The Mischievous Prince - Spin-off escrita por Sunny Spring


Capítulo 17
Sixteen




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785535/chapter/17

Quando era criança, uma vez, Nerfi costumava ter um sonho. Sempre o mesmo. Estava em um campo, feliz. Não tinha nenhuma responsabilidade. Era apenas uma criança de cinco ou seis anos, com aparência de criança, brincando de correr entre os jasmins. O sol iluminava seu rosto e suas madeixas enquanto Nerfi passava as mãos entre as flores e os galhos. Ao ouvir a voz feminina e maternal ele voltava correndo para onde estava antes. Ele praticamente se jogava no colo de sua mãe - que, de alguma forma ele sabia que era sua mãe, mesmo não vendo o seu rosto - e dava um abraço, rindo. A jovem mulher retribuía, fazendo cócegas em sua barriga e dava um beijo carinhoso em sua testa. Ele sempre despertava de seu sonho para a sua realidade nesta parte. Nunca vira o seu rosto. Era apenas um sonho, de qualquer forma. Não era como as visões de sua irmã. Aquilo era apenas fruto de sua imaginação - coisa explicada pela psicologia. Pela primeira vez, em pelo menos quinze anos, Nerfi teve o mesmo sonho. 

 

Ao abrir os olhos, Nerfi lembrou-se que estava em seus aposentos. Já havia escurecido, mas ainda era cedo, não devia passar das oito. Depois de toda a agitação pela manhã, Nerfi apenas comera alguma coisa e voltara para o seu quarto - ele precisava de um descanso extra. Pelo menos, os sintomas de sua ressaca pareciam ter diminuído e sua cabeça não dava mais sinais de que iria doer. Bem, não por causa da bebedeira, talvez por causa de uma certa feiticeira, também conhecida como sua progenitora (se é que ele podia chamá-la assim). 

 

A decisão de Thor havia sido precisa - o deus tinha permitido a presença livre de Amora no palácio, mesmo sabendo tudo que ela representava. Uma verdadeira ameaça. Fora o argumento convincente que Nerfi usara que havia o feito concordar - segundo o príncipe, era mais fácil manter os olhos em alguém que estava debaixo do mesmo teto do que longe. Valkyrie acabou concordando, mas Loki não ficara nem um pouco satisfeito com a situação. 

 

A verdade era que Nerfi tinha achado a visita de sua mãe e sua decisão repentina de tratá-lo como filho muito esquisita. Ele não era tolo. No entanto, a sua presença ali poderia ajudá-lo a descobrir a razão da mudança de ideia da Encantor e quem sabe até conhecê-la melhor. Poderia ser tolice, mas, apesar de todas as palavras duras que ouvira da mãe, ele ainda acreditava que conhecê-la melhor o ajudaria a compreender a si mesmo. Principalmente depois que percebera o quão parecido eles eram. 

 

Já estava quase na hora do jantar quando Nerfi levantou e se arrumou. Antes de partir para a sala de jantar, ele decidiu que precisava fazer uma ligação para alguém em especial. Nerfi pegou o tablet, conectando o novo sistema de comunicação Asgard/Midgard desenvolvido por Tony Stark  (e ainda em fase de testes). Ele fez a vídeo chamada diretamente para Mary Stwart. Ele teve que aguardar quase um minuto, muito impaciente, até Mary finalmente atender. 

 

— Não importa o que seja, gatinho, mas fale rápido. - Ela disse com a respiração um pouco ofegante. Uma mecha de cabelo estava rebelde, caindo em seu belo e delicado rosto. Nerfi percebeu que Mary estava em um embate corpo a corpo. Ela estava em uma missão. 

 

—Mary, pode falar agora? - Perguntou baixo. Ela revirou os olhos, impaciente. 

 

—Você não me ligou pra fazer perguntas óbvias, né?

 

Sua patata fez Nerfi sorrir. Mary era sempre tão Mary! 

 

—Será que pode me fazer um favor? - Nerfi fez a tão famosa cara de gato abandonado. Mary tremeu a câmera quando derrubou um brutamonte apenas com uma perna. 

 

—É agora? - Arfou. Nerfi balançou a cabeça. 

 

—Na verdade, não. Você está na Inglaterra? 

 

Mary derrubou mais um homem antes de responder. 

 

—Paris. Por que? 

 

Nerfi fez uma careta.

 

—Será que quando acabar sua missão poderia passar em Cambridge e apresentar uma licença pra mim? 

 

Mary franziu o cenho. 

 

— Por que não faz isso você mesmo?

 

Nerfi suspirou. Sempre desconfiada. 

 

— Estou em Asgard. - Explicou calmamente. - Não posso voltar agora e não queria ficar com muitas faltas. - Ela levantou uma sobrancelha. 

 

—O que está fazendo em Asgard no meio do período letivo, gatinho? 

 

Nerfi soltou uma risada fraca. 

 

—Você nem imagina. - Suspirou. - Problemas de família, mas, se posso resumir, descobri que tenho uma mãe. - Mary arregalou os olhos, pasma. 

 

—Tá brincando? - Sorriu. Ele negou com a cabeça, vendo um homem cambaleante nas costas de Mary. 

 

—Atrás de você.  - Alertou. Com apenas dois golpes, ela o derrubou. 

 

— Eu tenho que ir agora, mas quero saber dessa novidade direitinho depois. - Exigiu. - Eu falei com a Evie ontem, como ela não me contou isso? - Perguntou a si mesmo, indignada. Nerfi deu de ombros. Mary acenou rapidamente antes de desligar. 

 

O jovem deixou o tablet de lado, sabendo que teria que responder um questionário depois. Esse era o preço por se pedir favores à Mary. 

 

Nerfi deixou seu quarto, seguindo em direção à sala de jantar. No meio do caminho, ele decidiu passar pelos novos aposentos de sua mãe. Ao chegar na porta, ele logo avistou alguns guardas fazendo a segurança do lugar. Nerfi sabia bem que não era ela que estava sendo protegida no palácio e sim o palácio que estava sendo protegido de Amora. Quando se aproximou, dois guardas fizeram uma breve reverência e ele deu duas batidas na porta, que se abriu sozinha logo em seguida. 

 

Nerfi adentrou no quarto, que já estava bem arrumado. Ele olhou para os lados, observando os detalhes, até que a Encantor entrou em seu campo de visão. Ela o encarou com certa curiosidade. 

 

— Viu os guardas? - Comentou, enquanto sentava no colchão macio de sua nova cama. Nerfi assentiu. - Thor realmente acha que simples guardas podem parar uma feiticeira poderosa como eu? - Perguntou a si mesma. - Eu poderia matá-los de uma vez só. - O jovem não se abalou com sua afirmação. 

 

— Sim. - Ele moveu os lábios, ponderando. - Mas, se quer realmente ser absolvida no novo julgamento, matar os guardas não é a decisão mais sábia a se tomar. 

 

Amora franziu o cenho, perdida em pensamentos. 

 

— Tenho que admitir que você é esperto. - Comentou impressionada. Nerfi deu um meio sorriso. - Posso saber o que quer aqui? - Sua pergunta foi leve, sem acusações. Nerfi cruzou os braços, recostando-se na porta fechada. Ele a analisava com cautela, lendo suas emoções. 

 

— Eu que deveria perguntar isso, não acha, mãe

 

Amora franziu o cenho, fingindo desentendimento. Um puro ato de cinismo. Coisa de família. 

 

— Não vejo porque. 

 

Nerfi sorriu, cético. 

 

— Você me colocou para fora de Alfheim, deixando bem claro que não queria saber de mim. - Deu de ombros, mas, ainda observando cada reação da feiticeira. - No dia seguinte, aparece em Asgard como se nada tivesse acontecido. - Arqueou uma sobrancelha. 

 

— Eu mudei de ideia. - Ela deu de ombros desta vez. - Você me pegou de surpresa. - Acrescentou, indiferente. Nerfi estreitou os olhos. - Além do mais, sua visita me lembrou que tenho o direito de ter um novo julgamento. Vim lutar por isso, não está feliz por sua mãe? - Deu um meio sorriso. 

 

— Eu intercedi por você para que pudesse ficar aqui. - Disse sério e baixo. Amora levantou uma sobrancelha. 

 

— Devo agradecer? 

 

— Eu resolvi lhe dar um voto de confiança, mãe, porque temos uma ligação. - Continuou no mesmo tom. - Mas, eu não sou tolo. - A Encantor ficou um tanto mais séria e cruzou os braços. - Não desperdice sua chance pois você não terá outra! - Completou, e abriu a porta. Antes de sair, Nerfi voltou alguns passos. - Não vai jantar? - Perguntou mais leve. Amora suspirou, deixando a expressão séria de lado. 

 

— Obviamente. - Sorriu. - Não quero perder a cara do seu pai nem um minuto enquanto estiver nesse palácio. - Acrescentou. Nerfi soltou uma risada baixa e os dois seguiram para a sala de jantar. 

 

[↔]

 

Todos já estavam reunidos na mesa de jantar quando Nerfi e Amora apareceram para a refeição. No mesmo instante, todos os olhares se voltaram para os dois. Jane franziu a testa, enquanto Evie bebia um copo d’água por tempo demais. Thor, que estava sentado na cabeceira da mesa, ficou um tanto sério com a presença da feiticeira, mas não disse nada. Já Loki não escondeu sua insatisfação e cruzou os braços. Nerfi não deixou de pensar que, para um deus da mentira, seu pai andava meio birrento nos últimos dias. 

 

Provavelmente para irritar Loki, Amora fez questão de sentar-se ao seu lado, de frente para Jane. Nerfi sentou ao lado da mãe, de frente para a irmã. Valkyrie não estava presente - a guerreira preferira ter sua refeição em seus aposentos. 

 

— Vai mesmo jantar conosco, Amora? - Thor perguntou, sério. Ela apenas sorriu. 

 

— Mas é claro! Estou morrendo de fome. - Respondeu bem-humorada. Loki bebericou sua taça, que estava cheia de suco. 

 

— Amora sempre teve a delicadeza de uma dama, mas um apetite de dragão. - Comentou venenoso. Amora deu um sorrisinho. 

 

— O jantar não vai ser servido, afinal? 

 

Thor suspirou. 

 

— Pois, muito bem! - O loiro bateu palmas duas vezes, chamando a atenção de alguns servos que estavam de pé, ao redor. - Podem servir o jantar. - Pediu. 

 

Os criados imediatamente se apressaram para trazer as bandejas fechadas com todas as comidas do banquete. O cheiro de assado rapidamente preencheu o ambiente. Toda a mesa foi servida com diferente pratos salgados e sobremesas. Logo, todos se serviram, e o barulho dos talheres passou a ser o único som do ambiente. Até, obviamente, Amora decidir começar um novo diálogo. 

 

— Jane, o que está achando de Asgard? - Perguntou casual e amigável. Foster quase se espantou com a pergunta dirigida diretamente à ela. Nerfi apenas balançou um pouco a cabeça, já percebendo que o jantar seria um tanto animado. Normalmente, o jovem apreciava ver o circo pegando fogo, e, tinha a impressão que aquela noite não seria diferente. 

 

— É… - Jane hesitou, procurando as palavras certas para responder. - É um lugar muito bonito. - Ela foi sincera. Amora deu um meio sorriso, concordando. 

 

— Eu gosto de Asgard. - A deusa comentou, bem-humorada. - Thor já levou você para conhecer a montanha ao norte? É um lugar lindíssimo. - Acrescentou, sorrindo. - Ele me levou lá quando nós namorávamos. - Contou. Thor, que bebia um pouco do vinho, se engasgou, cuspindo uma boa parte da bebida. Todos os olhares da mesa se voltaram imediatamente para o deus, inclusive o de Jane. Ela não parecia nem um pouco satisfeita, diferente de Amora, que estava claramente divertindo-se com a situação. 

 

— Vocês namoravam? - Jane perguntou diretamente a Thor. 

 

— Claro que sim! - Amora sorriu, e todos a encararam. 

 

— Amora, nós nunca namoramos. - Thor quase gaguejou, trazendo os olhares de volta para ele. Loki conteve um sorrisinho e Nerfi também. Menos Evie, ela parecia distante. 

 

— Namoramos sim. - A Encantor insistiu, ainda com naturalidade e muito animada. Thor balançou a cabeça, quase entrando em pânico. 

 

— Não namoramos, não. Você que era obcecada por mim! 

 

Nerfi soltou uma risada baixinha, vendo o caos. Amora era uma mentirosa. Mas era uma mentirosa divertida. 

 

— Thor, querido. - Ela levou uma mão ao peito. - Não seja tão presunçoso. - Ela encarou Jane. - O coitado ainda tem dificuldade de superar o fim do nosso relacionamento. - Sussurrou para a midgardiana, mesmo sabendo que todos na sala de jantar a ouviam. Jane franziu a testa, atônita. 

 

— Não tem nada para superar. - Thor disse rápido, visivelmente nervoso. Amora sorriu ainda mais. - Vamos mudar de assunto. - Decidiu. - Sobrinha, como vai a faculdade? - Ele encarou Evie, tenso. Todos os olhares voltaram sobre ela no mesmo instante. Evie não ouvira a pergunta do tio. Estava distraída, tentando espetar o garfo na última ervilha de seu prato. Estava em uma briga e a ervilha estava vencendo. Seus pensamentos pareciam estar longe dali. - Evie? - Thor chamou mais uma vez. No entanto, Evie não ouviu. - Evie! - Seu chamado saiu como um grito, fazendo-a se assustar. A ervilha voou de seu prato, atingindo um guarda do outro lado da sala. 

 

— Desculpa. - Pediu rapidamente. - O que estava dizendo? - Sorriu. Um sorriso forçado, Nerfi percebeu. 

 

— Está tudo bem? - Loki franziu o cenho. Evie sorriu novamente. 

 

— Claro! Está tudo ótimo, pai. 

 

Loki recostou-se em sua cadeira, aceitando a resposta. 

 

—Você estava dizendo, tio?

 

—A faculdade? - O deus deu um meio sorriso. 

 

—Ah! - Ela sorriu. - Está tudo ótimo! - Evie, então, começou a contar sobre a vida na universidade, para o alívio de Thor. A paz na mesa parecia ter sido recuperada. No entanto, Nerfi tinha uma breve sensação de que havia algo errado com sua irmã. E isso não era bom. 

 

[↔]

 

Já de volta em seu quarto, Amora trancou a porta para ter mais privacidade. Guardas ainda faziam a vigilância do lado de fora, mas, ela não planejava fugir ou colocar seu plano em prática. Não ainda. A feiticeira caminhou, cansada, até em frente ao grande espelho de seu closet. Ela precisava falar com Skurge em Alfheim e decidiu enfeitiçar o espelho para facilitar a comunicação com o guerreiro - era um tanto estranho usar o objeto para isso, mas Amora não podia levantar suspeitas. Não quando ela sabia que estava sendo vigiada por todos os lados. 

 

Respirando fundo, a Encantor deixou que magia saísse de seu corpo como uma névoa densa e preenchesse todo o espelho. A imagem movimentou-se, exibindo, ao invés de seu reflexo, a sala de sua casa. Amora deu um meio sorriso quando Skurge apareceu na imagem. 

 

— Vejo que o plano está correndo bem. - Skurge falou, exibindo seus dentes amarelados em um sorriso largo. A feiticeira não esboçou nenhuma reação de felicidade quanto ao seu comentário. 

 

— Sim. Em breve descobrirei onde a jóia está e teremos a nossa vingança.  

 

— Quanto tempo acha que vai levar? - Perguntou ansioso. Amora arqueou uma sobrancelha levemente. 

 

— Não está me apressando, está? 

 

— Claro que não, querida. - Respondeu rapidamente e abaixou um pouco a cabeça. Ela suspirou. 

 

— Não deve demorar muito. - Disse baixo. - Só não posso enfiar os pés pelas mãos, preciso ser cautelosa. Todos estão de olho em mim e desconfiados. 

 

— Até mesmo o seu filho? 

 

— Ele principalmente. 

 

Skurge uniu as sobrancelhas, exibindo uma ruga de preocupação. 

 

—Vai precisar ganhar a confiança dele, então. Demonstrar que realmente é uma mãe arrependida. 

 

Ela fez uma careta. 

 

— Não se preocupe, baby. - Ela acrescentou tranquilamente. - Serei breve. Quando o momento chegar, eu o avisarei. - Skurge apenas assentiu e a imagem no espelho desapareceu, mostrando o reflexo de Amora novamente. Ela exalava cansaço e preocupação por baixo de sua postura. Amora suspirou, observando a própria imagem. - Eu espero. - Completou baixinho. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Mischievous Prince - Spin-off" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.