A Origem da Energia - As Crianças do Caos escrita por OrigamiBR


Capítulo 14
Razões


Notas iniciais do capítulo

Capítulo final, então obrigado sua paciência em ler até aqui. Devo começar a postar minha terceira e última história na mesma época, então também aguardem ansiosamente por ela.



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O lutador ativou o Primeiro Nível e disparou contra a herdeira, certificando-se que seus pensamentos estavam libertos de dúvida. Tinha certeza que fora dominado por causa disso. Queria ver outra alternativa que não lutar contra ela, para explicar tudo que havia acontecido entre eles e Alucard, mas não havia brecha de forma alguma. E tentar usar raiva para descarregar a frustração não dera certo. Acabara sendo controlado, e sem nenhuma forma de parar seus movimentos para recuperar o controle do corpo.

Aplicou um chute lateral, que o homem defendera, fazendo reboar uma onda de choque que dispersou qualquer poeira e neve naquela área. Mesmo estando sem o Primeiro Nível e sem o controle mental, ele ainda tinha força o suficiente para bloquear um golpe direto.

— Por que continua a defendê-la, Kendrick?

— Porque... – arquejou, sua voz grossa e forte vibrando – Eu... A amo.

Via o esforço que ele estava fazendo para se manter apenas de pé, e ainda assim a defenderia com todas as forças. Escorria sangue de seu corpo, sua vida se esvaindo como um córrego pequeno. Preferindo não prolongar mais aquilo e não ter mais uma morte em sua consciência, Vergil o atacou: aplicou um soco preventivo no abdômen dele, que o fez curvar-se para trás. Depois, deu uma cotovelada diretamente no queixo, visando desacordá-lo. Mas a pancada não teve o efeito desejado, deixando-o apenas atordoado. Girou o corpo e chutou mirando na têmpora dele, mas ele defendeu com o ombro. Ele atacou em resposta, mas o lutador estava preparado e contra-atacou com um chute ascendente. Kendrick voou alguns metros no ar, mas não foi muito longe.

Pareceu imóvel por um tempo, mas viu espasmos de seus braços, até que ele resolveu se levantar. Incrédulo, se perguntou como era possível tirar tanta resistência. Mas não iria ceder e continuou, dando um chute duplo nos dois lados do corpo. Ele entrou com um soco, que o lutador defendeu, mas foi arremessado com força para trás. Aparentemente ele tinha força mesmo com o corpo quase parando de responder. Resolveu devolver sua determinação, envolvendo suas extremidades com Energia vermelha. Partindo para o ar, ele desceu num chute circular de cabeça para baixo, como se chutasse uma bola de futebol, num chute bicicleta. O homem bloqueou com seu braço e atirou um chute em resposta. No ar, Vergil conseguiu bloquear todo o impacto, não sendo jogado, segurando a outra perna no braço que atacara. Com uma cambalhota, ele se pôs de pé e bateu com as costas do punho no pescoço dele. O barulho seco ecoou no campo, mas Kendrick não parecia afetado.

Repôs o braço para perto, e girou rapidamente o corpo. Na espera por um chute, Kendrick pôs as mãos em defesa do lado da cabeça. Mas Vergil continuou o giro, subindo no ar e acertando um golpe semicircular com o peito do pé no abdômen dele. Despreparado, o homem se curvou e recebeu um ataque com o calcanhar do lutador na têmpora, caindo com um baque no chão.

O garoto respirou fundo, preparado para qualquer reação, mas Kendrick ficou parado, não se mexendo mais. Viu que ainda respirava, o que o deixou aliviado. Agora, com ele caído, voltou sua atenção para o que acontecia com as outras.

Niéle brandia o cajado com habilidade, girando e reposicionando de acordo com o elemento que usava, disparando bolas de fogo e estacas de gelo com cada movimento circular. Já Kai sumia da visão por um momento, reaparecendo somente por alguns instantes para atirar facas fantasmagóricas em direção ao alvo das duas: a herdeira de Alucard, que defletia com habilidade os inúmeros ataques, e mesmo os que não conseguia defender a tempo eram parados por sua proteção instantânea, que havia sido restaurada. Estava bastante ferida e irritada, mas não estava em uma condição deplorável como Kendrick, e assim que viu o amado cair, sua aparência concentrada e confiante se tornou deformada pela raiva, que explodiu no Primeiro Nível de Energia. A forte ventania dissipou a tempestade de neve que acontecia e subitamente suas reações haviam aumentado. Sem perder tempo, Niéle e Kai também ativaram o Primeiro Nível, na esperança que a diferença não fosse grande.

Silens Vultus: Vacuus Perseco!— de katana na mão, ela deixou a arma de lado e sumiu da vista, seu fluido verde sumindo também.

Chaos Lancea!— batendo o cajado com força no chão, formou vários pontos de Energia por trás de si, difíceis de ver em meio a seu fluido laranja.

E como numa cacofonia, os ataques explodiram em contato: pouco antes dos pontos virarem lanças grossas como troncos, feitas de uma combinação forçada de fogo e água num completo caos, a proteção de Geardyne sofria cortes constantes, que deixavam uma aura espectral no ponto de contato da espada exótica da ninja. Assim que Kai surgiu, as pernas e espada fumaçando fortemente, como se tivessem saído de um forno, as lanças foram disparadas, zunindo velozmente pelo ar.

Cada contato era como uma mini explosão nuclear, dispersando fogo e água para todos os lados e deixando um impacto significativo no campo, destruindo o que restava da arena e aniquilando os poucos expectadores corajosos o suficiente para continuar assistindo até agora. Uma elevada poeira, fumaça e detritos poluiu a visão depois do ataque cessar. Ainda com o Primeiro Nível ativo, as duas mulheres esperavam, ofegando pelo gasto de Energia.

Entretanto, um solavanco violento de ar limpou toda a visão, deixando à vista Geardyne. Estava praticamente nua, com poucos trapos negros a cobrir-lhe o corpo. Nos braços, peitoral e costas estava sangrando, sua proteção tendo sumindo quase por completo, restando apenas perto dos pés. Ela gemia de dor, mas não caíra. Andou devagar até seu amado, ajoelhou perto dele, fez e disse algo rapidamente e se levantou.

O sutil movimento deixou as meninas em guarda, e assim que Vergil se juntou a elas, Energia começou a se acumular no ar próximo a ela. Foi tomando forma até mudar para a cor roxa e envolver seu corpo, transformando-se numa roupa leve, composta de uma túnica roxo-escura, quase preta. O lutador se preparou, mas um tremor o fez parar de avançar. Olhou para os lados confuso, mas viu que partia da herdeira. O movimento do solo foi aumentando até ficar difícil de manter de pé. Ajoelhados, os três não tiveram alternativa senão esperar o que aconteceria: o resto da arena ruiu, não sobrando mais nada. As elevações naturais ameaçavam cair também, mas isso não aconteceu. O que se via era que o Primeiro Nível de Geardyne estava ficando cada vez maior, expandindo a já grande Energia dela. Estava ferida ainda, mas seus machucados já não pareciam tão perigosos.

E aí surgiu, fustigando violentamente como um furacão, o Segundo Nível de Energia, uma aura roxa e grande envolvendo a herdeira, já com o seu escudo quase invisível recuperado. E o tremor passara, mas eles ainda não conseguiam se mover. Um estalar de dedos fez com que Geardyne conjurasse várias espadas de luz amarela, em número suficiente para circular seus companheiros que observavam de longe numa cúpula mortalmente pontuda.

— Não sei por que ainda esperei vocês... – disse a mulher com a voz embargada, parecendo que estava reprimindo o choro – Acreditava que seria divertido, mas a vingança não funciona desse jeito. É um prato que se come frio...

Com um estalar da outra mão, vários machados escuros e disformes surgiram junto com essas espadas. Cole era o que conseguia se manter de pé ainda, apesar de que a instrutora ainda parecia bem abalada, mas havia deixado o corpo de Jim ao seu lado.

— Não! – exclamou Vergil. A distância era grande, mas a quantidade de armas espirituais que estava em direção a seus amigos era absurda. Nem ele conseguiria desviar de tudo mesmo se tivesse totalmente recuperado, e seria difícil chegar lá.

Mas não houve tempo de planejar mais nada, pois Geardyne apenas desceu as duas mãos, aparentemente relaxando, mas assim dando o comando para as armas descerem nos seus alvos. O movimento era tão forte que tremia o ar e solo. Vergil só reagiu: pisou fortemente no chão, inclinando o corpo o máximo possível para então disparar correndo num lampejo.

Não pensou no que aconteceu nem no que estava fazendo. Só queria salvar seus amigos. Imediatamente seus olhos focaram no objetivo, e ele pôde ver com clareza todos os detalhes como se estivesse ao lado deles. Pôde ver também todo o caminho que a Energia fazia pelo ar, todos os fios amarelados que se interligavam em tudo e em todos, brilhando fracamente. Cada passo parecia desconexo com o mundo: mesmo cada pisada, cada obstáculo vencido não mudava de local como acontecia antes. Era como se o tempo tivesse realmente parado.

Com viagens medidas, Vergil conseguiu tirar todos eles do ponto de impacto, e assim a velocidade voltou ao normal, como se nada tivesse acontecido. Subitamente, o lutador sentiu um forte solavanco de ar, à medida que todo o caminhamento acontecera. Sentiu-se também muito cansado repentinamente, e ajoelhou para tentar recuperar o ar.

As expressões de seus amigos não se comparavam à que Geardyne teve. O olhar de incredulidade se espalhou como uma peçonha perniciosa, se recusando a acreditar no que havia acontecido. Ela deu um passo para trás, hesitante, mas então seu Segundo Nível ganhou força.

— Basta! Vou acabar com vocês nem que seja a última coisa que eu faça! Caligo Deleo!!!

Feixes de luz negra partiram das costas dela, grossos e numerosos. Parecia que ela estava virando um eclipse solar, pois encobria até a luz dos fluidos deles. Os raios mortais foram direcionados, e sendo incrivelmente rápidos, eles não tiveram chance: foram atingidos com feixes que pareciam incorpóreos ao olhar, mas perfeitamente físicos ao atravessarem seus corpos.

VOCIFEROR!— um estrondo sonoro partiu dos lábios de Vergil, que estava perfurado, mas concentrado, reboando, rachando e destruindo logo em seguida as estacas de trevas que lhe afligiam. Apesar disso, ele tombou e seus amigos que estavam machucados também caíram, mas Niéle ainda sustentou-se um pouco. Geardyne liberou um sorriso, regozijando em sua vitória.

— Vê, irmã? – falou, sua voz triunfante – Não há nada para você aí a não ser morte, destruição e desespero.

“Deixe esses corpos aí que vou me certificar que sejam cadáveres. Então, nós vamos governar Ryokun como nosso pai quis: com punho de ferro. Para então conseguirmos algo que possa ressuscitá-lo. Hahaha!”

A cada palavra que ela falava, soava cada vez mais louca e instável. Por mais convincente que tentasse parecer, Niéle não acreditava em nenhuma palavra. Parecia que sua irmã estava quebrada por dentro, e não deixou de sentir pena dela. Mas ela não queria ser ajudada. E por causa disso, a desafiou:

— Você... Não consegue... É impossível... Ressuscitar alguém... – falou com a voz arquejante, enquanto via o sangue escoar pelos machucados de batalha. O Primeiro Nível já fenecia, e sua Energia estava fraca. Não demoraria para que caísse inconsciente e morresse. Subitamente, Geardyne soltou os feixes negros, fazendo cair mais sangue de todos e os derrubando. E então, falou com a voz trêmula, pousando no chão.

— Haha... Acabei de me lembrar: eu não tenho irmã, não é? Haha. Essa pessoa nunca existiu na minha vida – enquanto caminhava e balbuciava, conjurando uma espada de luz amarela na mão.

Um pulso de Energia explodiu. Geardyne e Niéle pararam de chofre. Era alguém com muita Energia. Mas não parecia ter sido de um novo visitante. Era de alguém que estava caído. Um dos corpos se levantou. Estava sujo de sangue, mas não estava mais ferido. De repente, um fluido vermelho envolveu seu corpo, dando mais um pulso de Energia. Ele deu um passo e o solo tremeu. As nuvens se abriram. Um feixe de luz veio dos céus e atingiu o garoto de cabelos pretos, que respondeu liberando o fluido de Energia numa aura gigante, invocando uma forte ventania pelo terceiro pulso de Energia.

Foi então que Vergil abriu os olhos: estavam de cor azul-metálico, refletindo com a luz dos primeiros raios de sol. Sua pupila estava branca, mas não era de cegueira; pelo contrário, ele conseguia enxergar tudo melhor do que nunca, por mais noite que tenha estado. Ele não via, mas quem o encarava via um lampejo vermelho, com um raio a cortar a íris ao meio, dando o prelúdio de uma tempestade. Seu corpo liberava algumas faíscas elétricas, como se estivesse carregado de poder. O lutador estendeu a mão para os amigos caídos e proclamou:

Vita Revoco...

Não sabia onde havia escutado ou aprendido alguma habilidade parecida, mas uma onda de Energia esverdeada partiu de sua palma e cobriu seus companheiros como um véu de seda. Ao tocar no corpo deles, as feridas lentamente iam se fechando, assim como os roxos iam desaparecendo e as perfurações estavam voltando a ser pele. Não precisou ficar com a mão estendida, deixando apenas a habilidade usada agir.

Focou o olhar em Geardyne. Ainda estava na situação de perigo, pois ela ainda estava com o Segundo Nível, mas havia se lembrado do que queria fazer, assim ativando o seu próprio. Correu até seu objetivo, chegando lá em um instante e acertou um soco no abdômen dela. Ou iria acertar, se não fosse a proteção instantânea dela que estava agindo, deixando o impacto reboar na defesa, mas deixando ondas de choque pelo caminho e destroçando os pedaços da arena que estavam no chão. Mas não parou o assalto por aí, girando o corpo e acertando um chute com Energia acumulada no pé na altura da cabeça dela, que provocou uma grande rachadura na proteção.

A mulher projetou uma massa de trevas lateralmente, acertando uma espécie de soco no rosto do lutador, jogando-o para longe. Com a distância a seu favor, ela aproveitou para criar montes e montes de ilusões suas, surgindo do nada e preenchendo o campo de batalha. Para completar, ela ordenou que se movessem, para confundi-lo.

Lumen Perseco!— instantaneamente, um corte abriu-se do lado esquerdo de seu corpo, onde algumas das herdeiras estavam em posição de ter executado o ataque. Mas não parou por aí, surgindo lâminas sólidas de luz entre elas, e mandando para o lutador. Ele criou um escudo triangular vermelho à sua frente de grandes dimensões, se protegendo, mas sendo jogado para trás. Apesar disso, não era ineficiente à distância, então prosseguiu criando acima de sua cabeça lanças de Energia. A quantidade rivalizava as ilusões de Geardyne.

Lupus Sagitta Milia! – e atirou as mãos para frente. Todo o ar pareceu tremer frente ao movimento massivo do milhar de flechas rubras que rasgavam o céu. O número de clones ilusórios até tentou aparar algumas quando chegaram perto, mas a quantidade somada à velocidade obliterou aquela linha do campo, abrindo um rombo na montanha e voando ao horizonte.

Ele ficou ofegante, mas não baixou a guarda ainda: sentia a Energia insana da herdeira, mas prosseguiu a ajudar suas companheiras de batalha. Ajudou Kai a se erguer e carregou Niéle no ombro.

Foi aí que viu, se levantando dos escombros, a aura roxa espalhando poeira, Geardyne puxando algumas flechas que lhe acertaram no corpo.

— Não vai... Conseguir... Não vai conseguir... – repetia a mulher, como um mantra, seu olhar desfocado, roupa rasgada novamente e corpo muito ferido. Parecia estar de pé apenas pela força de vontade, com a vingança a forçar cada passo.

O lutador se ajustou em postura de batalha, pronto para atacar, mas foi surpreendido com um feixe de luz que lhe atravessou o peito. Mal sentiu dor, mas sua consciência ia fenecendo. Ele caiu junto de Niéle, e via-se a herdeira com a mão erguida e ligeiramente fumaçando.

Cuspiu sangue, a visão escurecendo. Mesmo com o Segundo Nível, não entendeu como não foi capaz de reagir. Tentou buscar forças para se manter ativo, mas não adiantava: ele estava morrendo. Havia deixado o braço esticado, mas não aguentava mais segurá-lo, e à medida que seus olhos se fechavam, sua força foi o deixando, com o membro a traçar um arco até cair pesadamente no chão revirado de terra.

Niéle pareceu desolada, vendo que Vergil estava ficando frio e inerte, com um buraco no meio do peitoral. Kai mantinha guarda à frente dos dois, observando Geardyne, mas custando a acreditar ao que acontecia. Cole se levantou e gritou com toda sua força:

— SE LEVANTA, VERGIL!

Foram essa voz que penetrou na mente de Vergil. Focou-se nela, seu amigo, que estava ali com ele. Assim, ele conseguiu ter um norte, e sua consciência se ancorou, mesmo que a qualquer momento, ele pudesse desistir de tudo.

Uma ventania ativou o Primeiro Nível de Energia. O garoto não ia cair, não enquanto Geardyne o estivesse ameaçando. A mulher parou de andar, abrindo a boca em incredulidade.

— PROVE O IMPOSSÍVEL! – ouviu a voz de Lillian em meio à ventania das elevações.

Com o grito encorajador, seu corpo ativou o Segundo Nível de Energia, deixando a aura vermelha com uma aparência calorosa e esperançosa, como se tivesse lembrado do que iria fazer. Apesar disso, ainda não conseguiu se mexer. Seu estado ainda era bem grave, e liberando muita Energia como se fosse o último suspiro da vida.

— Vergil, você me mostrou a verdade de todo esse conflito sem fim. – disse Kai, e tomando um tom mais enérgico – Então, levante-se!

Pouco depois de dizer isso, ela partiu para cima de Geardyne, atacando freneticamente as proteções dela. Com um movimento simples de braço, a herdeira alvejou a ninja com selos roxos, que prenderam a garota no chão sem causar dano, mas imobilizando-a com gravidade excessiva e ameaçando esmagá-la.

Niéle encarou diretamente a irmã, e mesmo sem estar com o cajado no momento não a deixaria se aproximar de Vergil. Ergueu os punhos, e imediatamente eles se inflamaram. Apontou para ela e lançou chamas, num jorro feroz e quente. Apesar disso, foi inútil, pois a proteção instantânea de Geardyne fazia o trabalho de defender as injúrias. A mulher levantou o braço direito e lá materializou uma espada de luz amarela, que estalava ocasionalmente. Depois, a lâmina da espada luminosa teve seu centro envolto em trevas, dando a impressão que era um buraco negro, como se fosse sugar qualquer coisa que encostasse.

Caligo et Lumen Ensis...

As palavras foram o gatilho para o desespero. Mas na mesma velocidade da batida de um coração, Vergil abriu os olhos e pôs-se de pé jogando as pernas para cima, como se desafiasse a ideia. Capturando tudo com sua visão incrementada em uma mera fração, viu a lâmina estranha ir descendo contra a maga, e quando ela colocou dois bastões de gelo para bloquear, o lutador acrescentou com um escudo de Energia, somando mais armas para segurar o golpe. E ainda assim foi inútil, pois a lâmina passou por eles com bastante facilidade. Niéle tropeçou, mas parecia não estar afetada. Vergil ia caindo também, mas se reequilibrou. Foi nesse instante que notou que suas reações pareciam mais rápidas, evitando o toque aparentemente mortífero da arma e evitando sua aliada de sofrer o ataque.

Girou o corpo num chute envolvido em Energia, mas ao tocar a parte plana da lâmina, seu poder fora sugado, sendo apenas um chute normal. Ainda assim, foi o suficiente para desestabilizar a mulher e a sequência foi completada com outro chute, dessa vez de frente, na cabeça. Caída como estava, Vergil ergueu o punho, tendo a resolução de que se não terminasse com isso agora, ela iria acabar com ele.

Formando uma lâmina vermelha na mão, traçou um arco até a cabeça dela.

Apesar disso, nunca conseguiu atingi-la: usando de uma surpreendente agilidade, o golpe foi defletido e ele foi perfurado no peito pela arma do Vazio. Sentiu muita dor, mas era diferente: parecia que estava tentando arrancar não só seu coração, mas sua Energia. Uma sensação horrível de estar perdendo até sua alma. Gritou e urrou de dor, tentando se livrar disso, mas paralisado pela agonia.

Foi aí que a lâmina parou de machucá-lo de repente. Quando conseguiu abrir os olhos, cerrados até o limite pela aflição, vislumbrou Niéle portando uma espada de cabo curvado, com uma lâmina esverdeada e agourenta, que trespassava o coração de Geardyne, com Kai a ajudando a manter firme, ambas se esforçando para segurar a empunhadura.

A herdeira ficou com os olhos vidrados, balbuciando palavras sem sentido enquanto caía de joelhos em câmera lenta. O lutador levantou a cabeça, junto com Niéle e Kai e esticou o braço direito para cima em vitória.

— Me desculpe, Dyne. – disse Niéle num sussurro, enquanto via sua única ligação com a família Dorman cair.

Todos respiraram aliviados, e começaram a caminhar para longe, procurando descer a montanha. Porém, foram surpreendidos por uma puxada. Ao olharem para trás, o corpo de Geardyne liberava uma névoa negra, que girava a seu redor. E esse furacão exercia uma força contra eles. Na verdade, exercia a força mais básica que afeta tudo ligado ao planeta: gravidade. Pedaços da arena, pedras, poeira e corpos de monstros voavam por cima deles em poucos segundos, tamanha a intensidade que aumentara.

— Corram! – gritou Vergil, arrastando a maga. Kai chegou perto de seus amigos e os ajudou a se levantar e correr para longe do buraco negro que se formava.

— Não precisa dizer de novo! – retrucou Cole, enquanto desviava de um bloco relativamente grande.

— Olhem! – gritou Lillian, apontando para algo logo antes do buraco negro: uma torre esverdeada e estreita, com um cristal transparente no topo surgiu do nada, como se sempre estivesse ali – A Torre de Gravos!

— Como isso foi parar aí?! – questionou-se Vergil. A torre era idêntica à que usara para chegar em Ryokun.

— Não importa! Vamos entrar! – gritou Cole, se adiantando.

— Te vejo do outro lado, cara! – disse Vergil, dando um soco amigável no ombro dele. Cole mandou um sinal de “legal” e entrou.

O cristal da torre brilhou quando Cole ficou dentro do espaço aberto, dando um flash cegante e afastando o ponto do buraco negro para mais longe, assim que o garoto sumiu. A força gravitacional também diminuiu.

— Agora, Vergil, sua vez! – disse Lillian

— Não vou esquecer de vocês! – disse Vergil, olhando para as três mulheres. Lillian estava com um olhar determinado, Kai sorria abertamente e Niéle lhe olhava agradecida, mesmo com lágrimas nos olhos.

Assim, ele entrou e pisou dentro da entrada. Por um momento, não aconteceu nada, mas então ele foi envolvido com uma luz branca, mas a torre fez um movimento e tombou de repente com um estrondo. Ele viu o chão por um momento, enquanto sua visão balançava. Depois, viu a cara de suas amigas se escancarando em medo e pânico. Viu também os braços do buraco negro por um momento até que tudo ficou branco, depois negro, e então perdeu a consciência.


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Notas finais do capítulo

Obrigado mais uma vez por seu interesse. A parte 3, e final da trilogia da Origem, está finalmente pronta para escrita. Não sei quanto tempo ela vai durar, mas ela será a maior das três, então aguardem!



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