The Mischievous Prince - Spin-off escrita por Sunny Spring


Capítulo 18
Seventeen




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Mais um dia já havia se passado desde a chegada de Amora em Asgard. Todos no palácio ainda continuavam agitados e a fofoca de que a feiticeira era a mãe de um dos príncipes corria entre os servos e guardas. No entanto, burburinhos não eram a maior preocupação de Thor no momento - o deus era obrigado a convocar os sábios e anciãos do reino para um novo julgamento, o que poderia demorar. Enquanto isso, a Encantor teria de aguardar sua nova chance de defesa ali, o que não era bom considerando que a jóia da realidade estava guardada no palácio. Todas as chances das coisas darem errado eles já tinham. Ainda assim, como rei, Thor sabia que havia tomado a melhor decisão. Diante de seus olhos seria mais complicado para a feiticeira armar qualquer tramóia. Pelo menos, era o que o deus acreditava. 

 

A sala do conselho estava novamente ocupada por Thor e os outros para mais uma reunião. Valkyrie estava séria, pensando em uma estratégia, enquanto Loki tinha uma expressão vazia no rosto. 

 

—Todos os sábios e anciãos já foram convocados, soberano. - Brenna, que havia acabado de entrar na sala, comunicou. - Todos estarão aqui em um mês. Talvez, seis semanas. 

 

—Tudo isso? - Loki perguntou impaciente. - Não tem como chegarem mais rápido? - Valkyrie estalou a língua e tomou a palavra. 

 

—Eles são muitos e um julgamento tem que ser preparado com cuidado. Não podemos vacilar quanto à isso. 

 

— Valkyrie tem razão. - Concordou Thor, sério. - Deveria saber disso, irmão. - Ele encarou Loki. - Você sabe que corre o risco de ser acusado por Amora pelo crime de traição. - O moreno semi abriu a boca, ofendido. 

 

—Nunca foi provado que eu estava envolvido. - Defendeu-se, pasmo. Ou pelo menos, fingindo. - Não me conhece, irmão? - O loiro levantou uma sobrancelha. 

 

—Conheço o suficiente para ter minhas desconfianças, Loki.

 

—Sou inocente até que se prove o contrário! 

 

—Então, torça para que Amora não consiga provar isso! 

 

Loki quase engoliu seco, cruzando os braços. Ele nunca torceu tanto para um mês passar rápido. 



[↔]

 

Se tinha uma coisa que Nerfi sentia falta era da sua vida agitada em Cambridge. Ele adorava estar na faculdade e estudando (e também indo em festas e aproveitando tudo da melhor forma). A vida no palácio era boa, ele não tinha do que reclamar. Mas, ali, faltava o que fazer e isso era entediante. Nerfi até poderia participar de alguma reunião oficial ou evento diplomático entre os reinos mas não tinha poder de decidir absolutamente nada - ele nem ao menos era o herdeiro primogênito. Por causa disso, não lhe sobrava muito o que fazer a não ser ler, passear pelo palácio e flertar (não necessariamente nesta ordem e algumas ações pareciam se repetir muito mais vezes que as outras). 

 

Nerfi até poderia voltar para Midgard se quisesse (ele tinha certeza que era o que seu pai mais queria no momento). No entanto, ele havia decidido ficar em Asgard durante o período que Amora estivesse - ele estava empenhado em conhecê-la e vigiá-la, mesmo que seu lado totalmente racional lhe dissesse que isso era uma burrice. E, mesmo ela tendo o expulsado de sua casa, a Encantor estava ali, não? Sua mãe cruel, bruxa e temida já estava em Asgard. O que ele poderia perder? (Além de parte de seu orgulho e dignidade, é claro). Além disso, ele havia decidido que daria uma chance a feiticeira. Outra

 

A luz da manhã ainda estava forte, iluminando uma das diversas salas com jardim do palácio. Quando Nerfi chegou no lugar, encontrou Amora. Isso era uma coincidência e tanta, levando em conta o tamanho daquele palácio. Ela estava sentada em um dos longos sofás, com uma mesinha em sua frente e um jogo de chá em cima. Nerfi ficou de longe, observando sua mãe. Amora não tinha o visto ainda e falava com um servo. 

 

—Pela milésima vez. - Ela dizia ao servo, irritada. - Eu pedi chá, não hidromel. - O Asgardiano, que tinha uma bandeja com xícaras nas mãos, tremia de medo. 

 

—Senhora, eu juro que quando eu saí da cozinha isso era chá. - Explicou-se em um tom quase suplicante. Amora suspirou. 

 

— Você já disse isso mil vezes. - Respondeu entediada. Nerfi franziu o cenho. Ele conhecia aquele truque.  - Agora, suma da minha frente e traga o chá! - Exigiu doce e ainda assim, ameaçadora. O servo assentiu e sumiu de suas vistas. Quando o homem já estava longe, Amora soltou uma gargalhada com vontade. Nerfi aproximou-se dela cautelosamente, cruzando os braços. 

 

— Não devia tratar os servos desta forma. - Ele disse baixo, chamando a atenção de sua mãe. Amora virou-se, surpresa. 

 

— Ah! Você está aí, babyboo? - Perguntou ainda rindo. Ela deu duas batidinhas em um espaço vazio do sofá, indicando para que ele se sentasse. Nerfi achou o gesto curioso e, mesmo hesitante, aceitou o convite, sentando-se ao lado de Amora. 

 

— Eu sei o que você está fazendo. - Nerfi disse baixo e tranquilo. Amora franziu o cenho, fingindo desentendimento. - Está usando magia para atormentar o pobre servo. Toda vez que ele sai do cozinha com o chá, você transforma a bebida em hidromel. - Concluiu. Amora conteve um sorrisinho. 

 

— Sim. Isso é tão divertido. 

 

O jovem balançou a cabeça. 

 

— Não devia tratá-lo assim. O servo não tem culpa de seu tédio. 

 

Amora revirou os olhos. 

 

— Ah! Não se finja de puritano. Não vai me dizer que nunca fez isso? 

 

Nerfi abriu a boca para se defender mas se calou. Ele encarou a sua frente, fitando o nada e conteve um sorrisinho quase infantil. 

 

— Sim. - Admitiu baixinho. - Mas, só com os servos que eu não gosto. - Deu de ombros. Amora sorriu com vontade. 

 

— Eu sabia! - Exclamou, pegando um morango de sua bandeja. - Você não me engana! 

 

Nerfi deu de ombros e a encarou. 

 

— Vai pedir desculpas ao servo quando ele voltar. - Ele disse decidido. A Encantor o encarou, incrédula. 

 

— Não vou, não. 

 

Nerfi cruzou os braços, com um olhar insistente. 

 

— Precisa se desculpar. 

 

— Pfff… - Ela soltou uma risada gutural. - Você não acha mesmo que eu vou pedir desculpas e admitir o que eu fiz, né? - Ele deu de ombros, roubando um morango da bandeja. 

 

— Se quer ser absolvida em seu novo julgamento, precisa provar que mudou. 

 

Amora ficou em silêncio, perdida em pensamentos. Depois de um longo minuto de silêncio, ela voltou a falar. 

 

— Está certo. - Respondeu baixinho, contrariada. - Vou pedir desculpas quando o tapa…- Nerfi arqueou uma sobrancelha. - Quero dizer… - Corrigiu-se. - Quando o servo voltar. - Deu um longo sorriso. Nerfi sorriu, satisfeito. 

 

— Melhor assim, mãe. - O jovem deu ênfase na última palavra apenas com o intuito de provocá-la. Amora fechou os olhos, respirando fundo. 

 

— Já disse pra não me chamar assim. - Respondeu controlando a sua paciência. Isso fez Nerfi sorrir ainda mais. 

 

— Assim como? Mamãe

 

Amora respirou fundo mais uma vez. 

 

— Essa palavra. - Ela levantou o indicador para que ele não repetisse mais uma vez. - Não use essa palavra. 

 

— Tudo bem, mãe. - Sorriu. Amora balançou a cabeça, desistindo completamente. Nerfi recostou-se no sofá, mordendo um pedaço de seu morango. 

 

— Por que está fazendo isso? - Amora ficou um tanto séria, de repente. 

 

— Isso o que? 

 

Ela suspirou. 

 

— Sobre o julgamento. 

 

— Ah! - Ele franziu a testa. - Decidi que vou te ajudar a ser absolvida em seu julgamento. - Deu de ombros, sincero. Amora franziu o cenho. 

 

— Por que? 

 

Nerfi deu de ombros mais uma vez, terminando o seu morango. Sim. Ele havia decidido isso nas últimas horas e parecia uma boa ideia. 

 

— Você é minha mãe, afinal. - Ele deu um meio sorriso. - Não quero ver você perdendo a cabeça em uma guilhotina. Seria um pouco traumatizante, não acha? 

 

Amora ficou em silêncio, mas assentiu. 

 

— Realmente. - Ela deu um meio sorriso, mas estava séria. Não demorou nem um minuto para Ingrid, uma das damas de companhia de Evie, aparecer, desviando os dois do assunto que conversavam. A jovem dos belos e longos cachos castanhos fez uma breve reverência ao se aproximar dos dois. 

 

— Com licença. - Pediu educadamente e dirigiu-se diretamente a Nerfi. - A senhorita Evie pediu para comunicá-lo que vosso pai exige a sua presença na sala do trono imediatamente. - Completou. Nerfi conteve um sorriso. 

 

— Claro. Obrigado, Ingrid. - Agradeceu cordialmente. A jovem dama fez uma breve reverência, mal tirando os olhos de Nerfi, como se não pudesse ou não quisesse. Ele retribuiu o olhar dando um meio sorriso, galanteador. Como ele adorava isso! Ingrid quase suspirou antes de se afastar e deixar o lugar. Nerfi ainda sorria e sua mãe o encarava com uma sobrancelha levantada. 

 

— Certo! - Amora semicerrou os olhos, analisando o filho. O jovem continha um sorriso, balançando a cabeça e não encarando a feiticeira. - Se meus extintos não estiverem errados, e eles nunca estão, eu senti algo no ar… - Sorriu, maliciosa. Nerfi finalmente a encarou. 

 

— Tudo bem. - Ele admitiu baixinho. - Eu e a Ingrid já ficamos, como os humanos dizem. Foi na minha coroação e foi só um beijo. Eu juro. - Completou, embaraçado. 

 

— Eu não estou dizendo nada… - Amora balançou a cabeça, com o sorriso ainda maior. Nerfi soltou uma risada baixa. - Não quebrou o coração da moça, né? 

 

— É claro que não! Foi tudo na maior santa paz.  - Ele foi honesto. - Só não conta pra ninguém, por favor. - Pediu. - Se a Evie descobrir que eu me envolvi com mais uma das amigas dela, ela vai cortar fora partes do meu corpo. Você sabe, partes úteis. - Acrescentou, bem-humorado. 

— Não posso culpar a sua irmã… - Sibilou, dando de ombros. - Eu faria o mesmo. - Sorriu. Isso o fez rir. - Mas, me diga, já ficou com mais alguém desse palácio? - Perguntou curiosa. Ele fez uma careta, relutante em responder. 

 

 - Talvez algum nobre… - Confessou. Amora sorriu. - Mas, eu não quero falar sobre isso com você! - Ele estava visivelmente constrangido. 

 

— Por que não? - Amora estava se divertindo com a situação. - Tenho bastante experiência e na sua idade fiz coisas muito piores. - Nerfi a encarou, atônito. 

 

— Eu definitivamente não quero ouvir sobre isso. 

 

Amora deu de ombros. 

 

— Você quem sabe, babyboo. - Suspirou, pegando um pãozinho da bandeja. - Agora vá! Não quer deixar seu querido papai esperando. - Disse com certo deboche. - Aquele traidor não tem paciência para esperar. 

 

— É! - Suspirou, levantando-se. - Eu não sei o que ele quer, mas, com certeza, deve envolver gritos. - Supôs em um tom sadicamente amargo. - A atividade preferida do meu pai é gritar comigo durante a manhã. Durante a tarde também. - Semicerrou os olhos, perdido em pensamentos. A Encantor soltou uma risada pelo nariz.  - Às vezes, durante a noite também. - Acrescentou. - E gritar comigo é o que ele tem mais feito nos últimos dias. 

 

— Não o culpe. - Disse calmamente. - A velhice está deixando-o estressado. - Sussurrou, venenosa. O jovem conteve uma risada. 

 

— Até mais. - Despediu-se antes de seguir para a sala do trono. E que Odin protegesse seus ouvidos! 



[↔]

 

A primeira pessoa que Nerfi viu quando as portas da sala do trono foram abertas foi seu pai. Loki já o esperava com os braços cruzados, de pé. Evie estava próxima à janela, observando a paisagem do lado de fora. O trono estava vazio, entretanto, passou na cabeça de Nerfi que seu pai, sem dúvidas, experimentara sentar naquele trono antes dele chegar. O deus não era de se importar com a presença dos guardas e poderia muito bem ter se passado pelo irmão. Ele já havia feito isso diversas vezes. 

 

Nerfi se aproximou do pai em passos lentos e preguiçosos. Tudo que ele menos queria no momento era ouvir os gritos e broncas de Loki - ele estava um tanto cansado de tudo isso. A maioria das conversas terminavam em discussão por causa do temperamento difícil de ambos. Talvez fosse por isso a presença de Evie. Apesar de não ser exatamente um exemplo de calma e tranquilidade, sua irmã ajudava a acalmar os ânimos quando necessário. 

 

— Ingrid disse que queria falar comigo. - Disse o jovem quando já estava próximo o suficiente. Loki suspirou, sem esboçar qualquer emoção de raiva ou felicidade. Isso fez os ombros de Nerfi relaxarem um pouco. Não havia sinal de gritos ou estresse. Não por enquanto. 

 

— Sim. - Começou, sem jeito. Evie se afastou da janela, aproximando-se dos dois.  - Não sei como lhe dizer isso mas, o julgamento de Amora já está praticamente marcado. - Contou. - Será em aproximadamente um mês. 

 

A notícia pegou Nerfi de surpresa. Ele não estava esperando que o julgamento fosse acontecer tão cedo e, logo agora que havia resolvido ajudar a feiticeira a ser absolvida. Isso dificultaria o seu trabalho - como ajudaria uma criminosa a provar que não seria mais um perigo para o reino em tão pouco tempo? 

 

— Tão cedo? - Perguntou baixo. Loki soltou uma risada pelo nariz, incrédulo. 

 

— Cedo? Isso é tempo demais! - Murmurou, descontente. Mas, ao ver a expressão séria do filho, Loki mudou sua postura. Nerfi cruzou os braços. 

 

— Há alguma chance dela ser absolvida? - Perguntou baixo. Evie trocou um olhar com o pai. 

 

—Não exatamente. - Loki foi honesto. - As chances são pequenas. - Nerfi soltou um suspiro fraco, com os pensamentos longe dali. - Nerfi, nesse período em que Amora estiver no palácio, preciso que seja cuidadoso. 

 

—O que quer dizer? 

 

—Preciso que mantenha certa distância de Amora. - Loki foi cauteloso ao dizer. - Ela é uma feiticeira, capaz de fazer qualquer coisa por poder. - Nerfi soltou uma risada baixa, sem vontade. Poderia Loki estar descrevendo a si próprio? Era difícil de saber, principalmente quando ambos seus pais eram loucos obcecados por poder. 

 

— Não posso. - Respondeu baixo. O deus franziu o cenho, confuso. - Porque eu decidi que vou ajudá-la a ser absolvida. - Loki arregalou os olhos como se tivesse ouvido a maior ofensa de toda a sua vida. Ele parecia estar à beira de um ataque de histeria, mas controlou suas emoções, adotando uma expressão fria e rígida. 

 

— Eu acabo de lhe dizer para manter distância de Amora e você me diz que vai ajudá-la a ser absolvida? - Ele quase gritou. Nerfi deu de ombros. 

 

—Eu quero ajudá-la. Ela pode mesmo ter mudado. 

 

Loki levou uma mão à testa, andando de um lado para o outro enquanto Evie o assistia com uma sobrancelha arqueada. 

 

—Eu conheço muito bem Amora para saber que ela não está aqui por um simples julgamento. - Ele finalmente parou de andar. 

 

Nerfi bufou, cansado. 

 

— Ela pode ter mudado. - Insistiu, respirando fundo. - Não vou mudar de ideia, não quero que ela seja banida, nem ganhe uma sentença de morte. - Nerfi não percebeu, mas suas palavras soaram dolorosas para ele mesmo. Mesmo que não quisesse, aquilo era doloroso. Toda a sua vida ele tinha a certeza que não tinha ninguém além de seu pai. A nova descoberta o fizera ter uma certa esperança. Se Amora morresse ou desaparecesse agora, não seria se como ela nunca tivesse existido. Seria mais uma perda apenas. As coisas não seriam como antes. 

 

— Você mal a conhece. - O deus disse mais baixo, mas ainda sério. - Não tem ideia do que ela é capaz. Não se iluda, ela não está aqui por você!

 

O jovem engoliu seco e trincou o maxilar. A verdade era mesmo dolorosa e as palavras de seu pai pareciam tê-lo acertado como um soco na boca do estômago. Ela não está aqui por você. Parecia pior ouvindo em voz alta. Aquilo doeu. E muito. Ele precisou de alguns segundos para se recuperar, sem transparecer em nada os seus sentimentos. 

 

—Ainda assim, quero ajudá-la. 

 

Loki respirou fundo, desistindo do diálogo. Nerfi estava decidido e nada o faria mudar de ideia. 

 

—Pai? - Evie falou pela primeira vez. O deus nem mesmo a olhou. Estava emburrado demais para isso. - Vamos dar tempo ao tempo. - Ele a encarou, pasmo por ela estar concordando com o irmão. Nerfi agradeceu aos céus por sua irmã concordar com ele desta vez. - Não sabemos as reais intenções da Encantor ainda. Vamos esperar e ver o que acontece. - Disse calmamente e deu um meio sorriso. Loki deu um longo suspiro, relutante. 

 

—Faça o que quiser, então. - Respondeu a Nerfi, seco, sem encará-lo. - Só não diga depois que eu não avisei. - Nerfi sorriu, amargo. 

 

—Claro! - Respondeu no mesmo tom. - Era só isso que tinha para me dizer? - O deus não o encarou. 

 

—Sim. 

 

—Ótimo! - O tom de Nerfi foi gélido. Evie deu um suspiro fraco, completamente dividida. Ele lançou um último olhar frio ao pai antes de deixar a sala do trono em passos largos. 

 

Se já estava decidido a ajudar a Encantor no julgamento antes, agora estava ainda mais. Era como se cada vez que discutisse com Loki, Nerfi sentisse mais vontade de provar que o deus estava errado. Como se a raiva o movesse. O jovem faria de tudo - recolheria provas, usaria argumentos positivos em seu favor. Tudo que pudesse ajudar. Seu único problema era o tempo - ele tinha poucas semanas para provar a mudança completa do comportamento de uma pessoa, o que seria trabalhoso. 

 

Nerfi continuou andando pelos corredores em passos apressados. Ele mal percebeu quando Knut o alcançou, dando um susto de leve. 

 

— Que bom que apareceu. - Nerfi disse, continuando o seu caminho. Knut o acompanhou. - Já ia mesmo procurá-lo.

 

—Algum problema? - Franziu o cenho. Nerfi sorriu. 

 

—Decidi que vou ajudar Amora a ser absolvida e preciso da sua ajuda. Não se preocupe, não estaremos fazendo nada ilegal desta vez. 

 

O guarda arregalou os olhos. 

 

—O que? 

 

Nerfi assentiu, fazendo Knut passar uma mão pelo rosto. 

 

—Nos últimos tempos, toda confusão que me meto é por causa de um Lokison. - Comentou baixinho. 

 

—Vai me ajudar ou não? 

 

Knut suspirou baixinho. Ele bem sabia que não ajudá-lo não iria o impedir de fazer o que estava planejando. 

 

—E lá vamos nós de novo! - Choramingou. Nerfi sorriu com vontade. Ele tinha um novo trabalho pela frente. 

 

[↔]

 

A noite já havia caído mais uma vez. No céu, a lua e as estrelas brilhavam como nunca, enquanto um vento frio balançava as cortinas do novo quarto de Amora. O silêncio preenchia todo o palácio - não havia nenhum barulho, a não ser o vento uivante e, de vez em quando, passos de guardas no corredor. Já era muito tarde e, apesar disso, a Encantor ainda estava de pé. Ela ainda usava roupas elegantes e formais que vestia durante o dia, e andava de um lado para o outro no quarto. Estava inquieta e nem mesmo entendia o motivo de tanta ansiedade. Aquele lugar. Uma angústia no peito. Talvez fosse a hora de começar a agir. Talvez fosse um pouco de ação e adrenalina que ela precisasse. 

 

Respirando fundo e deixando sua expressão preocupada de lado, Amora abriu a porta de seu quarto de uma vez só. Não havia movimento no corredor, apenas a presença de dois guardas fazendo a vigília na porta de seu quarto. Os dois guerreiros eram sérios e mais se pareciam com estátuas sem graça para a feiticeira. Ela deduziu que eles deviam ser os mais fortes e mais difíceis de serem manipulados. Ainda assim, eles poderiam ser úteis. Não havia ser nos noves reinos que pudesse resistir aos seus poderes por muito tempo. Ela só precisava descobrir qual dos dois era o mais forte e se livrar dele. 

 

Cautelosa e sorrateira, Amora aproximou-se dos dois guardas, fingindo certa despretensão. Nenhum dos dois se moveu ou esboçou qualquer reação sequer. Bem treinados. Ela não deixou de pensar. Amora teve uma ideia do mesmo instante. Sua pele empalideceu e uma expressão cansada tomou conta de seu rosto. Como se estivesse doente. Os guerreiros nem perceberam, mas a Encantor exalava magia como um veneno. Estava muito perto de dominar a mente de um deles sem que eles percebessem. 

 

—Poderiam me ajudar, por favor. - Pediu com a voz fraca e os olhos suplicantes. - Não estou me sentindo bem. Um de vocês poderia chamar um curandeiro real. - Implorou, cruzando os braços em cima da barriga. Nenhum dos dois se moveu, mas um dos guerreiros parecia incomodado. Amora percebeu que aquele era o mais fraco. 

 

Com muito cuidado, ela entrou na mente do outro guarda, sussurrando palavras soltas em sua cabeça para que o homem saísse. Não demorou muito e ele saiu pelos corredores, sem falar nada e sem levantar nenhuma suspeita tampouco. Amora quase sorriu. O guarda que ficara parecia tenso a cada vez que Amora se aproximava e não a encarava. 

 

— Você tem ordens para não falar comigo, não é? - Perguntou em um tom inocente. O homem estava relutante em responder. Como se lutasse contra si próprio. A magia já fazia efeito em sua mente. 

 

—Sim, senhorita. - Respondeu por fim, sem olhá-la. Amora se aproximou ainda mais, tocando seu ombro com uma mão. O corpo do guarda pareceu relaxar ao seu toque, mesmo que ele ainda tentasse resistir. O perfume de Amora era doce, como uma essência viciante e mortal. 

 

— Não se preocupe. - Sorriu, calma. - Apenas relaxe. - O guarda já estava entregando-se a sua voz. A Encantor tocou seu rosto com uma mão, estreitando o espaço entre os dois. O guarda não conseguia desviar de seus olhos. Estava perdido e hipnotizado em seu rosto. Ela era como um demônio na aparência de um anjo. Amora aproximou seu rosto como se fosse beijá-lo, mas não o fez. - Me diga. Você sabe onde está a jóia da realidade? - Sussurrou. 

 

— Apenas apenas o soberano e Valkyrie sabem, senhorita. - Respondeu quase trêmulo. Ela quase xingou, mas se deteve. Ela deu um sorriso terno. 

 

—Por que não descobre pra mim? 

 

Ele balançou a cabeça, como se parte dele ainda resistisse. 

 

— Não posso, senhorita.

 

—Claro que pode, querido. - Respondeu tranquila, acariciando sua bochecha. - Você vai descobrir isso pra mim. E esse vai ser o nosso segredo. - Sorriu. Antes de se afastar. - Ah! - Sussurrou. - E não se esqueça de dar um jeito para que o seu colega de turno mantenha a boca fechada. - Exigiu. O homem apenas assentiu, rendido.

 Amora sorriu, satisfeita. Seu plano de vingança estava apenas começando. 


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