The Mischievous Prince - Spin-off escrita por Sunny Spring


Capítulo 11
Ten




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A mensagem de Fury foi curta e objetiva. "Me encontrem no galpão vazio. 1km. Boas notícias". Não imaginava qual era a notícia mas esperava que fosse algo realmente bom. Quem sabe ele não tinha encontrado o cofre ele mesmo e nos liberaria da missão? Uma parte de mim ficaria desapontada se isso acontecesse. Principalmente se tratando de Nick Fury - eu havia desenvolvido uma certa aversão ao humano e duvidava muito que isso fosse passar tão cedo. Mary estava certa. Eu era competitivo demais. No entanto, outra parte de mim ficaria aliviada. Eu teria minha tão prezada liberdade de volta. Mantive meus pés no chão para evitar decepções. 

 

Nós caminhamos por um atalho na praia e saímos em uma estrada nem um pouco movimentada. Seguimos o endereço que Fury havia nos passado e chegamos no galpão. O lugar era grande, escuro e cheirava a mofo. A estrutura estava caindo aos pedaços e parecia que nenhum humano pisava ali por um bom tempo. 

 

— Onde será que ele está? - Mary cochichou. Olhei para os lados, procurando pelo midgardiano mas ainda não havia sinal dele. De repente, meu corpo ficou em alerta. Alguma coisa estava errada. 

 

—Tem certeza que foi ele mesmo que passou a mensagem? - Um vinco se formou em minha testa. 

 

—Sim. Por que? 

 

—Encontrei vocês! - Uma voz feminina chamou a nossa atenção. 

 

Nós nos viramos praticamente ao mesmo tempo. E lá estava ela. A jovem sem nome que, com certeza, tinha um nome. A mesma da casa de Mohamed. A agente da H.Y.D.R.A. A jovem tinha uma arma especial que mal cabia em seus braços de tão grande apontada para nós. Era uma arma de raio gama. Mary e eu levantamos os braços automaticamente. 

 

— Eu sabia que vocês não tinham morrido, mas meus colegas não acreditaram. - Ela estreitou os olhos, atenta em cada movimento. - Vocês vão comigo! - Decidiu. Sua fluência era perfeita e não tinha nenhum sotaque. 

 

— Você fala a minha língua! - Mary acusou, pasma. De tudo que a jovem falara, isso parecia a única coisa que Mary prestara a atenção. - Você viu? - Dirigiu-se a mim. - Essa sonsa me entendeu o tempo inteiro! - A jovem fechou a cara. Lancei uma carranca para Mary. Aquele definitivamente não era o momento para isso. 

 

—Meu nome é Kameelah, mocinha! - Respondeu seca. - E só porque eu conheço o seu idioma, não significa que eu queira falá-lo! - Mary fez uma careta. 

 

— Foi você que nos chamou até aqui? - Perguntei baixo, tentando distraí-la. Kameelah não esboçou nenhuma emoção. 

 

—Não. Mas fiquei esperando na estrada e quando vocês passaram os segui até aqui. 

 

Olhei de relance para Mary, tentando fazer algum sinal mas não ela olhava para mim. 

 

—Vieram encontrar o mestre de vocês. - Ela mexeu na arma. Me preparei para lutar contra ela a qualquer momento. - Me entreguem o cofre! - Então, eu estava certo. Ela estava mesmo atrás do cofre. Nem Mohamed esteve com ele. 

 

—Nós não estamos com nenhum cofre. - Respondi cautelosamente. Dei meio passo discreto em sua direção, tentando facilitar nossa defesa. 

 

—Bem, isso vocês vão ter que explicar para a S.H.I.E.L.D! - Ela posicionou a arma, pronta para atirar. O que?

 

— Você está louca! - Mary gritou, abaixando os braços. Eu também abaixei os meus.  - Nós somos da S.H.I.E.L.D! Estamos em uma missão para eles!  - Kameelah pareceu tão surpresa quanto nós, mas não recuou.

 

— Vocês não vão me enganar. - Respondeu. Sua voz vacilou. 

 

— Não estamos mentindo. - Mary insistiu. - Pode conferir a minha tatuagem. - Ela puxou a manga do casaco para cima, exibindo um pedaço de pele lisa em seu braço. - Se você é da S.H.I.E.L.D tem o leitor para identificar a tatuagem. - Kameelah franziu o cenho e tirou do bolso da calça uma caneta. Ela se aproximou de Mary cuidadosamente e passou pela pele de Mary como se scaneasse algo. Nada aconteceu. - Viu? - Kameelah franziu o cenho, mas não abaixou a arma. 

 

— Você e os outros agentes não trabalham para H.Y.D.R.A! - Concluí. 

 

—Claro que não! - Respondeu quase ofendida. - Somos todos da S.H.I.E.L.D!

 

—Mas Khalil… - Mary hesitou. 

 

—Ele sim era da H.Y.D.R.A. Eu estava o investigando. - Explicou. - Ele estava estava traindo a própria H.Y.D.R.A, fornecendo armamentos para outras organizações criminosas. Foi assassinado por isso. - Eu havia acertado isso também. Não havia sido Mohamed a matar o primo. 

 

—E Mohamed? - Mary continuou. 

 

—Era inocente. - Kameelah deu de ombros. - Encontrou o primo morto e se apavorou. Sabe, eles brigavam de vez em quando. Mohamed ficou com medo de que pensassem que ele havia matado o primo. - Completou. Isso explicava a medalhinha no apartamento. Minha mente já estava longe dali. Como isso era possível? 

 

—Achamos que Khalil estivesse com o cofre. - Mary disse mais para si mesma do que para Kameelah. 

 

—Não! Eles nem mesmo sabiam do cofre. - Respondeu por fim. Muita coisa se passava pela minha mente. O cofre nunca estivera ali.  - Eu mesma só soube anteontem que um artefato poderoso foi roubado da S.H.I.E.L.D semanas atrás. Achamos que estivessem com vocês. Pensamos que estavam envolvidos com Khalil e mais alguma organização. 

 

—Impossível. - Mary bufou. - Nossa missão era justamente encontrar o cristal. Ninguém nos contou esta parte. - A voz de Mary começou a ficar distante demais. Tudo fazia sentido agora. A falta de pistas. Nenhum sinal do cofre. Tudo veio em minha cabeça, claro como nunca antes. O cofre nunca estivera ali. Nós não estávamos tentando recuperá-lo. Éramos apenas uma distração. Um desvio do foco principal.  - Nós estamos trabalhando para a S.H.I.E.L.D! 

 

—Não, Mary. - Falei baixo. Ela me encarou, confusa. - Não temos trabalhado para a S.H.I.E.L.D. Temos trabalhado para ele. - Sorri comigo mesmo. De raiva. Ele havia nos usado e nos manipulado para tirar as atenções dele. Porque o cofre sempre esteve com ele. A mensagem que havia nos atraído para o galpão não era de Fury. Era dele. Malekith

 

—Achei que nunca perceberiam. - Uma voz rouca e grave, vinda das sombras, fez Kameelah apontar a arma de novo. Mary me lançou um olhar, entendendo o que se passava. 

 

Malekith saiu das sombras, revelando seu rosto. O elfo negro tinha uma aparência medonha, além de cicatrizes no rosto. Ele estava mais fraco do que eu imaginava. Malekith parou de frente para nós, sorrindo. 

 

—Olá, Malekith. - Cumprimentei com desdém. Ele sorriu. Um sorriso arrepiante. 

 

—Finalmente o conheci, filho de Loki. - Respondeu com a voz arrastada. Kameelah e Mary me encararam, procurando por respostas. - Ouvi falar de você e das coisas que fez. - Trinquei o maxilar, mantendo uma expressão serena. 

 

—Fico feliz em saber. - Minha voz não vacilou. Malekith soltou uma risada gutural. - Também ouvi falar de você e de seus feitos. - Comentei, indiferente. - Mas confesso que esperava mais. Você anda meio caidinho. - Malekith não se moveu. Vi de relance Kameelah levanto um dedo ao gatilho da arma. 

 

— Você me lembra a ele, mas não é igual. 

 

Ignorei seu comentário. 

 

—Sempre esteve com você, não é? - Me referi ao cofre. Ele sorriu mais uma vez. - Deixa eu adivinhar. Usou alimento das Fadas no Fury para controlá-lo, não foi?

 

— Você demorou a perceber, mas sim. - Malekith virou-se de lado, perdido nos próprios desvaneios. - O humano foi bem útil. Mas, precisava de alguém para distrair os outros e levar a culpa. Vocês dois foram perfeitos para isso. - Ele nos encarou novamente, satisfeito. - Uma humana mutante com histórico de envolvimento com pessoas erradas. - Mary cerrou o punho, ao lado do corpo, controlando a raiva. Kameelah permaneceu atenta em cada movimento que o elfo fazia. - E um príncipe rebelde, filho de um trapaceiro. Alguém que se aliou ao próprio Surtur para destruir a família. - Engoli seco, sentindo meu sangue ferver, mas não deixei que ele percebesse o meu incômodo. - Confesso que me surpreendeu. Bem, ninguém duvidaria que os dois haviam roubado o cristal. - Pausou. - Na verdade, não vão duvidar. Porque vocês irão morrer antes mesmo deles saberem. - Sorriu, diabólico. 

 

Kameelah foi mais rápida do que eu. Ela apertou o gatilho da arma, liberando uma explosão de raio gama na direção de Malekith. A claridade quase fez meus olhos doerem. No entanto, nada o atingiu. O elfo só precisou levantar uma mão apenas para absorver todo o poder e lançá-lo de volta contra ela. Kameelah foi arremessada no ar e seu corpo, desacordado, bateu contra uma pilastra antes de cair no chão. A arma caiu ao seu lado. Em reação a isso, Mary sacou um revólver, engatinhando-o, e o apontou para Malekith. Ele sorriu com escárnio. 

 

—Acha mesmo que isso será capaz de me parar? 

 

Ambos sabíamos que não. Era tolice. Precisávamos de uma estratégia. Entretanto, Mary não se importou. Ela simplesmente disparou contra ele. Várias vezes seguidas. As balas pairaram no ar, antes de chegarem perto Malekith. A munição voltou contra Mary de uma vez só. Mal tive tempo de estender um campo de força ao nosso redor para nos proteger. As balas chocaram-se contra ao campo e caíram no chão. Não esperei que Malekith atacasse de novo para atacá-lo primeiro. 

 

Me concentrei em meu próprio poder e o atingi no peito. Malekith foi lançado para trás, pego de surpresa. Mary também voltou a atirar contra ele, mesmo sendo em vão. Ele fazia todas as balas voltarem contra nós mesmos. Tivemos que desviar algumas vezes até que escutei um grito de Mary. Ela levou uma mão ao braço ensanguentado. Havia sido atingida. Malekith aproveitou nosso momento de distração para nos acertar ao mesmo tempo. Fomos arremessados no chão, caindo um do lado do outro. 

 

— Você está bem? - Sussurrei para Mary antes de me levantar. 

 

—Não se preocupe comigo. - Respondeu no mesmo tom. - O tiro foi de raspão. - Mas, ao analisar a quantidade de sangue escorrendo em seu braço, aquilo parecia muito pior. Ela pareceu ter lido os meus pensamentos. - Já passei por coisa pior. - Apenas assenti, confiando em sua palavra, e voltamos para a luta. 

 

Eu acertei Malekith algumas vezes, mas ele estava mais forte do que eu pensava. Seu poder era basicamente o mesmo que o meu, mas, sua experiências lhe dava vantagem sobre mim. Ele não era o mesmo Malekith imbatível de antes. Mas, ainda era mais forte que eu. 

 

Lançamos magia um contra o outro ao mesmo tempo e nossos poderes se chocaram. Mary avançou contra suas costas, tentando usar sua eletricidade, mas foi jogada contra a parede. Ouvi ela resmungar algo antes de apagar por completo. 

 

—Mary! - Gritei. Malekith voou contra o meu pescoço, me derrubando no chão. Ele apertou meu pescoço com suas unhas pontiagudas, forçando as minhas costas contra o chão. 

 

—Filho de Loki! - Ele apertou ainda mais o meu pescoço. Senti como se minha alma estivesse sendo sugada de dentro de mim. Uma dor insuportável. Malekith estava usando magia. - Você pode ser meu aliado, sabe disso. - Tentei me mover, mas não consegui. - Posso te colocar no trono. Podemos dominar os nove reinos. Você pode. 

 

Sim, eu poderia. Sua proposta era realmente tentadora. 

 

—Você pode ser o rei. - Acrescentou. Podia sentir seu bafo quente por causa da proximidade. Malekith apertou ainda mais o meu pescoço, fazendo a dor aumentar. - Você não é como a sua irmã. Ela é humana. Fraca. - Sussurrou. Sim. Humana. Ele estava certo. Eu realmente poderia ser rei. - Você é completamente Asgardiano. Pode ser um rei imbatível. 

 

Sim. Eu poderia ser rei. Poderia trair a Evie. Poderia tomar o trono. Ninguém conseguiria me impedir. 

 

—Sim, eu posso. - Respondi por fim. Malekith afrouxou o aperto, sorrindo. Eu sorri também. Poder. Uma palavra forte. Mas, existe uma grande diferença entre poder e querer. Eu sempre soube disso. De fato, eu poderia ser tudo que Malekith havia dito. O problema era que eu não queria

 

Em um movimento preciso, tirei uma adaga da cintura e finquei em seu peito. Malekith urrou de dor e raiva. Aproveitei sua fraqueza e o empurrei de cima de mim, me pondo de pé logo em seguida. Ele se levantou rapidamente, arrancando a adaga com os trincados. Estava furioso. O elfo lançou sua energia contra mim, mas eu rebati. Cerrei meus punhos, com o sangue fervendo. Usei tudo de magia que havia aprendido. Fios azuis saíram de minhas mãos numa intensidade que eu nunca vira antes, fazendo as paredes do galpão tremerem. A magia saiu de mim como uma explosão, varrendo tudo ao seu redor. Eu estava com raiva pela sua ousadia. Raiva por ter subestimado a mim e a minha irmã. Malekith foi arremessado contra a parede e eu voei em seu pescoço, prendendo-o com o meu braço. 

 

—Sim, eu posso ser rei, Malekith. - Sorri, pressionando contra a pilastra. Ele tentou se soltar, rondando, mas não conseguiu. - Mas, eu não quero. E, eu não vou trair a minha família de novo. - Acrescentei. - Você vai pagar por se meter com um Lokison! - Sussurrei, dando um sorriso diabólico. 

 

De repente, duas dezenas de carros blindados invadiram o galpão. Vários agentes da S.H.I.E.L.D saíram deles, apontando suas armas para Malekith. Vi Mary se mexendo no chão, já acordada. Sorri. 

 

—Não se mexa, Malekith! Ou será morto! - Um dos agentes anunciou. 

 

—Sabe - Sussurrei, espirituoso, ainda prendendo-o. - eu não seria um bom rei. Sabe por que? - Malekith rosnou. - Mandaria cortar a cabeça do primeiro idiota que me tirasse a paciência. - Sorri. Eu o soltei para que fosse preso e os agentes o arrastaram dali. 

 

Então, no meio dos agentes, eu a avistei. 

 

[↔]

 

Quando eu era mais novo, não vivia com a minha irmã. Eu ainda vivia como gato, mas só a vigiava, seguindo-a por todos os lugares. Eu morava com nosso pai em um esconderijo e esse período foi curto. Evie nunca havia me visto até então, era apenas uma criança. Eu também era. Quero dizer, não exatamente. Mas a minha mente era tão vazia quanto a de uma criança de sete anos - a mesma idade da Evie. 

 

Eu era curioso e um dia decidi me aproximar um pouco mais do que devia da escola da minha irmã. Era a hora do recreio e as crianças brincavam ao ar livre, no parquinho da escola. Evie estava sentada num banco, sozinha. Ela balançava as pernas pequenas, vendo os outros jogando futebol americano, quieta. Por algum motivo, decidi me aproximar. Com dificuldade, transformei a minha aparência na de um menino de sete anos. Era assim que eu me sentia. Uma criança confusa e com poderes esquisitos. 

 

Caminhei para um pouco mais perto para observá-la melhor e me escondi atrás de uma árvore. Foi um erro. Evie sentiu no mesmo instante que estava sendo observada e olhou direto na minha direção. Nossos olhares se cruzaram na hora, não tive tempo de me esconder. A ligação mágica que havia entre nós se agitou. Evie estava com os olhos arregalados e a boca semi aberta, me encarando. Ela sabia. De alguma forma, ela sabia que éramos irmãos. Evie saiu correndo, sem falar nada. Encolhi meus ombros, saindo detrás do tronco. 

 

Menos de trinta segundos depois, minha irmã voltou na mesma velocidade em que havia saído. Ela segurava um cupcake de chocolate em uma das mãos e parou de frente para mim. Evie simplesmente me entregou o bolinho e sorriu. Sorriu com vontade, coisa que ela não fazia para qualquer um. Dei um sorriso sem jeito. 

 

—Oi! - Disse baixinho. - Você é meu irmãozinho que me segue, né? - Foi um choque. Ela realmente sabia. 

 

—Sim. - Fui honesto. Ela sorriu. 

 

—Mamãe disse que você era imaginário, mas você é de verdade. 

 

Assenti. Ela estava animada. Nós passamos o resto do recreio comendo cupcakes e rindo como duas crianças bobas, enquanto os outros jogavam futebol. Quando uma bola caiu no meu pé, eu a peguei. Outros garotos esperavam para que eu jogasse de volta. Assim, eu o fiz. O problema é que eu era uma criança forte demais para a minha idade. A bola voou rápido e acertou um dos mais velhos bem no rosto. 

 

—Desculpa. - Pedi, sem graça, mas não adiantou muito. Um dos maiores veio na minha direção e me empurrou com tanta força que eu caí no chão. 

 

—Hey! - Evie uniu as sobrancelhas, numa expressão de pura fúria. Ela partiu para cima do garoto, que era bem maior do que ela, e o empurrou de volta. Seu corpo mal se moveu. Me levantei no mesmo instante. Aquilo estava indo longe demais. O garoto soltou uma risada a provocando e levou um soco no nariz. Arregalei os olhos ao ver Evie fazendo isso. 

 

A briga continuou mas eu fugi, deixando minha irmã para trás. Essa foi a única vez que conversamos quando éramos crianças. Mesmo sabendo de mim, Evie acabou se esquecendo. Talvez tenha sido isso que me fizera sentir mais raiva quando era mais novo. Mesmo sabendo que não era sua culpa. 

 

Eu mal podia acreditar em meus olhos. Evie estava bem na minha frente, no meio da confusão. Senti certa felicidade em vê-la. Estava com saudades. Quando seus olhos encontraram os meus, ela respirou aliviada. 

 

—Nerfi! - Ela correu na minha direção e me apertou num abraço. - Estava tão preocupada.

 

—Evie? - Eu retribuí o abraço apertado, mesmo surpreso. - O que está fazendo aqui? - Franzi o cenho. 

 

—Acho que a culpa é minha. - Mary apareceu do nosso lado. Já havia um curativo em seu braço, mas ela parecia exausta. Malekith já havia sido levado e Kameelah estava sendo atendida por médicos.  - Atendi o celular sem querer e ela acabou escutando parte da confusão. 

 

— Eu estava em casa, tentando falar com vocês. - Evie me soltou, ainda nervosa. - Mas eu não tava conseguindo, então eu fui até à S.H.I.E.L.D para perguntar sobre a missão. - Contou, afobada. - Eles disseram que não havia missão alguma e que o Fury estava de férias. Foi então que eu percebi tudo. - Mary arregalou os olhos. Evie sempre teve um instinto de irmã mais velha superprotetora. Mesmo que não percebesse.

 

—Espera, você estava em Nova York? - Perguntei pasmo. - Como chegou aqui tão rápido com tantos agentes? - Ela deu de ombros, calada demais. Arqueei uma sobrancelha, desconfiado. - Evie? 

 

— Eu peguei emprestado com o Doutor Estranho. - Ela levantou um medalhão com um pingente de olho na ponta. 

 

—O olho de Agamotto? - Mary riu, desacreditada. Ela deu de ombros. Algo me dizia que Evie estava escondendo mais alguma coisa. 

 

—Evie, você pediu? - Cruzei os braços, levantando uma sobrancelha. Minha irmã abriu a boca, mas não respondeu. Estava relutante. 

 

— Eu peguei emprestado… - Pigarreou, sem jeito. - sem avisar ao dono. - Mary e eu nos entreolhamos, rindo. 

 

—Amiga, existe um nome para "pegar emprestado sem avisar ao dono". - Mary respondeu. - Se chama furtar. - Evie revirou os olhos. 

 

— Eu não roubei! - Defendeu-se rapidamente. - Eu vou devolver! - Eu ri, duvidando muito disso. 

 

Nossa conversa foi interrompida por um estalo. Uma força esquisita no centro no galpão começou a girar e a soltar faíscas amarelas e vermelhas. Todos ficaram tensos. Um portal circular se abriu e, de dentro dele saiu alguém. Stephen Strange usava um roupão branco e uma toca de patinhos amarelos na cabeça. Sua expressão não era nada agradável, o que fez Evie engolir seco e esconder as mãos nas costas. Ao ver quem era, os outros voltaram às suas atividades. 

 

O doutor veio diretamente até nós, em passos firmes. 

 

—Doutor Estranho! - Evie forçou um sorriso. - Que bela surpresa. - Contive uma risada. Tão sínica. — O que o traz aqui? Veio passar férias? - Ela nem mesmo gaguejou. Mary levou uma mão à boca. O homem semicerrou os olhos. 

 

— Eu estava em um banho tranquilo. - Disse carrancudo. - Quando alguém entrou na minha casa e roubou o olho de Agamotto. - Seu tom de voz era baixo. Evie arregalou os olhos, fingindo estar chocada. 

 

—Que horrível! - Balançou a cabeça. - A cidade está cada vez mais perigosa, é o que eu sempre digo. - O doutor estreitou os olhos e estendeu uma mão aberta para ela. - O que foi? O senhor não acha que eu roubei, né? - Evie riu, nervosa. Stephen permaneceu com a mão estendida. 

 

—Serei obrigado a ligar para a Natasha? - Perguntou baixo. Minha irmã fechou a cara, quase fazendo uma careta. Ele olhou para a própria mão estendida, insistindo. Uma ameaça clara. Com muita má vontade, Evie tirou o medalhão do bolso de trás da calça e entregou para o doutor. - Como eu pensei. - Ele simplesmente voltou para o portal aberto, resmungando algo como "Não se pode nem tomar banho em paz" antes de desaparecer. O portal logo se fechou. 

 

Evie cruzou os braços, emburrada, e eu e Mary soltamos uma gargalhada. 

 

— Do que estão rindo? - Perguntou mal-humorada. 

 

—Nada. - Respondemos praticamente ao mesmo tempo. Evie revirou os olhos, mas acabou sorrindo também. 

 

[↔]

 

Como um filme de ação clichê, nossa missão teve um final feliz. Depois de ser capturado, Malekith foi preso e enviado para uma prisão em Asgard. Ele passaria o resto da vida miserável dele lá. Felizmente, o cofre foi recuperado e enviado também para o reino de meu tio. 

 

Fury percebeu que havia sido controlado pelo elfo e decidiu reforçar a segurança da S.H.I.E.L.D. Já a minha irmã levou uma certa bronca da Romanoff  (e uma ligação de nosso pai. Ele ficara ainda mais orgulhoso da princesinha dele). 

 

Kameelah se recuperou bem. Apesar dos ferimentos, ela não teria complicações futuras. Mary também não. O tiro havia realmente passado de raspão, para a sorte dela. E alívio de todos. 

 

Agora, uma semana depois de tudo, eu finalmente tinha a minha liberdade de volta. Ainda tinha muitos problemas mas pelo menos estava livre de novo. Estava em Londres, aproveitando o último dia de folga. Havia acabado de sair de um café, junto com Mary. Ela estava indo embora.

 

—Bem… - Ela disse, sem jeito. - Acho que nos despedimos aqui. - Nós paramos na calçada, em frente ao seu carro. 

 

—Acho que nos divertimos um pouco, apesar de tudo. - Admiti. Ela sorriu. 

 

—Sem dúvidas.

 

Um silêncio meio constrangedor se fez. 

 

—Err… - Pigarreei, um pouco constrangido. - O nosso status mudou? - Perguntei sem jeito. Mary riu com vontade. 

 

—O que? Não! 

 

Eu ri. A sinceridade de Mary era algo que eu admirava.

 

— Nós somos apenas amigos. - Respondeu sincera. Levantei uma sobrancelha, dando um sorrisinho malicioso. 

 

—Amigos não… 

 

—Amigos… - Me interrompeu. - Que de vez em quando têm benefícios. - Sorriu. - Nós somos parecidos. Temos almas livres e não vamos nos prender um ao outro só porque achamos que temos alguma obrigação. - Eu assenti, sorrindo. Ela estava certa. E eu estava aliviado por isso. Mesmo gostando de Mary (e odiando também), eu sabia que o que havia entre nós era nada mais que amizade. Uma amizade meio torta, mas ainda assim, amizade. 

 

—Amigos? - Estendi uma mão. 

 

—Amigos! - Mary apertou minha mão. Depois que a soltou, ela suspirou. - Tenho que ir agora ou vou perder meu vôo. - Ela se esticou na ponta dos pés para aproximar o rosto do meu, e deu um beijo rápido na ponte do meu nariz. - A gente se vê, gatinho. - Sorriu. Mary entrou em seu carro e acenou antes de dar partida. Contive um sorriso, perdido em pensamentos ao vê-la indo embora. Quando uma lembrança veio na mente, meu sorriso desaparecer. A filha da mãe havia levado o meu Dolce & Gabanna com ela. Eu a xinguei mentalmente. Por isso ela estava tão feliz. Miserável. Ladra de roupas de marca. 

 

—Bú! - Um tapa nas minhas costas me fez pular de susto. Gritei um palavrão. Evie estava chorando de rir. 

 

—De onde você surgiu, praga de Hell

 

Evie deu de ombros. 

 

—Mary também se despediu de mim. Ela é minha amiga, caso tenha se esquecido. 

 

—Como poderia esquecer? - Murmurei.

 

—A propósito… - A praga que atendia pelo nome de Evie sorriu, maliciosa. - O que rolou entre você e a Mary? - Touché. É claro que ela havia percebido. 

 

—Nada. - Fingi desentendimento e voltei a andar. Minha irmã veio atrás de mim. 

 

—Como assim nada? Eu senti um clima!

 

—Virou garota do tempo, Evie? 

 

Ela parou na minha frente, bloqueando minha passagem. 

 

—Ah! Nada disso, bebê javali! - Ela parou de falar, arregalando os olhos. - POR ODIN! Aconteceu o que tô pensando que aconteceu? - Empurrei minha irmã para o lado e voltei a andar. - Nerfi, me conta, por favor! - Evie correu, me alcançando. Eu parei de andar, encarando-a. - Ah! Meu maninho está crescendo. - Ela apertou minhas bochechas como se falasse com uma criança. 

 

— Evie, pare com isso! - Pedi, constrangido. Ela tinha esse poder de me fazer sentir assim. Por Odin! Eu a odiava.

 

—Que bonitinho! - Continuou. Revirei os olhos, impaciente. 

 

—Me deixe em paz!

 

—Então, me conta! - Sorriu. 

 

—Acredite em mim. - Contive um sorriso. - Você não vai querer saber. - Ela levou uma mão ao rosto, chocada. 

 

—Ah! - Ela mal conseguia falar. - Estou gritando por dentro ao mesmo tempo que acho isso nojento. - Evie fez uma careta. 

 

—Agora sabe como eu me senti quando peguei você e o Peter se pegando lá em casa! - Sibilei. Ela ficou vermelha como um tomate de tanta vergonha. 

 

—Nerfi! - Ralhou. - Eu não estava fazendo o que você está pensando. Foi só um beijo. 

 

—Aham. Sei. - Arqueei uma sobrancelha. - Nosso pai já sabe deste episódio? - Provoquei. -  Acho que ele ficaria chocado… 

 

—Javali, não se atreva! 

 

—Então, me deixe em paz. - Dei um sorriso. Ela deu um longo suspiro. 

 

—Certo. - Concordou. - Você é uma serpente peçonhenta. - Sorri ainda mais. 

 

Voltamos a caminhar em silêncio. Apesar de tantas brigas, era bom passar um tempo com a Evie de novo. Sentia falta disso. Ela também era uma parte de mim, afinal (uma parte bem desagradável, eu diria). Depois de muitos minutos de silêncio, Evie voltou a falar. 

 

—A propósito. - Ela ficou séria, de repente. - Preciso te contar uma coisa. 

 

—Algum problema? - Franzi o cenho. Ela estreitou os lábios. 

 

—O Peter estava curioso sobre a sua genética e tudo mais. - Disse pausadamente. - Fazendo experimentos para faculdade, ele pediu para usar seu DNA. Por curiosidade… - Franzi ainda mais o cenho. 

 

—Será que pode resumir? - Perguntei impaciente. Evie suspirou. 

 

— Com o resultado dos exames, o Peter descobriu uma coisa. - Hesitou, tensa. - Nerfi, você tem uma mãe. 


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Notas finais do capítulo

Ooi!

Essa foi a primeira parte. Espero que tenham gostado. Em breve postarei a parte dois. Bjs *.*



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