The Mischievous Prince - Spin-off escrita por Sunny Spring


Capítulo 22
Twenty-one




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Quando Nerfi recebeu um recado de seu pai, pelo servo, o jovem temeu o pior. Talvez estivesse exagerando um pouco, mas todas as suas últimas conversas com Loki não haviam terminado muito bem. Eles sempre acabavam discutindo e Nerfi não queria brigar. Já tinha muitas preocupações em sua mente com o julgamento se aproximando e  a sua irmã. Ele precisava manter a cabeça no lugar naquele momento e para isso, precisava de paz. Ainda assim, era melhor não deixar o deus esperando por muito tempo. 

 

O jovem príncipe foi direto ao salão principal, onde encontrou seu pai, sentado em um dos sofás. Parecia estar com os pensamentos longe dali. Nerfi pigarreou de leve para chamar sua atenção, o que funcionou de imediato. Loki foi tirado de seu transe e levantou-se, aproximando-se um pouco do filho. 

 

— Mandou me chamar? - Perguntou baixo e com uma aspereza que Nerfi não conseguiu controlar. Era inevitável, principalmente quando ele pensava que aquele conversar provavelmente terminaria em uma discussão. O que Loki poderia falar, afinal? Provavelmente algo sobre o julgamento ou tentar fazê-lo mudar de ideia quanto a defesa de Amora. 

 

— Está ocupado? - Perguntou baixo. O jovem franziu o cenho, um tanto surpreso com a pergunta. 

 

— Não. Por que? 

 

— Ótimo! - Ele disse animado, de repente. - Porque vamos a um picnic! - Avisou. Toda a carranca gélida de Nerfi se desfez, dando lugar a uma expressão de surpresa e confusão. Por um momento, ele achou ter ouvido errado. Não era possível que seu pai, o deus da trapaça, rei jotun, com a personalidade mais fria do que o reino onde morava, estava o convidando para um picnic. 

 

— O que disse? - Nerfi estava atônito. Loki deu de ombros, com um meio sorriso nos lábios. 

 

— Um picnic. Eu disse que nós vamos a um picnic. 

 

Certo. Ou seu pai estava tramando algo ou havia enlouquecido de vez. Por um instante, Nerfi se preocupou com a saúde mental do deus. 

 

— Por que? - Nerfi arqueou uma sobrancelha, desconfiado. 

 

— Como assim por que? - Loki franziu o cenho. - Porque eu estou convidando. - Deu de ombros. - A não ser que você não queira ir por motivos de não gostar de picnics. - Semicerrou os olhos, analisando o jovem. Nerfi percebeu que ele estava mais estranho do que o costume.   

 

— Na verdade, eu adoro picnics. - Cruzou os braços. 

 

— A-ha! - Exclamou. - Eu sabia que você não… Espera, o que foi que disse? 

 

— Eu disse que gosto de picnics. - Repetiu pausadamente. O deus franziu a testa, parecendo mais surpreso do que o filho quando o convidou para o tal picnic. 

 

— Achei que odiasse picnics!

 

O jovem piscou rapidamente. 

 

— O que? Por que achou isso? 

 

Loki deu de ombros. 

 

— Não odeia picnics? 

 

— Por que odiaria? - Franziu o cenho. 

 

— Eu não sei, Nerfi. - Disse um tanto impaciente. - É você quem odeia!

 

— Mas eu não odeio!  

 

— Ah, que seja! É você quem sabe porque odeia não odiar ou odeia odiar picnics ou ama odiar picnics! 

 

O príncipe teve a impressão de que seu cérebro estava prestes a derreter por causa daquela conversa. Que tipo de bebida seu pai havia experimentado? 

 

— O que? 

 

Loki bufou, já impaciente. 

 

— Você quer ou não ir ao picnic? 

 

Nerfi cruzou os braços, ainda mais desconfiado por tanto interesse de Loki em sua companhia. Seria um milagre dos céus ou o deus estava realmente planejando algo? Ele só descobriria se aceitasse o convite. 

 

— Tudo bem. - Respondeu baixo. O deus deu um sorriso, satisfeito. 

 

— Então, vamos! 

 

O jovem seguiu o pai pelo palácio, não entendendo onde Loki queria chegar com aquilo. O percurso pelos corredores do palácio foi silencioso e um tanto constrangedor. Era como se não soubessem sobre o que conversar, ainda assim, continuaram o seu caminho. Quando Nerfi percebeu que estavam prestes a sair do palácio, ele resolver perguntar: 

 

— Aonde vamos? 

 

— Para o picnic! - Sorriu. Nerfi parou de andar, hesitante. - Não seja medroso, Nerfi. - O jovem, então, decidiu aceitar o desafio. 

 

[↔]

 

—Enfim chegamos! - O deus anunciou. 

 

Nerfi olhou a vista ao seu redor, impressionado e um tanto embasbacado. Estavam no alto de uma das montanhas mais altas do reino. Mas, não era qualquer montanha. Aquilo mais parecia um jardim suspenso, onde o céu quase tocava o chão. A combinação perfeita do azul e as nuvens tocando a superfície verde da montanha. Flores silvestres cresciam em alguns lugares e havia um pequeno lago ali nas redondezas. O ar era tão puro que ele sentiu-se revigorado no mesmo instante. Era impossível não sentir nada naquele lugar. 

 

—Que lugar é esse? - Perguntou impressionado. Loki sorriu levemente, dando de ombros. O deus estava concentrado na visão que tinha de toda Asgard. 

 

—Um dos lugares mais secretos de Asgard. - Ele virou-se para o filho. - Vamos? - Ele estendeu um braço, apontando em direção ao que estava atrás de Nerfi. Uma mesinha posta, com uma boa quantidade de guloseimas, havia acabado de surgir. Nerfi virou-se, fitando a mesa. 

 

—Metade daquilo é ilusão, não é? - Arqueou uma sobrancelha. Loki deu um sorrisinho. 

 

—Não precisamos de tanta comida assim. 

 

Nerfi balançou a cabeça, soltando uma risada fraca pelo nariz. Ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo, mas o jovem decidiu tomar um lugar à mesa. Loki sentou-se na cadeira vazia que havia sobrado, de frente para Nerfi. Um breve silêncio tomou conta do lugar e apenas o canto de pássaros preenchia o ambiente. O príncipe resolveu pegar um morango da mesa o colocou na boca para mantê-la ocupada. 

 

—Então, você realmente gosta de picnics. - Loki estreitou os olhos, observando-o. O deus parecia finalmente ter se convencido daquilo. Nerfi engoliu a fruta, assentindo. 

 

—De onde tirou que eu não gostava? 

 

O deus deu de ombros, quase sem graça. 

 

—Não sei. Não achei que gostasse deste tipo de coisa… - Hesitou. - Não parece muito o seu estilo. - Admitiu, fazendo uma careta. Nerfi encarou as próprias mãos, soltando uma meia risada, um tanto amarga. 

 

—Porque eu sou uma máquina de destruição e não combino com esse tipo de atividade tranquila ao ar livre? - Sua pergunta soou amarga e quase como uma acusação. Loki não respondeu e apenas encarou as próprias mãos também. - Por que me trouxe até aqui, pai? - Nerfi adotou um tom mais seco e frio, encarando o pai. Loki deu um sorrisinho, claramente escondendo o que estava querendo dizer. O deus engoliu seco, fitando o horizonte enquanto Nerfi tinha os olhos fixos nele, esperando uma resposta que não o decepcionasse ainda mais. 

 

—Sabe… - Pigarreou, sem jeito. - Eu estive me auto-avaliando e me dei conta que… - Pausou, procurando as palavras certas. - Vejamos, talvez, eu não seja um pai muito afetuoso. - Ele sibilou. 

 

— Talvez? - Nerfi perguntou, irônico. Seu pai deu um longo suspiro, encolhendo um pouco os ombros. 

 

— Tudo bem. - Admitiu baixo, evitando encará-lo. - Digamos que eu não seja muito bom em demonstrar sentimentos. - Suspirou. Nerfi deu de ombros uma única vez e pegou um pãozinho da mesa. Loki não era mesmo um pai muito afetuoso e Nerfi já havia percebido isso há muito tempo. No entanto, ele estava surpreso ao ouvir o pai admitindo isso em voz alta e logo para ele. Parecia uma mudança muito brusca para alguém como Loki. - Isso não significa que eu não me importo. - Deu de ombros, sem jeito. 

 

— E o que isso tem a ver com o picnic? - Nerfi ainda estava na defensiva. Quando se tratava do deus, o jovem sempre ficava com um pé atrás. 

 

— Achei que o picnic fosse uma boa maneira de recomeçar. - Ele finalmente o encarou, sério. - Já que eu não sei muito como fazer isso. - Deu um ombros, visivelmente embaraçado. Loki parecia sincero, como nunca antes. Como se estivesse oferecendo uma temporada de trégua e paz. O jovem viu isso em seus olhos. Isso fez Nerfi desarmar um pouco as suas respostas afiadas e a relaxar um pouco os ombros. 

 

— Tudo bem. - Respondeu baixinho, encarando o pãozinho asgardiano que ainda estava em suas mãos. - Um picnic parece uma boa ideia. - Admitiu e o encarou. Loki assentiu, dando um meio sorriso. O deus parecia aliviado e voltou a fitar o horizonte e a bela paisagem. 

 

— Quando tinha a sua idade, costumava vir aqui pra ficar sozinho. - Comentou, perdido em memórias. - Era como um esconderijo. 

 

— Você vinha muito aqui? - Perguntou um tanto sem jeito. Era estranho para ele conversar com o próprio pai sobre a vida e o passado. Não haviam tido muitos momentos assim e, por muito tempo, Nerfi achou que Loki nem mesmo gostava dele. Era no mínimo atípico estar com ele agora, em um picnic entre pai e filho. De pensar que por muitos anos de sua vida Nerfi havia desejado um momento como esse. 

 

— Quase sempre. Costumava treinar magia aqui. 

 

Nerfi assentiu, também observando a bela paisagem.  

 

— Ninguém conhece esse lugar. - Loki acrescentou depois de alguns segundos de silêncio. O jovem o encarou, ainda mais surpreso. 

 

— Ninguém? 

 

Loki sorriu. 

 

— Não. Você é a única pessoa que conhece, além de mim. 

 

Nerfi piscou algumas vezes, soltando uma risada fraca, pasmo. 

 

— Ninguém mesmo? - Perguntou sem jeito. - Nem mesmo a minha irmã? - O deus balançou a cabeça e o encarou. - Por que? -  Franziu o cenho. 

 

— Achei que ia gostar deste lugar. - Deu de ombros. 

 

— Mas, por que a mim? - Ele quase pigarreou. - Quero dizer, por que não a Evie? 

 

— O que quer dizer? - Loki franziu o cenho. 

 

— A sua favorita… - Encolheu os ombros. Não havia acusação em sua voz, apenas um pouco de ressentimento. 

 

— Como assim a minha favorita? 

 

O jovem príncipe hesitou, temendo perguntar. 

 

— Ela a sua favorita, não? 

Por um instante, Nerfi teve a impressão de que seu pai ia soltar uma gargalhada, mas não o fez. O deus apenas manteve a sua expressão serena. 

 

— Eu não tenho nenhum filho favorito, Nerfi. 

 

Nerfi quase revirou os olhos, desacreditado. Por mais que a sua expressão fosse tranquila, falar aquilo em voz alta doeu. Era como se ele confirmasse algo que antes era só uma desconfiança. 

 

— Ah, por favor! Não precisa mentir. 

 

— Eu não estou mentindo. - Loki disse sério. Nerfi ficou em silêncio por alguns segundos, digerindo a informação. 

 

— Não? - Perguntou sem jeito. O deus balançou a cabeça. 

 

— Não é porque brigamos mais que eu gosto menos de você. 

 

Nerfi soltou um suspiro fraco, tão surpreso que mal conseguia falar. Talvez, se fosse um pouco mais sentimental, ele chorasse. Mas, não era o caso. Talvez fosse. Mas, Nerfi não iria se dar ao desfrute de se debulhar em lágrimas na frente de seu pai como se fosse uma criança. Por Odin! Alguém parecia ter arrancado um peso de suas costas. 

 

— A gente briga bastante, né? - Nerfi soltou uma risada fraca pelo nariz. Loki riu. 

 

— É! - Suspirou. - Bastante. - Os dois ficaram em silêncio, até que soltaram uma risada com vontade. - Você bem que consegue tirar a minha paciência, hein? - Nerfi conteve um sorrisinho. - Às vezes, penso que Amora colocou esse dom em você de propósito. - Comentou, perdido em pensamentos. 

 

— Eu não duvidaria. - Respondeu casualmente. O deus sorriu. - Acho que se não fosse por minha irmã já teríamos nos matado. - Loki fez uma careta. 

 

— Mas, eu teria o ressuscitado. - Respondeu no mesmo tom. - Só para colocá-lo de castigo. - Ele sorriu, quase diabólico. Nerfi soltou uma risada. 

 

— Ainda acha mesmo que pode me colocar de castigo? - Levantou uma sobrancelha. O deus deu um longo e profundo suspiro. 

 

— Não. - Admitiu. - Mas eu gosto de pensar que posso. - Ele recostou na cadeira, relaxado. 

 

— Sabe… - Nerfi ficou um pouco mais sério. - Aproveitando que estamos aqui e sem discutir, acho que precisamos falar sobre a Evie. - Desta vez foi Loki quem arqueou uma sobrancelha. 

 

—Ora, ora. - Estreitou os olhos. - Olha quem quer falar da irmã em um picnic que deveria ser exclusivo, hein? - O deus provocou. - Depois não vai dizer que eu tenho preferências. - Loki remedou uma voz que era bem diferente da do filho, fazendo uma careta. - E que tenho um favorito. - Debochou, ainda no mesmo tom. Nerfi franziu o cenho, contendo uma risada. 

 

— Eu não falo assim! 

 

— Eu não falo assim. - Remedou. O jovem balançou a cabeça. 

 

 - Não… - Suspirou, preocupado. - É sério, pai. A Evie está com problemas. 

 

O deus deu um longo suspiro, ficando mais sério. 

 

— Eu já devia ter imaginado.

 

— Não achou estranho quando ela disse que estava se mudando para Asgard? 

 

—Um pouco. - Admitiu. - Mas desde que ela fique longe do inseto… - Loki pensou alto demais. Nerfi lançou-lhe uma carranca como resposta. - Certo! Certo! Não precisa olhar para mim com essa cara. 

 

—Sabia que ela terminou com ele? - Disse sério. O deus arregalou os olhos, incrédulo. 

 

—Não é possível! 

 

Nerfi apenas assentiu, enquanto seu pai suspirou, cansado. 

 

—O problema é que a Evie nunca me conta o que acontece. - Respondeu baixo e irritado consigo mesmo. - E se eu não sei o que acontece, não consigo ajudar. 

 

— Eu sei. - Disse baixinho. - Mas precisamos apoiá-la agora. Ela precisa de paz e apoio. - Concluiu. - Devia falar com ela. - Loki estreitou os lábios, mas concordou. - E, por favor, tente ser mais gentil. 

 

—Vou falar com ela. - Respondeu perdido em pensamentos. Nerfi se serviu com um copo de suco. - Talvez eu devesse pedir para a Nat falar também… - Pensou. Nerfi arqueou uma sobrancelha enquanto bebericava o suco. 

 

Nat? - Repetiu contendo um sorriso malicioso. Loki quase engasgou com a própria saliva. 

 

—Agente Romanoff. - Corrigiu-se rapidamente. Isso só aguçou ainda mais a curiosidade de Nerfi. 

 

—Você disse Nat. - Insistiu, debruçando-se sobre a mesa. Nerfi tinha novamente aquele sorriso debochado e venenoso nos lábios, tentando arrancar qualquer informação nova. 

 

— Eu disse agente Romanoff. - Cortou secamente, com a expressão inabalável. Nerfi sorriu ainda mais. 

 

—Qual o problema de dizer Nat? - Instigou. Loki semicerrou os olhos. 

 

—Problema nenhum. 

 

—Então por que está tão nervoso? 

 

—Não estou. 

 

— Você parece tenso. 

 

—Não estou tenso! - Respondeu rapidamente. 

 

—Mas você parece. 

 

— Não estou. - Respondeu firme. Nerfi recostou-se na cadeira, bebericando o suco, mas ainda com os olhos em seu pai. 

 

—A Nat é bem legal, não acha? - Perguntou fingindo despretensão. O deus revirou os olhos. 

 

—Não comece, Nerfi! 

 

—Não comece com o que? - Riu, sínico. Loki fez uma careta. - Eu só estava falando… 

 

— Eu já disse. - Interrompeu mal-humorado. - O jovem se calou, contendo um sorriso. - Não há nada. 

 

— Eu não disse que havia. - Sibilou, arqueando uma sobrancelha. Loki abriu a boca várias vezes, sem saber o que dizer. 

 

—Por Odin! - Murmurou. - Você é igual a Amora. - Nerfi sorriu. 

 

— Então… 

 

—Assunto encerrado, Nerfi! - Disse seco. 

 

Um silêncio se fez. 

 

—Nat, hein? - Nerfi deu um sorrisinho malicioso, fazendo o pai bufar. Ele não iria esquecer aquilo tão cedo. 

 

[↔]

 

As batidas do coração de Amora estavam altas demais. Quase como uma bomba relógio prestes a explodir. A adrenalina estava no corpo da feiticeira, deixando-a em alerta. O sangue quente corria em suas veias e magia pura era exalada de seu corpo. Por semanas ela havia desejado isso, o momento de finalmente ter a sua vingança. O poder de Asgard em suas mãos. No entanto, tudo parecia diferente agora. Suas certezas haviam tornado-se incertezas e Amora já não sabia se aquilo era o melhor para ela. O certo. Ou, acima de tudo, o que ela queria

 

Ainda assim, lá estava ela. Em um dos lugares mais secretos e protegidos do palácio. Já era tarde da noite. Depois de muito cuidado e usar todos os artifícios possíveis, a Encantor finalmente havia conseguido chegar até ali. E, estava diante de um dos artefatos mais poderosos de todo o universo - a jóia da realidade. 

 

A pequena pedra vermelha estava dentro de um cofre transparente, no meio do amplo salão. Não havia mais nada ali além dela. E Amora. Brilhante e pequena, a jóia fazia a feiticeira sentir o poder e o desejo de tê-la em suas mãos. O pequeno objeto parecia chamar pela Encantor e os olhos da deusa brilhavam. Aquilo daria poder incondicional a ela. Faria com que tudo que ela mais desejava se realizasse. Ela poderia ter Asgard e todos que lhe fizeram mal em suas mãos. Por que ainda hesitava? Por que não pegava aquilo de uma vez? Por que sentia essa angústia? Deveria estar feliz, não? No fundo, ela sabia que Nerfi jamais a perdoaria. 

 

A Encantor deu um passo à frente, aproximando-se do cofre. Foi rápido e sem pensar quando Amora percebeu que a jóia já estava em suas mãos. Ela respirou fundo. 

 

—Amora? - Uma voz familiar disse em suas costas. Foi neste momento que seu coração parou. 

 

[↔]

 

No rosto de Nerfi estava estampada a decepção. Desde a chegada de Amora em Asgard, Nerfi havia ficado de olho em cada um de seus passos. Ele não era tolo. O jovem tinha dado uma segunda chance à mãe, mas ele sabia que ela era uma feiticeira perigosa. Ele sabia. De tudo. Ele sempre soubera. Mesmo assim, Nerfi escolhera ter esperança em sua mudança. E foi isso que o quebrou por dentro mais uma vez. 

 

—Nerfi? - Amora estava claramente surpresa com a presença dele ali. Ele havia sido discreto o suficiente quando a seguira. Experiência de guardião. 

 

—Sabe, eu nunca acreditei que tinha voltado só por causa de um novo julgamento. - Ele comentou em um tom ácido e com o olhar mais vazio. Amora engoliu seco, enriquecendo os ombros. 

 

—O que quer dizer? 

 

— Eu não sou tolo. - Respondeu baixo e encarou a jóia nas mãos da mãe. - Eu sempre soube que voltou por causa da jóia. Eu sempre soube do seu plano. - Ele soltou uma risada amarga, cheia de rancor e decepção. - Sabe o que mais me dói? - Amora não se moveu. - Saber que eu olhei nos olhos da minha irmã e disse que ela estava errada por desconfiar de você, mesmo sabendo que ela estava certa. Que eu defendi você diante toda a minha família, dizendo que você poderia ter mudado, quando eu sabia o que você estava fazendo. - Ele respirou fundo, controlando-se. A Encantor apenas o encarava, incapaz de se mover. 

 

— Por que não contou nada, então? - Perguntou baixinho. Nerfi sorriu, sem vontade. Sentia uma mistura de raiva de si mesmo e uma tristeza que doía em seu peito. Era a dor da traição, que quase o impedia de respirar. 

 

—Porque eu achei que você pudesse mudar de ideia. - Pausou. - Como eu mudei e me arrependi. Eu achei que se você visse que poderia ter uma segunda chance, você mudaria. - Continuou. - Achei que merecia isso, mas eu estava errado. - Nerfi estava sério demais, encarando-a no fundo dos olhos. - Porque para uma pessoa mudar, ela precisa querer. E você não quer mudar. - Ela engoliu seco. O jovem soltou uma risada amarga. 

 

— Não devia ter se iludido. - Disse baixo. 

 

—Ah! Eu sei. - Sorriu, ácido. - Mas fui idiota o suficiente pra acreditar até o último minuto. E olha onde estamos? - Ele mal podia controlar a sua raiva. Estava destruído. Mas, jamais deixaria ela ver isso. Amora não merecia nenhuma lágrima. 

 

—O que pretende fazer? - Ela desviou o olhar. Nerfi a observou, não contendo a sua expressão de puro desgosto. 

 

—Nada. - Deu de ombros. 

 

— Não vai tentar me impedir? - Franziu o cenho. - Nem avisar a alguém? - Ele balançou a cabeça. 

 

—Já tentei te impedir. - Ele respirou fundo. - Não vou fazer mais nada. Você sabe das consequências de se manipular a jóia da realidade. Vai destruir a si mesma e a escolha é sua. - Completou baixo, com a respiração pesada e tentando esconder a dor em seus olhos. 

 

Amora o encarou por um longo segundo, respirando fundo. 

 

—Mas, não vou deixar que machuque ninguém que eu amo. - Nerfi acrescentou. - Leve a jóia, faça o que quiser, mas longe daqui, ou sofrerá as consequências. - Amora franziu o cenho. - Vá embora e nunca mais coloque os pés em Asgard! - Ordenou gélido, quase entre dentes. Ele teve que desviar o olhar por um momento antes que seus olhos começassem a marejar. - Eu nunca mais quero ver você, Amora! - A Encantor piscou algumas vezes, mas manteve sua expressão de indiferença intacta. Desde que havia a conhecido, essa era a primeira vez que Nerfi a chamava pelo nome. 

 

—Como quiser. - Respondeu friamente. 

 

— O que está esperando? 

 

Amora deu um longo suspiro. 

 

— Adeus, Nerfi. - Ela deu as costas para o filho e caminhou em passos lentos em direção à saída. Antes de desaparecer, Amora olhou uma última vez para ele. Nerfi desviou o olhar, preferindo encarar o chão. Quando ela sumiu, ele quase gritou.  

 


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