I'll be there for you... escrita por Yasmim Speretta


Capítulo 2
Capítulo 2 - One I've been missing




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— Parece que cheguei bem na hora - Henry diz, tirando as luvas - Vocês parecem precisar de toda ajuda possível para cuidar dessa bagunça.

Eu sorrio e começo a guardar as coisas de volta na minha caixa de lembranças. Bom, acredito que já deu para perceber, não é? Acho que a maioria das pessoas já se sentiu assim: boba, sem direção e com um pequeno problema para respirar quando se encontra com a pessoa que está hm... na falta de palavra melhor, apaixonada. Henry é essa pessoa, a minha pessoa. Nos conhecemos pouco depois de sairmos de Hogwarts, sendo que Eric o apresentou para o restante da turma. Os dois trabalham no mesmo departamento, de Execução das Leis da Magia, mas com tarefas diferentes; enquanto Eric lida com uma parte mais burocrática (e diga-se de passagem, chata), Henry é um auror. 

Nosso relacionamento tinha tudo para ser perfeito e feliz, mas é aquela velha história de sempre: duas pessoas que se gostam e que não conseguem ficar juntas. Não que já tenhamos tentado, até hoje só nos beijamos uma vez, o que teve uma repercussão um tanto quanto dramática. Mas mesmo assim, ele me trata muito bem, se preocupa, e vice versa. E considerando a profissão dele, me seguro muito para não falar tudo que me vem a mente (como as preocupações e potenciais pretendentes que possam aparecer). 

— Que bom que o senhor resolveu aparecer! Faça o favor de pegar a vassoura ali e começar pelos quartos, vamos - diz Eric, pegando a caixa da minha mão e se dirigindo para o meu quarto.

Henry dá um pequeno sorriso e o segue. A amizade deles é algo tão tranquilo, que faz meu coração desacelerar um pouco. Começam a conversar sobre alguma questão do trabalho, enquanto eu olho em volta, pensando no próximo passo. Decido me sentar um pouco e descansar, e Nellie chega com uma cesta cheia de sanduíches e doces. Ela me oferece algumas delícias e vai até os quartos chamar o pessoal. 

Todos voltam para a cozinha. Enquanto Nel coloca água para esquentar para preparar um chá, Liz liga o rádio e começa a discutir com Jaz sobre o que querem ouvir, Eric abre a geladeira e reclama que só tem bebidas de trouxa e Henry começa a pegar pratos dentro de uma caixa.

No meio dessa confusão de vozes e movimentos, eu me sinto em casa. Depois de tanto tempo, eu me sinto em paz.

***

Passo o restante do dia sozinha, preparando o jantar de Natal. Eric e Nellie vão visitar a familia, Liz vai no seu super importante compromisso atrás de contatos, Jason cumpre seu turno no St. Mungus e Henry tem "algumas coisas para fazer" (o que na minha opinião, é só para me deixar com mais trabalho). Faço tantos pratos que chego a perder a conta: peru e frango assados, batatas cozidas, vários tipos de molhos e saladas, torta de rins com temperos, pudins e bolos de caldeirão. 

Após me certificar que estava tudo pronto (e delicioso), tomo um belo banho e coloco um vestido rodado preto, meia calça vermelha e um brinco de ouro que ganhei da minha tia. Aproveito que meus colegas de quarto ainda estão fora e coloco os presentes deles de baixo da árvore de Natal, que está ainda mais cheirosa depois que lancei um feitiço para que ela ficasse mais forte. Enquanto espero meus amigos chegarem, decido assar alguns biscoitos de gengibre, para aproveitar o forno quente, então coloco novamente o avental rosa e começo a bater a massa. Assim que começo a moldar os biscoitinhos, alguém bate na porta.

— Pode entrar! - digo, me virando para a sala. Henry chega, com uma garrafa de vinho e com presentes na mão. 

— Eu acho, ACHO, que temos comida suficiente - ele diz, colocando as coisas em cima do sofá. Eu sorrio, e ele vem até mim. Delicadamente, ele coloca um das mãos na minha cintura e eu ofereço a massa do biscoito para ele provar. Ele experimenta e balança a cabeça, como se fosse a melhor coisa do mundo.

— E eu acho que você poderia me ajudar a assar eles. Vão ficar ótimos até o fim da noite - eu digo, abrindo espaço na bancada para outra forma. Ele simplesmente concorda e começa a fazer bonequinhos um tanto quanto deformados. Isso me faz rir muito.

***

— Eles só se atrasaram, é isso - Henry diz, enquanto começo a andar sem parar, da sala para a cozinha, olhando para o relógio na parede.

— Será que aconteceu alguma coisa? - pergunto. Ele balança a cabeça e se levanta da poltrona, vindo até mim e segurando meus braços.

— Eu posso tentar ligar para eles, o que acha? - ele pergunta.

Eu concordo. Telefones e celulares não são tão comuns no mundo mágico, mas essa foi uma pequena contribuição que fiz para meus amigos: ensinei todos a usarem e se comunicarem através disso. O sinal é péssimo na maioria das vezes, por conta da interferência mágica, mas funciona. Henry diz que vai ligar para Eric e sai do apartamento, enquanto eu ligo para Jason. É claro que cai na caixa de mensagens. Então deixo uma mensagem de texto, perguntando onde ele está.

Para Liz, eu também mando um texto, já que é uma reunião importante e muito provavelmente ela me mataria se eu atrapalhasse. Ela me responde no mesmo instante:

"Meu bem, eu estou na festa ainda. Estou sendo apresentada a muitas pessoas e querem que eu cante daqui a pouco! Vou me atrasar um pouquinho. Beijos."

Tento não me deixa incomodar tanto por isso. É o trabalho dela, afinal. É uma oportunidade. Jaz também me responde, dizendo que é impossível sair do hospital, que estão chegando muitas pessoas com acidentes natalinos, como perus no lugar das cabeças e azevinhos saindo pelas orelhas. 

Deixo meu celular no sofá e volto para a cozinha, para tirar os biscoitos do forno e deixá-los esfriar. Henry volta e se senta a mesa. Ele está cheirando a aquele cigarro de ervas que insiste em fumar sem parar. Sinto seu olhar nas minhas costas, esperando para falar.

— Eric e Nellie não vão poder vir, Kat... Parece que o avô deles começou a discutir com o tio, que discutiu com a tia, que discutiu com o pai deles. Eu só consegui acompanhar até ai - ele se serve outra taça de vinho.

— Liz ainda está na festa, acho que o Chefe da Suprema Corte quer que ela faça um show exclusivo. Jaz também não consegue vir - digo, um pouco para baixo. Henry nota e segura minha mão, fazendo com que eu me aproxime mais dele.

Olho para baixo e vejo seus olhos cinzas, me encarando. Esse é aquele momento em que ambos sabem o que querem que aconteça. Mas nenhum dos dois tem a coragem necessária para fazer isso. 

— Eu sinto muito - ele diz, depois de um tempo - Sei que você estava animada para isso. A casa nova e tudo...

— Tudo bem, eles estão bem pelo menos. E ainda tenho você, não é? - pergunto, olhando em seus olhos. Ele passa a mão pelo meu braço, até chegar nas minhas costas.

— Você sempre vai me ter.

Dou um pequeno sorriso e começo a servir o jantar. Ele acende algumas velas. Admito que é um pouco romântico, mas agora, ele está sendo o que preciso que ele seja: meu amigo. 

***

Um tempo depois, estamos sentados juntos no sofá, bebendo uisque de fogo, ouvindo ao longe uma cantoria de Natal. 

— Eu acho que vou dar o seu presente agora - Henry diz, se levantando e indo até a árvore.

— Não é justo, temos que abrir juntos - mas ao mesmo tempo, estou curiosa e pego o presente que comprei para ele. Nos sentamos juntos no chão, em frente a lareira.

Ele abre primeiro. É uma embalagem bem pequena, e dentro tem um chaveiro, com uma simples pedrinha de cristal verde. Ele franze um pouco a testa, como se procurasse algum truque especial.

— É só um chaveiro - eu respondo rindo - Eu queria te dar algo que pudesse carregar sempre com você. Me dá suas chaves!

Enquanto ele tira suas chaves do bolso, vou até o meu porta chaves e pego as minhas.

— Aqui! - digo, colocando o chaveiro novo nas chaves do apartamento dele - Eu também tenho uma pedra, igual a sua. Se você segurar a sua, a minha vai vibrar, levemente, viu? Então, quando eu segurar e você também segurar - eu coloco a pedra na mão dele - Elas brilham em conjunto.

Ele olha, sorrindo para a palma de sua mão, em que a pedra solta uma simples luz verde. Depois, ele a aperta com força.

— Assim, mesmo se achar que só você pensa em mim, vai mostrar que você não é o único. Eu vou sempre estar com você - eu digo, olhando nos olhos dele. 

— Eu nem sei o que dizer. É... a coisa mais preciosa que já ganhei...

Eu sorrio e começo a abrir o meu presente, enquanto ele continua admirado. Ele me deu um porta retrato simples, amarelo e preto (já que são as cores da minha casa), com uma foto normal revelada, da viagem que nós fizemos com nossos amigos para a Disney de Paris, no último ano. Foi a primeira vez que fizemos algo desse tipo juntos e eles queriam que eu os levasse em algum lugar que os trouxas costumassem a ir, então escolhi a Disney. Ainda lembro de Liz gritando nas montanhas russas e Nellie comendo tudo que via pela frente. No fim do dia, todos estavam exaustos, mas contentes. Como havia levado minha câmera, pedi para um dos funcionários tirar nossa foto ao lado do Mickey. A foto ficou hilária porque Nel estava coberta com chocolate, Jaz estava olhando com uma cara desconfiada para o homem vestido com a fantasia do Mickey, Liz estava fazendo um espacate, Henry estava sorrindo e segurando Eric em seus ombros, que estava morrendo de rir, e eu estava apontando para a câmera. Foi um dia inesquecível para todos nós.

— É para o seu novo escritório. E também pra todo mundo ficar confuso porque a foto não está se mexendo. 

— Eu ainda não consegui o emprego, você sabe... E como você conseguiu revelar uma foto assim? - pergunto, admirada.

— Hoje a tarde eu fui em um daqueles lugares que tem várias lojas de trouxas. Lá tinha um lugar que vendia uma dessas, então só mostrei a foto no meu celular que queria ter e eles fizeram. Foi mais simples do que parece - ele diz, parecendo satisfeito consigo mesmo.

Eu dou uma risada, porque sei que é simples assim. Mas meu coração parece dobrar de tamanho quando eu percebo que ele fez algo desse tipo por mim. Por ter nascido em uma família só de bruxos, sei que deve ter sido algo fora de sua zona de conforto. E ele fez isso por mim, então olho para ele, sentindo todo o amor que tenho correr pelas minhas veias.

— Obrigada, foi muito gentil ter feito isso por mim. De verdade - falo, baixinho.

— Sinto muito pela festa - ele diz, tirando uma parte do meu cabelo que cai no meu rosto.

— Não, foi... foi perfeita - digo, olhando para baixo. Ele levanta o meu queixo com um das mãos, me olhando firmemente. Sinto um frio na barriga, em expectativa. Vou em sua direção, levantando lentamente meu vestido e me sentando no colo, ficando frente a frente. Ambos temos os olhos fechados, como se esperássemos alguém dar o primeiro passo.

— Você deveria ficar aqui, essa noite - eu digo, aproximando meu rosto do dele. Ele continua imóvel - Devo te chamar para o meu quarto?

Ele dá uma risada baixa e concorda com a cabeça. Abrimos nossos olhos, com todo aquele sentimento entre nós, com as mãos dele cuidadosamente me apertando na cintura. Dou um alto suspiro e me levanto.

— Bom, você pode ficar no quarto do Jaz. Se a Liz sonhar que alguém mexeu nas coisas dela, é capaz de ter um treco - me abaixo para pegar o presente que ele me deu, antes de seguir para meu quarto.

— Tudo bem. Boa noite, Kate.

— Boa noite, Henry. Foi uma noite maravilhosa - e realmente acredito nisso.

— Com certeza, foi.

***

Acordo com muito frio, me cobrindo até a cabeça. Acho que durante a noite começou a nevar. Sinto cheiro de café sendo feito, junto com um cheiro mais adocicado: os biscoitos de morango e chocolate que Nellie sempre faz quando precisa animar alguém. Me levanto e coloco meu moletom da Lufa Lufa e minhas pantufas de texugo (sim, parece até piada, mas é o que me trás conforto) e vou para a cozinha. Lá estão Eric e Jason conversando baixinho tomando chá e comendo os biscoitos que assei na noite passada, Liz está fazendo café para mim, já que sou a única na casa que prefere isso a chá e Nel está mexendo nos seus biscoitos recém assados. Henry está lendo o Profeta Diário em uma poltrona na sala, de frente para a cozinha. 

Jason nota que acordei e se levanta para me dar um abraço.

— Eu sinto muito, muito mesmo Kate. Eles precisavam de mim na emergência. 

Eric se levanta, colocando a mão na parte de trás da cabeça, como se não soubesse o que falar. Liz também não diz nada. Mas é olhando para os olhos tristes de Nellie que percebo que não existe festa nenhuma que possa substituir os milhares de segundos preciosos que passei com essas pessoas. Só o fato de estarmos todos aqui, na manhã de Natal, juntos, já é suficiente para mim.

— Eu acho bom vocês terem gastado MUITO nos meus presentes - digo, pegando um dos biscoitos de Nellie e lhe dando um beijinho na testa.

Com isso, parece que toda a tensão é dissipada e voltamos a ser o grupo de sempre, conversando, rindo e brincando. Henry me olha o tempo todo, mas não consigo ler o que está sentindo. Decido dar minha atenção aos demais.

— OK, OK, ACHO QUE É HORA DE ABRIR OS PRESENTES, NÉ? - diz Liz, o mais alto possível, para que todos possam ouvir. Todos se sentam de frente a árvore, enquanto eu me sento no braço da poltrona onde Henry está. Ele passa as mãos pelas minhas costas e me abraça pela cintura, dando um pequeno aperto, enquanto observamos nossos amigos começarem a desembrulhar os presentes.

Olho pela janela e vejo a neve caindo, branca e impassível, cobrindo a rua com uma delicadeza invejável. Sinto o calor da lareira e do corpo de Henry perto ao meu. Todos os sons de uma casa feliz chegam aos meus ouvidos. Gostaria de viver nesse momento para sempre.


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