Sakura chegou nervosa, alguns minutos depois, enquanto eu estava indo comprar os remédios que o doutor recomendou. Portanto, expliquei à ela tudo o que aconteceu nos mínimos detalhes, desde a minha primeira carona com Naruto.

— Sua bandida, mentiu pra mim! 

— Desculpe, Saky. - eu baixei os olhos. - Não queria que imaginasse coisas, eu fui bem lerda com relação a ele.

— Eu sabia desde o início, sua bobona. - Sakura desdenhou. - Estava na cara que Naruto gostava de você.

— Estou me sentindo tão idiota, eu falei várias vezes que ele gostava de você! - Sakura riu. - Eu serei uma péssima jornalista.

— Não pensa assim, Hina. - Saky tocou meu ombro. - Você só é meio lerdinha com relação a sentimentos.

— E o que eu faço agora? - me desesperei. - Tenho medo de Naruto se declarar pra mim e eu magoá-lo.

— Você não sente nada por ele?

— Não, quero dizer... Naruto não é tão ruim quanto eu pensava, mas daí me envolver com ele. - eu suspirei. - Isso nunca esteve nos meus planos.

— Olha, o Naruto é bonitão e tals, não vejo problema em você dar uns pegas nele.

— Tá louca? - revidei. - Primeiro, eu não iria brincar com os sentimentos de alguém, muito menos os dele. E se Naruto estiver apaixonado de verdade por mim? Segundo, ele perdeu toda a família, como eu poderia fazer algo assim?

— Tem razão, tadinho. - Sakura concordou pesarosa. - O que será que aconteceu com a família dele?

— Naruto não me disse ao certo, só mencionou por alto.

— Poxa, estou morrendo de dó do bichinho, ainda bem que você foi solidária e cuidou dele. - observou e eu suspirei.

— Mas, preciso confessar uma coisa. - Sakura me olhou curiosa. - Naruto é uma coisa, viu!

Ela gargalhou alto.

— Sua safada, tirou uma casquinha dele enquanto o bichinho estava mal.

— Eu não. - beijei meus indicadores provando que estava sendo sincera. - Nem olhei pra ele direito, só quando precisei vesti-lo para entrar na ambulância.

Sakura riu novamente.

— Fiquei curiosa agora, Naruto parece ser todo definido, mas não dá para saber ao certo. Na maioria das vezes ele vai de blusa para a faculdade. - eu fiz que sim com a cabeça. - Agora, não dá pra negar que ele é um gato, e aqueles olhos cor de mar?

— É verdade, Naruto é bem discreto mesmo. Ainda assim as meninas ficam tudo em cima do coitado, imagina se ele se exibisse. - refleti. - Ele realmente é bonitão, e sim, é todo definido, os olhos são apenas um charme a mais.

Sakura assentiu.

— Queria dar uma olhadinha no material. - confessou sonhadora.

— Ei. - lhe dei um cutucão. - E Sasuke?

— Não estamos mais juntos...

— Como? 

— Ele não sabe o que quer, ora diz que gosta de mim, ora some e não me dá notícias. - eu fiz uma careta. - Quero alguém que me assuma, não me faça de idiota.

— Entendi. - falei e ela soltou um muxoxo. - Dá um pé nele, você é uma gata, logo arruma outro.

— Espero que sim.

Eu a abracei do nada, afinal, Sakura parecia durona, mas, no fundo eu sabia que ela gostava daquele babaca de verdade. E eu não ficava à vontade vendo minha melhor amiga sofrendo por causa de macho.

— Você é maravilhosa, amiga. - Sakura fungou baixinho, estava chorando. - Ei, não chore por causa daquele embuste! - pedi taxativa.

— Você é minha melhor amiga, Hina!

— Pronto, passou. - eu disse, confortando-a. - Você também é minha melhor amiga.

Nós nos separamos e sorrimos, Sakura era tão linda, parecia uma modelo, não sei como aquele babaca não a levava para o altar logo. Homens!

Seguimos em silêncio em direção à farmácia mais próxima e eu quase caí de costas ao ver os preços dos remédios. Era tudo caro! Eu iria estourar meu cartão de crédito com dois remédios apenas, e Naruto precisaria tomar um coquetel com três antibióticos fortíssimos.

Tive uma vertigem.

— Eu te ajudo a pagar, miga. - Sakura se dispôs. - Vamos ajudar o Narutinho.

Eu ri.

— Narutinho? Tá mais para Narutão!

— Engraçadinha.

Eu lhe dei a língua.

Compramos os benditos remédios e voltamos, agora, como eu já tinha colocado tudo em pratos limpos, pude contar o que aconteceu, além da minha descoberta sobre os sentimentos do meu professor.

— Não me diga que você ainda sonha com o Kakashi!

— Sonho sim, você sabe que eu pago pau pra ele desde que entrei na faculdade.

— Miga, deixa disso. - eu bufei. - Kakashi parece o tipo que só ilude as mulheres, não queira um homem desses pra tua vida, vai por mim. - revirei os olhos. - Sério, Hina, confia no que eu digo; Naruto parece ser o cara ideal pra você!

— Não viaja, Saky. - ela virou a cara. - Eu mal conheço o Naruto, como saberei se é o cara certo? E outra, eu não gosto dele assim, não vai rolar.

— Você é uma porta. - ralhou. - Depois que Kakashi fizer contigo, o mesmo que Sasuke vem fazendo comigo, não reclame.

— Eu não quero casar com Kakashi, só dar uns pegas nele, eu hein!

— Não está mais aqui quem falou. - Sakura cruzou os braços.

Chegamos ao hospital e eu recebi uma ligação da redação, informando que, ou eu iria trabalhar, ou teria meu dia descontado.

Mas que droga!

Isso que dava bancar a boa samaritana. Deixei os remédios com a Saky e pedi para ela cuidar de Naruto por mim. Ele não tinha ninguém, portanto, nós duas tínhamos de servir. Ela prontamente aceitou e eu corri em casa, para tomar um banho decente e trocar de roupa, rumando para o trabalho em seguida. No entanto, não conseguia deixar de pensar em Naruto naquele hospital. Como diria Sakura, tadinho do bichinho.

O dia, depois disso, passou no piloto automático, eu não me concentrava em nada. Só pensava em Naruto sozinho, esperava que Sakura não estivesse abandonado o coitado à própria sorte. Mas ela não faria isso. Até que, na hora do almoço, Saky me ligou, informando que o pessoal da faculdade tinha ido em peso visitá-lo, inclusive Shion.

O que aquela cobrinha estava fazendo lá?

Sai do trabalho e corri para o hospital novamente, louca para tirar satisfações com ela. Eu não tinha nada contra Shion, na boa. Só que ela não iria prejudicar Naruto nem por cima do meu cadáver. Muito menos deixaria que ameaçasse ele, qual é?

Naruto estava doente, o que ela iria querer com ele? Sakura me explicou que Naruto ligou na faculdade, cancelando às aulas de hoje e explicou que estava no hospital. Foi assim que quase todos souberem de seu estado, desse modo, acabou sendo inevitável que recebesse visitas. Disse ela, que o hospital estava cheio de garotas de todas as turmas, não só a nossa. 

Eu bem imaginava que ele era tão popular.

Sakura também me contou, que Naruto perguntou de mim assim que acordou e ficou todo jururu quando soube da minha partida. 

Bem, o importante é que eu cheguei e logo avistei Shion na recepção, junto de mais outras garotas, já que não era possível todas entrarem ao mesmo tempo no quarto dele.

Bufei e fui em direção ao meu foco no momento.

— Shion, posso falar com você? - ela me olhou desconfiada e assentiu.

— O que você quer, Hinata?

— Quero te pedir, aliás, ordenar, que não perturbe o Naruto e nem ameace ele, ouviu bem? - Shion ergueu uma sobrancelha muito da bem feita, por sinal. - Você já o viu? - fez que não. - Então, Naruto está muito mal e não pode ficar nervoso por causa de uma aluna despeitada, que não consegue aceitar um fora!

— O que sabe sobre isso?

— Sei tudo, eu vi você se jogando pra cima dele. - minha voz soou bastante ameaçadora. - Escuta aqui, eu não tenho nada contra você, mas se prejudicar o Naruto, eu conto pra todo mundo que você é uma mentirosa.

— Não tenho medo de você. - devolveu. - Porém, era só um blefe, eu não vou fazer nada. Eu nem gosto do Naruto de verdade, era só uma aposta, ok?

— Você fez aquilo por uma aposta? - eu quase voei no pescoço dela. - Naruto estava desesperado quando o encontrei, sabia que ele poderia ter sofrido um acidente de carro, dirigindo naquele estado?

— Eu sei, eu sei. Tá legal? - ela suspirou. - Eu vim assim que soube, pensando ter sido eu a culpada, sei lá. Imaginei que Naruto tivesse sofrido um acidente de verdade!

— Ele não sofreu, mas poderia. Considerando o estado que o encontrei no estacionamento. - anunciei arisca.

— Eu não queria...

— Tudo bem, só-não faça mais isso, ok?

— Não farei. - garantiu, eu assenti. - Olha, Hinata, eu sei que Naruto gosta de você.

Franzi o cenho.

— Do que está falando?

— É óbvio, a sala toda se tocou, principalmente depois de vê-lo se inclinando sobre você na última aula. - argumentou como se fosse óbvio.

— Mas ele só me tratava mal. - refleti sem entender.

— Homens são assim, principalmente no caso dele. 

— Não entendi. - retruquei, curiosa.

— Você sabe que é proibido relação entre professor e aluna, certo?

— Sei.

— Então, Hinata. Não seja tonta, na certa ele fazia isso para te repelir, talvez pensasse que você faria igual a gente e se jogaria pra cima dele. - eu uni as sobrancelhas em confusão. - Acorda, Hinata! Naruto tinha medo de você cair em cima dele e o coitado não resistir. Puts, você é lerda mesmo, hein! - ela riu.

— Pior que sou. - afirmei, rindo também.

— Você não gosta dele?

Fiz que não.

— Não tenho mais ranço de Naruto, até gosto dele como amigo. - frisei a palavra.

— Puts, que dó. - Shion fez uma careta. - Naruto me repeliu categoricamente quando eu o beijei, ele alegou gostar de outra pessoa, além de frisar que seria errado se envolver com uma aluna. E, quando disse isso, Naruto suspirou pesadamente, como se ponderasse essa última regra. Tá na cara que ele não quer segui-la por tua causa. - despejou tudo num fôlego só.

— Nossa!

— Olha, eu vou falar com o Naruto para explicar as coisas. Não vou mais ficar no caminho de vocês, ok?

— Eu e ele não temos nada. - relembrei.

— Não importa, vocês formam um casal meigo, logo mais você se toca que gosta dele também e eu não quero ficar no meio disso. - respondeu seca.

— Qual parte que é errado pegar a aluna você não entendeu?

— Desde quando uma regra idiota segura duas pessoas que se gostam? - devolveu sorrindo.

— Eu não gosto dele.

— Ainda.

Bufei.

— Não viaja, Shion.

— Deixa pra lá, eu vou entrar pra falar com ele, tchau. - despediu-se.

Acenei para ela, indo até a cafeteria em seguida, eu precisava de café na veia para me manter acordada. 

Eu só não esperava ver Kakashi tomando um capuccino também, eu até fiz menção de me virar para ir embora. Só que ele me viu antes disso e me chamou com a mão. 

Aproximei-me sorrateiramente, um pouco constrangida, graças a meu sentimento um tanto platônico.

Foi quando vi Sakura saindo do banheiro, próximo a cafeteria. Ela me viu sentando ao lado de Kakashi e balançou a cabeça negativamente.

Ué, eu não iria ignorá-lo, seria desrespeitoso, não seria?