— Amora fugiu! - Quando Knut gritou as duas pequenas palavras na sala do conselho, Thor quase caiu da cadeira. O guarda praticamente invadira a sala, onde o deus estava conversava com o irmão e Valkyrie sobre o julgamento. Os sábios anciãos já haviam chegado no palácio e tudo estava mais agitado. 

— O que foi que disse? - Thor levantou-se em um pulo, quase sacudindo o guarda. Knut tinha a respiração ofegante de tanto correr e uma gota de suor ameaçava se formar em sua testa. 

— A Encantor, soberano. - Arfou. - Ela fugiu e levou a jóia da realidade. - Contou. O loiro arregalou os olhos, em pânico. Valkyrie estava tão surpresa quanto o deus. Ao contrário deles, Loki parecia mais emburrado do que surpreso. Ele murmurou um palavrão baixinho. 

— Droga! - Murmurou baixinho, perdido em pensamentos. - Como ela descobriu a localização primeiro que eu? - Thor e Valkyrie ignoraram o comentário por causa da situação preocupante. 

— Como ela conseguiu passar por todas as barreiras de proteção? - Valkyrie perguntou a si mesma. 

— Knut, reúna todas as tropas, com todos os guerreiros, e mande que iniciem as buscas atrás de Amora. - Thor ordenou, sério. Knut assentiu rapidamente. - Ela não deve estar muito longe. Devemos nos preparar para um ataque. - Concluiu. Loki balançou a cabeça, parecendo ter se lembrado de algo. 

— Knut, você viu o Nerfi? - Perguntou um tanto preocupado. O chefe da guarda fez uma careta, sem jeito. 

— Não faço ideia, senhor. Não o vejo desde hoje cedo. - Ele fez uma breve reverência. - Com licença. - Knut saiu da sala tão apressado quanto entrou, pronto para seguir as ordens. Uma ruga de preocupação se formou na testa de Loki. 

Thor apenas esticou o braço até um tremor atingir a sala e um vento bagunçar todos os papéis em cima da mesa. O mjölnir atravessou a janela e parou nas mãos do deus, deixando um rastro de bagunça por onde havia passado. 

— Vamos atrás dela. - Ele trocou um olhar com Valkyrie. A guerreira assentiu, pronta para partir. 

— Eu vou ficar aqui. - Loki anunciou, decidido. - Para caso ela volte. Precisa ter alguém no comando do palácio. - Ele estava sério. Thor hesitou por um momento, mas acabou assentindo. 

— Tudo bem. - Concordou. - Por favor, não deixe que nada de ruim aconteça com Jane em minha ausência. - Pediu, encarando o irmão. - Não sei do que Amora é capaz. - Loki assentiu, em silêncio. Ambos trocaram um último olhar de cumplicidade que apenas os dois irmãos entendiam. 

— Não se preocupe. Cuidarei de tudo. 

Thor respirou fundo e deixou a sala, sendo acompanhado por Valkyrie. Loki suspirou. Precisava ir atrás de alguém. 

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Tempestades de verão sempre são as piores, segundo Nerfi. Elas vêm em um momento de calmaria, onde o sol é dominante e ilumina tudo, trazendo alegria. É um momento em que, muitas vezes, se espera que vai acontecer, mas não se sabe quando, dando a impressão de falsa paz. Faz as pessoas esquecerem. No entanto, as tempestades aparecem e levam os raios de sol e a tranquilidade embora. As águas varrem tudo. Nerfi considerava Amora como uma tempestade de verão. Desde o início, ele esperava que algo ruim poderia acontecer mas não havia dado importância. Foi quando tudo desandou. 

Nenhuma felicidade, nenhuma paz, nenhuma tranquilidade duravam muito tempo. Nerfi percebeu isso da pior forma possível. Ele mal havia recomeçado as coisas com o pai, tinha a mãe no palácio e tudo parecia estar caminhando para dar certo. Para um final feliz. Entretanto, tudo acabara. Amora havia ido embora e levado a jóia com ela. Ela não havia mudado e Nerfi se considerava a criatura mais tola de todo o universo. E isso era decepcionante. Angustiante. 

Um dos jardins do palácio não era o lugar em que se podia ter mais privacidade. Sempre haviam guardas e servos passando de um lado para o outro. Mas, à essa altura, Nerfi já não se importava mais. Estava cansado demais para se esconder. Ao invés disso, ele preferiu ficar sentado em um dos bancos. Sozinho e imóvel. O dia já estava clareando, o que indicava que já era bem cedo pela manhã. Nerfi não havia pregado os olhos durante a noite. Ele nem mesmo percebeu a hora passando. Estava exausto. Quebrado por dentro. O jovem tinha um peso no peito e um aperto na garganta. A raiva e a tristeza estavam presas, mas ele não conseguia colocar para fora. Sentia-se preso. 

—Sabe, esse não é o melhor lugar para alguém que quer ficar sozinho. - Nerfi ouviu a voz de Loki mas nem se moveu, indiferente. O deus observou a sua reação e decidiu sentar-se ao seu lado. - Imagino que já saiba o que aconteceu. - Disse cautelosamente. O jovem apenas balançou a cabeça positivamente, fitando o nada. Loki suspirou baixinho. 

—Por favor, não veio aqui pra dizer que me avisou, não é? - Perguntou baixinho, ainda sem encará-lo. Loki soltou um resmungo baixo. 

— Eu bem que poderia dizer que eu avisei e me gabar que estava certo o tempo inteiro. - Loki suspirou. Depois de um momento, o deus voltou a falar. - Mas eu preferia estar errado. - Admitiu. Nerfi encolheu os ombros. - Ver você e sua irmã assim não me deixa nem um pouco satisfeito. 

O jovem respirou fundo, encarando as próprias mãos. 

—Você sempre soube do que ela planejava. - Loki concluiu. Entretanto, não havia acusação em sua voz. O deus estava calmo. 

— Achei que ela pudesse mudar. - Respondeu com a voz rouca. O bolo em sua garganta só aumentava. - Achei que se ela visse como poderia ser sua nova vida, Amora mudaria de ideia. - Ele deu um meio sorriso, sem vontade. - Achei que ela gostasse pelo menos um pouco de mim e que eu valesse à pena para uma mudança. - Loki franziu o cenho, calado. - Mas eu estava errado. - Nerfi finalmente encarou o pai. - Ela nunca vai mudar. - "E eu não valho à pena. " , acrescentou mentalmente. "E se não fosse por mim, nada disso estaria acontecendo." E tudo isso só porque ele queria uma mãe. 

—Não, não estava errado. - Respondeu sério e deu um longo suspiro. - Você jamais saberia se não tivesse tentado. - Deu de ombros. Nerfi soltou uma risada fraca pelo nariz. E lá estava ele. Prestes a desabar. Ele se sentia como um fraco por isso. - Você gosta dela, não é? 

Nerfi hesitou, mas assentiu, quase em lágrimas. Sem jeito, Loki deu dois tapinhas carinhosos em seu ombro e um meio abraço de lado. O jovem respirou fundo, tentando controlar as suas emoções e falhando miseravelmente. 

—Hey! - Uma Evie esbaforida apareceu em seu campo de visão, chamando a atenção dos dois. A jovem tinha a respiração ofegante e parou ao ver o pai e o irmão. - Ah! - Sua expressão se fechou. - Então o que estão falando é verdade. - Concluiu baixinho. Loki trocou um olhar com ela e assentiu. - Sinto muito, Nerfi. - Disse penalizada. Ele apenas assentiu. Se falasse, começaria a chorar de verdade e não queria isso. Evie não esperou e apertou o irmão em um abraço acolhedor. - Não tem problema se chorar. - Sussurrou para que apenas Nerfi a ouvisse, enquanto o segurava no abraço. Ele não respondeu. Não precisava. Um abraço valia mais que mil palavras. Uma lágrima também. 

Os três permaneceram ali por um longo momento. Juntos. Em um meio abraço triplo, em silêncio. Knut foi o primeiro a ver a cena quando se aproximou. Sem jeito, o guarda chamou a atenção. 

—Com licença. 

O abraço se desfez no mesmo instante. Nerfi limpou a bochecha com uma mão. Seus olhos estavam um tanto avermelhados. 

—Algum problema, Knut? - Evie perguntou, séria. - Aconteceu alguma coisa? - O guarda olhou para ela e depois Nerfi, meio constrangido. 

—Na verdade, sim. - Respondeu tenso. Ele hesitou por um breve momento. - Amora está no palácio novamente. 

— Ela já foi capturada? - Loki levantou-se num pulo. Nerfi e Evie franziram o cenho ao mesmo tempo. 

—Não, senhor. 

—O que quer dizer? - Evie estava visivelmente confusa. Knut hesitou novamente, encolhendo um pouco os ombros como sempre fazia quando estava acuado. 

— Ela voltou por conta própria. - Contou. - Amora se entregou.