A História Prometida escrita por Ly Anne Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 4
O Sequestro de Buttercup




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— O que é isso que você está rasgando? — ouviu Hermione, quando recuperou a consciência. Era a voz de Harry, mas num sotaque espanhol carregado.

Ela tinha sido despertada pelo choque do seu próprio corpo com o que, pelo cheiro de peixe e balanço característico, achava ser o fundo de um barco. Estava coberta por algo que poderia ser um saco de lona e não conseguia ver os seus captores, mas podia ouvi-los muito bem, em algum lugar ali perto.

— Pedaços do uniforme de um guarda do Vale Diagonal — respondeu a voz carregada do Snape careca.

— O que é Vale Diagonal? — Ela ouviu a voz pastosa do meio-gigante perguntar. Ele falava mais devagar do que o Hagrid que ela conhecia, como se estivesse com sono, ou depois de beber muito conhaque.

— O condado do outro lado do canal. Inimigos jurados de Hogsmin — respondeu Snape-careca. Ela ouviu uma batidinha e ele disse: — Vá!

Hermione ouviu os galopes de Cavalo se afastarem. O barco balançou com o peso dos três ocupantes embarcando, e se concentrou em se lembrar da história, tentando descobrir o que acontecia agora.

Aqueles três eram – agora se lembrava – os mercenários contratados pelo seu querido noivo, o príncipe Humperdraco, para matá-la. Ele pretendia colocar a culpa do assassinato de Buttercup nos guardas do Vale Diagonal, e assim arranjar uma desculpa para começar uma guerra entre os reinos.

Outro motivo para não gostar de Buttercup – como ela podia ter aceitado se casar com aquele homem horrível? Segundo o livro ela tinha lhe oferecido a nobreza e, na falta de amor, Buttercup concluíra que riqueza infinita e poder eram bons substitutos…

O barco começou a se mover para longe da costa, e Snape careca começou a explicar seu plano em voz alta, como bom vilão secundário de contos de fadas que era.

— Uma vez que o cavalo atinja o castelo, o tecido vai fazer o príncipe suspeitar que a guarda do Vale Diagonal abduziu a princesa. Quando ele achar o corpo dela na fronteira do Vale Diagonal, suas suspeitas vão ser confirmadas.

— Você nunca disse nada sobre matar! — protestou o gigante, para o orgulho de Hermione. Ele estava em uma gangue, mas pelo menos não era um assassino…

— Eu contratei você para começar uma guerra. Essa é uma linha de trabalho de prestígio, com uma longa e gloriosa tradição.

— Eu só não acho que seja certo, matar uma garota inocente.

— Eu estou ficando louco, ou “pensei” escapou da sua boca? Não contratei você pelo seu cérebro, sua massa corporal hipopotâmica.

Rude, pensou Hermione, que continuava deitada e imóvel como ela sabia que Buttercup teria ficado. Era irônico como o vilão siciliano com a cara do seu falecido professor de poções, apesar do sotaque e da falta de cabelo, soava exatamente como Snape quando começava com os insultos.

— Eu concordo com Hagrik — disse o espanhol que se parecia com Harry, enrolando os seus ‘r’s.

— Acontece que isso não é assunto de vocês — trovejou o siciliano. — Eu vou matá-la, e lembrem-se disso, nunca se esqueça disso… quando eu encontrei você, você era tão bêbado que…

Hermione parou de prestar atenção, silenciando um bocejo. Estava muitíssimo tranquila com a perspectiva da discussão da sua morte pelo trio – eles não iam realmente matá-la, como bem se lembrava.

Quando ela voltou a ouvir a conversa dos seus captores, o Harry-espanhol e o gigante chamado Hagrik estavam zombando do siciliano, que não estava mais por perto.

— ...ele é mesmo pouco charmoso — dizia Hagrik.

— E você é um rimador primoroso.

— Sim, não é à toa que eu ouso.

— Poderia usar o talento para ficar rico.

— Não é à toa que eu pratico.

— Parem com isso! — O Siciliano gritou da proa.

Mas enquanto o barco se afastava mais e mais de Hogsmin, os dois continuaram o leva e trás de rimas, fazendo Hermione sorrir consigo mesma.

— Hagrik, existem pedras adiante?

— Se houver, me preocupo bastante.

Já chega com as rimas!

Se não fosse essa a minha sina…

* * *

Hermione sabia que, enquanto estivesse no barco não tinha como procurar por Rony, então achou melhor ficar bem quietinha e esperar. Acordou com a voz do Snape-careca, que ela agora sabia se chamar Snapini.

— Chegaremos ao precipício no crepúsculo. Por que você continua olhando para trás? 

— Só quero garantir que ninguém está seguindo a gente — disse a voz de Harry. Só que, ali, ele se chamava Henrico. Hermione fez uma nota mental de contar ao melhor amigo que, na sua versão do conto de fadas de S. Morgenstein, ele era um mercenário espanhol que sabia esgrima.

— Isso seria inconcebível.

— Na verdade, o mero fato de estar sendo colocado em suposição nega o pressuposto de ser inconcebível — disse Hermione, que de tão entediada, decidiu se anunciar.

Henrico veio até ela e descobriu a sua cabeça. A brisa do mar soprou em seu rosto, um grande alívio depois do tempo sob a lona abafada.

— Ninguém pediu a sua nobre opinião, princesa — disse Snapini com sarcasmo. Hermione rolou os olhos: típico.

— Mas só pra confirmar… tem certeza que seria inconcebível? — voltou a perguntar Henrico, olhando de novo para estibordo.

— Como eu já disse, seria totalmente, absolutamente, completamente inconcebível. Ninguém no Vale Diagonal sabe o que fizemos, e ninguém em Hogsmin poderia ter chegado aqui tão rápido. Por curiosidade, por que a pergunta?

— Nenhuma razão. Só acontece que, tenho bastante certeza que tem alguém vindo ali.

— O que? — Snapini avançou para espiar do mesmo ângulo que Henrico. — Provavelmente algum pescador noturno, perdido…

Hermione olhou também, curiosa. Ela obviamente se lembrava de quem se tratava, mas isso não significava que não queria dar uma espiada no navio pirata que se aproximava.

No entanto, ela se esqueceu de que estava amarrada – já tinha se acostumado às cordas em torno do seu tornozelo àquela altura, e parado de senti-las – então o movimento a desequilibrou, e quando ela tentou esticar uma mão ela não pôde, porque suas mãos também estavam amarradas. O corpo de Hermione se desequilibrou, e então…

SPLASH.

Ela gritou de puro susto – má ideia. Uma marola mandou água gelada e salgada para a sua boca e nariz na mesma hora.

— VÁ ATRÁS DELA! — Ouviu Snapini gritar, furioso, antes de sua cabeça submergir, seguindo o resto do corpo.

Isso é estúpido, foi a primeira coisa que Hermione pensou quando a água gelada invadiu cada parte do seu corpo anteriormente seco, com efeito de agulhadas dolorosas. Ela nunca tinha se afogado antes, mas ela achava que, numa experiência imersiva num livro de contos de fadas, ela não tinha com o que se preocupar. Não ia morrer de verdade, certo?

Seus pulmões começaram a arder, invadidos pela água, e ela começou a achar que estava muitíssimo errada.

O livro tinha tragado Rony sem aviso, e agora Hermione estava se afogando. Ela podia sentir que estava morrendo, morrendo de forma muito real, de acordo com as pontadas no fundo de sua cabeça, um sintoma de falta de oxigênio que precedia morte cerebral, de acordo com suas leituras em anatomia humana.

E ela já não tinha certeza que morrer afogada não era uma possibilidade. E se o livro fosse uma armadilha? E se o encantamento fosse uma maldição disfarçada?

Foi mais ou menos nessa hora que ela começou a entrar em pânico.

* * *

Hermione parou de contar a história; Rose de repente tinha ficado muito pálida, e suas pequenas mãos cobertas de bolhas púrpuras torciam o cobertor com nervosismo.

— Buttercup vai ficar bem — ela assegurou à filha. — Estou explicando isso porque você parece nervosa.

— Não estou nervosa — ela protestou, se empertigando.

Hermione estreitou os olhos para ela, daquele jeito que tinha como objetivo espremer a verdade de Rose. A menina cedeu.

— Bem, talvez um pouquinho preocupada. O que não é a mesma coisa.

— Eu posso parar por aqui. Eu te disse que não era uma história para crianças — ofereceu Hermione muito tranquilamente.

— Não. Você pode ler mais um pouquinho… se quiser.

Hermione mordeu o lábio inferior para não sorrir e estragar tudo.

* * *

Bem, vejamos. Ela estava afundando cada vez mais, suas mãos e pés atados, nenhuma chance de nadar e salvar a própria vida, e não muito certa de que morrer naquele livro era uma boa ideia.

Foi quando alguma coisa enorme a agarrou pelos cabelos e a puxou para cima, de volta à superfície. A coisa era a mão do gigante Hagrik, que a colou de volta ao barco.

Hermione tossiu e resfolegou e tossiu mais um pouco, achando que ia colocar os seus pulmões para fora.

— Eu acho que ele está chegando mais perto — avisou Henrico, completamente alheio ao fato de que Hermione tinha acabado de ver a vida passar diante dos seus olhos, e agora estava tremendo de frio e susto.

— Ele não é da nossa conta! Continue velejando, Henrico. E você, sua princesa tonta. Faça o favor de não cair mais na água, você não pode morrer antes que a gente te mate!

— Bem, sinto muito em frustrar os seus planos homicidas com a minha experiência de quase morte! — Hermione exclamou, muitíssimo irritada.

— Ah, dios mío, ele está quase em cima da gente! — Exclamou Henrico, focado no que agora era inegavelmente o seu perseguidor.

— Não importa, quem quer que seja, está atrasado. Vê? 

Snapini apontou para a frente deles, e Hermione, que não estava mais se divertindo desde o seu quase afogamento, perdeu o fôlego. O paredão que se erguia a frente deles era muito maior, imponente e letal do que a sua imaginação tinha produzido, e parecia nada mais do que pura insanidade o fato de que em alguns minutos eles começariam a escalá-lo.

 

(Continua...)


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