandeciam ainda mais com o rosto, parecendo uma pessoa radiante. Assim, todo o grupo prosseguiu para uma nova placa, montando o acampamento para descansarem diante da imensidão vermelha que eram as Escarpas.


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Notas finais do capítulo

No momento é isso. Espero poder postar o resto dos capítulos com mais frequência, mas não garanto nada xD



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