I'll be there for you... escrita por Yasmim Speretta


Capítulo 4
Capítulo 4 - Motivation




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Quando Henry chega ao apartamento com um jornal embaixo do braço, Jason está procurando xícaras para servir o chá (café para mim) e Nellie está fritando alguns ovos. Eu estou na mesa, relendo o último relatório que fiz a respeito de uma comunidade trouxa que vem sofrendo com sintomas de ingestão de malagarras, ao norte da Escócia. Desde que comecei a trabalhar no Ministério, na seção responsável por lidar com as consequências de encontros entre criaturas mágicas e trouxas, tenho dedicado grande parte do meu dia para cumprir minhas atividades. Mesmo em casa, faço relatórios e estudos de possíveis medidas de contenções para eventuais acidentes. Acho que devo estar fazendo um bom trabalho, já que minha chefe não me deu nenhuma bronca até o momento, a não ser o silêncio e sua expressão de desprezo.

 - Não te vejo animada com alguma coisa desde que terminou sua pesquisa sobre as criaturas amazônicas – diz Henry, se sentando e pegando as minhas anotações. – Diria até que está trabalhando demais. Precisa de uma folga.

— Eu não estou trabalhando demais – respondo, contrariada, estendendo minha mão para pegar o Profeta Diário que ele tem nas mãos. – Queria ter mais tempo para estudar melhor os meus casos.

— Até porque você nem passa a madrugada falando sozinha sobre malagarras, não é? – diz Jaz, me servindo uma caneca de café. Nellie solta um riso baixo e Henry me olha, como se tivesse ganhado a discussão.

Não me importo com isso, estou muito contente com a rotina que estou criando. Meu trabalho, minha casa, meus estudos. Parece que fiquei tanto tempo longe de seres mágicos que não me lembrava do quanto me completam. Contudo, não nego que estou passando mais tempo que planejado lendo sobre esses animais, ao invés de fazer outras coisas que também me dão prazer.

Enquanto leio as últimas notícias do dia para o pessoal, Eric entra na sala, todo entusiasmado.

— Adivinhem o que eu tenho? – ele diz, sorrindo.

— Um novo corte de cabelo! – Nellie exclama, em expectativa.

— Uma namorada! – eu digo.

— Um emprego decente! – Jason diz.

Todos começamos a rir, menos Eric, que acerta a cabeça de Jason com um papel. Com a bagunça, Liz sai do quarto, ainda de roupão, de mau humor.

— Vocês precisam aprender a conversar mais baixo – ela diz, pegando uma torrada. – É tão cedo...

— São quase oito horas da manhã! – Jason diz, contrariado, tanto pelo comentário como por ter sua torrada roubada. Liz dá com os ombros e se apoia na bancada.

— E ai, terminaram? Querem saber o que eu tenho ou não? – Eric diz, um pouco irritado, lutando para se conter. Eu e Jaz respondemos que não, enquanto Henry e Nellie dizem que sim. – Muito bem, meus amigos. Eu venho convidar todos vocês para o clássico Ballycastle Bats versus Wimbourne Wasps, pela classificação na Copa Britânica! No camarote! Então fiquem livres no domingo, meus queridos!

Ele mostra, animado, os ingressos. Um fato sobre Eric: ele é, sempre foi e sempre será viciado em Quadribol. Nellie diz que desde que eram crianças, ele já jogava. Foi apanhador desde o segundo ano em que esteve em Hogwarts e se tornou capitão no quarto ano. A questão é que ele não só ama o esporte: ele é incrivelmente bom. Do tipo muito bom mesmo, tanto que ganhou a maioria dos jogos em que jogava quando estávamos na escola, fazendo com que a Grifinória conquistasse a taça por vários anos. Todos acreditavam que ele seguiria essa profissão quando se formasse, mas não foi bem assim. Foi um choque para todos nós.

Pessoalmente, eu nunca fui uma fã muito assídua de Quadribol. Claro, eu acompanhava os jogos em Hogwarts e costumava a ver partidas com meu pai, e como o time dele era o Falmouth Falcons, eu também dizia que torcia para eles. Depois que ele se foi, não é algo que chama minha atenção mais. Entretanto, como são ingressos no camarote e eu realmente preciso me distrair um pouco, acho que será um bom programa, então pego um dos ingressos da mão dele.

— Então, o que acham? – ele pergunta, com animação.

— Desculpa, cara, mas eu tenho que trabalhar no domingo. – Jaz diz, saindo da mesa. Eric então olha para Liz.

— No meio de fevereiro? Com esse clima? Não, muito obrigada, eu passo! – ela diz, voltando para o quarto. Noto que Eric dá uma leve desanimada com as desistências, então eu me apresso a dizer:

— Eu animo!

— Eu também! – diz Nellie, pegando um ingresso. – Vai ser divertido!

Eric visivelmente se alegra e se vira para Henry, com as sobrancelhas levantadas.

— Claro... Vai saber quando vou poder ver o seu time perdendo de lavada para os Wasps, não é mesmo? – Henry diz, rindo. Eric dá um soco leve no braço dele e entrega um ingresso. Depois que todos tomam o café da manhã, saímos para o trabalho, um a um. Enquanto estou reunindo meus papeis, recebo uma mensagem de Jason.

Já percebeu que todo mundo sempre se reúne para qualquer coisa na nossa casa?

Dou uma pequena risada e desaparato.

***

No domingo, bem cedo, me levanto e tomo um rápido banho, me apressando para me arrumar. Coloco uma calça bem quentinha, suéter vermelho, botas e um cachecol preto. Quando estou saindo do quarto, olho pela janela e percebo que começou a chover violentamente. Decido colocar luvas e um gorro, junto com um sobretudo. Por um momento, me arrependo de ter confirmado o passeio, mas tento manter um fio de esperança que será um programa legal. Coloco o ingresso no bolso, para não esquecer.

Quando chego à cozinha, vejo a mesa posta, com sanduíches, chá, suco e bolachinhas de manteiga. Noto que há um bilhete ao lado:

Se divirtam por mim! – Jaz

Com um imenso sentimento de gratidão, me sento e começo a comer. Pouco tempo depois, Eric e Nellie entram no apartamento. É notável que Eric nem dormiu a noite de tanta animação.

— Você tá pronta? – ele pergunta, sem conter a emoção.

— Calma, ainda temos que esperar o Henry! – diz Nellie, se sentando para comer. – Faça o favor de comer algo também!

— Não, eu como algo por lá. Sem contar que hoje não é dia de comer, e sim de beber! – ele diz, levantando uma garrafa de cerveja amanteigada. Me seguro para não perguntar se ele não acha que é muito cedo para isso.

Enquanto esperamos por Henry, Nellie pinta meu rosto com faixas pretas e vermelhas, e eu desenho um morcego preto no dela (já que é o mascote do time que iremos torcer). Eric acaba nos convencendo de tomar algumas cervejas com ele, então ficamos bem alegres consideravelmente rápido. Ele também tem a brilhante ideia de pintar seu rosto, sendo metade dele de vermelho e metade preto. Considerando que ele já está usando uma blusa estampada com o brasão do time, acho engraçado o quanto ele parece um fanático.

Eric está nos contando uma das milhares histórias a respeito do time, quando Henry finalmente chega. Ele parece preocupado, mas tenta disfarçar. Após muitas reclamações por conta do atraso, acabamos de nos arrumar e estamos prontos para sair. Nellie e Eric desaparatam antes, mas eu puxo Henry pelo braço, para que fiquemos para trás.

— O que aconteceu? – eu pergunto.

— Nada demais, só... Uma ameaça de ataque de um grupo de bruxos, nada demais. Tive que ficar a noite toda no trabalho. – percebo que ele tem um pequeno machucado perto do olho. Quando aproximo minha mão para tocá-lo, ele desvia, constrangido.

— Acho melhor a gente ir. – e sem me esperar, ele desaparata.

Chegando ao local próximo à partida, nos encontramos com alguns amigos de Eric: alguns do tempo da escola e outros que conhece do trabalho. Eu e Nellie encontramos um bar montado sob uma tenda, e aproveitamos para nos esquentar um pouco, já que está incrivelmente frio e não para de chover nem por um minuto. Estamos na nossa segunda cerveja amanteigada quando os meninos se juntam a nós. Eric parece uma criança, com um sorriso gigante, e Henry começa a se descontrair ao poucos. Não consigo evitar pensar o que houve no trabalho e me pego olhando para ele em alguns momentos, com muita vontade de perguntar. Quando ele nota, ele só sorri e segura minha mão, como se pedisse para esquecer aquilo. Eu me esforço ao longo do dia para deixar para lá.

Aos poucos, os fãs do esporte vão chegando e começamos a encontrar mais pessoas conhecidas. E com o tempo que está, todos buscam refúgio no bar, nos dando a oportunidade para colocarmos o papo em dia. Um grupo de amigos com alguns instrumentos se juntam e começam a tocar um pouco desafinadamente uma música bem conhecida e animada. Nellie pega nossos copos e entrega para Henry, e me puxa no meio da multidão, para o centro do lugar, e começamos a dançar. É claro que todas as bebidas fazem efeito novamente e começo a rir sem parar, dançando com desconhecidos, esbarrando nas pessoas e rindo um pouco mais. Um homem se aproxima de nós e pergunta se poderia dançar com Nellie um pouco, ela olha para mim e sorri, encabulada, e o segue.

Eu fico sozinha, me balançando no ritmo da música, não sei por quanto tempo. Em certo momento, me dou conta de onde estou e o que estou fazendo. Solto uma pequena risada e começo a procurar meus amigos. Nel ainda está com aquele rapaz e seu grupo, rindo de alguma coisa que ele disse. Então, procuro os outros. Vejo Eric, encostado no balcão do bar, olhando em minha direção, atentamente. Vou até ele, ainda dançando.

— O que foi? – pergunto, enquanto tomo um gole da sua bebida.

— Nada, só estava vigiando vocês. – ele responde, me olhando com um sorriso.

— Não preciso que você cuide de mim – eu respondo, olhando com um sorriso irônico.

Ele continua me encarando por um tempo, até que desvia sua atenção para Nellie, tentando ver o que ela está fazendo. Pergunto que horas o jogo irá começar, e ele olha para o relógio. Como falta apenas vinte minutos e temos que chegar até o camarote, decidimos chamar nossos amigos e ir. Eu vou atrás de Henry, que está fumando próximo à saída, e Eric chama a irmã dele. Quando nos juntamos, Nel parece bem feliz e faço uma anotação mental de lhe perguntar depois quem era o homem que está conversando.

Quando chegamos ao camarote, estamos completamente ensopados. Toda a tinta que estava em nossos rostos também acabou saindo, fazendo uma completa bagunça, mas estamos tão alegres que isso nem importa. Todos estão em grande expectativa para começar o jogo e a torcida já começa a se preparar com bandeiras, gritos e fogos de artifícios.

— Olha só, se não é o Gravest! – um homem fala, quando entra no camarote.

Eric se volta animado, para cumprimenta-lo. É um senhor de uns 50 anos, usando trajes bem caras, nas cores preto e vermelho, com um brasão dos Bats na altura do peito. Ele me parece simpático, mas os olhos parecem estudar tudo à sua volta.

— Pessoal, esse é Rudolph Dridle, ele é o técnico dos Bats nos últimos o que, dez anos? – Eric diz, sorrindo e nos apresentando.

— Você me faz parecer velho, meu rapaz. Mas fico feliz de ter aceitado o convite. Bom, um deles você tinha que aceitar, não é mesmo? – Dridle responde, dando alguns tapinhas nas costas de Eric, que agora parece um pouco desconfortável. – Se me encontrar depois do jogo, vamos beber uma cerveja juntos, hein?

— Só se vocês ganharem o jogo! – ele responde, rindo sem graça.

— Ah, eu conto com isso! – ele diz, se virando para cumprimentar outras pessoas. Olho para Eric, como se perguntasse quem era, e ele abana a mão, como se não importasse. Mas noto que ele fica um pouco tenso até o homem sair do camarote. Eu sabia que ele era um fã nato do time, mas não a ponto de conhecer o técnico de forma tão pessoal. Além do fato de não ter compartilhado isso conosco. Não sei se seria a melhor coisa perguntar algo sobre, então tento me concentrar no jogo.

— BOA NOITE, AMANTES DO ESPORTE! – o locutor anuncia, levando a multidão ao delírio. Todos começamos a gritar de excitação. Eric parece que vai desmaiar no momento que seu time entra em campo.

O juiz da partida se certifica que tudo está certo e inicia o jogo, arremessando a goles e liberando as outras bolas. Não tem como negar que os Bats são realmente bons, porque em menos de cinco minutos já marcam o primeiro gol. A capitã, Jules Foles é voraz, rápida e parece sempre antecipar os movimentos dos adversários, mas é o outro artilheiro, Thomas Slym que sempre faz os gols. Após algum tempo, acabo percebendo um certo padrão no jogo.

— Você notou, né? – Eric diz, dando um gole na cerveja dele, mas sem desviar os olhos por nenhum minuto – Foles é bem rápida e consegue se esquivar bem dos balaços, mas o Slym tem uma precisão muito maior para atirar a goles. Sem contar na força do lance. Mas também, se ele for marcado pelo outro time, ela consegue desviar dos jogadores mais rápido e chegar às balisas, antes de qualquer um. Enquanto isso, a outra artilheira, Buckmann, fica mais atrás, caso alguém consiga roubar a goles.

Os jogadores continuam nessa formação até alcançarem 60 pontos, enquanto as Wasps não marcam. Em certo momento, os batedores dos Bats rebatem um balaço para o outro, mirando uma jogadora do Wimbourne, a acertando no joelho, fazendo com que ela se desequilibre por um bom tempo.

— GENIAL! – Eric grita – Esse é o rebate de ângulo! É muito preciso, porque os dois batedores precisam estar de acordo em quem precisam acertar, sem se comunicar, além de se posicionar em lugares específicos para um mandar o balaço para o outro. Assim, a bola tem mais velocidade e consegue acertar direitinho o jogador. Na escola, eu sempre tentava fazer essa formação.

— Então é por isso que a Grifinória tinha tantos balaços errantes. – Henry diz, fazendo Eric rir.

Depois de um tempo, o jogo finalmente se equilibra e a partida fica mais violenta. Pelo menos três jogadores levam boladas na cabeça e quase caem desmaiados das vassouras, mas a partida continua. Já nem sei quanto tempo se passou, quando Eric cutuca meu braço e se aproxima, cochichando no meu ouvido e apontando para algum lugar do campo.

— Está conseguindo ver? – ele pergunta. Aperto meus olhos, tentando enxergar, com toda a chuva que está caindo, até que vejo um pequeno ponto dourado próximo ao chão. O pomo de ouro! Eu me viro sorrindo e afirmando com a cabeça para ele.

— Como você conseguiu achar isso? – pergunto, encantada.

— Eu estou acompanhando ele desde o começo do jogo. Ele não saiu muito de perto do chão, menos quando a Buckmann caiu, ai ele foi para perto da cabine do locutor. Acho que a ideia dos Bats é conseguir uma margem de pontos maior para capturar ele. Ou isso ou realmente o apanhador deles é muito ruim. – ele termina, rindo.

— Como você consegue acompanhar tudo de uma vez?

Ele passa a mão no cabelo, todo bagunçado pelo vento.

— Eu sei lá. É como se eu não conseguisse prestar atenção em só um ponto, como a goles ou o pomo, mas também soubesse exatamente o que está acontecendo em cada lugar. Não faz sentido, né? – ele ri, meio sem graça – Sempre foi assim. Sempre consegui ter focos diferentes no campo.

— Mesmo quando você era o apanhador? – pergunto.

— Aham. Acho que era o que eu mais gostava quando jogava. – ele diz, olhando para mim, pela primeira vez. 

Eu sorrio, concordando. Ele é realmente bom, não só como jogador, mas como estrategista. Ele sabe deduzir quais jogadas são mais prováveis de serem bem sucedidas e como o outro time irá reagir. Sem contar o fato de estar atento a tudo que está acontecendo, fazendo com que saiba como ajudar o time em qualquer situação. Ele seria um ótimo capitão em qualquer time profissional. Questiono-me se ele sabe disso.

— 260 CONTRA 200 PARA OS BATS. E ENTÃO, MEUS AMIGOS TORCEDORES, QUEM SERÁ O GRANDE CLASSIFICADO PARA A COPA BRITÂNICA DE QUADRIBOL? – o locutor anuncia.

— O apanhador dos Wasps viu o pomo! – Henry diz, apontando para um rapaz, que está indo em direção ao chão.

O apanhador dos Bats, Matt Ulysses percebe e começa a segui-lo, se esticando ao máximo. Eric se segura na beirada do camarote, muito atento ao que vai acontecer. E então, o batedor dos Bats percebe o que está acontecendo e manda um balanço em direção ao pomo, fazendo com que ele se movimente, acabando com a chance do primeiro apanhador de conseguir marcar os 150 pontos. Todos respiram, aliviados.

— Depois dessa, é melhor eles pegarem o pomo de uma vez. Isso se o Ulysses souber o que é um pomo de ouro – diz Eric, irritado.

— Com esse tempo, é bem difícil enxergar a um metro na sua frente, mano – diz Nellie.

Eric solta uma exclamação de frustração. Ele aponta para um espaço entre duas balisas, em que percebo que o pomo está. Enquanto isso, o goleiro da Wasps se aproxima, para fazer uma defesa, fazendo com que o pomo se aproxime do local em que o apanhador do Bats está. Ao que parece, ele finalmente nota a pequena bola dourada e dispara para alcança-la. O outro apanhador se junta a ele e eles ficam emparelhados. Todos ficamos na expectativa até que...

— E OS BALLYCASTLE BATS GANHAM A GRANDE PARTIDA! CLASSIFICADOS PARA A COPA BRITÂNICA DE QUADRIBOL! – o locutor grita, fazendo que toda a torcida vá à loucura. Fogos vermelhos preenchem o céu nublado, enquanto os jogadores vão se reunindo a dando a volta no campo. Eric grita tanto, tão feliz, e nos abraça. Começamos a pular, dançar, bater palmas, enfim. Felicidade toma conta de todos.

***

Ficamos um pouco mais na tenda do bar, bebendo para comemorar a vitória do time. Todos estão cantando o hino e balançando suas bandeiras. Nem mesmo o frio congelante faz com que parem, fazendo com que a festa seja regada a cerveja amanteigada para aquecer a todos. Contudo, percebo que Eric já está bem mais calmo, apenas sentado comigo, bebendo e sorrindo, observando o pessoal.

Henry se aproxima, com uma expressão bem fechada.

— Tenho que ir. O trabalho me chama... – ele diz, bem reservado.

— Está tudo bem? – Eric pergunta.

— Sim, nada que não possa resolver. Não se preocupem. – ele me dá um beijo na bochecha e aperta a mão de Eric – Foi um jogo incrível!

— Eu disse que ninguém supera os Bats! – Eric diz, sorrindo. Henry então sai da tenda, desaparatando em seguida. O sentimento que tive mais cedo, de preocupação, retorna. Meu amigo logo percebe que estou incomodada com a situação.

— Hey, que tal a gente ir para casa? – ele pergunta, colocando o copo no balcão do bar. Eu dou um pequeno sorriso e concordo. Pergunto então onde está Nellie, e ela aparece no mesmo instante.

— Oi pessoal. Então, sabem o rapaz que eu estava conversando? – eu confirmo com a cabeça, sorrindo, enquanto Eric olha desconfiado. – Ele é um dos patrocinadores dos Bats e me chamou para uma festinha de comemoração, o que acham? – ela pergunta, feliz.

Eu digo que estou bem cansada e preciso descansar um pouco para trabalhar no dia seguinte. Ela então espera a resposta do irmão.

— Eu também estou bem exausto... Tem certeza que você quer ir, Nel? – ele pergunta, um pouco receoso.

— Ah, eu quero sim. Mas posso ir sozinha, não tem problema! – ela diz, ainda animada. Eric pensa um pouco e concorda com a cabeça. Nellie dá um pulinho de animação e dá um beijo na bochecha de nós dois, e se junta ao rapaz. Meu amigo dá um profundo suspiro e se vira para mim. Dou um sorriso encorajador e seguro sua mão, em direção da saída.

— Ah, ai está você! – ouvimos alguém chamar, atrás de nós. Quando nos viramos, lá está Rudolph, o técnico dos Bats. – E aquela cerveja, hein Gravest? Tem algumas pessoas que eu gostaria que você conhecesse...

Eric parece bem encabulado e dá um pequeno sorriso nervoso.

— É tentador e eu agradeço, mas acho que vou encerrar o dia, Dridle.

— Eu entendo, rapaz. – ele diz, olhando para mim - Mas um dia, ainda vamos ter outra longa conversa, garoto... – e se afasta. Antes que eu possa falar algo, Eric me oferece a mão para desaparatarmos juntos.

***

Depois de um banho bem quente, visto um pijama e moletom para me aquecer. Percebo que por mais cansada que esteja, parece que me sinto mais leve, como se não tivesse mais um peso sobre meus ombros. Começo a rir de cada lembrança do dia, enquanto arrumo as coisas para começar a semana no dia seguinte. Estou reunindo alguns papeis que estão dispersados no chão do meu quarto, quando Eric bate na porta.

— Achei que seria ideal para esse tempo... – ele diz, segurando duas tigelas de ensopado de carne. Pego uma delas, agradecendo, e o convido para se sentar na cama. Ele parece outra pessoa, com o rosto todo limpo e sem as cores do time.

— Jaz e Liz? – ele pergunta.

— Jaz ainda está no hospital e Liz... Bom, eu nunca sei onde Liz está – eu digo, o fazendo rir. Comemos em silêncio por um tempo, até ele puxar assunto.

— No que está pensando?

— Henry... – ele dá um sorriso de canto. – Não me olha assim, eu só estou preocupada que alguma coisa tenha acontecido no trabalho.

— Não se preocupe, eu já teria recebido algo. – ele diz, terminando a refeição.

— É verdade... E você? O que está pensando?

Ele deixa a tigela no chão e se deita ao meu lado, colocando as mãos atrás da cabeça.

— Um pouco de tudo, eu acho. No jogo, na Nellie. Ela está bem?

— Ela me mandou mensagem, dizendo que sim. Que está na casa do rapaz, Lyndon o nome dele. Parece estar se divertindo. – respondo. Ele apenas balança a cabeça. – Posso te perguntar uma coisa?

— Sempre...

— Quem era aquele técnico? Por que ele queria tanto conversar com você?

— Você sempre vai na parte mais certeira, né? – ele responde rindo – Nada que eu e ele já não tenhamos conversado.

Ele percebe que a resposta não foi satisfatória e se senta, olhando para frente.

— Lembra que assim que saímos de Hogwarts, eu fiz uma viagem? Bom, eu fui convidado para visitar o centro de treinamento dos Bats. Na época, eles estavam selecionando um time novo, porque os antigos jogadores já estavam se aposentando. Aparentemente a Madame Hooch mandou uma carta de indicação para eles e eles me viram jogar nos últimos jogos que estive como capitão da Grifinória. Acho que chamei a atenção deles. – ele diz, rindo para si mesmo. – Foi lá que conheci Rudolph.

— Tem alguma coisa que você não está me dizendo. – eu respondo. Ele leva um tempo para dizer algo.

— Eu sei que se eu te pedir para não contar isso para ninguém, você não vai contar. Mas preciso que prometa, de qualquer jeito – ele diz, olhando para mim. Eu concordo, séria. – Bom, eu não sabia do teste quando fiz a visita, mas eu tentei de qualquer forma. Para a posição de apanhador. Eu passei e como eles estavam renovando todo o time, eles também estavam procurando um capitão. Eu fiz outro teste, mais teórico e tudo, e também passei. Dridle me convidou para ser o capitão dos Bats naquela época.

Eu olho para ele, confusa. Essa não é uma oferta fácil de conseguir na área e também sei o quanto Quadribol significa para ele.

— Mas... Por que você não foi? – pergunto, inquieta. Ele olha para cima, como se lutasse com a lembrança.

— Não foi algo fácil, eu... Eu sempre amei Quadribol, desde que me lembro. Na escola, era a melhor coisa do mundo pra mim. Você sabe, eu não era um exemplo de aluno. Minhas notas não eram tão boas e eu simplesmente não conseguia ficar parado nas aulas. Cumpria detenções mais vezes do que gostaria de admitir. Mas quando eu jogava, nossa... Parecia que tudo sumia. Era como se fosse a única coisa que eu soubesse fazer. – ele diz, bem desanimado – Só que eu não podia pensar só em mim nessa escolha.

— Nellie... – eu digo, balançando a cabeça, compreendendo.

— Eu não poderia simplesmente aceitar o trabalho e deixar ela para trás. Ela é minha irmã e eu tenho que cuidar dela. Principalmente depois de... Você sabe... É minha responsabilidade.

— Eu entendo o que você fez e porque você fez, mas Eric! Eram os Bats! É o que você nasceu para fazer! – eu digo, me alterando um pouco. Ele dá um pequeno sorriso.

— Você parece o Dridle... Foi por isso que ele me convidou hoje, aliás. Ele acha que consegue mudar minha opinião e ainda conseguir me ter no time.

— Mas você nunca iria aceitar... E é por isso que não quer que eu conte pra Nellie. Porque ela te convenceria do contrário. – eu digo, entendendo. Ele concorda.

Tento absorver essa informação por um momento. Parece-me injusto ele ter que desistir de algo que ele quer tanto, mas também entendo as razões dele. Sei que ele faria qualquer coisa pela irmã. Chego à conclusão que é melhor não interferir ou opinar sobre, porque pode ser ainda mais doloroso para ele. Talvez parte de amar alguém significa abandonar pedaços seus, pedaços que fazem falta, mas que não são tão essenciais quanto a felicidade da outra pessoa. Seguro a mão dele, para demonstrar que estou ali para ele, que pode confiar em mim. Ele sorri e nos deitamos juntos, olhando para o teto.

— Você seria um apanhador bem melhor que o Ulysses – eu digo.

— Até um pato cego seria melhor que ele – Eric diz, rindo. Eu sorrio.


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Notas finais do capítulo

Foi um desafio escrever sobre quadribol, então inventei novas jogadas e movimentos! E ai, gostaram?



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