Querido professor escrita por mjrooxy


Capítulo 6
Desentendimentos




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Fui trabalhar encucada com a conversa que tive com Naruto na noite anterior, eu ainda não entendia como uma pessoa poderia ser tão bipolar assim. Ora me tratava pessimamente, ora agia feito um perfeito cavalheiro? O que será que tinha na cabeça dele? Eu queria muito saber, aliás, até à noite seguinte, na qual tive o prazer de trombar com o Kakashi sem querer. Sério, foi sem querer mesmo, eu estava apressada para a aula, visto que tinha saído tarde do trabalho, então nem me dei conta de quem estava à minha frente. Até que bati em alguém e, quando olhei para cima, meu coração deu um salto com vara.

Era ele.

Eu fiquei estática, parecia uma garotinha do colegial, porque, Kakashi era um gato mesmo. Eu sentia tudo revirar dentro de mim, estando tão próxima dele. No entanto, para minha surpresa, Kakashi colocou as duas mãos sobre a minha cintura e disse baixinho, rente ao meu ouvido:

— Cuidado, Hinata.

Foi o suficiente para eu quase infartar ali mesmo, como Kakashi sabia meu nome? Entrementes, nem tive tempo de questioná-lo, pois, da mesma forma que ele veio, foi embora. Eu só fiquei com o cheiro do seu perfume em minha blusa e, preciso confessar, foi o melhor momento da minha noite! A partir daí, não consegui pensar em mais nada, muito menos em Naruto.

Bem, será que, por um milagre ou algo assim, Kakashi já havia reparado minimamente em mim? Eu seria muito iludida em pensar isso? O que um deus grego como ele, quereria com alguém como eu?

Ainda com isso em mente, segui para a sala, o que foi bem tedioso, eu precisei inventar uma desculpa pra Sakura, para não falar da carona. Contudo, ela não acreditou de todo, só deixou passar, pois estava muito empolgada com o Sasuke, parece que ele finalmente assumiu que gostava dela. Então, eu meio que não tinha tanta importância por hora. Menos mal.

Além disso, precisei ligar para o meu mecânico e pedir um guincho, ou seja, meu carro estava na oficina pela enésima vez. Eu até poderia pedir um carro novo para o meu pai, que é montado na grana, porém, não queria me render e assumir que precisava de ajuda. Portanto, tinha que aguentar as pontas sozinha, com meu salário muito mequetrefe. Era isso ou atestar que eu não podia me sustentar por mim mesma.

Unf!

A aula transcorreu normalmente, eu só tinha problemas com Naruto mesmo, de resto tirava de letra. Até que, na hora do intervalo, eu vi Shion sair avoada da sala, indo em direção à outra turma de jornalismo. Aquilo estava me cheirando a Naruto. Eu a segui, apenas a título de curiosidade, já que era caminho para a cantina e eu estava com fome. Sakura, como sempre, me deu um perdido, pois agora ela estava se pegando a sério com o Sasuke.

Passei pela frente da sala, como quem não queria nada e foi aí que eu avistei, Shion estava, mais uma vez, debruçada sobre a mesa dele. Agora que ninguém mais jazia na sala, ambos encontravam-se sozinhos.

Shion estava tão entretida em mostrar os peitos para Naruto, que nem me viu, já ele, a encarava com o rosto vermelho e tentava olhar apenas em seus olhos, enquanto explica alguma coisa. Ela pegava pesado com Naruto, sério!

Qualquer homem em sã consciência, sendo Shion aluna ou não, já teria perdido o controle. No entanto, Naruto parecia imune as suas investidas.

A ignorância era uma benção mesmo, às vezes Naruto podia ser meio lerdinho para mulheres. Ou ele podia ser gay, será? Nunca havia pensado nisso antes!

Eu estava espiando-os secretamente, fingindo mexer no meu celular, enquanto todos passavam em direção à saída da faculdade. Até que vislumbrei Shion segurar o rosto de Naruto e beijá-lo.

Aquele pacotinho de cocô beijou o Naruto!

A porta estava encostada e só tinha uma abertura mais em cima, era por ela que eu vi toda a cena se desenrolar. Claro, tentando disfarçar o quanto podia. Para todos a sala deveria estar vazia, exceto por aquela lambisgoia beijando o professor. E foi aí que eu vazei.

Não sei dizer porque, mas me senti estranha vendo aquela cena. Sei lá, em meu interior, eu precisava assumir, sentia um certo gostinho em imaginar Naruto interessado em mim. Era bom para o ego, já que ele não dava bola para nenhuma outra aluna. Só que, agora, eu tinha certeza de que era viagem da Sakura mesmo.

Qual é, não me julguem, era gostoso imaginar um professor atraído por mim, mesmo que, o professor em questão fosse Naruto. Que mais me destratou do que qualquer outra coisa nesses dois meses em que assumiu a turma.

Também, quem resistiria ao charme da Shion, ainda bem que ela se jogava para o Naruto e não para o meu Kakashi. Daí seria pior. De qualquer modo, eu até poderia caguetar o que vi para a direção, só que isso o prejudicaria e eu não faria nada para ferrar a vida dele.

Não agora que até estávamos nos dando bem.

Quando eu cheguei em casa, ontem, fiquei pensando horrores em tudo o que aconteceu. Pensei ainda mais na forma que Naruto se comportou, quando eu mencionei meu interesse por Kakashi. Acho que a Sakura conseguiu me influenciar um tico, com toda aquela história de desejo desenfreado. Que fosse.

Melhor eu deixar essa história pra lá. Ele não estava interessado em mim, vida que segue.

Naruto também sabia dos riscos de envolver-se com uma aluna, não era eu quem daria uma de X9.

Peguei um bolinho de arroz e um chá e tentei me concentrar em outras coisas, até que vi Naruto passar apressado em direção ao estacionamento da faculdade. Eu, como sou movida mais por impulso do que qualquer outra coisa. Levantei-me e o segui discretamente. Dando de cara com ele abrindo a porta do carro.

— Aconteceu alguma coisa, professor? -  inquiri, vendo que Naruto estava pálido e parecia bastante nervoso.

— E-eu... - guaguejou um pouco, notoriamente perturbado.

— Pode desabafar comigo. - eu toquei seu ombro delicadamente.

Como quem não queria nada.

Não sabia afirmar, mas vê-lo tão abalado me deixou agoniada.

— Não estou me sentindo bem hoje, minhas aulas encerraram, já vou indo. - Naruto fez menção de entrar no carro.

— Você não está em condições de dirigir, o que aconteceu? - me fiz de louca, para ver se ele confiaria em mim.

Naruto, por sua vez, passou as mãos pelos cabelos loiros e me olhou um tanto quanto exasperado.

— Eu arranjei um problemão!

— Shion, estou certa?

— Como sabe? - ele franziu o cenho.

— Eu vi vocês se beijando.

Naruto gelou, arregalou os olhos e encostou no carro, parecia estar com tontura.

— Não é o que está pensando, ela me beijou e eu não esperava!

— Não precisa se explicar, eu entendo.

— Entende?

— Sim, ela é muito bonita, qualquer homem normal não resistiria e...

— Não! - Naruto me cortou imediatamente. - Você entendeu tudo errado, Hinata. Eu já gosto de alguém, de uma outra pessoa, quero dizer, eu me interesso, aliás, nem sei o que sinto por ela. - explicou todo confuso.

Eu uni as sobrancelhas.

— Então a recusou?

— Sim. - suspirou.

— Deixa eu adivinhar; Shion está te ameaçando, dizendo que vai contar tudo à diretoria, que você a assediou e blá blá blá? - presumi com uma leve convicção.

— Como sabe?

— É bem a cara dela fazer isso! - exclamei um pouco alto. - Shion não parece fazer o tipo acostumado a levar um fora.

— Agora eu não sei como proceder. - ele encarou o chão, pesaroso. - Seria minha palavra contra a dela.

— Eu também vi o que aconteceu, posso atestar a seu favor.

— Pode? - Naruto me encarou como se eu fosse um ET.

— Você me ajudou ontem, uma mão lava a outra, certo? - ele riu. - E não é correto o que ela está fazendo com você, só porque não a corresponde, Shion vai ferrar sua vida?

— Não sei, seria hipocrisia da minha parte julgá-la. - eu aguardei, sem entender o sentido da frase. - Pois, se fosse outra garota, eu não teria recusado o beijo.

Eu coloquei a mão direita na boca, surpresa demais para dizer qualquer coisa de pronto.

— Você gosta de uma aluna? - questionei, vendo-o corar dos pés a cabeça.

— Falei demais. - voltou atrás e fez menção de entrar no carro mais uma vez, porém eu o segurei pelo pulso.

— Não vou te julgar. - Naruto assentiu. - Sério, você está muito abalado pra dirigir, eu te levo.

— Como?

— Eu dirijo pra você.

— E como vai voltar pra casa e suas aulas?

— Está tudo certo, eu volto de ônibus pra casa. - expliquei. - As próximas aulas são um porre e eu sou nerd, tudo bem cabular às vezes.

— Claro que não. - negou veementemente. - Não quero que se prejudique por minha causa.

— Está tudo bem, Naruto. Sério! - reafirmei.

— Obrigado. - agradeceu ainda nervoso. - Volta pra casa com meu carro e amanhã eu pego, o seu ainda está com problema?

— Vemos isso no caminho, está bem? - eu quase o empurrei para o banco do carona e entrei em seguida. - Sim, meu carro está na oficina.

Enquanto isso, Naruto me olhava embasbacado.

— Por que está sendo legal comigo, sendo que eu só te desmerecia?

— Eu não guardo rancor, tenho o coração bom.

Ele riu e eu dei partida.

Já no meio do caminho, eu seguia as coordenadas que Naruto me dava e mantinha minha atenção na direção, para não fazer nenhuma barbeiragem na frente dele. Até que sua voz preencheu o carro:

— Obrigado mais uma vez, Hinata.

Eu apenas assenti e sorri marotamente.

— Relaxa, ser bonito deve ser complicado, ter tantas garotas se jogando em cima de você na aula, não sei nem como mantém a concentração. - divaguei em voz alta.

Ele riu.

— Você me acha bonito?

— Bem... - eu corei.

Droga!

Naruto me pegou.

— Eu só tenho olhos pra uma, por isso é fácil me esquivar. - ouvi em resposta e minha curiosidade comichou.

— Posso saber quem é? - joguei o verde. - Não conto pra ninguém.

— Desculpe, não posso.

— Que maldade. - fiz um bico. - Daria qualquer coisa pra saber de quem meu professor é afim.

— Se você soubesse... - ouvi baixinho.

— O que?

— Nada não. - desconversou.

Desconfiei.

— É alguém da sala, Naruto?

— Talvez, só que ela não me corresponde, e talvez seja melhor assim. - refletiu e se remexeu, desconfortável no banco.

Eu comecei a enumerar o nome de todas as garotas da sala, só que Naruto negava todas. Quando, por fim, restavam apenas eu e Sakura, notei ele ficando muito vermelho, foi aí que eu descobri.

Agora entendi, agora eu saquei, agora todas as peças se encaixaram, eu estava cega e agora vejo!

— A. Meu. Deus. - falei pausadamente, extremamente surpresa. Vendo Naruto quase pular para fora do carro, ao perceber que eu descobri seu segredo. - Você gosta da Sakura!

— Não, espera. - ainda o ouvi contestar, enquanto me olhava, como se eu tivesse cinco olhos na cara, ou fosse um ciclope.

Mas eu estava segura do meu pensamento.

— Faz todo sentido. - eu me sentia a própria Sherlock Holmes. - Como diria o Soluço, isso muda tudo, agora eu entendo porque reparava em mim, a ponto de perceber meu apego ao chaveiro, é que eu sempre estou perto dela. E também, porque se aproximou de mim do nada e passou a me tratar bem, você queria descobrir coisas sobre a Sakura e eu era a fonte mais confiável de todas. Queria muito saber sobre a relação dela com Sasuke, estou certa? - eu continuava explanando meus pensamentos.

Naruto ainda me olhava de boca aberta, na certa não imaginava que eu iria descobrir pelas pistas que me deu. Até que ouvi um suspiro e ele se dirigiu a mim:

— Certo, Hinata, você descobriu tudo. - eu sorri vitoriosa. - Eu gosto da sua amiga, mas você não pode contar a ninguém, muito menos pra ela, tá bom? - eu assenti. - Sabe que não podemos nos envolver, porque eu sou o professor e Sakura aluna, então fica tudo como está, ela gosta do Sasuke, não é mesmo?

— Gosta. - constatei, exultante.

— Pronto, fica tudo na mesma, só me prometa não contar a ninguém, muito menos à sua amiga, tá legal? - tornou a insistir.

— Prometo. - beijei meus dedos indicadores, em sinal de promessa. - Sakura iria cair dura se soubesse, e ela pensando que você gostava de mim! - continuei falando, mais pra mim do que para ele.

Vi Naruto rir do meu lado e balançar a cabeça.

— Posso só te dar uma dica?

— Claro. - aceitei.

— Quando estiver investigando um caso para uma matéria, jamais faça isso, não presuma as coisas, pois nem tudo o que parece é. - eu fiz que sim com a cabeça, ele era meu professor, afinal. - Investigue minimamente, veja todas as possibilidades, o que você julgar impossível de acontecer, na maioria dos casos, é lá que a verdade se esconde.

— Pode deixar! - bati continência, em tom de zombaria. - Só que eu acertei dessa vez, não?

— Acertou sim. - Naruto afirmou.

— Então pronto. - ele riu. - Estou no caminho certo.

Chegamos na casa de Naruto, enquanto eu permanecia matracando sobre ele e Sakura, que eu o preferia, ao invés de Sasuke. Até que minha garganta secou, o bolinho de arroz estava muito salgado e eu larguei meu chá na mesa, antes de correr atrás dele.

— Então você fica com meu carro.

— Tudo bem. - aceitei derrotada, já estava tarde para eu voltar de condução. Ele estava mais calmo e poderia me levar, no entanto, não faria sentido algum, dar toda essa volta. - Só me dê um copo de água, por favor? - pedi suplicante como o gatinho do Shrek.

Eu sempre saia com minha bolsa e uma garrafinha de água, só que, dessa vez, ela estava vazia.

— Claro, mas precisa entrar um pouquinho, não confio em te deixar sozinha no carro a essa hora da noite. - ponderou um pouco sério.

— Tudo bem. - eu fui saindo e o acompanhei, a casa dele era bonita e bem arrumada, mas faltava alegria.

Talvez alegria de uma mulher? Quem sabe, tudo parecia tão... Solitário.

Eu me sentei no sofá confortável e aguardei Naruto retornar com um copo de água, bebi tudo e fiquei olhando para ele, ainda pensando no que havia descoberto.

— Ainda não acredito que goste da Sakura.

— Nem eu. - nós dois rimos.

— Já vou então. - fiz menção de me levantar.

— Tudo bem, Hinata. - fomos indo em direção à porta, entretanto, quando pisamos fora da casa, não havia mais carro algum.

Eu deixei a chave no contato!

— Droga, droga, droga. - choraminguei, me sentindo muito mal.

— Calma. - Naruto pediu, tranquilo. - Esse bairro é relativamente seguro, eu já deixei várias vezes o carro pra fora tarde da noite e isso nunca aconteceu.

— Mas, aposto que não com a chave no contato! - resmunguei, me sentindo uma otária.

— Você deixou a chave no contato? - ele começou a gargalhar muito. - Meu Deus!

— Não está bravo? - questionei, vendo-o para de rir aos poucos.

— Como poderia? - eu franzi o cenho em sinal de confusão. - Você é muito espontânea, Hinata. - fiz uma careta. - Não tem problema, o carro tem seguro, vem, entra, pode ser perigoso ficar aqui fora, vai que esses caras voltam. Eles nem devem ser da região, aqui realmente é seguro.

— Me desculpe. - quase implorei, me sentindo uma garotinha de dez anos, ao ser flagrada pelo pai, fazendo traquinagem.

— Quer que eu peça um táxi? - ele propôs, assim que sentamos no sofá novamente. - Já disse para não ficar assim, está tudo bem, eu vou ligar para o seguro.

— Tem certeza? - inquiri. - Estou me sentindo péssima!

— Não fique aflita, essas coisas acontecem, ainda bem que pedi pra você entrar, se estivesse no carro, aí sim eu ficaria preocupado. - objetou todo fofo.

— Ei, você é legal. - constatei sorrindo.

— Sou? - ele devolveu o sorriso. - Espera um pouquinho, eu vou pedir um táxi pra você.

Fiz que sim com a cabeça e me recostei no sofá super confortável, na sequência, descansei os olhos. Visto que havia acordado muito cedo, para ir trabalhar de ônibus, já que meu carro estava no concerto. Ou seja, estava acabada de sono.

No entanto, o que era para ter sido apenas alguns segundos, tornou-se horas e eu adormeci na casa do meu professor.


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